OS RISCOS DA EMIGRAÇÃO A emigração é um fenómeno que cada dia assume maiores proporções A crise instalada no nosso país tem vindo a provocar uma nova onda de emigração. O aumento galopante do desemprego e a falta de perspetivas em relação ao futuro têm levado muitos portugueses incluindo Enfermeiros a fazerem as malas e partirem em busca de algo melhor, essencialmente que lhe ofereçam melhores condições de vida. Os Enfermeiros que estão no desemprego, são cada vez mais necessários à nossa população… A Ordem dos Enfermeiros admite a sua preocupação perante a emigração de profissionais, mantendo a posição plena que os atuais enfermeiros existentes são necessários nos nossos serviços de Saúde. Não havendo necessária a contratação, face ao nº de saídas ocorridas e ao aumento das necessidades cuidados de em Enfermagem, entendemos que temos de formar para contratar e não para “exportar a custo zero”. Mas, ressalva que o processo de emigração é visto por uns como a “última opção” e como uma “mais-valia em termos de visibilidade” da qualidade da formação em Enfermagem em Portugal. A Secção Regional da Ordem dos Enfermeiros da Região Autónoma da Madeira, após autorização do autor, com salvaguarda do seu anonimato, achou por bem publicar esta experiência e alertar todos os Enfermeiros para os riscos da emigração. Foram omissos, nomes de instituições e zonas geográficas mais específicas, que possam identificar o relator. A Ordem dos Enfermeiros salvaguarda que apesar deste relato perturbador, há experiências de sucesso relativas à emigração… O relato seguinte é de alguém que vivenciou na primeira pessoa alguns dissabores da emigração e pretende alertar os enfermeiros para alguns riscos e insegurança que possam surgir quando se decide mudar de país…. “Sou uma jovem Enfermeira portuguesa, que passou por uma horrível experiência com uma proposta de emprego em Inglaterra e queria partilha-la. Sem qualquer exagero, faço-o para alertar os enfermeiros que pensam ingressar nesta viagem da emigração. Em Fevereiro deste ano, respondi a uma proposta de emprego publicada no Website de uma universidade do país, onde uma enfermeira portuguesa solicitava enfermeiros sem experiência ou especializados, para um lar especializado em saúde mental, em particular em demências. No prazo de 2 semanas estava eu em Inglaterra, uma vez que tinham urgência e falta de enfermeiros. Tinha as condições todas acordadas, de alojamento (oferta de 1 mês de alojamento gratuito, situava-se mesmo ao lado do lar) e de trabalho: contrato de trabalho permanente, ordenado base de enfermeira (o habitual, base da Banda 5, £21.176/ano), horário de trabalho semanal 36h, turnos de 12h, direito a folgas, horas extraordinárias pagas, 27 dias de férias e 8 de feriados nacionais (o normal, como todos os meus colegas que têm emigrado para o Reino Unido). Nenhuma destas condições foi cumprida, pelo que ao fim de 4 semanas regressei a Portugal: - O contrato de trabalho: só me foi oferecido ao final da 4ª semana de trabalho e com o qual não concordava com as condições; - A integração: queriam que fizesse os turnos sozinha desde o início, sem qualquer orientação e acompanhamento; quando questionei e demonstrei insatisfação, explicaram que tratando-se de um lar privado apenas conseguiam pagar um enfermeiro por turno, e que por esse motivo, se eu quisesse a integração que reclamava, não me podiam pagar o ordenado. Assim, e uma vez que eu estava a "aprender" (diziam eles) com a outra colega que me recrutou, menos experiente do que eu e que me integrava na primeira semana em que fiz 60h, e pagaram me apenas 8h de trabalho; - Ordenado: em 4 semanas que lá estive, recebi apenas metade do ordenado que tinha sido acordado – devido à semana de integração e porque recusaram-se a pagar a minha última semana de trabalho (36h). Explicaram que o não pagamento da última semana, servia para pagar as despesas causadas pela minha partida (a renda de um mês foi cobrada, por terem contatado uma enfermeira para substituir os meus turnos, e por fim até para pagar a roupa da cama, que tinham oferecido e que deixei lá). Quanto às horas extraordinárias eram pagas como horário normal, apesar de estarmos sujeitos à cobrança de impostos mais elevados por esse motivo; - Horário de trabalho: no contrato sinalizava o meu horário de 36h semanais e dizia ainda que apesar disso não garantiam esse