PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ
PROFESSORA: VERA LÚCIA CASTELEINS
ALUNAS: ANDREIA MOCELIN REIS,
GABRIELA PELLANDA,
GRACIELE SANTOS DA SILVA,
LUCIANE REMPEL,
TASSIA TAIANA DA SILVA.
A pesquisa apresenta um relato de como as mulheres eram reprimidas em
uma sociedade onde imperava o preconceito sobre a figura feminina, passavam
por humilhações sem direito algum de defesa. As mulheres eram submissas a
seus pais, a seus maridos e a toda a sociedade, reservado a elas apenas dois
papéis: o papel de boa mãe e de esposa. E caso não preservasse tal conduta,
perderia sua honra, o que era muito valorizada na época. Tais características são
direcionadas às mulheres do mundo inteiro no século XIX, mas a pesquisa
também faz um paralelo em especial entre as mulheres européias e brasileiras,
destacando o preconceito existente e a luta pela liberdade e direitos de igualdade
na política, no trabalho e na sociedade em geral.
As mulheres européias sofreram também com o preconceito, mas quando
aliaram-se aos partidos políticos mais importantes ganharam autonomia apartir
dos interesses da política.
No Brasil o preconceito e as dificuldades foram maiores, pois mesmo as
mulheres que trabalhavam como lavadeiras eram discriminadas, pois deviam
cuidar apenas de suas casas e famílias, como era determinado pela sociedade.
Hoje, no século XXI, o preconceito ainda é visível, mas as mulheres
possuem uma maior autonomia, conquistada através dos tempos dispondo
também de vários benefícios de ajuda e defesa contra o preconceito, o abuso e a
violência.
Será que nossas conquistas chegaram ao fim? Como será nosso futuro
agora que somos vistas como seres pensantes e atuantes na sociedade?
Palavras – chave: Mulheres / honra, preconceito, submissão, liberdade.
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MULHERES
SOCIEDADE COLONIAL, ÉPOCA DO IMPÉRIO E NOS DIAS ATUAIS.
A
sociedade
colonial
teve
parâmetros
severos
impostos
pelos
colonizadores, que desenvolveram uma sociedade com visões e parâmetros, onde
o homem era superior á mulher.
A mulher por sua vez, era vista como um ser submisso ao sexo masculino,
e para essa sociedade a única função e dever da mulher, era propiciar herdeiros
para a sociedade.
Não era nada fácil ser mulher no Brasil colonial, enfrentando os
preconceitos e os tabus trazidos pelos colonizadores portugueses para uma terra
onde existiam apenas índios.
Nada de decotes ou panos que chamassem atenção dos homens, apenas
a do marido; nada de mostrar os dedos dos pés, era considerado obsceno; nada
de perfumes e cheiros fortes, sorrir demais e mostrar os dentes bonitos ou sorrir
de menos para não mostrar os dentes feios era condenável. A vaidade feminina
era menosprezada pelo homem e pela sociedade.
Um fator de grande peso, em relação à mulher no Brasil Colônia era a
preservação da honra e da virtude, pois estas eram qualidades indispensáveis
para que a mulher fosse considerada pelos homens e aceita perante a sociedade.
A conduta e a moral feminina estava vinculada à fidelidade, a submissão
masculina e principalmente que fosse uma mulher honrada. Para a terceira
qualidade de sua conduta eram feitas algumas exigências como, a castidade e a
sobriedade, ou seja, a honra do Brasil colônia vinculava-se a sexualidade
feminina, onde a mulher tem de controlar seus impulsos sexuais e seus desejos.
Leila Mezan Algranti em seu livro – Honradas e Devotas: mulheres da colônia
(1993, p.110-111) – afirma que: “a honra para a solteira era sinônimo de
castidade, e para a casada, ela se apresentava revestida de fidelidade ao marido,
presa as normas sexuais impostas à esposa pelo matrimônio”.
A virtude feminina foi vista durante séculos vinculada ao modelo de pura,
casta e fiel ao marido. Essas eram as qualidades básicas para a mulher ser
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considerada virtuosa, ou seja, a mulher que estivesse e seguisse estas regras
impostas pela sociedade era considerada virtuosa e, portanto honrada.
