O QUE É SER FAKE? UMA ANÁLISE DA INTERAÇÃO SOCIAL, ENTRE FAKES, NUMA COMUNIDADE VIRTUAL1 Siméia Rêgo de Oliveira 2 Resumo: O presente artigo é um recorte da minha dissertação de mestrado que estuda o fake e o cotidiano pelo arcabouço da comunicação. Esse artigo, no entanto, aborda o fake como efeito das novas formas de interação social. Esse perfil, interage escrevendo histórias e compartilhando-as em tempo real. O embasamento teórico dá-se pelas vertentes interdisciplinares da teoria do cotidiano e a socialidade para compreender essa interação baseada no aqui e agora. Como metodologia apreende-se o interacionismo simbólico e o procedimento metodológico consiste numa entrevista feita com um perfil fake autor de uma das Webnovelas, chamada A Dívida, a qual é o corpus para análise desse artigo. Palavras-chave: webnovela, interação em rede, fake. Abstract: This article is an excerpt from my dissertation that studies the fake and the framework of everyday communication. It nonetheless, discusses fake like effect of new forms of social interaction. The profile's owner interacts writing stories and sharing them in real time.The theoretical basis is given by the interdisciplinary dimensions of everyday life's theory and sociality, to understand this interaction based on the here and now. The methodology is apprehended symbolic interactionism and methodological procedure consists of an interview with a fake profile of an author of Webnovelas called The Debt, which is the corpus for analysis of this article. Keywords: webnovela, networking interactions, fake. INTRODUÇÃO Em 2008, quando acessava a comunidade virtual Eu acredito em confio em Deus, do Orkut, com mais de 5 milhões de membros, um perfil me chamou mais atenção do que os demais porque nas ocasiões em que esse comentava, sempre em tom de ironia e sarcasmo, o debate seguia acalorado. E esse perfil era um fake. Sim, os demais membros sabiam ou deveriam saber que o tal perfil, que continha a imagem de um monge sorridente, se tratava de um fake tão quanto o próprio ―dono‖ do perfil, uma vez que esse ou essa se identificava como sendo um perfil falso. Inclusive no espaço do about me ou fale sobre você da página do Orkut havia uma sinopse explicando e justificando seu pseudônimo: tratava-se de um monge bêbado, que vivia enclausurado, em plena idade média e criticava sarcástica e ironicamente o cristianismo em suas vertentes mais populares 1 Artigo submetido ao NT – práticas interacionais do SIMSOCIAL 2013. 2 Mestranda em comunicação e culturas cidiáticas vinculada ao PPGC/UFPB. E-mail: [email protected] no Brasil: a do catolicismo e a dos evangélicos. Pois é, qualquer inspiração e semelhança com a obra Elogio da Loucura, de Erasmo de Rotterdam3 não deve ter sido mera coincidência. Entretanto, a vontade de estudar o fenômeno fake aflorava juntamente com algumas questões: por que esse perfil interage como fake? Será que a sua popularidade se devia ao fato de ser um fake? Se ele não fosse fake, teria essa popularidade entre os demais membros? A partir dessa efervescência de questionamentos iniciou-se, então, uma maratona pela busca de um fenômeno social associado a esse fake, uma vez que estudar esse perfil, isoladamente, seria insuficiente, metodologicamente, ao que viria a ser proposto. Foi então que se decidiu abordar a comunidade virtual Web novelas fake, do Orkut, composta apenas de perfis fake, cuja interação se dava por meio de novelas criadas e compartilhadas entre eles. Estava aí o fenômeno que se procurava. Contudo o desafio apresentado ainda persiste uma vez que é preciso estudar esses ―fenômenos comunicacionais mediados pela mídia, nos quais elas mesmas são também actantes‖ (PRIMO, 2013, p.10), pelo veio da comunicação. Nessa pesquisa aprouve, então, observar o fake em interação, no contexto do cotidiano. Por isso, faz-se uma interdisciplinaridade com essa teoria contributo importante nos estudos da comunicação. Assim, numa relação da comunicação e o cotidiano o discurso seria entendido como práxis, ou como um conjunto de rotinas. Essas rotinas seriam percebidas nas conversações entre esses fakes pelas novas formas de interação