O PAPEL DO ESCRITOR NO TERCEIRO MUNDO
Qual deve ser o papel do escritor no Terceiro Mundo?preciso,
creio, separar a pergunta em duas partes.
A primeira: o papel do escritor, no terceiro, no quarto, no quinto,em
qualquer dos mundos, é assumir integralmente o seu compromisso com a
literatura.
Trata-se, sobretudo, de dominar o oficio de escrever - de bem
utilizar as palavras, de conhecer os seus segredos, de transformá,-las
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em prolongamento dos olhos, da,pele do,,s pervófe-64 ,
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'késta tarefa, o escritor esta so. Nenhuma ética, nenhuma ideolo
gia pode servir-lhe como arrimo mediato.
Como habitante do Terceiro Mundo, porém, o escritor tem uma res
ponsabilidade bem definida, traduzida em duas palavras: abertura e par
ticipaçao.
Abertura, no sentido de estar atento para o que se passa a seu
redor: uma tarefa dolorosa, mas possível de ser realizada mediante um
esforço de vontade, assim como é possível a reflexão a partir desta
realidade.
O passo seguinte é a participação, e aqui vem a pergunta crucial: deve o escritor participar obrigatoriamente como escritor na realidade do Terceiro Mundo? Sim, é a minha resposta.
Como, é outro problema. Acredito que nem todo o escritor precise necessariamente ser telúrico, descreverindios ou camponeses para se apanhar a realidade em que vivemos; como o elefante da história esta
realidade é estranha e gigantesca, oferece uma enorme superfície de
contato, e muitos pontos por onde pode ser aganade. Mais: suas ramifi
cações infiltram-se por toda a parte - nos palacetes, nas bibliotecas,
nas universidades.
Na vida dos pobres esta o Terceiro Mundo, na vida dos ricos tam
bém e - ainda que estes escutem música americana, leiam livros traduzidos, freqüentem bares de nomes terminados por apóstrofe e
John's, Pedro's, e outros.
O mundo interno dos escritores também é o Terceiro Mundo - e lá
também ele deve espiar em busca de sua realidade.
Assim, pois, o escritor deve participar com os outros escritores - escrevendo, bem e autêntico. Deve participar como pessoa: lendo,
falando, escrevendo (como qualquer outra pessoa), agindo. E deve esperar - embora sem nenhuma garantia - que sua ação como escritor e sua
ação como pessoa convirgam para um ponto só, sejam uma coisa só, que
o ideal de qualquer ser humano em busca de um futuro melhor para si
e para os outros.
Lio
Não é fácil definir o papel do escritor no mundo, e muito menos
no Terceiro Mundo.
De uma certa forma, a questão envolve uma definição da utilidade da literatura prole!..ema no mínimo angustiante para o escritor mas
que, como - a esfinge, exige uma resposta.
Uma coisa é certa: o papel do escritor, em qualquer dos mundos,
é assumir integralmente o seu compromisso de literatura.
Trata-se, sobretudo, de dominar o ofício de escrever - de bem
e
utilizar as palavras, de conhecer os seus segredos, de trans orma -las
em prolongamento dos olhos, 4a pele, dos nervos; em sensíveis instrum ntos para exploração e transformação da realidade externa e interna
em matgria literária.
Por outro lado, e atg como pessoa, o ser humano tem responsabilidades definidas: abertura e participação. No Terceiro Mundo estas
respons,'eilidades adquirem caráter de urgência.
Em que medidas estas duas se comunicam, ou se completam permane
ce um mistério para mim. 'eieu palpite, e minha esperança, é a de que a
atividade literãria se veja melhorada pela abertura e pela participação; assim cio meu palpite, e minha esperança, é de que a realidade
do mundo se veja afetada, e substancialmente melhorada, pelas obras li
terárias a ela lançadas.
g certo, para pe;e., que não há uma relaeo de causa e efeito entre engajamento e qualiJade da obra literária. :is qw) pens, - m o contrário conectam engajamento diretamente 'ã escolha do tema e, esperam de;
um escritor do Terceiro Mundo livros sobre rndies, camponeses, latif:la
dio, etc. Esquecem que a realidade - especial -eente •a do Terceiro ik:un-
do - e estranha e gigantesca e que, como o elefante de hist6ría, pode
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ser agarrada em muitos lugares. £t ree L
e insidiosa; ela per"( tia nos pai -eetes, nas bib.,. .iotecas, nas universidades - por maie que o eldbiente finja ser europeu ou norte-americano.
Os índios estão em todas.
O papel do escritor no Terceiro Mundo representa, pois,uma ques
tão aberta. Compete aos escritores procurarem uma resposta escrevendo,
os leitores lendo, e todo o mundo estando alerta e pronto para a ação.
Dom Jaime Spengler
Chanceler
Irmão Joaquim Clotet
Reitor
Irmão Evilázio Teixeira
Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul
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