1 – CONHECENDO OS BAIRROS DA BARRA DA TIJUCA Muita gente pensa que a Barra da Tijuca é um bairro único, que não existe subdivisões. Porém, isto não é verdade. Tendo em vista as grandes dimensões de nossa cidade e a exemplo de outras cidades do mundo, as Subprefeituras foram criadas com o objetivo de atender as demandas locais, descentralizando assim, a Administração Pública Municipal. Logo, as Subprefeituras foram instituídas com o objetivo de representar o Prefeito junto à comunidade local, coordenando as Administrações Regionais de sua área e agilizando as reivindicações junto aos órgãos competentes. As Regiões Administrativas foram criadas no Governo de Carlos Lacerda. Em 1975, o Plano Urbanístico Básico do Rio subdividiu a cidade em cinco Áreas de Planejamento APs. As Regiões Administrativas da Barra e de Jacarepaguá fazem parte da AP4, que é administrada pela Subprefeitura da Barra e Jacarepaguá. (ver anexo 5/6/7) Logo, o local é conhecido como Barra da Tijuca, mas seu território na realidade integra os seguintes bairros: Camorim, Itanhangá, Vargem Grande, Vargem Pequena, Grumari, Joá, Recreio dos Bandeirantes e Barra da Tijuca, propriamente dita. Todos estes bairros estão submetidos a XXIV Administração Regional – Barra da Tijuca. Logo a seguir, procurei expor de maneira clara e objetiva, as características de cada bairro dessa imensa planície, que estamos tratando. Veremos como é grande a diferença existente entre um bairro e outro. É como se fossem “pequenas cidadezinhas” dentro de uma mesma cidade. Portanto, vamos descobrir o que esta região tem de melhor! 1.1 – Joá Para chegarmos a Barra da Tijuca, podemos optar por dois caminhos vindos da Zona Sul. O primeiro, mais conhecido, é a Auto-Estrada Lagoa-Barra – já citada anteriormente. O segundo é a Estrada do Joá, cujo fluxo de veículos é menor, por ser uma via sinuosa e estreita. Antes da construção do elevado do Joá, na década de 70 e da Auto-Estrada Lagoa-Barra, inaugurada em 1982, a única via de acesso para quem vinha da Zona Sul, era vindo pela Avenida Niemeyer, até São Conrado e pela Estrada do Joá, de São Conrado até a Barra. Hoje, ela é utilizada com mais freqüência pelos moradores - cujas casas foram construídas sobre o terreno íngreme do morro da Joatinga em condomínios luxuosíssimos e super protegidos; por freqüentadores de alguns restaurantes existentes ao longo da via; por surfistas que freqüentam a encantadora Praia da Joatinga; e por motoristas que são obrigados a desviar o caminho quando a Auto-Estrada está em manutenção. "O pequeno bairro, no ano de 2000, abrigava 972 moradores, em seus 180 hectares”.10 A maioria destes, de alto poder aquisitivo, entre eles empresários, artistas e cantores, que passaram a ocupar a região em 1970, vivendo cercados por seguranças, grades e luxo. No topo da estrada, onde há um pequeno largo, a vista para o mar é maravilhosa. De um lado temos o famoso Clube Costa Brava, construído sobre um costão rochoso, pelo arquiteto Ricardo Menescal. E, logo abaixo, a pequenina e tranqüila praia da Joatinga, com seu 0,5 km de extensão, muito freqüentada por surfistas. Para alcançarmos ambos os locais precisamos, primeiramente, passar por uma guarita e pelos seguranças de um luxuoso condomínio do bairro. A encantadora Praia da Joatinga Atualmente, a prefeitura vem realizando obras de manutenção na estrada, contenção de encostas e despoluição da Praia da Joatinga, que além de receber toda a sujeira e poluição do Quebra-Mar da Barra, em conseqüência das marés e dos ventos, recebe também esgoto “in natura” de algumas mansões do bairro. Torcemos para que a prefeitura, junto com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, consiga resolver este problema no bairro, para que assim a Joatinga continue sendo o paraíso dos surfistas. Vazamento na Joatinga 10 PINHEIRO, Augusto Ivan de Freitas e Eliane Canedo de Freitas, A Construção do Lugar – Barra da Tijuca, p. 109. 1.2 – Itanhangá O Itanhangá é um bairro antigo da região, cercado pelo verde das matas que descem as montanhas, sendo este um dos motivos, que levaram as pessoas a procurarem a região para morar, há mais ou menos 15 anos. “Hoje, 9.356 pessoas ocupam seus 1.321,2 hectares, embora nem todos vivendo em casas encantadoras rodeadas pelo verde”. As casas e o verde do Itanhangá 11 Assim como no Joá, a maioria dos condomínios são voltados para pessoas de alto poder aquisitivo, porém há outros voltados também para classe média alta. Todos cercados de muito verde. Pelos nomes, já podemos imaginar: Floresta da Barra, Jardim da Barra, Quinta do Itanhangá, entre outros. Todos com alto padrão de segurança. Hoje, o Itanhangá é um bairro de contrastes. A imponência dos casarões e beleza de sua vegetação contrastam com o crescimento das favelas, muito próximas aos condomínios de luxo. Aos poucos, elas vão tomando as encostas e vão crescendo O Contraste – ao fundo o crescimento de uma favela e uma mansão, abaixo. 11 PINHEIRO, Augusto Ivan de Freitas e Eliane Canedo de Freitas, A Construção do Lugar – Barra da Tijuca, p. 110. desordenadamente. Segundo dados do IBGE de 2000, o bairro tem 11 favelas, espalhadas entre os diversos condomínios de luxo. Um dos motivos que levam as pessoas a se instalarem nas favelas do bairro é a proximidade da Barra. Geralmente, são pessoas de mão-de-obra não qualificada, que encontram na Barra local para trabalhar. Através de moradores do bairro, soube que os moradores da favela ganharam até o direito de transitar dentro dos condomínios, para assim facilitar o acesso à mesma. Sem água encanada e rede de esgotamento sanitário, os moradores fazem ligações clandestinas de água e de esgoto para sobreviver, além de jogarem detritos diariamente nas proximidades da Cachoeira da Tijuca, que fica atrás de diversas casas do Itanhangá. O Rio Cachoeira além de passar entre as casas da favela, também passa por áreas residenciais de alta renda, mas apesar da diferença social, a qualidade da paisagem é a mesma, um rio degradado, poluído e simbolicamente negado pelos moradores locais. O Rio Cachoeira e casas da Favela Mata Machado. Apesar de ser uma cachoeira de excepcional valor paisagístico, ela não recebe sua devida importância. Por direito, a cachoeira deveria ser aberta a todos, porém isto não acontece. O local é inacessível, pois além da área ser particular (condomínio fechado), altos muros foram construídos ao longo do leito do rio, O Rio Cachoeira e à esquerda, um muro. impossibilitando assim o acesso. Neste bairro também, localiza-se um outro caminho muito antigo da região. Ao longo da Estrada do Itanhangá, indo em direção a Jacarepaguá, encontraremos ao lado direito da via, uma subida, que é a Estrada de Furnas. Subindo esta estrada, alcançaremos o Alto da Boa Vista e descendo chegaremos na Tijuca, Zona Norte do Rio. Deve ter sido através desta via, que os “tijucanos” – primeiros veranistas da região, descobriram as belezas da Barra da Tijuca. Nesta mesma estrada (Itanhangá) e na mesma direção, antes da subida de Furnas, podemos visualizar ao lado esquerdo um imenso muro que oculta as belezas do Itanhangá Golf Club, muito freqüentado pela elite da região. Entrada do Itanhangá Golf Club A beleza dos gramados do Itanhangá Golf Club 1.3 – Camorim No livro “Imagens de Jacarepaguá”, o autor Waldemar da Costa nos conta que o Engenho do Camorim fazia parte das terras em que Gonçalo Correia de Sá (sobrinho de Estácio de Sá, fundador da cidade do Rio de Janeiro) ofereceu como dote de casamento da filha Vitória de Sá. Ficando viúva, Vitória deixou tudo que ainda possuía para o Mosteiro de São Bento, em testamento feito em