homem-máquina e a relação desse perfil com o seu self, pelo ecrã (TURKLE, 1997 apud JÚLIO, 2005). Portanto, estudar a mídia e o cotidiano se traduz na possibilidade de observação das relações sociais digitalizadas como efeito das novas formas de interação social. Dessa feita, a proposta desse artigo é a comunicação e o cotidiano, aproximando-se do fake. Sobretudo porque esse trabalho pretende estudá-lo como fenômeno comunicacional mediados pela mídia (PRIMO, 2013). O presente estudo se realiza em quatro tópicos: o primeiro consiste no exame das matrizes teóricas utilizadas na pesquisa; o segundo analisa o fake como efeito das novas formas de interação social. O terceiro contempla o procedimento da análise de uma conversa com um perfil fake Escritora! Lisa da autora da Webnovela A Dívida, encontrando palavraschaves que auxiliaram a construir um quadro teórico sobre esse perfil fake. E como quarto tópico e último tópico, tecer as considerações finais sobre a pesquisa. 3 ROTTERDAM, Erasmo de. Elogio da Loucura. Atena Editora, s.d. 2002. 2 Assim, essa pesquisa contempla o perfil fake como efeito das novas formas de interação social. Bem como, compreende esse perfil no sentido de fenômeno comunicacional e visa demonstrá-lo pela interação social a partir do produto webnovela. 1. MATRIZES TEÓRICAS Pierre Lévy (1999) conceitua a cibercultura em três termos: a internet, o ciberespaço e a cibercultura, significando que a internet seria o espaço em si, o ciberespaço o meio de comunicação composto pela junção da infraestrura, do universo de informações e do homem que acessa essa rede, e a cibercultura o conjunto de técnicas materiais e intelectuais que se desenvolvem junto ao ciberespaço; estes são alinhados em três princípios: a interconexão, as comunidades virtuais e a inteligência coletiva. Rudiger (2013), na perspectiva dos remanescentes de McLuhan a partir do conceito de aldeia global4, propõe que a cibercultura surgiria ―em meio ao desenvolvimento científico e tecnológico do final do século XX‖ (RUDIGUER, 2013, p.27). Assim, segundo o autor, a cibercultura é definida ―como a formação histórica, ao mesmo tempo prática e simbólica, de cunho cotidiano, que se expande com base no desenvolvimento das novas tecnologias eletrônicas e de comunicação‖ (p.11). Outro conceito importante que embasa esse artigo é o de André Lemos (2008), que aponta que a cibercultura é a socialidade como prática da tecnologia uma vez que herdando a contracultura5 e sua ideologia de oposição a cultura da modernidade, não recusa a tecnologia. Portanto o desenvolvimento da cibercultura esteve aliado ao desenvolvimento das novas tecnologias, a partir dos microcomputadores e a ―reunião de pessoas através comunicação mediada‖, em interação e ampliada. A socialidade perpassa o desenvolvimento tecnológico e segundo Maffesoli (1998, p. 110) ―pode caminhar lado a lado com [esse desenvolvimento] [...], ou mesmo ser apoiada por ele‖. Assim, faz importante observar um dos seus micro-conceitos que podem explicar essa interação, que é o da tribalização que Lemos (2008, p. 86) ao citar Maffesoli, se refere como ―a cultura do sentimento que se apóia sobre as multipersonalidades (as máscaras do teatro 4 A aldeia global surgiria ―interligada através da comunicação eletrônica, via computadores‖ (MCLUHAN, ano apud RUDIGER, 2013, p.27) 5 Nos anos 70, a contracultura foi ―um movimento de oposição à cultura ―desligante‖ (déliante) da modernidade [...], [uma vez que essa] encarnava o símbolo maior do totalitarismo da razão científica, causa principal da racionalização dos modos de vida e da dominação da natureza através da urbanização e industrialização das cidades ocidentais‖ (BOLLE DE BAL, apud LEMOS, 2008, p. 89) 3 cotidiano) [...] a partir de uma ética da estética, ―onde aquilo que é compartilhado com outros será primordial [...]