Criação de Rainhas: Quadros Articulados para Nucléolo e Alça
Joaquim Pífano
ADERAVIS
Como o prometido é devido lá fui visitar o amigo Vicente Furtado, movido pela saudade e pela curiosidade
acerca da “misteriosa” invenção que me tinha falado ao telefone.
É sempre uma alegria rever os amigos, mais ainda quando comungamos de opiniões e interesses
semelhantes, neste caso: as abelhas...
Era grande a minha expectativa em torno do novo tipo de quadro inventado pelo Vicente, (Vicente Algarvio –
como lhe chamam os amigos). Tratava-se de um quadro de alça dividido ao meio e adaptável para os
nucléolos de fecundação ou para as alças.
O objectivo era colocá-lo numa alça com uma lâmina de cera moldada para que as abelhas puxassem a cera e
lá colocassem mel, pólen e criação. Uma vez completo, a grande novidade: podia dobrar-se ao meio obtendose um duplo quadro pronto a utilizar num Nucléolo de Fecundação e Estágio.
Para quem faz e gosta da Criação de Abelhas Rainhas, a disponibilidade de quadros com estas características
é sempre uma mais valia. No entanto, a procura do modelo de quadro ideal é mais um dos muitos “mitos
apícolas”:
Os mais conhecidos são os quadros desmontáveis, com um sistema de encaixe mais ou menos complexo (em
madeira, metal ou plástico) e que permitem o seu uso alternado nos ditos nucléolos ou em alças ou ninhos.
Os principais problemas prendem-se quase sempre com a eficácia do encaixe, muitos soltam-se ou partem-se
com facilidade, e quase sempre resultam numa estrutura pouco firme ou segura.
Há quem resolva o problema usando quadros de ninho ou alça em Nucléolos de Fecundação/Estágio
exageradamente grandes, que obrigam a um maior consumo de cera, reservas nutricionais e até a uma maior
disponibilidade de abelhas. Vale-lhes no entanto o facto de tais quadros poderem ter outras aplicações.
Por fim, os quadros pequenos só para nucléolos, difíceis de puxar a cera com tão poucas abelhas, ou que
obrigam a cortar cera puxada de quadros maiores para montar nestes pequenos caixilhos. Para não falar na
armazenagem e conservação destas estruturas fora da época de criação de rainhas, pois não têm outra
utilidade.
De tanto trabalhar, matutar e aperfeiçoar estes “utensílios” o Vicente “Algarvio” conseguiu um novo
mecanismo de quadro convertível, aparentemente muito mais eficaz que qualquer outro dos modelos
conhecidos.
O “truque” desta invenção prende-se com a engenhosa dobradiça a meio do quadro que permite transformar
um quadro de alça em dois de Nucléolo, sem nunca se separarem as duas metades.
As dobradiças metálicas (chapa zincada), muito funcionais e fáceis de fabricar, ainda permitem a fixação do
“duplo quadro” ou “quadro dobrado” na câmara do Nucléolo:
Na imagem anterior, a forma das quatro dobradiças (duas para a parte superior do quadro e duas para a parte
inferior), mais dois pregos para fixar cada dobradiça e um rebite para unir as duas dobradiças de cada par de
modo a permitir a rotação entre elas.
Na anterior sequência de imagens percebemos a rotação que permite transformar o quadro de alça (ou meia
alça) num duplo quadro de Nucléolo de Fecundação/Estágio.
O mesmo esquema das dobradiças, mas que nos permite ver a diferença entre as montagens inferior e
superior. De notar que nas dobradiças superiores há uma tira metálica mais comprida que ao ficar exposta
após a dobragem permite fixar o quadro no encaixe do nucléolo.
Nas imagens anteriores (esquemas da dobragem do quadro vista por cima e por baixo) permite-nos perceber
o mecanismo relatado no ponto anterior.
Estes Nucléolos de Fecundação/Estágio são ligeiramente diferentes dos apresentados em (Nucléolos de
Fecundação e Estágio de Abelhas Rainhas: http://montedomel.blogspot.com 21/02/2009), uma vez que
deixamos de ter dois nucléolos por módulo, ou seja: desta forma cada caixa só nos permite colocar uma
única rainha ou alvéolo real. A vantagem deste método, além da versatilidade do quadro, tem a ver com a
população acrescida de amas para cuidar da rainha/alvéolo real, uma vez que trabalhamos com um quadro
duplo:
Legenda da figura anterior:
1.Câmara para o alimento artificial.
2.Encaixe da dobradiça do quadro.
3.Acesso das abelhas ao alimentador.
4.Câmara do quadro e das abelhas.
5.Porta de entrada/saída de abelhas.
6.Encaixe ou suporte normal de quadros em chapa zincada.
Na próxima figura podemos ver um apiário de módulos com dois nucléolos (por cima), e por baixo um
apiário com o novo tipo de nucléolos, de quadro duplo ou dobrado:
Tanto a forma do apiário como o sistema de ancoragem do Nucléolo aos suportes de fixação é perfeitamente
indiferente, pois o modelo de Nucléolo apresentado neste artigo poderia perfeitamente ser utilizado em
estruturas como as da parte superior da imagem e vice-versa.
Outras diferenças/semelhanças aos Nucléolos anteriores:
Este nucléolo já não possui paredes laterais em vidro para monitorização do interior, esta é feita por cima
mediante o uso de uma “prancheta” em acrílico muito fino. É nesta tela de acrílico que se encontra um
orifício (tapado com fita gomada) por onde se introduz a rainha ou se coloca a cúpula com o alvéolo real.
É curioso o pormenor que o Vicente fez: um orifício no forro em esferovite da tampa do Nucléolo, onde a
cúpula que suporta o alvéolo real vai encixar:
A dita “prancheta” de acrílico possui um segundo orifício sobre a câmara do alimento artificial por onde se
adiciona o xarope. Esta prancheta é presa à caixa de madeira (Nucléolo) com fita gomada, evitando assim
perder-se ou cair para o chão quando a mesma se abre.
A porta de acesso ao interior/exterior, à semelhança dos nucléolos anteriores, trata-se de um disco rotativo
que permite várias posições:
Acesso a todos os tipos de abelhas (Rainhas, Zangãos e Obreiras).
Acesso restrito a Obreiras.
Sem acesso (entrada ou saída) de qualquer tipo de abelhas, mas permitindo a ventilação:
Os alimentadores também me pareceram mais versáteis, bastou para tal forrar a câmara de madeira com
“chapa” de estanho (acho que é esse o nome), inclusivamente reciclando aquelas que vêm com as empadas...
À data da Visita não sei se o Vicente já se encontrava a patentear este novo tipo de quadro articulado, mas
confessou-me ser seu objectivo fazê-lo.
Uma última curiosidade: à despedida perguntei ao Vicente “Algarvio” se não se importava que
publicasse/divulgasse as imagens e pormenores deste quadro, ao que ele me respondeu com aquela
humildade que tanto o caracteriza:
“Se não divulgássemos as novidades e as descobertas que vamos fazendo, isto não teria graça
nenhuma, a magia da apicultura é isso mesmo...”
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CRIAÇÃO DE RAINHAS