Janeiro de 1667. Após sua morte, em agosto desse mesmo ano, os padres beneditinos ocuparam imediatamente a fazenda e permaneceram ali por mais de duzentos anos. Inicialmente, a Fazenda do Camorim foi dividida em duas. Uma continuou com esse mesmo nome e outra passou a se chamar Vargem Pequena, que veremos na próxima seção. Em Camorim, está localizada a mais antiga igreja de toda a Baixada de Jacarepaguá, segundo a maioria dos historiadores – A Capela de São Gonçalo do Amarante. Esta foi Tombada pelo Patrimônio Histórico em 1965, mas sua construção data de 4 de outubro de 1625. A igreja, em estilo colonial, foi erguida pelo braço escravo à base de pedra e barro e o calçamento à frente é do tipo pé-demoleque. No altar, fica a imagem de São Gonçalo do Amarante, cuja festa é comemorada em 10 de janeiro. A capela é importante para o bairro, pois o inclui no roteiro cultural e turístico da cidade. Na década de 30, século XX, Magalhães Correia ainda testemunhou as festas dedicadas ao padroeiro. Igreja de São Gonçalo do Amarante “... sons de sinos a repicar alegremente, foguetes a espocar nos ares, depois cânticos religiosos, acompanhados de órgão. Era o dia do santo. No largo da Igrejinha, barracas cobertas de sapê vendendo doces e bebidas, cruzando o largo e a estrada, bandeirolas de papel em galhardetes e arcos de bambus, dando um ar festivo a esse recanto rural.”12 Ao lado desta Igreja, segue a Estrada do Camorim, uma via muito sinuosa em direção ao Parque Estadual da Pedra Branca. Localizado na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro e considerado um dos maiores parques urbanos do mundo, o Parque Estadual da Pedra Branca possui cerca de 12.500 hectares de área coberta por vegetação típica da Mata Atlântica. Dentro deste Parque situa-se o ponto culminante do Município, o Pico da Pedra Branca, com 1.024m de altitude. No próximo capítulo veremos mais detalhes sobre o Parque. (ver anexo 8) O que eu não poderia deixar de citar, é que dentro do Parque, na altura deste bairro, localiza-se uma das mais belas paisagens da cidade do Rio de Janeiro – O Açude do Camorim, localizado a 450 metros acima do nível do mar. É difícil explicar a magnitude de sua beleza. A represa foi construída durante o século XIX, para abastecer a região então pertencente a Jacarepaguá e foi projetada pelo engenheiro Sampaio Corrêa. “De acordo com Emy Guimarães, diretorregional da Cedae, atual administradora do lugar, em 1817 houve uma crise de abastecimento imperial, na então, cidade. mandou O governo procurar mananciais em toda a parte. O do Camorim foi um dos primeiros a serem descobertos. ― A construção terminou em 1908, conferindo ao lago o tamanho atual: um quarto da Lagoa Rodrigo de Freitas”.13 12 Açude do Camorim – Parque Estadual da Pedra Branca Correia, Magalhães. Sertão Carioca, Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Administração, p. 49. 13 Jornal O GLOBO, caderno Barra, 09 de setembro de 2001, nº 1133. O lago tem uma área de 210.000 metros quadrados e a profundidade chega, no seu ponto máximo, a 18 metros. Ela represa um conjunto de rios, dos quais o principal, o Rio Camorim, tem 6,5 km de extensão, indo desaguar na Lagoa do Camorim na Baixada de Jacarepaguá. “Uma caminhada de uma hora e meia morro acima proporciona ao visitante aulas de botânica, zoologia e história, atesta Delto de Oliveira, organizador de passeios que culminam na Represa do Camorim. ― A represa e o caminho até ela são fantásticos. Há uma infinidade de espécies de ervas e bichos raros ― diz ele”.14 Ele relata também, que ao longo da trilha - que pode ser visitada inclusive por crianças e idosos, por ser considerada de nível fácil -, os visitantes encontrarão as ruínas de uma casa que, segundo ele teria sido erguida por um alemão, escondido no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial. Hoje, o mato avançou sobre ela e as paredes foram parcialmente derrubadas. É uma pena, não haver interesse em preservar nosso patrimônio. Essa casa poderia vir a ser mais um ponto turístico na cidade. O Rio Camorim, além de formar esta bela represa, tem em suas águas uma das mais belas cachoeiras do Rio de Janeiro, que também pode ser vista ao longo da trilha, que começa na subsede do Parque, localizada na Estrada do Camorim. Cachoeira do Camorim De acordo com as estatísticas, “o bairro possui uma população de 783 habitantes para uma superfície de 903,8 hectares”.15 14 15 Jornal O GLOBO, caderno Barra, 09 de setembro de 2001, nº 1133. PINHEIRO, Augusto Ivan de Freitas e Eliane Canedo de Freitas, A Construção do Lugar – Barra da Tijuca, p. 112. 1.4 – Vargem Pequena O cavalo em disparada rompe o silêncio, assustando as galinhas e uma ou outra criança brinca no quintal. Intrigada, a mulher deixa a roupa de molho e vai até a janela espiar. O ano é 2002. Mas poderia ser 1590. Na região de Vargem Pequena o tempo parece custar a passar. O bairro, que completa 412 anos este ano, mantem vivo seu caráter essencialmente bucólico. A região ainda conserva resquícios arquitetônicos do passado, alguns desconhecidos das novas gerações. Entre eles: casas de fazenda, uma igreja do século XVIII e fachadas ecléticas das décadas de 20 a 50. Como vimos anteriormente, o bairro fazia parte do Engenho do Camorim, que foi dividido em duas fazendas, durante a ocupação da região pelos padres beneditinos. Uma permaneceu com esse mesmo nome, outra passou a se chamar Fazenda Vargem Pequena. Talvez, o fato de a região ter sido ocupada por mais de duzentos anos pelos beneditinos, tenha sido um dos motivos que dificultaram o desenvolvimento da região, que até hoje preserva características de Zona Rural. Os padres, além de construírem alguns prédios, edificaram também, em 1766, a Igreja de Nossa Senhora do Pilar, atualmente conhecida por Nossa Senhora de Montserrat. Localizada no alto de uma colina, podemos avistá-la de longe, ao longo da Estrada Boca do Mato. O contraste com as árvores e o verde da mata torna a paisagem perfeita. Igreja de Nossa Senhora de Montserrat. Porém, este local tranqüilo e pacato vem sendo cada dia mais ocupado por pessoas que buscam qualidade de vida e moradias com preços acessíveis. Tanto Vargem Pequena, quanto Vargem Grande, que veremos a seguir, são campeões em crescimento imobiliário. Dados censitários mostram Vargem Pequena como um local em crescimento razoavelmente acelerado. Sua população quase triplicou de 1991 a 2000, saltando de 3.394 para 11.554 habitantes, embora ainda muito pouco para uma área superficial de 2.575,4 hectares. O grande problema é que ambos ainda sofrem pela falta de infra-estrutura básica, que acaba dificultando a preservação do meio ambiente. Entre os problemas mais críticos temos: o sistema de transportes, a rede de saneamento básico e a falta d’água. Provavelmente, este ano, Vargem Pequena até ganhará um Shopping Center. “... o prédio está sendo construído na Estrada dos Bandeirantes, perto da Igreja de Montserrat. Ao todo, 147 lojas serão distribuídas nos dois andares”.16 A intenção é facilitar a vida dos moradores que dependem do carro para fazerem suas compras. Apesar de todos os problemas, muitos moradores nem sonham deixar o local. A grande maioria é apaixonada pelo bairro, como, por exemplo, o Sr. Joaquim Januário, que vive há 48 anos no bairro. “Das escadarias da Igreja de Montserrat em Vargem Pequena, Joaquim Januário Rosa aponta para o horizonte. — Isso tudo, até onde os olhos podem alcançar, era roça. Um paraíso – lembra ele”.17 “Com 85 anos, mais da metade vividos em Vargem Pequena, Joaquim tem muitas histórias para contar: viu estradas serem abertas, ajudou na construção das primeiras casas, acompanhou o crescimento das crianças e a expansão do bairro que, hoje, ele diz, está grande demais”.18 16 Jornal O GLOBO, caderno Barra, 15 de março de 2001, nº 884. Jornal O GLOBO, caderno Barra, 25 de abril de 2002, nº 1198. 