‖ (MAFFESOLI apud LEMOS, 2008) As comunidades não são efeito da internet, por outro lado, segundo Howard Rheinghold (1996) a tecnologia de Comunicação Mediada por Computador (CMC) se torna acessível em qualquer lugar. Assim, reitera-se que o fake é percebido em vários ambientes da sociedade e que faz-se necessário tornar a trazer à lume a pesquisa para o seu sentido inicial: a observação do fake no contexto das comunidades virtuais. Faz-se necessário voltar ainda um pouco na história a fim de apreender o conceito de comunidade virtual em suas origens. Segundo Marcos Palácios (informação verbal) 6 ―as comunidades são fenômenos da idade média e se rearticulam no século XIX, com a modernidade‖. Tonnies (1947 apud RECUERO, 2009) estuda esse conceito, no sec. XIX, pelas relações comunitárias (Gemeinscht) que englobam toda vida social de conjunto, íntima, interior e exclusiva, características da comunidade, em oposição a sociedade (Gesellschaft) invenção da modernidade, uma espécie de parte normativa do grupo. A comunidade, portanto, seria o estado ideal dos grupos humanos. Segundo Recuro (2009, p. 146) o conceito referente às comunidades virtuais ―é uma tentativa de explicar os agrupamentos sociais surgidos no ciberespaço. Trata-se de uma forma de entender a mudança da sociabilidade, caracterizada pela existência de um grupo social que interage, através da comunicação mediada pelo computador‖. Esses grupos são percebidos nas redes sociais online, na ―mudança de sentido de lugar que é, assim, amplificada pela internet‖ (p. 135). Portanto, nesse contexto de mudança de sociabilidade há uma concordância uma vez que, essa pesquisa observa a socialidade (MAFFESOLI, 1998; 2009) como nova forma de interação social, efeito da pós-modernidade. A discussão sobre a Socialidade se dará um pouco mais adiante. Lemos (2008) ainda traz a discussão de que essas comunidades surgidas em meados do século XX eram o sonho de Licklider e Taylor, precursores da microinformática que surgia com a cibercultura. Portanto, o desenvolvimento da informática e o desafio de reunir pessoas através da comunicação mediada se tornaria uma grande realização tecnológico-social. Em pesquisas mais recentes, entretanto, o conceito das comunidades virtuais em copresença física em Giddens (2009, p. 433), vem superando os conceitos anteriores de comunidade offline e online, quer dizer, compreender-se-ia a comunidade virtual pelo veio da relação em co-presença física e co-presença digital, respectivamente. Sobretudo porque essa 6 Mesa redonda com Marcos Palácios, Tânia Zagury e Adrana Amaral, ocorrida no Simsocial.2012, UFBA, em 10 e 11 de outubro de 2012, (Arquivo pessoal). 4 discussão ocorrida em congressos da área de cibercultura aponta que um interagante que está offline não teria seu perfil desconectado em um site de redes sociais (SRS) (RECUERO, 2009), por exemplo. O conceito de comunidade offline e online, portanto, nessa pesquisa será entendido pelo veio da comunidade em co-presença física e co-presença digital, respectivamente. Dessa feita, esses são efeitos das relações sociais na pós-modernidade, entendendo os grandes agrupamentos via sites de redes sociais no contexto do ambiente digital. E o estarjunto (MAFFESOLI, 2009, p.47), é a proposta para analisar essa forma de interação social, uma vez que o ―sentimento do efêmero [...] [dá-se] como uma maneira da sociedade se expressar‖. 2 FAKE E AS NOVAS FORMAS DE INTERAÇÃO SOCIAL O fake no contexto das comunidades virtuais pode ser entendido como identidade contemporânea (COUTO; ROCHA, 2010, p.16), sobretudo porque os ―eus‖, quer dizer, os perfis digitais, emergem em tempos de pós-modernidade. Poder-se-ia assim, explicar esse trecho pela fala do perfil fake Escritora! Lisa numa entrevista (Arquivo pessoal): No meu último ano como Bonnie [um dos seus perfis fake], namorei um rapaz, também fake que morava no estado de São Paulo. Até então eu morava no Rio de Janeiro e ficamos ‗juntos‘ por cerca de 7 meses. Nunca vi quem ele realmente era, nem ao menos sei como aparentava, porém o tempo gastado (sic) em frente à um computador, na ilusão de que vivia um relacionamento saudável me fizera amadurecer absurdamente como mulher, dar valor à minha realidade e finalmente compreender que podemos transformar nossa realidade em um sonho, basta querermos. Para Couto e Rocha (2010) o fake são representações que ―experimentam outras identidades para demonstrar sentimentos, percepções, desejos, gostos que poderiam ser ridicularizados e promotores de constrangimentos na vida offline, mas que são celebrados e festejados na dinâmica efêmera e plural da internet‖ (p. 29). Essas identidades nessa pesquisa são estudadas no sentido do fingido (COTRIM, 2009) e seriam experimentações de ―eus‖ no Orkut e seus efeitos de ―invenção e exibição de subjetividades‖ (COUTO; ROCHA, 2010). Portanto a interação do perfil fake remete a uma outra sensação, subjetiva, cuja mediação seria uma substituição do que entende-se por tato, mas, que não se chega a suprir nem a si, nem a ao outro, completamente. 