Produção do Espaço Público: uma avaliação sob o ponto de vista do usuário Michelle S. Benedet (1) Juliane S. Benedet (2) Raiane Zapelini da Silva (3) (1) Departamento de Arquitetura e Urbanismo, UDESC, Brasil. E-mail: [email protected] (2) Pós-graduação em Auditoria Ambiental, UNISUL, Brasil. E-mail: [email protected] (3) Arquiteta e Urbanista, Brasil. E-mail: [email protected] Resumo: O artigo levanta o questionamento em torno da produção do espaço público a partir do ponto de vista do usuário e através do estudo de seu comportamento e anseios pretende-se identificar a importância de uma revisão nos usos, funções, mobiliários e/ou equipamentos principalmente das praças públicas. Para tanto, são apresentados o referencial teórico e a metodologia que permitiram identificar o comportamento e expectativas dos usuários com relação à Praça Centenário, em Tubarão, sul de Santa Catarina. Os métodos aplicados na praça selecionada para estudo foram observação do comportamento dos usuários e entrevistas. Em relação aos resultados obtidos, estes são considerados promissores, na medida em que contribuem para a ampliação do debate crítico da importância da revisão dos usos dos espaços públicos para que passem a corresponder aos anseios dos usuários. Palavras-chave: Praça pública; Apropriação; Usuário. Abstract: The article raises the question around the production of public space from the user's point of view and through the study of their behavior and desires is intended to identify the importance of a review of the uses, functions, securities and / or equipment mainly from public squares. To this end, we present the theoretical framework and methodology that have identified the behavior and user expectations regarding Centenary Square, in Tubarão, south of Santa Catarina. The methods applied in the square selected for study were observation and interviews of users ' behavior. Regarding the results obtained, these are considered promising, as they contribute to the expansion of the critical debate the importance of the review of the uses of public spaces so that they begin to respond to the concerns of users. Key-words: Public square; Ownership; User. 1. INTRODUÇÃO As praças públicas são espaços urbanos de permanência das pessoas, sendo assim, é necessária uma boa qualidade de sua imagem, no sentido de transformá-las em um espaço melhor. É importante, nesse sentido, a flexibilidade de sua utilização, a simultaneidade de seus usos e significados e a justaposição de atividades e informações. O uso caracteriza as praças públicas porque indica como os homens se apropriam delas, além disso, sem usuários, as praças têm pouco significado e importância. A compreensão da importância das praças públicas, ao longo da histórica cultural das sociedades humanas, comprova que o contato com esses espaços urbanos é simbólico e significativo na vida dos seus usuários. O estudo de praças públicas é necessário no sentido de buscar a otimização de seu atrativo e de suas atitudes para acolher uma vida social rica e segura. Para tanto, deve-se compreender o comportamento do indivíduo nas praças, além do papel das atividades humanas e as condições para interação social através do estudo sobre as formas de apropriação e significação do espaço urbano. Esta pesquisa corresponde inicialmente a um só fato urbano, a produção da Praça Centenário, em Tubarão/SC, sob o ponto de vista do usuário. Essas questões relacionam-se principalmente a alguns 1|9 grandes temas que são relacionados aos aspectos simbólicos, funcionais e ambientais e com eles pode-se delinear um tipo de conhecimento mais completo do fato urbano em questão. As praças públicas têm maior importância e significado se projetadas para atender aos usuários de forma criativa e adequada. Essa melhor compreensão é obtida através da observação atenta em relação à participação do usuário e da comunidade em geral. É necessário promover o estudo desses espaços procurando avaliar o uso pela população, sua história, seus mobiliários e/ou equipamentos, suas condições físico-ambientais e sua dinâmica. Os resultados obtidos nessa pesquisa pretendem contribuir para a construção de critérios de qualidade, estabelecendo alguns parâmetros comuns que sugerem uma maior ou menor apropriação das praças públicas centrais em cidades de pequeno porte. 