18 Idem. 17 1.5 – Vargem Grande “Vargem Grande é o mais extenso dos bairros da Barra da Tijuca e também o mais ao norte. Sua superfície alcança 4.608 hectares e sua população era de 9.275 habitantes no ano 2000”.19 O bairro, há 13 anos. Assim como Vargem Pequena, em Vargem Grande ainda leva-se a vida em ritmo de cidade do interior: cavalos percorrem estradas de terra batida cruzando com moradores de bicicleta; as pessoas ainda se conhecem e se espantam com o movimento de fim de semana, quando os parques temáticos, os haras e o centro gastronômico recebem visitantes ávidos pelo clima bucólico da região. Para quem vive lá, a tranqüilidade e o clima campestre são as maiores vantagens. Moradora usa a bicicleta para se locomover pelo bairro. Vargem Grande surgiu no século XVIII, a partir da expansão da Fazenda do Camorim, dos padres beneditinos. Logo, foi dado nome à região de “Fazenda da Vargem Grande”. Conta-se que a região possui um tesouro histórico pouco conhecido. De acordo com o relato de moradores, eles dizem ter encontrado resquícios de antigos quilombos em uma longa vereda localizada além da Estrada do Pacuí, em Vargem Grande. Próximo à área dos 19 PINHEIRO, Augusto Ivan de Freitas e Eliane Canedo de Freitas, A Construção do Lugar – Barra da Tijuca, p. 113. quilombos há uma comunidade que parece ter parado no tempo, vivendo em humildes casas, muitas feitas de taipa. O burro ainda faz parte da vida dos moradores como transporte pelas estradas intransitáveis até para jipes, mas também como importante auxiliar na aragem da terra, no plantio e na colheita do principal produto da economia local: a banana. É interessante, e ao mesmo tempo triste, descobrirmos que em plena cidade do Rio de Janeiro, ano 2002, podemos encontrar famílias que vivem numa verdadeira roça, porém de maneira muito precária e rudimentar. O verde e os rios de Vargem Grande são o grande orgulho de quem mora no local. Os moradores fazem questão de preservar esse clima de cidade do interior e o ar bucólico da região. No bairro, ao longo da Estrada dos Bandeirantes temos a prova disso. Nesta estrada também, se concentra parte do Patrimônio Arquitetônico da região, mas a urbanização que se intensificou nos anos 70 levou à destruição de parte deste. Fachada de 1929 na Estrada dos Bandeirantes. Ao longo da mesma, podemos encontrar fazendas das décadas de 20 a 50. “Uma fazenda, na Estrada do Mucuíba (ou Cleodon Furtado), foi construída pela família Martins, uma das pioneiras de Vargem Grande. Membro da família, Catarina Gomes, 60 anos, lembra com saudade do tempo em que vivia na casa, hoje pertencente a Heloísa Buarque de Holanda. — Eram maravilhosos os almoços. Lembro-me da enorme mesa no quintal. Minha mãe também nasceu na casa, que é de meados do século XIX”. 20 20 Jornal O GLOBO, caderno Barra, 09 de setembro de 2001, nº 1133. Quanto ao desenvolvimento, o processo de urbanização de Vargem Grande está mais acelerado em relação à Vargem Pequena, mas incomparável a Barra e Recreio, por exemplo. O bairro também sofre com problemas de infra-estrutura básica e crescimento desordenado. A maioria dos rios e córregos de Vargem Grande está em processo de assoreamento, por estarem recebendo esgoto diariamente e servirem como depósito de lixo. A cada dia novos loteamentos são abertos na região, acarretando a devastação local. Como vimos, de acordo com o Plano Lúcio Costa, as áreas verdes deveriam ser ocupadas apenas por sítios e por pequenas fazendas, mas a urbanização local os destrói para abrirem tais loteamentos. Contrastando com o verde da região, encontramos a estrutura de um parque aquático que atraem multidões de outros bairros nos fins de semana – O Rio Water Planet. Talvez, o bairro tenha sido procurado por esta empresa, pela oferta de áreas livres e verdes que a região oferece. Muito próximo a ele, temos o Wet’n Wild, porém ele não está localizado mais em Vargem Grande, mas sim, no Recreio dos Bandeirantes. Estes parques, em contato com a natureza, formam um ambiente perfeito para quem quer relaxar, brincar e esquecer as obrigações do dia a dia. Rio Water Planet Além dos parques aquáticos, ainda temos os haras, as fazendas e o pólo gastronômico que também exercem forte atração. O Haras Pégasus, numa área de 200 mil m², oferece: duas pistas para saltos, áreas de pasto, hotel para cavalos com mais de 100 acomodações, Haras Pégasus aluguel de cavalos manga-largas para passeios e trilhas e aulas de equitação para adultos e crianças. O Haras Horse Shoe, também oferece aulas de montaria e convivência com o animais para crianças a partir de cinco anos, além de organizar passeios diurnos e noturnos por trilhas da região. Além do Haras Pégasus e do Horse Shoe temos também: O Haras Macau, o Haras Estrela Rainha, o Haras Serenidade, entre outros que surgem a cada dia, combinando com o bucolismo do bairro. Para quem procura um programa em família, uma visita à Fazenda Estação Natureza ou à Fazenda Alegria, proporciona às crianças que vivem na cidade, a chance de conhecer a vida rural entrando em contato com animais do campo. A Fazendinha da Estação Natureza, por exemplo, atrai em torno de 300 pessoas a cada fim de semana. A região também ganhou status de Centro Gastronômico graças às maravilhas das cozinhas de seus restaurantes. A fama do local incentivou chefs famosos a abrirem suas próprias casas, em locais arborizados e muito agradáveis. Os restaurantes, na maioria, só funcionam de quinta a domingo – dias de mais movimento ou através de reserva nos outros dias da semana. São muito freqüentados por personalidades, artistas, empresários e pelos que apreciam locais exóticos, cercados de muito verde. A sofisticação e a qualidade no atendimento são pontos fortes. “Luiz Antônio Correia de Araújo, dono do restaurante Quinta, que há 19 anos funciona em Vargem Grande, credita à criação do Centro Gastronômico a maior visibilidade da região: − Os restaurantes trouxeram as pessoas. Até então, quase ninguém sabia o que acontecia depois do Recreio”.21 21 Jornal O GLOBO, caderno Barra, 25 de abril de 2002, nº 1198. Restaurante Quinta 1.6 – Recreio dos Bandeirantes Gradativamente, o Recreio dos Bandeirantes vem ganhando o mesmo perfil da Barra da Tijuca. Porém, apesar da crescente urbanização, o bairro ainda resiste preservando uma domesticidade e um perfil mais discreto. (ver anexo 9) Sempre que possível, o bairro procura seguir o mesmo estilo do seu vizinho – “A Barra da Tijuca”. A prova disto está clara nos nomes de condomínios e de empreendimentos comerciais do bairro. Condomínios recentemente lançados têm, em sua maioria, a palavra Barra envolvida em seu nome, entre eles podemos citar, por exemplo, dois deles: O “Nova Barra” e o “Barra Bali”. Há também um shopping, Barra World Shopping e Park recentemente inaugurado e localizado no Recreio, chamado “Barra World Shopping e Park”. Não é tão complicado entender o motivo que levam as imobiliárias a venderem apartamentos e casas no Recreio utilizando a Barra como referencial. Mesmo sendo um bairro mais antigo que a Barra (a ocupação no Recreio começou na década de 1930), o fato de dizer que mora num condomínio na Barra é diferente de dizer que mora num condomínio no Recreio dos Bandeirantes. Quem mora na Barra, pertence à nova elite carioca e, conseqüentemente, para alguns, dizer que mora lá, dá mais status. Além disso, as imobiliárias