volume de trabalho semanal. Portanto, não garantiam o horário mínimo nem máximo de trabalho semanal. Poderia haver semanas em que não tinha ordenado, porque não tinha horas atribuídas. No entanto podiam chamar-me a trabalhar até 60h semanais e a qualquer hora – como aconteceu - irem a casa buscar-me para fazer o turno e tinha de aceitar, uma vez que o meu apartamento ficava mesmo ao lado e a senhoria era a minha patroa. Sentia essa pressão evidente e que faziam questão de lembrar; - Folgas: se não usufruía das folgas naquela semana não acumulavam para a semana seguinte, simplesmente ficava sem direito de gozá-las; - Funções: desempenhei tarefas domésticas que não correspondem legalmente à profissão de enfermeiro no Reino Unido nem em Portugal. No lar tinham afixado um papel com as tarefas do enfermeiro de cada turno. No turno da noite, tive de engomar lençóis de cama dos doentes, limpar/lavar a cozinha, lavar balcões, pôr e tirar loiça da máquina de lavar, varrer e esfregar o chão, interrompendo as minhas funções de enfermeira para desempenhar aquelas. Afixar orientações nas paredes é prática comum, uma vez que os enfermeiros e auxiliares semanalmente desistem de trabalhar naquele lar ou no mínimo apresentam licença por doença; - Alojamento: precário, inseguro, com más condições de higiene e sem alguns dos equipamentos básicos necessários na cozinha; Outra pressão que sentia, era a responsabilidade de ser ainda inexperiente no referido lar e ficar sozinha em todos os turnos, responsável por 40 doentes de comportamento instável e alguns em final de vida, e por supervisionar o trabalho de 14 assistentes operacionais. Pensava todos os dias, como podia estar naquela situação, se era tão esclarecida, se me tinha informado tanto, demorei um ano a encontrar a melhor oportunidade… tão cautelosa que sou. Apesar de questionar sempre tudo e de colocar todas as minhas dúvidas, na fase de planeamento da minha ida para Inglaterra e quando já lá estava a trabalhar, confiei sobretudo nesta proposta de emprego pela divulgação feita pela universidade (pensei que confirmassem as fontes de publicação) e por se tratar de uma enfermeira portuguesa (com pessoas conhecidas em comum). Além da frustração e exaustão que sentia, fiquei numa situação financeira ainda mais complicada do que quando parti. As habituais questões dos enfermeiros e não só, que pretendem emigrar relacionam-se com aspetos que nem mencionei, sobretudo: a adaptação à cultura, língua e clima. Contava com tudo isso, mas toda a minha experiência foi de tal maneira péssima, que essas dificuldades passaram para segundo plano. Por tudo isto colegas, partilho convosco a minha experiência e recomendo o seguinte: verifiquem as fontes de ofertas de emprego que encontram, as vezes que forem necessárias (falem com alguém que lá tenha trabalhado); demorem o tempo que for necessário a analisar as ofertas de emprego (nunca se apressem a tomar uma decisão tão importante); confirmem as condições de trabalho e de alojamento (o ideal será ter tudo por escrito); tenham sempre um plano B (estejam sempre preparados para voltar ou mudar, se a experiência não correr bem, ou não corresponder às vossas expetativas ou às condições acordadas). Os tempos não estão fáceis colegas, mas não se deixem vencer nem enganar. Um grande abraço.” Anónimo (Enfermeira devidamente identificada). Informações úteis para quem decidiu, trabalhar no estrangeiro… A Ordem dos Enfermeiros recomenda a todos os Enfermeiros que optarem por emigrar a leitura prévia das Informações úteis para quem decidiu trabalhar no estrangeiro , que se encontram na nossa página principal http://www.ordemenfermeiros.pt Trata-se de uma nova área no seio das Relações Internacionais da OE, que surge na sequência de várias dúvidas e pedidos de esclarecimento que têm sido enviados pelos enfermeiros sobre o tema trabalhar no estrangeiro. Com esta iniciativa o que se pretende não é impulsionar a emigração, mas tãosomente ajudar / informar os enfermeiros portugueses que já decidiram ir trabalhar para outro País. Além disso, a OE também pretende alargar o apoio aos membros através da identificação de colegas que estão a trabalhar no estrangeiro (ou que estão em vias de partir) e que estejam disponíveis para serem pontos focais na Diáspora de enfermeiros portugueses. A Secção Regional da Ordem dos Enfermeiros da Região Autónoma da Madeira