Elementos de articulação do ponto de vista da filosofia O conhecimento EPISTEMOLOGIA (Teoria do Conhecimento): Análise e compreensão das possibilidades e limites do conhecimento humano propostos na história da filosofia, e suas conseqüências nas ciências modernas e contemporâneas. 1. APREENDER O CONHECIMENTO EM SUAS DIVERSAS ACEPÇÕES -Conhecimento cotidiano/espontâneo (doxa: : opinião) de "senso comum". -Conhecimento religioso (aléteia: : manifestação- Conhecimento mítico ( -Conhecimento científico (episteme: : conhecimento) - Conhecimento do mundo / mundo pensado () -Conhecimento filosófico (Sofia: : Sabedoria) - Conhecimento do conhecimento o mundo/ re-flexão do homem sobre si mesmo e sobre o seu conhecimento enquanto pensa o mundo 1. 2. MARCOS EPISTEMOLÓGICOS INTENCIONADOSepistemológicos inspiradores das correntes pedagógicas: paradigmas Inatismo: determinação do sujeito por sobre o objeto do conhecimento. Filósofos que sob certos aspectos se filiam a esta perspectivação2. Empirismo: determinação do objeto por sobre o sujeito do conhecimento e filósofos que sob certos aspectos se filiam a esta perspectivação. Interacionismo e suas variantes (Dialética gênese/estrutura): mútua atividade do sujeito e objeto, um sobre o outro e filósofos que sob certos aspectos se filiam a esta perspectivação. I MODELO EPISTEMOLÓGICO Elementos principais para compreensão a partir da filosofia das tendências ou correntes educacionais. Autores pré-socráticos: Anaximandro (550 a.c.-343 a.c.): Protágoras, Heráclito, Parmênides, Anaxágoras, Empédocles, Zenão, Sócrates, Demócrito, Platão, Diógenes, Aristóteles. 1 Incluimos aqui a noção de dogma e de tekné - como formas de conhecimentos terminal e fechado, o primeiro; e como forma de conhecimento aplicado - o segundo. 2 O cuidado aqui é de não absolutizar a pertença de um filósofo necessariamente a uma perspectiva de um modelo único ou puro. Kant - sob determinado ponto de vista pode ser considerado um filósofo de um objetivismo absoluto ou de um subjetivismo absoluto. Trata-se dos pesos ou do tipo de consideração e análise que se põe em curso. Primeiro modelo: OBJETO determina o SUJEITO O sujeito é - analogicamente - neste primeiro modelo como se fora uma "máquina fotográfica" que capta através dos sentidos e de sua razão (determinada, vale dizer influenciada e passiva) objetivamente o mundo real que o impacta do ponto de vista do conhecimento Simplificadamente: O real é ativo o sujeito passivo. POSTULA A COINCIDÊNCIA ENTRE O PENSAMENTO DO MUNDO E O MUNDO EXTERIOR(OBJETIVIDADE). A) CORRENTE OBJETIVISTA Corrente ARISTOTÉLICO-TOMISTA ou realista. P armênides ( VI A.C ) Conceito Parmenideano do SER “O SER É (existe) e o NÃO-SER, NÃO É (Não existe), pois é a negação do SER)!!” O SER é eterno e imutável, porque perfeito. O movimento que captamos é aparente: não mudança e não movimento. A ristóteles (384-332 A.C) O conceito Aristotélico: (.) A origem dos entes repousa numa primeira causa não causada, num Motor Imóvel Perfeito. Ser Uno e Indivisivel.Os entes são seres divisíveis, múltiplos. Estrutura básica: matéria e forma substancial, indissociáveis, particularizadas por categorias de tempo, espaço, e múltiplas determinações - que constitui a parte acidental ou não essencial do objeto que pode mudar, sem que mude sua essência. Matéria prima ( ao substrato material) e forma substancial (sua interioridade essencial) criam de maneira indissociável todos os entes. Ato e Potência implicam o movimento e a mudança, todo ser possui uma potencialidade, um devir, que poderá ou não ser manifestado, vindo a tornar-se 9 realizado pela atualização por tornar-se essa potencialidade em ato) : razão explicativa de todo o movimento: Devir (Vir-a-ser) Nihil est in intellectus quod prius non fuerit in sensuu - (Nada está no intelecto que antes não tivesse passado pelos sentidos) . A sensibilidade registra na sensação, converte o dado sensível num Phantasmata (fantasma imaginário da coisa) - (convertio ad phantasmata)e que por sua vez a eleva por meio de juízos a um conceito universal, que possa vir a ser aplicado a todos os entes particulares aos quais este conceito se adequa. Inegável objetividade do mundo cujo movimento de abstração constrói os universais. critério último da verdade é a adequação da mente ao objeto. H eráclito de Éfeso ( VI A.C ) - devir Heracliteano: Heráclito diz: "O que Parmênides disse sobre o ser é verdade: O SER É (existe) Quando Parmênides diz que: o não-ser não é, e portanto que não existe, na verdade ele está equivocado. O que ele está dizendo é que o não-ser É não-ser. Logo O SER e o NÃO-SER, ambos são, existem, em contradição. O ser por isso do mundo, dos homens, FLUI num lusco-fusco: de afirmação do SER e afirmação do NÃO-SER(da negação). A realidade está toda em movimento, em vir-a-ser. Por isso nos fragmentos diz Heráclito: ‘ Ninguém poder entrar no mesmo rio duas vezes, porque na segunda vez que entrar, ele já não seria o mesmo, e o rio também não seria mais o mesmo.’ (Heráclito) Inaugurada a Dialética Hercliteana, retomada por Hegel e Marx O Universal pensado, (transcendência da idéia) precede o particular imanente A essência precede a existência Este Modelo epistemológico DO PONTO DE VISTA DO CONHECIMENTO POSTULA A COINCIDÊNCIA ENTRE O PENSAMENTO DO MUNDO E O MUNDO EXTERIOR(OBJETIVIDADE). ) Correntes pedagógicas que inspiram-se nesta versão realista, substantivista, objetivista: a ciência clássica, os positivistas, a corrente católica oficial, marxistas economicistas e o naturalismo. O determinismo objetivizante por sobre o sujeito é comum circular entre nós, pelos conceitos da circulação e reprodução determinista e fatídica do Poder, do Capital, da Cultura, da ética imposta pela sociedade. O Objeto-mundo parece excessivamente estável (duro, no conceito de Bachelard) e concreto para dobrar-se aos sujeitos. A sociologia dos papéis e das funções, como também certo estruturalismo rígido acaba por filiar-se a esta corrente clássica do pensamento. Comum ainda é o discurso escolar: nada vale a pena no campo da educação: a sociedade não quer a mudança. A escola nunca mudará estruturalmente, os professores nunca vão adquirir consciência por causa de determinação das condições de trabalho no capitalismo, os alunos são "naturalmente" são desinteressados - esta ‘objetividade’ paralisa o sujeito. II MODELO EPISTEMOLÓGICO Segundo modelo: SUJEITO determina o OBJETO Simplificadamente: O sujeito é ativo o objeto é passivo A concepção aqui filia-se normalmente ao idealismo e ao racionalismo. Trata-se da preponderância do sujeito enquanto ser racional, à luz da concepção do Esclarecimento (Aufklärung). Concebe-se tamb[em hierarquicamente a dimensão espiritual como funções superiores em detrimento das determinações espaço-temporais e do corpo. Filósofos que se filiam, sob certos aspectos, a este recorte epistemológico P LATÃO (428 ou 427 AC) O real no Mundo das Idéias (topos noetos O mito da caverna; o que conhecemos são sombras. O real está no mundo das idéias. O mito da Caverna é o que esclarece a realidade. O : é uma analogia paradigmática, um discurso simbólico des-velador. O mundo que vivemos é tão somente lugar da aparência e das sombras. no qual um demiurgo, inspirado no modelo real, copiou um duplo da essência real do Ser no magma(parte material. O que conhecemos no mundo imita a perfeição essencial - o em si - que faz parte do mundo das Idéias. Para Platão antropologicamente estamos tripartidos na imagem de biga romana, onde o cavaleiro representa a racionalidade (noéticon), os cavalos representam as paixões (eptimóiedes) , e a biga representa (epitimeticon) a concupiscência. A virtude consiste precisamente no controle da racionalidade sobre as outras duas dimensões. Tudo que vemos constituem pálidas reproduções não originais do que se encontra no SER sem rupturas com a materialidade. O mundo do magma tudo é corroído pelo tempo. Tudo muda, porque nada é perfeito. Fizemos parte de um mundo preexistente, onde éramos idéias, ao nos encarnar, descemos sobre o lago Lete(esquecimento), de forma que nossa existência no mundo ( no magma) vela nossa origem. É necessário uma via ascética pela introspeção, para buscar a reminiscência, onde nos relembramos do mundo real das essências que deixamos em nossa preexistência. Os filósofos são aqueles que por um movimento radical de crítica à aparência magmática do ser, sabe que as essências não são essas que vemos e que nos tocam, mas aquelas que estão no mundo das idéias. Por isso, os filósofos deveriam ser também os governantes, porque possuem uma noção da verdade. Autores: (205-1650) Plotino, Santo Agostinho, Avicena, Abelardo, Bacon, Tomás de Aquino, Ockam, Erasmo, More, Montaigne, Maquiavel, Galileu, Hobbes, Descartes D ESCARTES (René Descartes) 1596-1649) A Dúvida como método(Dúvida metódica) Mediante