aproveitam para especular o valor do imóvel, vendendo uma casa ou um apartamento no Recreio, cujo valor é incompatível com os demais do bairro. Como foi citado acima, a ocupação do Recreio começou na década de 1930, com algumas casas de veraneio, mais ou menos, na mesma época, do surgimento da Barrinha e do Jardim Oceânico, na Barra da Tijuca. Com suas três praias – Recreio, Pontal e Macumba, o bairro, durante muitos anos, foi reduto dos que apreciavam piqueniques, banhos de mar e aventuras. Praia do Recreio dos Bandeirantes – antes e depois A origem do nome é contada de maneira fantasiosa, por moradores antigos da região. “Segundo Gonçalves (2001): Dizem que o proprietário da segunda das duas grandes glebas A e B que constituíam a área – Joseph Wesley Finch – costumava promover visitas e piqueniques de fim de semana para potenciais compradores dos lotes. Como grande parte dessas pessoas eram paulistas, e tendo muitas delas adquirido seus terrenos à beira-mar, neles fazendo suas casas para descanso e recreio, o local teria passado a se chamar Recreio dos Bandeirantes”.21 Atualmente, moradores do bairro pagam um IPTU altíssimo, mas sofrem com uma série de problemas. 21 PINHEIRO, Augusto Ivan de Freitas e Eliane Canedo de Freitas, A Construção do Lugar – Barra da Tijuca, p. 115. Há uma grande quantidade de vias sem pavimentação e redes pluviais. Apenas as vias principais são pavimentadas, as demais, principalmente entre os condomínios de casas e prédios ainda são de barro. O bairro ainda convive com invasões em áreas de preservação ambiental e falta de saneamento básico. O Canal das Taxas, por exemplo, recebe esgoto “in natura” de casas e estabelecimentos comerciais. Porém, segundo o presidente da Fundação Rio Águas, Alexandre Pinto, “... a região, que já conta com 92 quilômetros de rede, uma estação de tratamento e quatro elevatórias, terá seu saneamento concluído até 2003”.22 À esquerda, a Estrada Benvindo de Novaes há 14 anos. À direita, a mesma via em 2002, ainda sem calçamento. As ruas são mal iluminadas, o que acarreta o aumento do número de roubo a carros – um dos problemas mais graves da região. As autoridades deveriam se preocupar em resolver tais problemas, ao invés de só cobrarem impostos, por vezes injustificados. Os moradores continuam na luta e aos poucos vão atingindo seus objetivos. Entre as recentes conquistas do bairro, podemos citar: a inauguração do batalhão (31° BPM), a regularização do abastecimento d’água e a urbanização das favelas. 22 Jornal O GLOBO, caderno Barra, 25 de outubro de 2001, nº 1146. Mesmo com as dificuldades causadas pela falta de infra-estrutura, a cada dia no bairro surge uma nova construção, algum grande empreendimento imobiliário, seja ele comercial ou residencial, principalmente ao longo da Avenida das Américas. Mas o que podemos observar é que a empolgação do mercado, de inaugurar shoppings centers, acabou resultando em lojas vazias. O bairro tem um único shopping que faz jus ao seu nome Recreio Shopping – O Recreio Shopping, com 93 lojas, 109 salas comerciais, 1 hipermercado e mais 4 cinemas. A oferta de pequenos e grandes shoppings é farta na região, ocasionando a saturação do mercado. A Barra da Tijuca que é um bairro muito próximo ao Recreio já oferece uma variedade de shoppings sendo que muitos ainda permanecem com suas lojas fechadas. Os comerciantes do Recreio que tendem a seguir o mesmo modelo de desenvolvimento da Barra deveriam buscar um diferencial, antes de abrirem seus negócios, caso contrário, permanecerão com corredores vazios e lojas fechadas. Com uma superfície territorial de 3.435 hectares, o bairro ainda oferece outros atrativos, além dos shoppings. Entre os principais monumentos naturais temos o Morro do Pontal e o Parque Chico Mendes. O primeiro divide as praias do Recreio e da Macumba e foi tombado em 1982, como patrimônio ambiental do Rio de Janeiro. O segundo, criado em 8 de maio de 1989, é integralmente coberto por vegetação nativa de restinga e abriga em seu interior a Lagoinha e parte do Canal das Taxas. (mais detalhes no próximo capítulo). À esquerda, o Morro do Pontal. À direita, o Parque Chico Mendes e a Lagoinha. As praias do bairro ficam cheias somente nos fins de semana e estão entre as mais limpas da cidade. A Praia do Recreio dos Bandeirantes, com 2,6 quilômetros de extensão, começa no Posto 9 – point dos surfistas, e segue até o Pontal de Sernambetiba, onde começa a Praia do Pontal. No Pontal concentra-se o ponto final de linhas de ônibus de vários bairros, além de ônibus de excursões de outras cidades, que lotam a praia nos fins de semana. Já a Praia da Macumba, também com 2,6 quilômetros de extensão, é muito freqüentada por surfistas de toda a cidade, que estão a procura de ondas radicais. Praia da Macumba Os atrativos naturais não são os únicos que atraem visitantes para o bairro. Os atrativos culturais também são destaque. Fica no Recreio, o mais importante museu de arte popular da América Latina. A Casa do Pontal, inaugurada em 1992, abriga uma coleção de cerca de 5 mil esculturas de mais de 200 artistas de todas as regiões do país. O museu foi criado especialmente, pelo designer francês Jacques Van de Beuque para abrigar sua coleção Museu Casa do Pontal particular, adquirida ao longo dos últimos 50 anos. De acordo com o museólogo Sérgio Santos, responsável pela conservação do espaço. “ As pessoas ficam encantadas e querem comprar arte popular. Por causa disso, já foram abertos ateliês e lojas de arte bem perto daqui”.23 Além dos pólos de cultura, há também opções para quem gosta de aventuras e aprecia um programa para toda a família. O Parque Aquático Wet’n Wild localizado na Avenida das Américas, quase na subida da serra da Grota Funda, é a versão carioca, de última geração, do mesmo parque Parque aquático Wet’n Wild 23 Jornal O GLOBO, caderno Barra, 25 de abril de 2002, nº 1198. que há nos Estados Unidos. São 110 mil m² de área construída, com 10 milhões de litros de água filtrada, clorada e reciclada 24 horas por dia, com o mais rigoroso padrão de qualidade. Oferece diversas atrações e um estacionamento para 1.200 veículos. “O Recreio, antigo pouso dos desbravadores, é o bairro de mais rápida ocupação da cidade. Com uma população que alcançava no ano 2000, segundo dados do IBGE, 37.486 habitantes, o local já possuía cerca de 60% de suas terras ocupadas, em parte também por favelas, que, embora poucas em número, foram se aninhar ao longo do canal das Taxas e junto do Parque Chico Mendes”.24 Este é o Recreio – um bairro em plena expansão, que vem se tornando a “Nova Barra” do Rio de Janeiro. 24 PINHEIRO, Augusto Ivan de Freitas e Eliane Canedo de Freitas, A Construção do Lugar – Barra da Tijuca, p. 116. 