Mas como a sociedade brasileira colonial era formada por brancas, negras
e índias, escravas e livres, onde desempenhavam funções diferentes e tinham
condições de vida distintas uma das outras, o ideal de mulher honrada não se
aplicava a todas elas. Existiam três classificações para as mulheres dessa época:
as honradas, como já vimos, eram as que seguiam os parâmetros da sociedade,
as sem honra e as desonradas.
A pergunta criada, provavelmente deve ser, qual é e se existe alguma
diferença entre as mulheres sem honra e mulheres desonradas, não é?
Como já sabemos, na sociedade colonial brasileira a escravidão definia
duas classes de indivíduos: os cidadãos livres e os escravos. A condição de honra
era atribuída apenas às mulheres livres, portanto as escravas – índias e negras –
eram consideradas mulheres sem honra e sem valor algum, onde homens livres
podiam se relacionar sem compromisso e sem levar em conta sua conduta e sua
moral.
As mulheres sem honra, assim chamadas, não podiam recorrer às leis de
punição em caso de estupros e abusos sexuais. E o pior, não era seu
companheiro que cometia os abusos e sim seu senhor, e elas tinham que
obedecer, sendo ordens boas ou ruins.
Mas não era apenas às índias, mulatas e negras que se vinculava esta
condição, as mulheres livres que vendiam seu corpo e mulheres que não eram
casadas depois de certo tempo, também eram consideradas sem honra. Segundo
Maria Beatriz Nizza da Silva (1983, p.80): “celibatária era a mulher que não se
casava e seu maior pecado era não ter filhos, braços que a sociedade desejava e
dependia para a lavoura; a solteira era sinônimo de prostituta e com esta os
homens se sentiam livres de todo impedimento moral, fosse religioso ou social. E
a escrava não tinha honra por já nascer escrava”.
Segundo Leila Mezan Algranti (1993, p.125) “escravas, prostitutas e
bastardas eram mulheres de uma sociedade onde condição legal, raça e
ilegitimidade de nascimento, classificavam e distinguiam os indivíduos de acordo
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com os valores dos grupos dominantes, concedendo ou negando status de honra,
dignidade e virtude”; as bastardas eram consideradas sem honra porque a
sociedade as via como símbolo do pecado carnal, caindo sobre elas e suspeita e
incerteza de sua origem e a vergonha.
Já o caso das mulheres desonradas era diferente, estas por sua vez, em
quase sua totalidade eram mulheres brancas que antes dessa condição de
desonradas eram mulheres ditas honradas.
A desonra na maioria das vezes estava vinculada à quebra de tabus e
regras, ou seja, a mulher quando se rebelava e passava por cima de ordens era
vista como rebelde e, portanto não merecia mais a condição de honra.
A maior condição para a mulher perder sua honra era quando traia seu
marido, que era considerado ser soberano dentro da família. Mas se seu marido,
também branco, podia trair ela com as escravas, e elas não podiam reclamar, por
que elas não podiam fazer o mesmo, sendo que às vezes até criavam os filhos de
seu marido com outras? A mulher mesmo sendo traída deveria continuar sendo
fiel ao seu marido.
Como vimos, para a mulher perder a honra dentro da sociedade colonial
não precisava muito, era apenas ela expor seus pensamentos e executar as suas
atitudes desejadas que estivesse fora dos parâmetros considerados corretos pela
sociedade, ou seja, ao tentar conquistar pelo menos um pouco de autonomia já
era podada e excluída do meio social. Ela recebia castigos por suas atitudes e era
punida perante a Igreja e o Estado.
Com o tempo as mulheres foram ganhando autonomia, com seus feitos e
atitudes decorrentes dos anos. Mas porque tudo tinha que começar assim, com a
mulher sendo discriminada e passando por tantas injustiças e preconceitos
durante séculos e séculos?