5 A percepção desse fake como persona, está embasado na análise da pesquisadora Judy Tavares (2010) que faz uma definição a partir da etimologia da palavra. Assim, persona era a máscara que os atores utilizavam ao encenar nos teatros gregos. Servia ainda para identificar o personagem interpretado, e constituía-se uma peça essencial para o desempenho do artista em cena. Doravante, a ―máscara‖ virtual nessa pesquisa será compreendida a partir dos estudos de Goffman (1985) sobre a representação que analisam a sociedade a partir da teatralidade, ambiente no qual todos interagem simbolicamente seja na relação de co-presença física ou digital. Quer dizer, quem está em frente ao computador que media uma conversa entre interagentes (PRIMO, 2003) separados a milhares de quilômetros de distância, mas, com as relações em condições de co-presença digital “projeta nos ecrãs as ficções pessoais‖ (p. 37, online) 7, uma vez que o computador seria um espelho do nosso self (TURKLE, 1997 apud JULIO, 2005). Portanto, nessa pesquisa a interação entre os fakes se dá pela webnovela. Essa narrativa literária do folhetim apropriada pelo ambiente digital é a junção dos termos web e novela designando a apropriação no digital, dessa narrativa ficcional escrita e compartilhada em tempo real. Assim, a Web novelas fake é uma comunidade para escritores iniciantes mostrarem seu trabalho. Nessa, os perfis interagem postando histórias e os demais membros as lêem. A webnovela é produto dessa interação. Essa webnovela se constitui em um hipertexto8 organizado por nós e também por links9 (LEVY, 1999). É um texto móvel, veloz onde o usuário pode navegar, acrescentar ou modificar os nós que proporcionem a escrita coletiva, numa retroação entre o narrador e o leitor10, (REIS; LOPES, 1988). Portanto, vê-se como pertinente referir-se pelo gênero literário folhetim11 ao invés de novela, que para o senso comum seria a telenovela. No Orkut12, a webnovela acontece devido a sua estrutura favorável para as comunidades virtuais. Recuero (2011) aponta que essa ferramenta é um “fenômeno, em termos de sites de rede social (SRS)‖, pois chegou num momento onde os brasileiros tinham quase nenhuma experiência com sites de rede social, criando, assim, um contexto único, de 7 Disponível em: <http://sisifo.fpce.ul.pt/pdfs/sisifo03PTr.pdf >. Acesso 09 jul 2013. Termo foi cunhado pelo cientista Ted Nelson, em 1965. O conceito de hipertexto surgiu antes disso, mais precisamente, 20 anos antes, imaginado pelo físico e matemático Vannevar Bush. Disponível em: <http://migre.me/dhs4P>. Acesso em: 18 jan. 2013. 9 Os nós (o texto verbal e não verbal) e os links (os botões) que indicam passagem de um site para o outro. (LEVY, 1999). 10 Narrador ou ―autor textual, [é] a entidade fictícia a quem, no cenário da ficção, cabe a tarefa de narrar o discurso‖. O leitor é a ―entidade projetada‖, para quem o texto é escrito (REIS; LOPES, 1988). Levy (1999, p.30) sugere que a internet seja um ―processo de retroação positiva‖ 11 Literatura publicada no rodapé dos jornais impressos da França no século XIX, que apresentava elementos de curiosidade e entretenimento, prazer e diversão (CAVALCANTE, 2005). 12 Orkut é um site de rede social funciona através de perfis e comunidades (RECUERO, 2009). 8 6 participação relevante para o país. Assim, o Orkut parece ser único SRS capaz de comportar a estrutura de uma comunidade virtual com as características de rede aberta 13: seria uma grande comunidade virtual (GOMES, 2007). 