1.7 – Grumari Beirando o litoral do Recreio dos Bandeirantes, pela Avenida Estado da Guanabara, encontraremos logo após a Praia da Macumba, uma subida, que nos levará a uma das mais belas praias da cidade – “A Prainha”. (ver anexo 9) A Prainha Cercada de montanhas cobertas de vegetação nativa, o santuário ecológico abriga surfistas em busca de ondas radicais e casais que aproveitam a beleza do lugar para namorar. Além de águas limpas, livres de poluição, suas areias têm índices de 100% de qualidade, devido à baixa ocupação e a ausência de elementos poluentes. A praia, como o próprio nome diz, é de pequena extensão, apenas 0,7 km. Sua área de 166 hectares foi transformada em Área de Proteção Ambiental em 1990. Desde então ambientalistas se mobilizam para preservar o local, tentando limitar a quantidade de veículos nos fins de semana e proibindo acampamentos. A área da APA da Prainha faz parte da Mata Atlântica, além de ser coberta por vegetação de restinga. Na fauna local podemos encontrar espécies em extinção, como o gato-do-mato e papagainhos. Sede da APA da Prainha Em 15 de setembro de 2001, a praia ganhou um centro de lazer – o Parque Municipal Ecológico da Prainha, criado em 1999, foi aberto à visitação pública. Entre as atrações, o Museu do Surfe e trilhas ecológicas. A idéia da construção do Parque surgiu da necessidade de impedir a construção de um condomínio residencial e hoteleiro Parque Municipal Ecológico da Prainha surfistas. na região, denunciado pelos No local foram construídos banheiros públicos, duchas para banhistas e a sede da administração, onde ficam os guardas municipais do Grupamento de Defesa Ambiental – GDAs. O centro de visitantes – uma casa localizada na parte mais alta do parque – é reservado para exposições e palestras. Visitas guiadas com grupos escolares são realizadas pelas trilhas do parque onde já foram plantadas 150 mudas de espécies como, por exemplo, o paubrasil. Em fevereiro deste ano (2002), a Secretaria Municipal de Meio Ambiente elaborou um sistema de energia solar para o parque, que antes vivia às escuras. São 78 geradores que garantem o fornecimento por até três dias sem sol. É uma pena, pois nem todos que freqüentam a praia têm o amor que os surfistas manifestam pelo local. Muitos banhistas desrespeitam as normas ambientais. Restos de comida, embalagens plásticas e de vidro são deixados na reserva com freqüência. Além da sujeira a área também vem sendo depredada. Mudas de plantas nativas são roubadas e a área verde do parque tornou-se alvo de vandalismo. Por uma ladeira estreita, seguindo a mesma Avenida em frente a Prainha chega-se a “Praia de Grumari” – a última praia em mar aberto alcançável por veículos na região da Barra da Tijuca. A extensa e selvagem praia, com 2,8 km de extensão, também muito freqüentada por surfistas, tem muita história para contar. Praia de Grumari Ao descer a ladeira nos deparamos com a pequenina praia do Abricó, cercada por muitas pedras próximas a arrebentação e freqüentada pelos amantes do nudismo há alguns anos. Hoje parece que esta prática está proibida, o que vem causando grandes debates, pois quem é contra o nudismo não se conforma em conviver Praia do Abricó com quem pratica. Francisco Alves Siqueira, em seu livro “Os Mistérios do Grumari” nos conta que o nome Grumari deriva da palavra Grumarim. Os índios tupis seguindo a orientação dos africanos, passaram a viver em casebres de taipa ou pau-a-pique. Para construí-los era necessário varas grossas, para assim segurar a massa de barro e proteger a casa dos vendavais oceânicos. Estas varas foram denominadas pelos índios de Grumarim, por serem duras, alinhadas e próprias para flechas. O local onde mais se colhia este arbusto era próximo a uma praia entre o Recreio dos Bandeirantes e Barra de Guaratiba. Por isso foi dado o nome de Grumari ao lugar, “cujo significado é purtácea, madeira amarela, pouco porosa, substituindo o buxo – serve para xilografia e bengala; aquilo que gera varíola ou urticária, coceira – sarna má”.25 25 SIQUEIRA, Francisco Alves, Os Mistérios do Grumari, p. 10. Grumari, em seus 951 hectares conta com apenas 136 moradores. Foi descoberto pelo “homem branco” no século XVIII, quando o maior fazendeiro da época – Francisco Caldeira de Alvarenga, filho de João Caldeira, assumiu o controle da região. Francisco deixou para os descendentes a Fazenda do Grumari Grande, uma extensão de 4.820.000 metros quadrados. Foi em meados do século XIX que o café e a mandioca imperaram na região. Após a decadência do café, grandes bananais foram plantados em toda Grumari. A comunidade local sobrevivia da caça, da pesca e das lavouras de subsistência. Além de ser um povoado alegre e festeiro, onde danças típicas da época, como o Xote e a Mazurca, eram improvisadas. Porém, a ciranda e a batucada predominavam. “A atividade no Grumari era tão intensa e controlada que a produção atingia níveis elevados de produtos colhidos e distribuídos entre os consumidores, tanto assim que num formal de partilha do inventário de Deolinda Maria de Santa Rita e João Caldeira de Alvarenga, processado em 1846, foram avaliados entre outras plantações 40 mil pés de café”.26 “Tem-se conhecimento também que existiam mais de 40 fábricas de farinha de mandioca (farinha de roça como diziam), tudo feito pelo processo manual, usando roda, cocho, prensa, tipiti, forno, pá, rodo etc”.27 26 SIQUEIRA, Francisco Alves, Os Mistérios do Grumari, p. 17. 27 Idem. A Praia de Grumari tem nas suas extremidades duas lagoas. A Lagoa do Canto e a Lagoa Feia. Segundo relato de antigos moradores, quem se atrevesse entrar ou cair em suas águas adoeceria, contraindo uma febre que poderia matar em três dias. À esquerda, Lagoa do Canto. À direita, Lagoa Feia. Na Praia de Grumari, por ser mar aberto, formam-se ondas grandes, assim como na Prainha. Porém, é possível o embarque e desembarque de pequenas embarcações. Dentro de seus limites, localizam-se duas ilhas em frente à praia. A Ilha das Palmas (que possui enseada para abrigo de embarcações) e a das Peças. Todo o ecossistema de Restinga conservado na área de Grumari é considerado pelos estudiosos, um dos mais representativos de todo o Município do Rio de Janeiro. À esquerda, Ilha das Palmas. À direita, Ilha das Peças. O local hoje é incomparável ao de dois séculos atrás. Na segunda metade do século XIX, exatamente “em 1888 foi criada uma Escola Municipal e uma Agência de Correio e em 1895 já eram duas escolas, sendo que na Fazenda do Grumari Grande as aulas eram ministradas pela própria dona Mafalda Teixeira de Alvarenga”.28 Nos anos de 1960, o exôdo rural deixou praticamente vazio o bairro de Grumari. As escolas deixaram de existir, obrigando as crianças e jovens do local a caminharem quilômetros para estudar, e são poucos os que ainda insistem em lá permanecer, apesar de todas as dificuldades. Além das mortes provocadas pela Lagoa Feia, outros mistérios rondam a região. Muitos pescadores desapareciam quando iam pescar nas pedras do costão do Grumari, provavelmente caíam das pedras escorregadias. Costão do Grumari, à direita. Como já foi citado, Grumari significa coisa má. “Formou-se assim porque ali se colhia as varas com esse nome, e que muito castigaram escravos, além de ser o arbusto preferido pelos índios para as flechas de seus bodoques. Os nativos usaram das mesmas para construção das casas que já desapareceram”.29 28 SIQUEIRA, Francisco Alves, Os Mistérios do Grumari, p. 10 e 11. 29 SIQUEIRA, Francisco Alves, Os Mistérios do Grumari, p. 52. Grumari herdou a maldição de seu nome. A mata local também sofre com o descaso. Os arvoredos vêm desaparecendo aos poucos, dominados pelo capim colonião que cresce a cada dia. Ao atearem fogo na mata, o capim se alastra mais rapidamente. Antigamente, os habitantes cultivavam nas terras, plantavam e colhiam seu sustento, o que conseqüentemente impedia o domínio do capim. Parece que agora, os órgãos ambientais estão querendo reflorestar a região e permitir que moradores locais voltem a trabalhar a terra. Após a cana-de-açúcar, o café e a laranja, o Grumari passou a produzir exclusivamente banana. Se seguirmos a Avenida Estado da Guanabara e subirmos a Estrada do Grumari – uma via muito sinuosa e estreita, alcançaremos a Estrada da Barra de Guaratiba e o bairro de mesmo nome, que veremos na Parte II do projeto. Na encosta da Estrada do Grumari existem trilhas usadas para caminhadas. Porém, o melhor acesso é feito por Barra de Guaratiba. Grumari reserva lindíssimas paisagens. A vegetação de restinga, densa e espinhosa, lembra o agreste. O mar bravio e as areias muito brancas complementam o visual. Grumari é um paraíso que atrai muitos visitantes todos os fins de semana. É necessário porém, conscientizá-los da importância da preservação do meio ambiente, além de continuar limitando a entrada de visitantes, pois a capacidade de carga do local é baixa e o bairro não tem infraestrutura suficiente para suportar um grande número de turistas. 