O preconceito trazido pelos colonizadores que vieram da Europa em sua
maioria os portugueses deixaram rastros na sociedade brasileira até os dias de
hoje.
Mas por outro lado, estes mesmos preconceitos e tabus estabelecidos
pelos colonizadores fizeram com que a mulher ganhasse mais força para obter
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sua independência em todos os sentidos, tanto social como político e religioso,
ganhando autonomia e poder para exercer funções de grande importância e valor
dentro da sociedade, deixado de ser vista apenas como objeto para a reprodução
da sociedade, única função importante vinculada à mulher no Brasil colonial.
Em muitas culturas, religiões ou diferentes países a imagem da mulher foi
sufocada e destinada a ser fiel ao marido e boa mãe, como já foi citado,
(infelizmente este retrato ainda é visível nos dias de hoje). O século XIX não
apagou totalmente da sua história estes fatos lamentáveis, mas foi a partir de
então, que se iniciou os primeiros passos de uma longa caminhada em direção a
uma grande mudança.
Existiu um contraste, neste período entre as mulheres européias e as
mulheres brasileiras, onde as primeiras sofreram influências diretas dos
acontecimentos históricos, relacionados à situação econômica, social, política e
cultural. É claro que tais mudanças também afetaram o Brasil enquanto Império e
mais tarde sendo República, mas sem provocar grandes transformações no
ambiente feminino.
O objetivo é confrontar estes dois mundos de um mesmo tempo e sexo,
onde um buscou a liberdade do indivíduo feminino perante a sociedade e o outro
viveu passivamente a submissão ditada pelos pais e maridos.
Vamos abordar inicialmente as mulheres européias, elas que antes
mesmo da industrialização, já trabalharam regularmente fora de casa, tanto
solteiras como casadas, (vale dizer que elas somaram um número altíssimo) se
ocuparam como vendedoras ambulantes, lavadeiras, amas, produziam sedas,
roupas, etc. Mas foi no período industrial que a procura pela mão-de-obra
feminina, principalmente nas fábricas têxteis fez com que a mulher européia
começasse a fazer parte de um outro universo. Para Joan w. Scott (1991 p. 443)
“A mulher trabalhadora foi um produto da Revolução Industrial” e isto é realmente
um fato, pois além de lhe ser dado postos específicos ela passou a ser notada e
ao mesmo tempo a incomodar a muitos.
Para os homens era difícil admitir tal acontecimento, porque para eles,
esta mudança interferia nas questões voltadas à família, lar, maternidade e
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feminilidade da mulher. O preconceito era visível, embora ela tenha aos poucos
conseguido se tornar uma trabalhadora assalariada. Contratar mulheres
significava baixos custos, ou seja, mão-de-obra barata, além de serem
consideradas aptas para trabalharem somente nos setores têxteis, na confecção,
no tabaco ou trabalho de agulha, isto é, trabalho de mulher.
Este é um dos fatores que com certeza o feminismo ergueu sua bandeira,
em busca da própria identidade pública e política, o acesso ao mundo profissional
com igualdade de salários e direitos civis, se revelou o movimento feminista. Este
é resultado do movimento sufragista iniciado nos Estados Unidos que lutava pelo
voto feminino e contra a escravidão, mas que era constituído apenas por mulheres
ricas. Já na França pós Revolução, na Inglaterra, Alemanha e outros países, o
feminismo se ramificou de acordo com os ideais dos movimentos marxistas,
liberalistas, socialistas e anarquistas.
Não era nada fácil viver sob a mentalidade daquele tempo sendo mulher e
sentindo-se inferiorizada e não podendo mostrar que era tão capaz quanto
qualquer homem. Foi para também reverter este estereótipo que as feministas
estrategicamente se aliaram aos movimentos citados acima, pois precisaram de
espaço. Cada um destes movimentos, porém também tinham seus propósitos
nesta aliança. O partido liberal visava o trabalho e a adesão feminina; para os
socialistas era a proteção operária e a educação; aos anarquistas, o controle dos
nascimentos. Como é possível notar, tudo era apenas um jogo de interesses,
porém as feministas souberam usufruir de tal situação e se firmarem num
movimento independente.