2. OBJETIVO Compreender o fenômeno de produção do espaço público, sob o ponto de vista do usuário relacionando com os usos, as funções e os equipamentos e/ou mobiliários na Praça Centenário, em Tubarão, Santa Catarina. 3. JUSTIFICATIVA Os espaços públicos urbanos, em geral, passam por um processo de desintegração social onde áreas obsoletas estão cada vez mais frequentes, faltam elementos físicos e simbólicos de identidade, redistribuição social, cidadania, lazer, interação, entre outros. O que acontece nesses espaços é que a estrutura existente não está mais satisfazendo ao papel funcional que lhe é exigido. O contínuo crescimento das cidades faz com que áreas livres sejam mais necessárias a cada dia e assumam vital importância nos meios urbanos. Atualmente, os espaços públicos são subutilizados e não atendem mais à vida pública como antes e as principais causas desse fato são a proliferação dos shoppings centers e o crescimento da marginalidade contribuindo para que os espaços tornem-se vulneráveis e de difícil apropriação por parte da população local. É preciso rever o uso desses espaços e colocar à disposição dos usuários um quadro de vida espacial agradável, desafogado, onde a natureza, os espaços urbanos, os equipamentos lúdicos, a liberdade e a cidadania são os valores urbanos fundamentais. Outro fato é que os espaços públicos, atualmente, são entendidos somente por uma óptica de embelezamento ou acondicionamento circunstancial, sucumbindo ao uso, deterioração e violência urbana, dando passo a um desgaste que prejudica a qualidade de vida. Além disso, poucos planos urbanos preocupam-se em inserir os espaços públicos no contexto das mudanças, seja pela intervenção direta sobre eles com a revisão dos usos e reforma para atendimento de programas de necessidades atualizados, seja com a criação de novos espaços acompanhados de estudos de projeção de anos futuros capazes de cumprirem seu papel social. É necessário dar mais ênfase ao tratamento do domínio público, para que possa funcionar não só para estimular a interação social como também para refleti-la e quanto a todos os espaços públicos devemos nos perguntar como ele funciona, para quem, por quem e para qual objetivo (HERTZBERGER, 1999). Existem diversas pesquisas relacionadas ao estudo de praças públicas mas estas são geralmente relacionadas ao desenho urbano e suas funções. Porém, os problemas relativos à degradação dos espaços não se restringem apenas aos aspectos físicos destes. É necessário entender a utilização dos espaços pelo ponto de vista dos usuários para que se possa desenhar espaços que atendam às suas expectativas e necessidades. Dessa maneira é possível compreender as múltiplas e mutantes configurações que surgem na cidade e a relação dos habitantes com seus espaços. Considerando a importância da recuperação desses espaços sob o ponto de vista dos usuários que esta pesquisa vem apresentar a metodologia adotada visando obter a relação dos usuários com o espaço público. 2|9 4. Objeto de Estudo: Praça Centenário em Tubarão / SC O município de Tubarão localiza-se no sul de Santa Catarina, tem uma área territorial de 300km² e apresenta uma população estimada de 97.235 (IBGE, 2010). A origem da cidade, em 1774, está relacionada ao porto fluvial e ao comércio sendo o ponto da rota terrestre que ligava Lages à Laguna onde os tropeiros e cargueiros que desciam a serra transportando o charque, o couro e o queijo reabasteciam-se com os manufaturados e outros produtos que não se produziam no planalto. Outro acontecimento que marcou o município, além da navegação, foi a construção da Estrada de Ferro Dona Thereza Cristina, inaugurada em 1884. A EFDTC foi criada e construída com a finalidade de transportar o carvão das minas para o porto de Imbituba e mais tarde passou também a transportar passageiros. A Praça Centenário (figura 1) é mais conhecida como Praça do Chafariz, devido a presença de um chafariz que existia na praça e uma lanchonete com o mesmo nome. Foi inaugurada em 1936 quando promoveram-se festejos e realização de diversas cerimônias alusivas ao centenário de Tubarão. FIGURA 1: Praça Centenário (Tubarão-SC). Fonte: Acervo próprio (2006). 5. Metodologia Para a avaliação da ocupação da Praça Centenário utilizou-se a estratégia de pesquisa Estudo de Caso adequada para fenômenos contemporâneos dentro do contexto da vida real, pouco explorados pelos pesquisadores e quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos (YIN, 1994). Os métodos apresentados nesta pesquisa são: observação do comportamento dos usuários e entrevistas, em cada método é justificada a utilização e a maneira como foram aplicados. 