1.8 – Barra da Tijuca “Sorria! Você está na Barra”. Este é o slogan que simboliza o bairro há 15 anos, mas que, infelizmente, não pode ser mais visto numa das entradas principais do bairro. Ele transmite a alegria de estar ou viver na tão jovem Barra da Tijuca, que veremos a seguir. O bairro, nos últimos 20 anos, cresceu assustadoramente e ainda não parou de crescer. Foi a região que mais sofreu modificações radicais em sua paisagem no final do século XX. O que antes era um imenso areal, quase deserto até meados da década de 1960, transformou-se rapidamente no símbolo do capitalismo e do consumismo exacerbado. A expansão econômica e imobiliária transformaram a Avenida das Américas num longo corredor emparedado, onde edifícios cada vez mais altos são construídos, obstruindo a linda vista das montanhas. (ver anexo 10) Barra da Tijuca – 1976 Revista Manchete A perspectiva de um novo estilo de vida, com mais qualidade, mais ar puro e segurança motivou milhares de pessoas a optarem por viver na Barra. Nesses 20 anos, os moradores da (na época) emergente Barra da Tijuca, tiveram que brigar por saneamento básico, insumo primordial atropelado pelo crescimento desordenado; ainda tentam se adaptar à falta de um sistema de transporte de massa eficiente; foram convocados a decidir se queriam ou não se separar do Rio; lutaram para preservar o que resta da natureza; descobriram que o seu tão falado modelo de vida, cercado por grades e câmeras, não os imuniza das mazelas da cidade grande; lançaram dúzias de modismos; enfim, cravaram a presença do bairro na historia da cidade. A Barra da Tijuca é o único bairro da cidade surgido a partir de um planejamento prévio, como já vimos, o Plano Piloto da Barra da Tijuca. Mas, a pioneira iniciativa do urbanista não resistiu às pressões do setor imobiliário, que via na região seu novo eldorado. Lúcio Costa, contrariado com os rumos dados às diretrizes do plano, afastou-se de sua implantação no início dos anos 80. Há quem diga que a Barra completa o tripé dos ícones urbanos cariocas e que surge com a mesma carga simbólica do Centro e de Copacabana. O parentesco seria, primeiramente, “... com o centro do Rio do início do século XX – quando foi travestido pela roupagem hausmaniana importada de Paris por Pereira Passos (Benchimol, 1990) e transformou-se num ambiente civilizado, organizado e moderno – e com a Copacabana dos anos de 1930 a 1950 do mesmo século – criada para ser paradigma de uma nova civilização, alegre, elegante e tropical – representação de um país exótico, porém atraente e internacional”.30 Apesar de terem a mesma carga simbólica, a Barra é completamente diferente do Centro e de Copacabana. Um novo conceito de qualidade de vida surge na Barra. Muitos moradores já não saem do bairro para nada, pois tudo o que procuram pode ser encontrado dentro dos próprios condomínios – que já são criados oferecendo toda uma estrutura de serviços, com o intuito de facilitar a vida dos futuros moradores e/ou dentro dos núcleos comerciais e dos “megashoppingcenters” localizados ao longo da Avenida das Américas – lugar de consumo e lazer. 30 PINHEIRO, Augusto Ivan de Freitas e Eliane Canedo de Freitas, A Construção do Lugar – Barra da Tijuca, p. 118. Na Barra, ter um carro é imprescindível, pois as distâncias são muito longas. No Centro e em Copacabana o espaço foi projetado para os pedestres, enquanto que na Barra, para os veículos. É na Avenida das Américas que a população circula, seja nos automóveis ou nos ônibus. Avenida das Américas em 1980 e em 2002. O desenvolvimento da Barra pode ser visto ao longo desta via. Paisagem radicalmente mudada nos últimos 20 anos. Para muitos, a Barra é um bairro americanizado, cujos projetistas e arquitetos buscaram inspiração em cidades como Miami, Las Vegas e Nova Iorque. Ela tem uma arquitetura e um modo de vida muito diferente do resto da cidade e isto talvez incomode muitas pessoas que fazem questão de criticar a região. “A Barra criou o estilo de vida indoors dos shoppings e condomínios e adaptou a ginga carioca ao american way of life. Ao mesmo tempo e paradoxalmente, o mesmo bairro, que se trancou em espaços fechados, deu origem a novos esportes e consolidou a comida “natureba”. ― A Barra gosta de lançar tendências. Seus moradores, pelo alto poder aquisitivo, viajam sempre e trazem novidades – diz a socióloga e moradora da região Carmem Dias”.31 31 Jornal O GLOBO, caderno Barra, 25 de abril de 2002, nº 1198. Os moradores, que são popularmente chamados de emergentes por pessoas de outros bairros, acreditam que o fato de se viver na Barra incomoda a muitos, por diversos motivos. Talvez o principal deles, seja o fato da Barra ser considerada um verdadeiro resort, cuja qualidade de vida só pode ser desfrutada por alguns. No ano de 1988, com o argumento de que a Barra era o local com impostos mais altos e que menos recebia retorno do município, alguns moradores da região levantaram sua bandeira separatista. O bairro queria se tornar um município. Porém, no dia 3 de julho deste mesmo ano, por falta de quórum, a Barra deixou de se tornar independente. Apenas Barra Livre – 1988 Os favoráveis ao sim 12% dos moradores habilitados a votar compareceram às urnas. Quase 14 anos depois do plebiscito, a Barra desenvolveu uma infra-estrutura típica de uma cidade, com fórum, empresas e shoppings, uma realidade nada parecida com a da época. Tornou-se um bairro auto-suficiente, mas que está integrado ao resto do município. Mesmo hoje, a emancipação seria inviável, pois só traria mais custos para os moradores. Na época, o mapa do novo município havia sido traçado estrategicamente, deixando de fora todas as favelas. Isto comprova que realmente, eles queriam distância das mazelas da cidade. Dois lugares do bairro se destacam por representarem as primeiras ocupações, com um modelo de urbanização mais antigo e tradicional e com loteamentos da década de 1930: A Barrinha e o Jardim Oceânico. A Barrinha é o local mais tradicional da Barra. Surgiu na década de 1930, quando a única ligação entre os demais bairros e a região era a Estrada do Joá. As casas são mais modestas e o comércio não evoluiu muito em comparação ao restante da Barra. “No meio de um imenso areal que era a Praia da Barra, foram erguidas algumas casas modestas, uma padaria, um supermercado, um bar e o Hotel Garoto, onde hoje funciona o Motel Scorpius. ― Quando precisava comprar uma coisa mais específica, tinha que ir à Zona Sul ou à Tijuca – lembra Maria Eugênia Campos, de 67 anos”.32 Antigos moradores relatam que a região era freqüentada por gente famosa, como por exemplo, os presidentes Getúlio Vargas e João Goulart. Waldir Duarte, de 64 anos e morador da Barrinha desde 1964 lembra ainda do tempo que o bonde ligava a Barrinha ao resto da cidade. “ ― Para se chegar aqui, só a cavalo, a pé ou de bonde, pelo Alto da Boa Vista. Depois construíram a ponte do canal. E naquele tempo, ela era uma pinguela perigosa”.33 Com ares de uma pequena cidade do interior, com ruas arborizadas e tranqüilas, o local ganhou fama a partir da década de 1960, muito antes do “boom” imobiliário na região. A famosa “rua dos motéis”, localizada na Estrada da Barra da Tijuca, tão comentada em toda a cidade, destoa, completamente do ambiente da Barrinha. Motéis, a margem da Lagoa da Tijuca. 