Pode se dizer que estes acontecimentos e o tipo de comportamento, neste
caso dos homens, se fragmentaram em dois pontos: o primeiro se dirige ao
conceito de que o ser humano teme o desconhecido, e a mulher pode-se dizer
naquela época era um ser desconhecido, pois não tinha voz, autonomia, livre
arbítrio, era tratada como um animal, que segue as ordens de seu dono. Mas por
outro lado pode se dizer que o homem sabia que a mulher era tão capaz e
inteligente quanto ele, e o seu comportamento para com elas, foi o seu modo de
anular e impedir a mulher de descobrir o que eles já sabiam.
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As mulheres brasileiras no século XIX, embora comprometidas com o
princípio da igualdade, eram negadas a elas o acesso à cidadania. A mulher
representava o coração, sensibilidade, sentimentos. Como não tendo capacidade
de inteligência, razão lúcida e capacidade de decisão foram qualificadas pela
sociedade como sendo naturalmente frágil, bonita, sedutora, submissa, doce etc.
E aquelas que revelassem atributos opostos seriam consideradas seres
antinaturais.
A figura das mulheres era usada nas páginas de jornais, referindo ao seu
comportamento. Nas páginas internas apareciam inúmeras imagens femininas, os
comportamentos que deveriam ser assumidos pelas mulheres, bem como aqueles
que deveriam ser evitados, em forma de poemas, piadas, provérbios e forma de
comentários.
Para as mulheres das famílias envolvidas nas disputas políticas, a
honestidade teria que ser inquestionável. Qualquer mau passo, qualquer deslize
que as tornasse faladas, poderia eliminar sua família da arena política. Foi nesse
ponto em que a imagem feminina foi usada como ponto chave no processo de
exclusão ou afirmação dos diferentes grupos que disputavam o poder local, era
compartilhada a idéia de que as mulheres eram traidoras e não mereciam a
confiança masculina, afirmando assim que elas eram fúteis, vaidosas e frágeis.
Ainda no século XIX, havia a velha crença de que a mulher era um ser
ambíguo e contraditório, misterioso e imprevisível, sintetizando por natureza o
bem e o mal. Vista como uma soma desarrazoada de atributos positivos e
negativos, cujo resultado nem mesmo os recursos científicos cada vez mais
sofisticados poderiam prever, a mulher transformava-se num ser moral e
socialmente perigoso, devendo ser submetida a um conjunto de medidas
normalizadoras extremamente rígidas que assegurassem o cumprimento do seu
papel social de esposa e mãe. Caso esses comportamentos fossem desviados, a
mulher seria considerada louca.
Então, até que ponto é valorizada a mulher!
No século XIX nasce uma nova mulher nas relações da família burguesa,
sendo valorizada a intimidade e a maternidade.
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O que representavam o ideal de retidão da mulher era ser dedicada ao
marido e aos filhos, que garantia um sólido ambiente familiar, um lar acolhedor e
filhos educados.
Essa mulher de elite, esposa e mãe da família burguesa, deveria adotar
regras castas quanto ao encontro sexual com o marido, devia vigiar a castidade
das
filhas,
devia
constituir
uma
descendência
saudável
e
cuidar
do
comportamento da prole.
Os membros destas famílias não conversavam a não ser coisas banais e
sobre a educação dos filhos. O chefe da casa, investido de doçura e
compreensão, determina todas as coisas que devem acontecer. A mãe não fica
sabendo de nada sério que acontece na casa, a não ser coisas apropriadas para
mulheres saberem, coisas da administração doméstica.
Aconteciam também nesta época muitos namoros escondidos, pois os
casamentos eram impostos, principalmente entre parentes para que as riquezas
ficassem entre a família, e as moças e moços que iam às missas ditas “de
madrugada”, por vezes se apaixonavam com apenas um olhar. Na próxima missa,
para o moço provar que estava apaixonado, infiltrava-se no meio da multidão que
entrava na igreja e dava um beliscão na moça que deixava uma marca preta no
corpo, mas ao mesmo tempo uma marca cor-de-rosa na alma. Esses beliscões
eram chamados “mimos de Portugal”. As aproximações entre namorados só não
eram maiores, pois havia uma vigilância, um controle muito grande sobre as
moças que estavam em idade de casar.
