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O ESTADO DE S. PAULO
SEGUNDA-FEIRA, 14 DE SETEMBRO DE 2015
NA WEB
Blog do ‘Estado’ reúne experiências de
escolas particulares de São Paulo
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WERTHER SANTANA/ESTADÃO-4/9/2015
Viagens de colégios
organizam desejo de
estudar no exterior
Escolas levam alunos para ver universidades em outros países;
famílias estimulam filhos a buscar melhor qualidade de ensino
Isabela Palhares
l
Com os alunos cada vez
mais interessados em estudar em universidades fora
do Brasil, colégios particulares de elite de São Paulo
estão organizando viagens
para os estudantes conhecerem instituições no exterior. Segundo os responsáveis pelas viagens, as famílias dizem estimular que
os filhos estudem fora para
buscar melhor qualidade
de ensino e segurança no
mercado de trabalho.
O colégio Internacional de
Alphaville tem um dos roteiros de viagem mais antigo.
Desde2008 leva os alunos do
9.º ano do ensino fundamental ao 3.º ano do ensino médioparaconheceruniversidades americanas. A viagem de
15 dias leva os alunos para visitar universidades de quatro cidades: Boston, Nova
York, Columbia e São Francisco.
“Os alunos sentem que
têm mais opções nos Estados Unidos, mesmo as universidades que não são as
mais concorridas ainda assimtêmqualidadeereconhecimento igual ou superior às
melhores do Brasil”, disse
Marilda Bardal, coordenadora de relações internacionais
do colégio.
Aos 14 anos Paola Houch,
ainda tem dúvida sobre qual
curso fazer, mas já tem certeza de que não quer estudar
no Brasil. Dos três irmãos
Custo
U$ 6.500
É o valor que pode custar
uma viagem de 15 dias
organizada pelas escolas
paulistanas para conhecer
universidades fora do país.
Além de conhecer os campi
das instituições, os alunos
também são levados para
multinacionais e programas
culturais como peças de teatro,
museus e parques. O valor
inclui a hospedagem, transporte
e ingresso para as atividades.
Os custos com alimentação e
compras estão de fora.
mais velhos dela, dois estudam
nos Estados Unidos, e os pais a
incentivam a também se mudar.“Meuspaisincentivammuito que eu estude fora, porque
nas faculdades americanas os
professores estão mais estimulados, importam-se mais com
os alunos”, contou a estudante.
Cobrança dos pais. No colégio
Bandeirantes, as viagens para
conheceruniversidades nosEstados Unidos retomaram neste
ano a pedido dos pais. A escola
fazia as viagens, mas elas foram
suspensashavia12anosporcausa da alta do dólar. “Há dois
anos os pais começaram a nos
pedir para fazer as viagens. Eles
estãoinsatisfeitoscom aeconomia do País e com medo da violência, por isso, querem que os
filhos estudem fora”, disse Ricardo Aguirre, coordenador de
relações institucionais.
Além do programa California
Experience, que neste ano levou13alunosparaconheceruniversidades de Los Angeles e São
Francisco, o Bandeirantes também tem cursos específicos para auxiliar os alunos nas inscrições e provas das universidades
americanas. “Preparamos nossosalunosparaentrarnauniversidade que quiserem.”
No 1.º ano do ensino médio,
GabrielaÁvilaFioranelli, 15,viajou neste ano para conhecer as
universidades na Califórnia.
“Sempre quis morar e estudar
fora, a viagem só reforçou essa
vontade”, contou. Ela quer seguir a profissão do pai, que é
médico, mas, ao contrário dele,
quer exercer a profissão nos Estados Unidos. “Quero trabalharláporqueachoqueosmédicos americanos têm mais qualidade de vida, ficam mais tempo
com a família. E depois, meus
pais também fazem planos de
sair do Brasil quando ficarem
mais velhos.”
Dentre as universidades que
visitou, a que mais a interessou
foi a Universidade daCalifórnia
em Los Angeles (UCLA). “Me
identifiquei muito com o lugar,
o câmpus é lindo, arborizado e
pertinho da praia. Senti um clima mais acolhedor do que nas
universidades brasileiras.”
Para 2016, o colégio planeja
fazer um roteiro de viagem para
levar alunos a conhecer as universidadesem NovaYorkeBoston. “Assim, cada um pode conhecer melhor o que mais lhe
interessar”, disse Aguirre.
Dúvida. Aos 14 anos, Paola não sabe qual curso vai fazer, mas quer estudar fora do País
No colégio Humboldt, que
têmformatodeensinocompatível com o de escolas alemãs, os
alunos a partir do 7.º ano do ensino fundamental já podem fazer viagens à Alemanha. Quandoestãonoensinomédio,asviagens são mais voltadas para co-
nhecer as universidades e empresas.“Nosso aluno tem qualificação para estudar no Brasil
ou na Alemanha. A viagem é importante para que ele conheça
comoé o ensinolá, jáque as universidades alemãs dão mais liberdade e mais responsabilida-
MÁRCIO FERNANDES/ESTADÃO
PARA BOLSISTAS,
A BUSCA É POR
CURSOS NO PAÍS
Institutos oferecem
orientação profissional
para alunos sobre o
mercado de trabalho e
a área acadêmica
Enquanto os colégios buscam mostrar como são as faculdades no exterior, institutos que oferecem orientação
profissional para alunos bolsistas têm a preocupação de
mostrar todas as possibilidades de cursos e instituições
brasileiras. É o caso do Ismart,uminstitutoqueidentifica jovens de baixa renda de
14 e 15 anos e os concede bolsas em colégios de elite. Ao
todo,oprogramatemmilalunos bolsistas em São Paulo e
no Rio de Janeiro.