32 Jornal O GLOBO, caderno Barra, 29 de novembro de 2001, nº 1156. 33 Idem. De acordo com Eric Pereira, autor do livro “É sal, é sol, é sul”, o primeiro motel da Barrinha era, na verdade, uma casa com alguns quartos, que eram alugados no início dos anos 60 por uma portuguesa. Só depois é que foram inaugurados os estabelecimentos da Estrada da Barra da Tijuca. “ ― O Xá-Xá-Xá é um dos pioneiros, e o Holiday foi o primeiro com garagem privativa. Havia filas quilométricas em frente aos motéis, que eram os únicos da cidade. As casas da Presidente Dutra e da Washington Luís só foram abertas depois”.34 No largo da Barra está localizado um bar muito freqüentado pela juventude carioca – o Bar do Oswaldo, cuja especialidade são as deliciosas batidas de vários sabores. Bar do Oswaldo Em agosto de 2001, o tombamento da Barrinha gerou polêmica. O projeto de lei do vereador Rodrigo Bethlem de criar uma APAC na Barra contrariou a proposta de imobiliárias, cujo projeto seria renovar e modernizar o bairro, construindo uma marina no lugar dos motéis. Porém, até hoje nada foi feito e o projeto ainda não saiu do papel. Saindo da Barrinha, em direção a Avenida das Américas, encontramos o Jardim Oceânico. Iniciando-se no Quebra-Mar, este antigo loteamento ultrapassa a Praça São Perpétuo - também chamada Praça do Ó. O local foi urbanizado nos traçados dos bairros-jardins ingleses do século XIX. As ruas são arborizadas, tranqüilas e as edificações são baixas (em média, prédios de três andares com apartamentos grandes). O comércio local é bem parecido com os demais bairros da cidade, onde tudo pode ser feito a pé. Na Avenida Olegário Maciel, há clínicas, supermercados, boutiques, lanchonetes, restaurantes, bancos e academias bem próximos 34 Jornal O GLOBO, caderno Barra, 25 de abril de 2002, nº 1198. uns aos outros. Ao longo desta mesma avenida, chegamos na famosa Praia da Barra da Tijuca, naquela altura mais conhecida como “Praia do Pepê”, que fica lotada nos fins de semana. A praia recebeu este nome por ali está localizada a badalada barraca do Pepê – um surfista carioca que praticamente lançou a moda de vender sanduíches naturais em quiosques da praia e faleceu, tragicamente, na queda de um vôo de asa delta. A barraca é o ponto de encontro da juventude dourada da Barra, onde sempre “rola” uma paquera, um jogo de vôlei ou um frescobol. Início da Praia da Barra, próximo ao Pepê Não poderia deixar de citar também a Igreja de São Francisco de Paula, talvez a mais antiga da Barra da Tijuca. A capela em madeira foi erguida em meados do século XX, porém, a paróquia foi somente inaugurada em 1969. Durante 40 anos, a igreja acompanha todo o desenvolvimento urbano da Barra. A obra de ampliação foi realizada com os recursos arrecadados, através de subscrição pública, pela comunidade calabresa do Rio. A festa, promovida pela colônia italiana, é comemorada no mês de maio e atrai uma multidão de pessoas. Nesta última festa, que durou três dias (03 a 05 de maio de 2002), reuniu um total de 12 mil pessoas, entre elas muitos jornaleiros. A procissão seguiu pelas ruas do Jardim Oceânico até a praia, onde houve queima de fogos. São Francisco de Paula é o padroeiro dos jornaleiros. Igreja de São Francisco de Paula “Durante as comemorações foi possível encontrar a primeira geração dos italianos que desembarcaram no Brasil na metade do século passado em busca de uma oportunidade. ― Na primeira festa, havia 30 pessoas num barraco de madeira. Eu tinha comprado minhas primeiras duas bancas de jornal – disse Pietro Polizzo, de 70 anos, natural da província de Paola, próximo à Calábria, no Sul da Itália”.35 Continuando Avenida das Américas, pela próximo ao entroncamento com Avenida Ayrton Senna e o Barrashopping, encontramos um marco na história imobiliária da cidade – O Condomínio Nova Ipanema. Inaugurado em 1977, o Nova Ipanema é o primeiro Condomínio Nova Ipanema grande condomínio do bairro. “O empreendimento, fruto de uma parceria entre a Esta, a Klacon e a antiga Gomes de Almeida, foi um sucesso de vendas. Construído sob um imenso areal, o Nova Ipanema foi inaugurado com 100% dos seus apartamentos vendidos. À frente de seu tempo, já nos anos 70 o condomínio tinha uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) com tecnologia francesa e fiação elétrica subterrânea”.36 Após o Nova Ipanema, novos condomínios com grandes torres foram surgindo como, por exemplo, o Novo Leblon, o Atlântico Sul, o Barramares, o Riviera dei Fiori, entre outros. A grande maioria foi projetada ao longo da Avenida das Américas, nos terrenos de frente 35 Jornal O GLOBO, RIO, 06 de maio de 2002. 36 Jornal O GLOBO, caderno Barra, 01 de novembro de 2001, nº 1148. para o mar. Porém, de acordo com o plano Lúcio Costa, o plano previa apenas edificações baixas e hotéis. Entre as altas torres podemos encontrar também, condomínios de casas, ou melhor, de mansões. Todos, extremamente protegidos por cancelas, porteiras eletrônicas e por grades, o quê, para muitos estudiosos tornou-se alvo de críticas, como vimos no capítulo anterior, mas também de defensores. A cada dia aumenta a procura por morar no bairro, mesmo sendo um local distante do Centro. Os condomínios oferecem toda uma estrutura para seus moradores, como: transporte coletivo exclusivo para os moradores; jardins belíssimos; padaria; lanchonete; toda a infra-estrutura de clubes com academia de ginástica e sala de musculação; piscina; sauna; encantadoras balsas atravessam a Lagoa de Marapendi para levarem os moradores até a praia. Alguns até tem um shopping bem próximo, suprindo algumas necessidades. Outros, recentemente inaugurados, oferecem campo de golfe particular com lagos e cisnes. Enfim, são ou procuram ser, sempre que possível, auto-suficientes. Mesmo com toda essa auto-suficiência, isto já no final dos anos de 1970 quando os primeiros condomínios foram inaugurados, os moradores necessitavam de locais mais badalados para se divertirem, próximos a suas residências. Daí o surgimento dos shoppings. Porém, antes deles, os primeiros grandes empreendimentos comerciais a se instalarem na Barra foram os supermercados e hipermercados, ao longo da Avenida das Américas. O primeiro deles foi o Carrefour, que foi erguido numa época em que a Barra ainda parecia um deserto, mal tinha iluminação nas estradas e havia muito mato e areia. Na época foi uma grande novidade, pessoas dos mais variados bairros estavam ansiosas para conhecer este novo modelo de mercado. Em seguida outros foram surgindo como o Paes Mendonça (hoje, Extra), o Makro, o Freeway (hoje, também Extra) e um mais recente chamado Bon Marché (do grupo Sendas). Logo, após os hipermercados, vieram os shoppings, cujo modelo se adequou, perfeitamente, ao modo de vida do bairro. Locais estritamente protegidos, controlados, vigiados e confortáveis, tão diferente do comércio dos subúrbios. Circulando pelos shoppings, quem está lá perde a noção do tempo, sem a percepção da hora do dia ou das condições climáticas. Há uma grande variedade de serviços, tais como: pet-shops; consertos de sapatos e roupas; magazines; papelarias; clínicas médicas; bancos; correios; cabeleireiros, postos de gasolina; academias e até universidade. E entretenimentos, como: teatros; cinemas; música ao vivo; casa de show; oficina de pintura e teatro para crianças; boliche; parquinho; entre outros. O Barrashopping, construído em 1980, atrai uma multidão de pessoas e turistas anualmente. O imenso edifício de dois andares possui 540 lojas, 4 km de vitrines com grifes famosas, um teatro, um parque de diversão infantil, o U.S. Play, com o Brunswick Barra Bowling (boliche), o Mercado da Praça XV (produtos hortifrutigranjeiros), o Rock in Rio Café – um bar temático com pista de dança, entre outras facilidades e serviços. “... seu faturamento anual equivale ao orçamento de uma cidade da região metropolitana de quase um milhão de habitantes”.37 O Barrashopping é o maior e mais completo shopping da América Latina. Assim como os Barrashopping mercados, outros shoppings foram surgindo após o pioneiro Barrashopping. Entre os principais e de grande porte, temos: • O Casashopping – com 100 lojas e 208 salas comerciais, especializadas em móveis e decoração. • O Via Parque – com 280 lojas, 6 cinemas do circuito Severiano Ribeiro e a maior casa de espetáculos do Rio de Janeiro, o ATL HALL, que passou por uma recente reforma. 