5.1 Observação do comportamento dos usuários 3|9 O método observação do comportamento dos usuários é empregado para levantar informações sobre o comportamento dos usuários. O comportamento é profundamente influenciado pelo ambiente físico, sendo assim, torna-se necessário “um conhecimento deste processo de condicionamento, para compreender mais completamente porque o homem se comporta desta ou daquela maneira e para melhor se esboçar o ambiente com o qual o homem entra em relacionamento” (HEIMSTRA, MCFARLING, 1978, p. XI). O estudo da comunicação não-verbal dos indivíduos serve para identificar os estímulos do ambiente e as respostas do ser humano a ele, tendo os aspectos sócio-culturais como determinantes. Segundo Rapoport (1982 apud ORNSTEIN, 1995), no processo de comunicação, apenas 30 a 35% do seu significado social ocorre por sistemas verbais, por isso, a necessidade de análise através da comunicação não-verbal por meio de expressões faciais, posturas do corpo, tato, sons, gestos, arranjos espaciais, ritmos temporais, para a abordagem das relações interpessoais no ambiente. Nessa etapa são caracterizados os pontos de amostra com seus períodos, identificação e caracterização dos grupos. Este método é complementado com as seguintes técnicas: a) Registros fotográficos; b) Mapas comportamentais: o comportamento dos usuários é observado, registrado e tabulado em uma planta atualizada dos espaços. Sendo anotado o tempo de ocupação, envolvimento no espaço e variedade de comportamentos possíveis. Além de classificar as formas de interação do indivíduo com o espaço: passivo isolado, isolado ativo ou social. Para a realização deste método, que visa identificar o comportamento e o envolvimento dos usuários na Praça Centenário, contou-se com visitas sistematizadas de duas em duas horas das 8h às 18h em dias de semana, sábados e domingos. Os dados foram levantados em cima de uma planta baixa atualizada da praça e complementados com registros fotográficos do comportamento dos usuários. Este método serve para observar o comportamento e a utilização do mobiliário urbano assim como dados quantitativos dos usuários que permanecem ou somente circulam pela praça em estudo. Algumas considerações com relação à aplicação deste método: a) Não foram considerados dias em que a temperatura estivesse inferior a 10°C e nem superior a 30°C, nem dias chuvosos por considerar que esse fato pode influenciar o uso da praça; b) Não foram considerados dias especiais como feriados ou com algum acontecimento fora do usual levando em conta que altera o uso da praça. 5.1.1 Entrevista Entrevistas complementam o método das observações e são praticamente o traço de união entre os registros e documentos oficiais e a versão da população usuária sobre as condições do ambiente analisado (ORNSTEIN, 2001). A intenção deste método é complementar o método de observações, questionando os usuários e os nãousuários quanto a utilização das praças públicas em estudo. Buscaram-se informações quanto às sensações e expectativas que têm em relação aos espaços. As entrevistas constituem uma fonte essencial de evidências para os estudos de caso, já que a maioria trata de questões humanas (YIN, 1994). As entrevistas são semi-estruturadas assumindo o caráter de uma curta conversa informal seguindo um roteiro prévio das questões que se deseja descobrir. Algumas considerações com relação à aplicação deste método: a) Universo – usuários das praças selecionadas e não-usuários que residam ou trabalhem no entorno imediato desses espaços; 4|9 b) Amostra – como a abordagem será qualitativa, será uma amostra não representativa, sendo 10 (dez) entrevistas com usuários presentes na praça, 10 (dez) entrevistas com funcionários do comércio no entorno e 10 (dez) entrevistas com moradores do entorno. Como o objetivo principal deste método é saber por que utilizam ou não utilizam a praça Centenário, as perguntas são feitas de maneira simples e direta não tomando muito o tempo dos usuários entrevistados. Com os usuários são feitas as seguintes perguntas: qual a frequência de uso? Por que utiliza a praça? Qual espaço que mais utiliza na praça? E por que? O que é ruim na praça? O que é bom na praça? Descrições como sensações de calor, frio, alegria, tristeza, entre outras. O que poderia ser melhorado? Com os não-usuários são feitas as seguintes perguntas: por que não utiliza a praça? O que poderia ser melhorado para que usasse a praça? Quais sensações que a praça passa para que não use-a? 6. Resultados São apresentados os resultados encontrados através dos métodos de observações e entrevista permitindo sistematizar e classificar os dados obtidos com os usuários e não-usuários da Praça Centenário. 