Uma jovem tristonha
Benilma Lins Ribeiro
Há muitos e muitos anos, eu conheci uma linda jovem, que era muito
triste, e vivia pelos cantos da residência de seus pais em uma fazenda. Os
seus pais sempre perguntavam o que ela tinha. Não respondia, ficava calada.
Os pais começaram a se preocupar; não conseguiam entender o que se
passava com a filha. Era uma jovem viajada, fornada e que tinha amiga e
amigos; enfim, tinha tudo que uma pessoa precisa e muito mais.
Ela tinha o costume de sair todas as tardes: ia ao bosque para
meditar, conversar com as plantas, com as pessoas. Mas voltava antes do
crepúsculo.
O mistério que a cercava é que ela gostava, amava o jovem capataz. E
não podia dizer nada a ninguém. Eles às vezes se encontravam no bosque,
conversavam muito, e trocavam abraços e beijos. Certa vez, eles se
afastaram mais um pouco do que era costume, e a demora foi tanta, que o
pai resolveu ir procurar a filha e os encontrou em cenas difíceis de explicar.
O pai, então, expulsou o capataz e a filha de sua propriedade.
O jovem capataz disse:
- E agora, viver como!
O jeito foi levar a amada para casa de seus pais, que ficava um pouco
distante. Então, houve a gravidez. Ao nascer a criança, a jovem mãe morreu
e, alguns meses depois, o capataz também morreu. A criança foi criada,
então, por seus avós paternos. E foi crescendo. Com 12, 14 anos, como não
tinha estudo, foi mendigar para prover o sustento dele e de seus avós,
usando, contudo, uma corrente que herdara de sua mãe. E sempre aparecia
um fazendeiro para ajudar aquele jovem. Uma certa manhã, o fazendeiro
olha aquele jovem e diz:
- Que linda corrente! Quem te deu? Você roubou de alguém?
Ele responde:
- Sou pobre, mas não roubo nada de ninguém; trabalho honestamente.
O fazendeiro disse:
- Quer vender?
- Não, é herança de minha mãe.
O fazendeiro foi embora pensativo e chegando em casa comentou o
acontecido com a esposa. Passado alguns meses, o fazendeiro o encontrou e
perguntou:
- Como chama a sua mãe?
- Por que quer saber? Ela faleceu quando eu nasci e alguns meses
depois o meu pai faleceu também.
O fazendeiro disse:
- Eu posso olhar a foto que está na medalha?
- Claro.
O fazendeiro quase teve um ataque do coração. Aquele jovem
maltrapilho era seu neto, dono de grande fortuna. O fazendeiro foi embora.
Alguns meses se passaram e ele encontrou o garoto novamente, e o
convidou para morar na sua casa.
- Eu não posso; tenho que levar alimento para mim e para meus avós.
O fazendeiro foi embora. Chegando em casa resolveu contar tudo para
sua esposa. Ele é nosso neto, afirmou. “Como você sabe?” A medalha tinha a
minha foto, a sua e a de nossa filha.
Certa vez, ele resolveu seguir o garoto, sem que ele percebesse, e
descobriu que ele morava em uma casa muito humilde, e que os avós já
estavam idosos, e o avô cego de um olho. O jovem assustou-se com a chegada
do fazendeiro. O fazendeiro cumprimentou os avós do garoto. Em seguida
disse:
- Vocês querem morar na fazenda?
- Não podemos.
- Podem sim.
- Eu tenho um segredo a dizer a vocês: este jovem é meu neto,
herdeiro de toda a minha fortuna.
Eles se assustaram, e com medo perguntaram:
- Como o senhor sabe?
- Pela foto que está na medalha: minha, de minha mulher e de minha
filha.
Os avós choraram e disseram:
- Você pode levá-lo, mas nós precisamos dele
- Vocês vão também.
O jovem saiu. Deixou que eles decidissem. Depois de três semanas
voltou, e soube que a resposta fora não, mesmo o fazendeiro tendo chorado e
pedido perdão a todos.
Passado alguns meses, o fazendeiro mandou construir uma casa com
todo o conforto para os três morarem. Agora o jovem não mendigava mais.
Passado um tempo, morreram os avós maternos e toda a fortuna ficou com o
neto.
Já homem, conheceu uma jovem, ficou noivo, casou. E então, construiu
um grande abrigo de crianças órfãs. Ele e a esposa dedicaram-se de coração
àquelas crianças. Eles tiveram cinco filhos, três homens e três mulheres.
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