pois uma dúvida intencionada que perscruta os fundamentos e tudo põe - por método debaixo de suspeita - Descarte chega ao princípio condicionante da própria crítica: "COGITO, ERGO SUM!" (Penso, logo existo!) Cogito, ergo sum! o SER como PENSAR: a ontologia é uma epistemologia pensado (res cogitans) é mais real do que aquilo que se apreende no objeto situado espaço-temporalmente (na extensão: res extensa) As paixões, o mundo da sensibilidade, da percepção induzem a erros na objetividade da Racionalidade. O pensamento que deve procurar idéias claras e distintas no seu discurso sobre o mundo. Aquele que está devotado ao pensamento, à filosofia(Platão), á racionalidade e teoria, é por conseqüência qualificadamente mais humano. Não há conexão entre o que se passa na extensão e o que se passa no pensamento (Autores:1724- 1808) Pascal, Kant, Leibnitz, Newton, Locke, Montesquieu, Voltaire, Hume, Rousseau, Dalembert, Hegel, Darwin, Comnte) K ANT, IMMANUEL ( 1724-1804): Idealismo subjetividade): absoluto ou Objetivismo absoluto (Objetividade da Espaço e tempo é uma construção da percepção do sujeito. Só conhecemos espacializando e temporalizando. Espaço e tempo não são entidades reais, físicas. Se só conheço o meu conhecimento constituindo ( fenômeno: - o que aparece para mim) de um objeto real inacessível ( numênon : para-si (mesmo) e em-si (mesmo) / o que é numinoso, transparente, sem ambigüidades. O numênon ( o que o objeto é, a transparência do objeto) para-si (mesmo) e em-si (mesmo) é inacessível à mente humana. Só capto o que é fenomênico. Reino da natureza (razão pura) e o reino dos valores (razão prática) como constituídos por leis próprias e autônomas. Tratar-se-ía no segundo caso, do exercício nobre da liberdade e da vontade contra as determinações, só este segundo dotaria o ser humana de rompimento com a heteronomia, constituindo-se plenamente emancipado e transfigurado pela Razão3 e a Vontade esclarecida. O sujeito é pois um sujeito(ativo) constituinte do real. O objeto realmente conhecido é uma representação constituída. o Objeto assim desaparece. 3. Marcos e paradigmas axiológicos: 4. Kant e a heteronomia. Objetivismo:(Objetividade dos Valores) Adequação das atitudes e ações do sujeito a valores transcendentes e a priori. Subjetivismo: (Sujeito: única fonte dos valores): Gênese dos valores: imanentes à subjetividade do sujeito (Kant/Sartre). Ética em situação: (Otto Appel, Küng, Dussel e Morin) Construção de uma ética dialógica entre sujeito e circunstâncias/situações. NOTA: O complicado no que tange ao pensamento kantiano é a persistência de uma ambigüidade no que tange à ética. Kant distingue uma ética constitutiva de valores para o sujeito, no que diz respeito a sua consciência humana, mas estabelece um reino da natureza que tem estatuto próprio, independente do ato humano. De sorte que conclui pelo imperativo de em nível de ciência dever-se tudo que se pode. E as conseqüências morais do ato científico não recai no sujeito! É precisamente esta a ética que se tem estabelecido na ciência contemporânea, ligada ao otimismo iluminista. --------------------------------------------------------------------------O Iluminismo - a modernidade ilustrada: O iluminismo se confunde com os fundamentos da própria modernidade Este movimento cultural teve por berço revolução Inglesa e Francesa - iluminar com a razão o obscurantismo da tradição. Ideologia da Ascensão da Burguesia contra o autoritarismo da Igreja e do absolutismo. Separação entre o poder da Igreja e o poder laico. Bases: racionalismo (Descartes, Kant) e empirismo(Bacon, Locke, Hume) 3 CHAUI, Marilena. Conformismo e Resistência. Aspectos da cultura popular no Brasil. São Paulo; Brasiliense, 6 Ed., 1994. Cf. Kant da minoridade intelectual à maioridade racional, graças à educação pelas luzes. Cultura, indivíduos educados intelectual e artisticamente, constituindo as humanidades, apanágio do homem "culto" em contraposição ao "inculto". O iluminismo culmina na Revolução Francesa, o maior movimento socio-econômicopolítico da crença no coletivo e ênfase no valor individual, o homem vale por si mesmo); Característica central do iluminismo: o universalismo (projeto civilizatório abrangente-liberal - sem racismo, nacionalismo ou particularismo, dirigia-se a todos os homens independentemente de raça. cor, nação, sexo ou classe). "O SÉCULO XVIII É DA LIBERDADE" (DIDEROT) Liberdade do poder