A literatura deste período nos informa que a mulher das classes baixas, ou
sem tantos recursos, teve maiores possibilidades de poder amar pessoas de sua
classe social, pois seu amor, ou expressão sexual, caso levasse a uma união, não
comprometeria as pressões de interesses políticos e econômicos. Já as mulheres
de elite, como já foi comentado, sofriam com a vigilância e passaram por
constrangimentos em suas uniões, de forma autoritária ou adoçada, na sua vida
pessoal.
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Sobre esta vigilância tão acirrada sobre as moças podemos dizer que era
o único mecanismo existente para que se mantivesse o sistema de casamento,
que envolvia a política e a economia. Davam muita importância à virgindade, era
um requisito fundamental, e nota-se que nos dias atuais quase todas as pessoas
não dão a importância devida a isso. A virgindade funcionava como um dispositivo
para manter o status da noiva como objetivo de valor econômico e político, sobre o
qual estaria o sistema de herança de propriedade que garantia linhagem da
parentela.
Havia também, além da questão política, uma questão moral e religiosa
para que as mulheres e moças fossem tratadas com tanta rigidez. Hoje em dia,
nossa civilização moderna repugna em pensar que as mulheres conheciam seus
maridos só no dia do casamento. Talvez, depois de toda rigidez, desses
casamentos interessados, restasse à mulher a rotina da casa, dos filhos, da
insensibilidade e do tédio conjugal.
A maternidade nesta época ainda não é o principal sonho da mulher, e sim
se casar com o homem que ama e não com quem foi imposto. Mais tarde essa
situação muda com as novas imagens femininas que serão lentamente
construídas.
Na família popular o retrato é outro. Além das mulheres terem muitos
filhos constituindo assim uma grande família, ela tinha que ajudar a sustentá-los,
ou ainda sustentar sozinha se seu marido fosse embora ou separou-se da esposa,
o que era normal. Assim os filhos teriam que ficar na casa dos avós, ou às vezes o
pai levava os filhos junto para onde fosse. Essa circulação de crianças entre uma
casa e outra era normal, o que vemos que acontece na atualidade ainda também.
O que acontece, pois é uma estratégia adotada para a sobrevivência das crianças,
vivem um pouco em cada lugar. Conforme as idéias da época quem deveria cuidar
dos filhos era a mãe, mas nem sempre era a mãe biológica, pois avós, criadeiras e
mães de criação também ajudavam na educação no indivíduo.
Em fins do século XIX, perto da Proclamação da República estavam
acontecendo
várias
mudanças
políticas,
sociais,
trabalhistas
e
também
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consolidava-se a medicalização da loucura, transformando-a em doença mental.
Surgia, em 1879, Clínica Psiquiátrica nos cursos das faculdades de medicina do
Império, criando assim condições para que os psiquiatras surgissem oficialmente
no Brasil como um campo do conhecimento médico especializado e autônomo, e
uma das áreas que passavam à imagem de perigo era a sexualidade feminina.
Acreditavam que a menstruação era algo que deixava a mulher histero-epilética,
diziam também que a mulher podia tornar-se infiel nos dias que precediam o
“período catamenial”.
Conta-se a história de um casal, no qual o marido fazia seguidas viagens.
Na volta de uma dessas viagens o marido se recolheu em seu quarto e a mulher o
atacou com um machadinho e o matou. Com os gritos das crianças o vizinho veio
ver o que estava acontecendo e a mulher dizia que havia matado um ladrão. Na
delegacia, declarou que matou o marido senão seria morta por ele. Muitos
queriam saber de todo jeito o motivo desta reação. O que foi publicado é que ela
era vítima do espiritismo, o que levava muitas mulheres ao crime, ao manicômio.