“Eles convivem com alunos
que vivem outra realidade social, mas o seu referencial de
profissão e escolha de universidade é diferente. Por isso, nosso trabalho com eles é de mostrartodas as possibilidades acadêmicas e do mercado de trabalho”,contouInêsFrança, gerente do Ismart.
O trabalho de apresentação
doscursoscomosalunos começa no 1.º ano do ensino médio,
tendoofocoinicialnadescoberta de suas habilidades e principais interesses.
“Queremos mostrar que eles
devem fazer o que gostam e não
o que as outras pessoas esperam deles, mas também nos
preocupamos em mostrar a diferença entre o que querem co-
Escolha. Paulo Ricardo Mota foi aprovado duas vezes em Medicina, mas desistiu
mo hobby e como profissão”,
afirmou.
O instituto também reforça
as palestras e encontros com
profissionais de várias áreas para conversar com os alunos. “As
áreasmaisprocuradaspelosalunos ainda são as mais tradicionais, como Medicina, Direito e
l
Futuro
“Nosso interesse é que
façam a escolha mais
consciente e madura sobre o
seu futuro.”
Inês França
Engenharia. Mas sinto que eles
estão abrindo mais a cabeça para novas opções. Eles querem
deixar a sua contribuição para a
sociedade,causar um impacto e
não só ter uma profissão”, disse
Inês.
GERENTE DO ISMART
Medicina. Paulo Ricardo Mar-
Desinteresse no Brasil entre elite tem motivo profissional
Para especialistas em Educação, o desinteresse dos alunos de colégios de elite pelas
universidades brasileiras é
causado mais pela busca de
diferencial profissional do
que necessariamente por um
ensino de melhor qualidade.
Rodrigo Travitzki, doutor
em Educação pela UniversidadedeSãoPaulo(USP),disse que com a maior oferta de
vagas em instituições públicas
nos últimos anos é “natural”
que aqueles que têm melhores
condições econômicas busquem um diferencial. “Todo
profissional quer um diferencial, e as elites podem pagar por
isso. Há 10 anos estudar na USP
ouUnicamp,asmais reconhecidas do País, era um grande diferencial, hoje não é mais o suficiente,jáqueháumamaiorofer-
ta de vagas e políticas de acesso
para alunos de escolas públicas”, disse o pesquisador.
Silvia Colello, professora da
Faculdade de Educação da
USP, também disse acreditar
que o desinteresse não se deve
exclusivamente à procura por
um curso de melhor qualidade,
masporumavalorizaçãodosestudos. “Os cursos nas melhores
universidades brasileiras não
perdem para as do exterior em
qualidade, mas vemos que nossasfaculdadessofremcoma falta de recursos, professores e isso acaba dominando a visão dos
nossos jovens.”
Para Silvia, o contexto político e econômico do País também pode influenciar a decisão
dos jovens, mas ela alerta para
que pensem no futuro das carreiras, já que há uma dificulda-
de em conseguir a validação de
diplomas estrangeiros.
“Há uma soma de fatores, as
famílias estão desencantadas
com o Brasil, preocupadas com
a crise financeira e a experiência de viver em outro país é uma
possibilidadedeenriquecimento cultural. Mas esses jovens
precisam pensar também na
carreira, na validação do diploma para depois não terem dor
de aos alunos do que as instituições brasileiras”, disse
Hans Wagner, vice-diretor
do colégio. Além disso, segundo Wagner, o custo para
estudar em uma universidade alemã se equipara com o
das particulares brasileiras.
tins,de 16anos, estuda nocolégio Objetivo com bolsa do
Ismart e conta que desde os
12 anos dizia que queria ser
médico.Noanopassado,ainda no 2.º ano do ensino médio, ele teve nota suficiente
para ser aprovado em duas
universidades federais para
Medicina. No entanto, disse
ter descoberto que não quer
seguir a profissão.
“Nós fizemos uma atividade com alunos de escola pública e eu fui me interessando cada vez mais pelo lado
social,em como poderiacontribuir mais para a sociedade. Foi aí que descobri o curso de Administração Pública
e decidi mudar”, contou.
Martins disse que seus
pais–elemecânicoderefrigeração e a mãe dona de casa –
aindanãoaceitaramporcompleto a mudança. “Eles dizem que, sendo médico, eu
vou ter mais segurança profissional. Acho que eles têm
razão, mas essa escolha não
depende apenas da questão
econômica, mas do que eu
quero para mim.” / I.P.
de cabeça extra”, disse Silvia.
Currículo. Para os especialistas,as universidadesbrasileiras deveriam pensar em formasdeflexibilizaroscurrículos dos cursos para ajudar os
alunos na escolha da profissão,comoocorre eminstituições no exterior. “Ter um ciclo básico de disciplinas para
cada área é interessante para
que o aluno esteja mais seguro, mais entendido e maduro
quanto à escolha da sua profissão”, disse Silvia. / I.P.
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estado/metropole/paginas 14/09/15