centralizador da Igreja, do rei e da aristocracia. O Iluminismo "emancipava o homem das malhas do todo social"(S P Rouanet). O Homem vale por si e pode buscar seu próprio desenvolvimento. Semeia a idéia de progresso pressupõe uma cumulação linear e progressiva do conhecimento humano(crescimento ascencional da ciência possibilitadora do desenvolvimento da humanidade. difundindo a razão para todos a humanidade faria grandes progressos. Capacidade de mobilização que ela contém, sobretudo para as elites pensantes no sentido de que elas protagonizem os processos históricos e elimine a barbárie e a irracionalidade (Denis Diderot ( 1713-1784); João D'Alembert (1717-1783) escreveu a obra literária fundamental do Iluminismo, a Enciclopédia ou dicionário das Ciências, das artes e dos ofícios, publicada entre 1751 a 1780 com 34 volumes; Voltaire (1694-1778) - Levou o Iluminismo para a França.; Jean Jacques Rousseau(1712-1778) -civilização mutilava o homem, propõe a volta à natureza e à liberdade originária, originando a idéia de Liberdade-Igualdade-Fraternidade. Montesquieu (16891755) - Ocupou-se principalmente com os problemas sociais e políticos, principais interesses do iluminismo. Foi o criador dos três poderes-Legislativo-Judiciário e Executivo. SOBREVIVE ainda hoje o iluminismo? Todo o processo e modelo civilizatório hoje está fundamentado nas idéias básicas do Iluminismo: o progresso, a objetividade da ciência, a racionalidade, Universalização dos direitos, a autonomia da esfera laica, o retorno ao sistema econômico-político liberal, reeditado no neoliberalismo. Raízes antigas do iluminismo: Nos três autores Platão, Descartes e Kant, temos (de maneira distinta) ‘fundamentos’ epistemológicos do movimento Iluminista, ressaltando as "LUZES" - A RAZÃO - contra o que os esclarecidos concebiam como obscurantismo dos períodos precedentes. O Iluminismo foi gestado sistemática e organizadamente pela modernidade burguesa no século XVI, em que se postulava a emancipação do homem das paixões, das trevas da ignorância, da dependência, de sua animalidade ‘natural’ e de sua "minoridade" pelo método. A razão pelo método ( Bacon, Descartes) tornava-o vidente, permitia-lhe o acesso a uma objetividade histórica des-velada, constituindo-o livre das ilusões, dos mitos, dos idola (Bacon), tornando-o superior, responsável e sujeito pleno de direitos inalienáveis. A ênfase no Sujeito acaba por gerar um modelo antropocêntrico que enfatizará nos anos subsequentes a inauguração da Subjectum (do sujeito) e conseqüentemente a ênfase na subjetividade como ponto de referência, exacerbada sobretudo em Kant e Hegel. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ III MODELO EPISTEMOLÓGICO Autores Linha de tempo: (1788-1962: Schopenhauer, Kierkegaard, Marx, Pierce, William James, Nietzsche, Freud, Bergson, Russel, Wittgenstein, Sartre, Frankfurt, Gramsci, Merleau-Ponty, Kuhn. Terceiro modelo: OBJETO e SUJEITO mutuamente se determinam O sujeito constitui de certa forma o real, o provoca, o desequilibra, mediante um contínuo des-velamento, o real resiste ao sujeito conhecente, de sorte que o estimula, o desequilibra, o provoca do ponto de vista do conhecimento Simplificadamente: O real e sujeito são ativos A) CORRENTE INTERACIONISTA CLÁSSICA Seguem-na autores considerados "dialéticos"ou "Dialógicos". Filiam-se a esta corrente do ponto de vista da Filosofia os pós-existencialistas, fenomenologistas, marxianos. Embora a partir de matizes muito diferenciados com conseqüências ético-sócio-políticas distintas. I. Do ponto de vista existencialista II. Do ponto de vista marxiano III. Do ponto de vista fenomenológico: B) Correntes inspiram-se nesta versão histórico - dialética e fenomenológica. As ciências contemporâneas esteiadas na teoria geral da relatividade e na física quântica, grupos de inspiração oriental, as correntes marxistas dialética, as correntes piagetianas (Interacionistas), Wallon e Vigotsky (Sócio-Interacionaistas) no campo da educação. As novas metodologias que se pautam na descrição densa, na interpretação, nas representações sociais e imaginário, nas metodologias qualitativas, na etnografia, na observação participante ou na participação observante, nas histórias de vida: em suma lá onde o outro tem a palavra enquanto sujeito e protagonista, e onde dos fatos da vida e da história e dos acontecimentos se encontra matéria de grandes interlocuções e descobertas. * * *