6.1 Resultado das observações do comportamento dos usuários Este método permitiu programar uma representação gráfica adequada para registrar os comportamentos observados (ORNSTEIN, 2001). Com as informações coletadas na Praça Centenário pôde-se observar os horários mais utilizados da praça e o comportamento dos usuários. Por tratar-se de uma praça pública central e seu entorno comercial os horários determinados por este último acabaram determinando os picos de utilização da praça. Outro fato observado foi a curta permanência de uso no mobiliário urbano e o grande fluxo de pedestres, sendo possível classificar a circulação como vocação principal da Praça Centenário. Quanto aos usuários que utilizam os bancos predominam os idosos no meio da manhã e da tarde e os funcionários do comércio do entorno no período de almoço. Houve claramente a distinção entre os dois grupos de usuários, os idosos e os adultos. Crianças e jovens praticamente não foram observados na praça. Para sistematização dos dados apresenta-se uma tabela adaptada de acordo com a configuração e atividades consideradas necessárias para o entendimento do fenômeno da ocupação e/ou desocupação das praças. A tabulação dos dados obtidos deste método na Praça Centenário encontra-se a seguir na tabela 1. DIAS ÚTEIS 1A 8:00 8:30 10:00 10:30 12:00 12:30 14:00 14:30 16:00 16:30 ATIVIDADES REALIZADAS NA PRAÇA DO CENTENÁRIO 1B 2 3 4 5A 5B 133 - 261 13-17 8-15 8-15 8-15 4-6 0-6 133 - 261 1-6 8-15 16-22 16-20 7-9 7-12 133 - 261 1-6 16-23 16-22 8-15 7-9 7-12 133 - 261 1-6 8-15 16-22 8-15 4-6 7-12 262-390 7-12 8-15 8-15 0-7 4-6 0-6 5|9 SÁBADOS DOMINGOS 18:00 18:30 8:00 8:30 10:00 10:30 12:00 12:30 14:00 14:30 16:00 16:30 18:00 18:30 8:00 8:30 10:00 10:30 12:00 12:30 14:00 14:30 16:00 16:30 18:00 18:30 133 - 261 13-17 0-7 8-15 0-7 0-3 0-6 133 - 261 1-6 16-23 8-15 8-15 0-3 13-17 262-390 13-17 16-23 16-22 16-20 4-6 13-17 133 - 261 1-6 8-15 16-22 16-20 0-3 7-12 4-132 1-6 0-7 0-7 0-7 0-3 0-6 4-132 1-6 0-7 0-7 0-7 0-3 0-6 4-132 1-6 0-7 0-7 0-7 0-3 0-6 4-132 1-6 0-7 0-7 0-7 0-3 0-6 4-132 1-6 0-7 0-7 0-7 0-3 0-6 4-132 1-6 0-7 0-7 0-7 0-3 0-6 4-132 1-6 0-7 0-7 0-7 0-3 0-6 4-132 1-6 0-7 0-7 0-7 0-3 0-6 4-132 1-6 0-7 0-7 0-7 0-3 0-6 LEGENDA * Foi feito uma média entre o maior e o menor índice encontrado em cada atividade x-y * Uso baixo nos horários observados determinando os valores de classificação para uso baixo, Uso moderado x-y * moderado e intenso. Uso intenso x-y * Circulação pela praça: A (pedestres) e B (bicicletas) * 1 * Pessoas que passam duas ou mais vezes é considerado o número de vezes que passam. Utilização do mobiliário de estar (bancos)*: para descanso e/ou lazer ou espera 2 * Os bancos podem ser os projetados para tal finalidade ou floreiras adaptadas como bancos pelos usuários. 3 Utilização do mobiliário de apoio (telefone público e bicicletário)* * como bicicletário são considerados o projetado para tal finalidade e os postes e ou muretas adaptadas pelos usuários para deixarem as bicicletas. 4 Utilização do equipamento (banca de revistas) Comportamento do indivíduo: A (isolado) e B (em grupo) 5 TABELA 1: Mapa comportamental dos usuários da Praça Centenário em Tubarão – SC. Fonte: Acervo próprio (2006). 6.2 Resultado das entrevistas São apresentados os resultados nas entrevistas semiestruturadas realizadas com os usuários e não-usuários da praça Centenário e do seu entorno imediato (comércio e residência). Foram realizadas entrevistas com os usuários das praças e com os funcionários do comércio e moradores do entorno imediato à praça. Os entrevistados foram idosos e adultos, valendo a pena destacar essa distinção nos resultados. Quanto à frequência de uso, os idosos entrevistados, todos do sexo masculino, são os que frequentam a praça quase que diariamente e os demais entrevistados frequentam de 1 (uma) a 2 (duas) vezes por semana. Quando perguntou-se sobre o porquê da utilização da praça as respostas dos idosos foram para encontrar os amigos, sair um pouco de casa e ter um pouco de lazer (70% das respostas). Os demais usuários entrevistados utilizavam a praça para esperar alguém, tomar um sorvete, ou sentar um pouco enquanto estavam pelo centro da cidade (30% das respostas). Todos os entrevistados responderam que os espaços para sentar são os espaços mais utilizados da praça (ver figura 2). 