3 A ANÁLISE A corrente metodológica do interacionismo simbólico é contemplada nessa pesquisa, pois, se torna apropriada para entender os processos das interações digitais e do cotidiano ―como uma nova cultura reivindicando tudo o que se passa agora, tudo o que se passa aqui, tudo o que se passa em ti‖ (PAIS, 2003, p. 94). Como procedimento metodológico aplicou-se entrevista com um perfil fake, autor da webnovela ―A Dívida‖, corpus para análise, nessa pesquisa. Essa, contém 10 perguntas abertas envolvendo a compreensão do que seja um fake. O perfil nomeado como Escritora! Lisa respondeu todas as perguntas além de ter sido bastante solícito. Essa entrevista foi aplicada via comunicação mediada, pela troca de e-mail`s. A partir das suas respostas, consideram-se as palavras ou ideias mais salientes e expressivos as quais estão classificadas em ideias-chaves, nesse artigo. Após, parte-se para os procedimentos de printar14 a página do corpus visando apresentar a interface dessa comunidade virtual pelo método da Arquitetura da informação (AI)15 objetivando uma observação do ambiente. 3.1 METODOLOGIA 3.1.1 Tratamento dos dados Numa breve recapitulação essa pesquisa se embasa pelo veio das teorias do cotidiano para observar o fake nas relações sociais digitalizadas como efeito das novas formas de interação social. O método adotado é do interacionismo simbólico, por ser apropriado para observar essa ―nova cultura feita de vibrações, contatos face-to-face” no agora (PAIS, 2003, 13 Ximenes, diretor de comunicações e assuntos públicos do Google, em entrevista, falou sobre o crescimento do Facebook: há ―uma percepção clara sobre os direcionamentos dessas duas redes sociais: Orkut, aberta; Facebook, fechada‖. Disponível em: <http://migre.me/a6ujq>. Acesso em: 30 abr. 2012. 14 Gravar a imagem da página no computador. 15 A AI é abordade em quatro categorias: 1) sistemas de etiquetagem, 2) organização de sistemas, 3) sistemas de navegação e 4) sistemas de busca. O campo de trabalho desse arquiteto da informação são os web sites (MORVILLE;ROSENFELD , 2006). 7 p.94). Assim, o conceito de socialidade também é adotado no artigo pois é apropriado para entender o processo de interação social, na comunidade virtual. Após, enfoca-se a abordagem qualitativa para observação dos dados. Para tanto, foram elencadas palavras-chaves ou, no contexto desse artigo, ideias-chaves que organizarão um panorama sobre o perfil fake numa comunidade específica do Orkut, a Web novelas fake. Convenciona-se ainda, tomar emprestado da Arquitetura da informaçao (AI), o método topdown (MORVILLE; ROSENFELD, 2006), visando apresentar a interface dessa comunidade e lançar um olhar sobre a estrutura, organização e disponibilidade das informações na interface da comunidade analisada. 3.1.2 A análise do fake e da comunidade virtual Web novelas fake Para a coleta, cria-se uma pasta para arquivar os dados relativos à entrevista feita com esse perfil. Na figura 1 - Panorama sobre o perfil Escritora!Lisa (FIG. 1), as informações colhidas foram arquivadas, separadamente, nas seguintes categorias: Universo fake; Pontos extremos, Usos na comunidade e conclusão deu-se a partir do questionamento: Por que ser um perfil fake. Essas variáveis classificam as idéias-chaves colhidas pela leitura da entrevista. Partindo da análise chegou-se a essas idéias as quais são observadas como subdivisões de um tema geral, que seria: Por que ser um fake? Mais adiante, segue um panorama com essa análise. Essas informações respondem à existência de novas práticas interacionais pela socialidade. A comunidade virtual Web novelas fake, do Orkut16., funciona pelo compartilhamento de histórias de escritores amadores entre os membros do grupo, via fóruns e perfis. Cada fórum equivale a uma história e a continuidade das postagens dá-se pela audiência. Essa audiência, geralmente, é mediada pelo número de respostas dadas aos posts. Essas acontecem por meio de comentários. No entanto, aprouve para esse artigo, selecionar uma webnovela como corpus dessa pesquisa. Assim, escolheu-se a webnovela A Dívida, por considerar dois aspectos: 1) pela sua popularidade no último ano de 201217, 2) por abordar via entrevista, o perfil do autor dessa história e 3) por te coletado, a partir da entrevista, informações para elaboração desse artigo. 