37 PINHEIRO, Augusto Ivan de Freitas e Eliane Canedo de Freitas, A Construção do Lugar – Barra da Tijuca, p. 144. • O New York City Center – o primeiro centro de entretenimento do país, com 57 mil m² de área construída. Entre as principais atrações: o maior megaplex do Brasil, com 18 salas de exibição com 4.500 lugares e tecnologia de ponta, loja da GameWorks (com modernos e exclusivos simuladores e jogos interativos), a Megastore da livraria Saraiva, além da boate Studio 54. New York City Center • O Rio Design Center – o maior shopping temático de decoração da América Latina, com 100 lojas amplas e variados restaurantes. Dois novos shoppings que seguem um novo modelo de arquitetura e uma diferente proposta surgiram no bairro. O Città America e o Downtown. Ambos são ao ar livre e possuem belos jardins, onde tudo, menos a vegetação é artificial. O Città America, por exemplo, numa área de 100 mil m², com 640 lojas em seus três andares, possui uma arquitetura semelhante a uma espécie de galeria neoclássica, que se harmoniza com três grandes praças, nas quais destaca-se uma ambientação tropical com vegetação exuberante em seus belos jardins. Bromélias, flores e arbustos se estendem ao longo dos rios e cascatas artificiais que cortam os corredores dos shoppings. O shopping está sempre movimentado, principalmente, devido a duas grandes atrações: o Hard Rock Café e o Parque da Mônica. Atrás da galeria encontramos um conjunto de seis prédios de três andares, Shopping Città America de arquitetura contemporânea, totalizando 780 salas comerciais e escritórios. O Downtown, primeira “cidade” comercial do Brasil, projetado pelo arquiteto Luiz Paulo Conde, mais parece um vilarejo residencial. São 23 blocos com cerca de 600 lojas e 900 salas comerciais. Também possui belos jardins nas diversas pracinhas. “... o shopping se assentou sobre as terras de um cemitério indígena, um sambaqui cujos despojos estão guardados num sofisticado restaurante de Vargem Grande”.38 Shopping Downtown É um shopping completamente diferente dos tradicionais, pelo fato de ser realmente aberto, obrigando os clientes a andarem sob sol ou debaixo de chuva. Dispõe de centrais de lazer com atrações como o Cinemark – um dos maiores circuitos exibidores do mundo, com 12 salas de cinema equipadas com telas gigantes, som digital, poltronas reclináveis, arrumadas como um anfiteatro, permitindo melhor visão ao espectador e bares e restaurantes, que complementam o agitado centro. Entre os mais famosos, o bar Na Pressão, a lanchonete do Pepê e o restaurante Galeria Gourmet (ex Dado Bier). Além dos sete citados acima, há uma infinidade de shoppings para todos os gostos e estilos. Procurei detalhar os de grande porte porém, existem os pequenos shoppings, mais voltados para condomínios do bairro como, por exemplo, o Barra Mall, o Millenium, o América Mall, o Barra Square, o Rosashopping, o Midtown Nova Ipanema, entre outros. De acordo com dados do Anuário Estatístico da Cidade do Rio de Janeiro (1998), em seus 3.593 hectares, em 1996 residiam no bairro 82.702 pessoas, com uma densidade 38 PINHEIRO, Augusto Ivan de Freitas e Eliane Canedo de Freitas, A Construção do Lugar – Barra da Tijuca, p. 145. demográfica bruta de 23 habitantes por hectare, uma das mais baixas do Rio de Janeiro. Se fosse descontada a superfície de suas lagoas, aproximadamente 13 km², este número seria bastante alto. Além dos shoppings, a região tem muitos atrativos naturais, como as praias, os bosques e os parques ecológicos. Com uma faixa litorânea com 15 km de extensão, subdividida em 8,1 km antes da Reserva e mais 7 km dentro da Área da Reserva Biológica de Marapendi, a Praia da Barra da Tijuca é uma das maiores, senão a maior praia da cidade do Rio de Janeiro. O primeiro trecho tem início na Avenida do Pepê, a partir do Quebra-Mar da Barra, estendendo-se pela faixa litorânea ao longo da Avenida Sernambetiba. O segundo trecho tem início logo após o Posto 8 do Salvamar, na faixa litorânea pertencente à Área da Reserva Biológica de Marapendi. Com 7 km de extensão, a Praia da Reserva termina um Píer da praia da Barra da Tijuca pouco antes do Posto 9 do Salvamar, onde inicia-se a Praia do Recreio dos Bandeirantes. A Praia que é urbanizada desde o Quebra-Mar até um pouco depois do Posto 8 do Salvamar, oferece ciclovia, quiosques, iluminação especial noturna para a prática de esportes, redes de vôlei, futebol de areia, aparelhos de ginástica, 8 torres de Salvamar, além de vários quiosques. Em toda a sua extensão ela é acompanhada pelas águas da Lagoa e do Canal de Marapendi. Ao norte, três lagoas separam a Barra de Jacarepaguá - A Lagoa de Jacarepaguá, a Lagoa do Camorim e a Lagoa da Tijuca, que desemboca na praia da Barra da Tijuca, próximo ao Quebra-Mar. Três ilhas destacam-se nas lagoas: A Ilha da Gigóia, a Primeira e a dos Pescadores. As duas primeiras são habitadas e a terceira é uma casa de shows e festas – “A Ilha dos Pescadores”. Parques ecológicos complementam os atrativos naturais do bairro. O Parque Municipal Ecológico de Marapendi (que é uma Área de Proteção Ambiental); o Parque Arruda Câmara (mais conhecido como Bosque da Barra) e o Parque Trevo das Palmeiras. À esquerda, Parque Municipal Ecológico de Marapendi. À direita, o Bosque da Barra. Para complementar localiza-se na região o maior Centro de Convenções da América Latina – O Rio Centro; o Pólo Rio de Cine, Vídeo e Comunicação – um dos maiores centros de produção de cinema da América Latina; o Autódromo Internacional Nélson Piquet – onde são sediadas provas como a Fórmula Indy e a Etapa Rio do Mundial de Motovelocidade; o Parque Terra Encantada – com 20 grandes atrações, entre elas o Cabum (torre de 67m de altura com elevador que despenca em queda livre a 100 km/h) e a Monte Makaya (montanha russa com recorde mundial de inversões). Acima o Rio centro. Ao lado, o Autódromo Internacional Nelson Piquet. Na Barra também existe um aeroporto localizado na Avenida Ayrton Senna (antiga Via 11), chamado Aeroporto de Jacarepaguá. “O local onde hoje é o aeroporto de Jacarepaguá era um pequeno campo de pouso criado pela empresa francesa Aeropostale em 1928. Essa firma, que se transformou na Air France, foi proprietária do campo até 1939, quando o aeroporto passou para a aviação militar do Exército Brasileiro. Em 1944, o controle foi para o Ministério da Aeronáutica. Antes da abertura da via 11, não existiam vias por terra para o campo. A pista de pouso era alcançada por lanchas vindas da Barra pelas lagoas”.39 A Barra é tudo isto e muito mais! Um bairro muito jovem, que caminha rumo à maturidade urbana e que a cada dia demonstra fortes indícios de seu futuro promissor. 39 COSTA, Waldemar, Imagens de Jacarepaguá, 1995, p. 22.