6|9 Sobre o que é considerado ruim no espaço, vários aspectos foram mencionados, entre eles, degradação do espaço, má conservação dos bancos, falta de manutenção, bancos não confortáveis, latas de lixo no lado dos estares. Sobre o que é considerado bom no espaço, colocam a convivência que tem no espaço com outros usuários e a presença das árvores. Quanto às sensações alguns colocam que se sentem tranquilos e alegres, como um usuário que descreve sua emoção “não tem inverno e não tem verão que faça eu desistir dessa praça”; alguns usuários colocam que depende do momento. FIGURA 2: Entrevistado utilizando o banco (floreira adaptada para tal finalidade) e sua localização na praça. Fonte: Acervo próprio (2006). Nas considerações sobre o que poderia ser melhorado na praça colocam que deveriam explorar mais a vista do rio, arrumar os bancos, pintar e fazer funcionar novamente o chafariz ou tirálo, ter mais respeito com os idosos, arrumar calçamento, entre outras sugestões. Com os não-usuários ao serem perguntados sobre por que não utilizam a praça, responderam que é por ter poucos bancos, ser um lugar sujo, falta de atrativos de lazer, falta de beleza ou por falta de tempo. Quanto ao que poderia ser melhorado, a principal reivindicação foi a melhoria dos bancos e com relação às sensações que o local passa citam a sujeira do local e das pessoas que frequentam, destacam que é um espaço que passa despercebido e sem alegria. 6.3 Discussão do método A pesquisa qualitativa, aplicada nesse trabalho, não serve para fins estatísticos, mas para apontar critérios de qualidade presentes nos resultados no sentido de contribuir para o conhecimento do fenômeno de apropriação de praças públicas centrais em cidades de pequeno porte. As observações do comportamento dos usuários resultaram em um perfil de como a praça é realmente usada, mesmo não conhecendo ainda os motivos dos usuários, pôde-se tirar conclusões significativas sobre a apropriação de outras praças em um contexto semelhante. As entrevistas permitiram, além de compreender a situação das praças públicas, identificar as sensações e os anseios que os usuários e os não-usuários das praças têm em relação a elas. Para sintetizar o conhecimento teórico e a compreensão dos resultados obtidos através dos métodos aplicados na pesquisa, apontam-se as principais características e os resultados mais relevantes verificados a partir da observação do comportamento dos usuários e entrevistas: a) O entorno com grande movimento de pessoas favorece a permanências na praça, já que a distração passa a ser um motivo para usá-la; b) Como conversar é a atividade mais frequente da praça, o conforto dos bancos é um dos principais aspectos apontado pelos usuários; c) O banheiro é um elemento importante, talvez, não só por quem usa na praça, mas na importância que teria esse mobiliário para quem vai ao centro, muitas vezes de bairros distantes; d) A escolha pelo equipamento café/bar/lanchonete reafirma a importância desse equipamento já existente na fronteira da praça e que atrai grande número de usuários; e) A relação dos não-usuários da praça com um lugar sujo pode ser pelas sombras escuras, ocupando 80% da praça; 7|9 f) A barragem dos ventos de verão, a pavimentação excessiva (90% da área), o entorno ruidoso e a falta de conforto no mobiliário podem ser os motivos que levem a uma curta permanência na praça. CONSIDERAÇÕES FINAIS Entender os espaços públicos sob o ponto de vista dos usuários é de fundamental importância, na medida que estão são os principais interessados nesses espaços. Os resultados são conquistados através da avaliação das diversas nuances no tratamento e as formas de apropriação da população dos espaços analisados. Observando a ocupação do espaço público levando em conta a qualidade ambiental das áreas e do seu entorno, compreendendo assim o fenômeno de ocupação desses espaços. Durante o