16 www.orkut.com Essa webnovela obteve duas temporadas a pedido da audiência. Disponível em: <www.orkut.com>. Acesso em: 22 jul. 2013. 17 8 A Escritora! Lisa na entrevista indicou que teve coragem de escrever e postar sua história, nessa comunidade, justamente, por ser um perfil fake. Assim, compreende-se que esse perfil se apropria do anonimato para interagir na comunidade virtual. Portanto, lança-se um olhar sobre essa possibilidade de outra prática de interação social, efeito das mídias digitais. A interface da comunidade Web novelas fake é analisada pelo método ―top-down”, emprestado da Arquitetura da informação (MORVILLE; ROSENFELD, 2006). A arquitetura da informação tem a grade função de facilitar para qualquer usuário da internet, a navegação no site, chegando ao que se busca com facilidade; é ―transformar o caos em ordem‖, afirmam Morville e Rosenfeld (2006, p.4). Contudo, o enfoque dessa análise é considerar como as informações estão disponibilizadas na interface do Orkut, com enfoque no da comunidade virtual Web novelas fake. Abaixo se encontram as perguntas–chaves: 1.Onde eu estou? 1.1. O que estou procurando? 2. Eu sei o que estou procurando, como posso procurá-lo? 3. Como faço para navegar nesse site? 4. O que é importante como informação sobre esta comunidade? 5. O que está acessível nessa comunidade? 6. Como posso interagir na comunidade? 7. Como posso interagir com outros sites fora do Orkut? 9 PONTOS EXTREMOS UNIVERSO FAKE USOS NA COMUNIDADE Negativos Positivos O perfil no Orkut Vida a parte Envolvimento com o mundo abstrato Comunicação com pessoas de várias regiões do país Perfil como cartão de visitas Realidade inventada Libertação do mundo real Ter coragem para expor o que sente Precisa corresponder ao perfil verdadeiro ou falso Realidade ilusória Válvula de escape Ser criativo Busca de diversão sem retorno financeiro Forma de diversão Várias identidades virtuais Pelo grau de envolvimento, amadureceu e passou a falar de coisas da realidade, não mais ilusórias Amizades refratadas em relações em copresença física Vida a parte Doa vida, voz e sentimentos ao perfil Exposição dos reais sentimentos CONCLUSÕES: Por que ser um perfil fake? Primeiro é um membro do Orkut Possui perfil real no Orkut Poder ser quem você quer Forma de viver sem contratempos Transcrever os pensamentos para o papel Expor imaginação Dar vida a vários personagens Figura 1 - Panorama sobre o perfil Escritora!Lisa Fonte: Arquivo pessoal 10 Figura 2 - A Dívida – a interface Fonte: Web novelas fake (2013) CONSIDERAÇÕES FINAIS A cibercultura, com um olhar específico para os sites de redes sociais modificaram o cotidiano e a interação humano-máquina, humano-humano, mas que acata outros vetores, inclusive os estéticos e afetivos, que perpassam o enfoque desta pesquisa. Os procedimentos de observação e descrição, bem como levantamento de dados, auxiliaram no mapeamento da análise do ponto em que se quereria chegar: a interação virtual. Assim, chegou-se às comunidades como sendo, possivelmente, resultado de criatividade entre os membros e o afeto como amálgama. O fake entendido como persona é efeito das mídias digitais e essa possibilidade do interagente expressar da maneira que quer ser, na atualidade é possível, pelas vias das novas práticas de interação social. No séc XIX, era pela via da escrita que autores como as irmãs Bronte18 se libertavam por meio de pseudônimos escritores. A socialidade explica esse momento em que estamos inseridos: é pelo presenteísmo do aqui e agora, que caminha a humanidade. Tomara Deus que aportemos em bom lugar. 18 EYRE, Jane. Charlotte Brontte [S.l.]: Macmillan Readers, [19--?]. 11 Referências CAVALCANTE, Maria Imaculada. Do romance folhetinesco às telenovelas. Revista OPSIS – Revista do NIECS, Catalão, Goiás, semestral, vol.5, n. 01, 2005. Disponível em: <http://migre.me/dhsn7>. Acesso em: 10 Fev. 2013. CHAVES, Glenda Rose Gonçalves. A radionovela no Brasil: um estudo de Odette Machado Alamy (1913-1999). 2007. 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