desenvolvimento da pesquisa na Praça Centenário foram encontrados elementos para caracterizar a apropriação de praças públicas em cidades de pequeno porte. As conclusões não podem ser generalizadas, pois cada contexto apresenta situações diferentes, exposto isto, alguns pontos são comentados abaixo. A escolha dos fatores que influenciam na apropriação ou não das praças públicas nem sempre são compatíveis entre si. Os gostos e preferências não são uniformes e as considerações são subjetivas: aquilo que satisfaz a um casal de idosos não satisfaz às exigências de um grupo de jovens. Os elementos que constituem as praças públicas, desde o traçado geral até o mobiliário, são importantes para complementar a paisagem das mesmas e, através de seu posicionamento e função no espaço, pode resultar em diferentes padrões de comportamentos dos usuários tanto positivos como negativos. O entorno que circunda as praças influi substancialmente sobre os indivíduos que vão usá-las além da condição de cada pessoa, tanto ligada aos mecanismos biológicos do corpo como psicológicos, com fundo cultural, motivações, experiências e necessidades de cada indivíduo. Sendo assim, o processo de apropriação implica além das características de cada praça, as necessidades humanas, sendo elas, físicas, psicológicas e/ou fisiológicas. Outro fator importante a destacar é a rotina de atividades do entorno e da praça, ressaltando o horário de funcionamento do comércio como principal determinante na utilização das praças públicas centrais que determina o horário de passagem dos funcionários e de maior vitalidade da área. Sobre as atividades, o caminhar e o estar sentado são atividades complexas do ponto de vista de uso e mais facilmente encontradas nas praças públicas pela maior disponibilidade do espaço e mobiliário para que isto aconteça, além disso, dependem do espaço físico adequado e prazeroso. A existência de bons espaços para sentar prepara a praça para outras atividades de permanência prolongada que podem ser nela desenvolvidas: comer, ler, dormir, esperar alguém, jogar, tomar sol, olhar as pessoas e o movimento e conversar. Quanto ao tratamento do piso, em geral, é o grande protagonista na composição do espaço e serve para sustentar os elementos constituintes, como mobiliário urbano e vegetação. A manutenção é um aspecto bastante relevante, pois nos irregulares, os usuários acabam sendo prejudicados na hora de dialogar com os amigos, contemplar a paisagem e principalmente nos passeios. A vegetação torna-se um trunfo para a apropriação das praças, tanto nos seus atributos físicos como na percepção que causa. A água, além de proporcionar conforto térmico aos espaços representa entre os indivíduos um forte senso simbólico, tornando-se essa a principal característica desse elemento. Quanto aos mobiliários e equipamentos, constituem os elementos principais que vão determinar as atividades que podem ser realizadas nas praças públicas. Os bancos, principal mobiliário das praças, apresentam dois tipos de necessidades: de assento para conversar, namorar e jogar devendo ser confortáveis e estarem em locais com amenização climática e; de composição estética, localizados principalmente nos espaços de passagem, onde a permanência é curta e ocasional. 8|9 Com os resultados pretende-se desenvolver uma reflexão crítica partindo da relação homem/espaço urbano; compreender o fenômeno de apropriação e/ou desapropriação das praças analisadas e; indicar situações que possam proporcionar condições para a participação crescente, responsável e livre nos espaços públicos. REFERÊNCIAS HEIMSTRA, N. W.; MCFARLING, L. Psicologia ambiental. Tradução Manoel Antônio Schimidt. São Paulo: EPU, 1978. HERTZBERGER, H. Lições de arquitetura. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Censo Demográfico 2010. Disponível em: <http://www.ibge.org.br>. Acesso em: 20 set. 2015. ORNSTEIN, S.; BRUNA, G. C.; ROMERO, M. A. Ambiente construído & comportamento: a avaliação pós-ocupação e a qualidade ambiental. São Paulo: Studio Nobel, 1995. ORNSTEIN, S. Avaliação pós-ocupação (APO) do ambiente construído. São Paulo: Studio Nobel: EDUSP, 1992. ROBBA, F.; MACEDO, S. S. Praças brasileiras. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2002. YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Tradução Daniel Grassi. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. 9|9