Foi submetida a vários exames e uma tia dela conta que sempre (depois de ter
tido a menarca) tinha fazes de irritação, duplicidades etc.
Foi constatado que era louca por participar de sessões espíritas e também
tinha essas reações sem motivos, que hoje são chamadas de TPM (tensão prémenstrual).
A mulher que, vista pela sociedade sendo boa e submissa, não fosse
assim, era considerada anormal, e iam para o manicômio mulheres que tinham um
exercício não-conforme da sexualidade, devassidão e homossexualidade.
Acreditavam que no organismo da mulher estariam inscritas as predisposições à
doença mental: a menstruação, a gravidez e o parto que eram priorizados na
definição e na dogmática das moléstias mentais que afetavam especificamente as
mulheres.
A menstruação foi o ponto mais valorizado na construção dos diagnósticos
da doença mental nas mulheres. O início e o fim do período menstrual seriam
considerados como momentos propícios a manifestações dos distúrbios mentais.
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No século XVIII o sangue da menstruação era considerado ingrediente
essencial para alguns feitiços e no século XIX deixou de ter essa característica
para fator determinante e indicador da doença mental. Médicos acreditavam que
momentos como a gravidez, o parto e o pós-parto eram momentos propícios para
apresentarem-se os distúrbios. Acreditavam que a maternidade curava seus
distúrbios de loucura.
Outra causa acreditada da doença mental era o aparelho genital da
mulher que segundo os médicos da época, tinha grande influência sobre seu
estado mental, e entre alguns procedimentos terapêuticos, destinados a controlar
as “sexualidades inconvencionais das mulheres”, confundiam-se com cruéis
métodos de tortura, figuram a extirpação do clitóris e a introdução de gelo na
vagina. Mais tarde ainda submetiam essas mulheres a intervenções cirúrgicas
ginecológicas.
Nessa época começaram, também, a ter uma maior preocupação com a
educação
do
povo.
Em
1827,
os
legisladores
determinaram
que
se
estabelecessem escolas de “primeiras letras”, as chamadas “pedagogias, em
todas as cidades, vilas e lugarejos mais populosos do Império”. A realidade
estava, até então, muito distante dessa imposição legal. Havia escolas por todos
os lados, mas certamente em número maior para os meninos. Eram estas
fundadas por congregações e ordens religiosas, e para os homens um professor,
para as mulheres uma professora.
Professores e professoras não tinham as mesmas tarefas. Homens e
mulheres aprendiam a ler, escrever e contar, as quatro operações e a doutrina
cristã. Mas os meninos aprendiam além ainda noções de geometria e as meninas,
bordado e costura. As meninas teriam acesso apenas a esse nível de ensino, e
mesmo a lei garantir salários iguais para mestres e mestras, as mulheres
recebiam menos, pois para ensinar a geometria aos homens os mestres teriam
que ter mais estudo, recebendo assim maior remuneração, o que as mulheres
nunca receberiam por receberem apenas o ensino básico.
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Podemos escrever um pouco sobre como era ser mulher, mãe e ainda,
pobre. Com o salário minguado do marido era difícil passar o mês, então a mulher
resolve se rebaixar às acusações da sociedade e ir trabalhar em fábricas também.
Mesmo as mulheres que faziam trabalhos domésticos como as lavadeiras e
engomadeiras, estavam, tanto quanto as outras das indústrias, sujeitas a serem
acusadas de mães relapsas.
Oficialmente, as mulheres deveriam resguardar-se em casa e cuidar da
família e da casa enquanto o marido os sustentava, mas a situação financeira
estava cada vez mais complicada e as mulheres tiveram que sair também à
procura de trabalho. Nestas horas, era obrigatório que os filhos ficassem na casa
da avó paterna ou outros. Muitas mulheres eram também acusadas de prostituição
mesmo sendo casadas, pois sem trabalharem, passavam o dia fora, vinham para
casa só para as refeições e viviam fazendo compras de roupas para elas e para
os filhos, o que com certeza criava suspeitas.
Podemos tomar agora um espaço para falar das mulheres curitibanas no
século XIX.
A figura materna era muito valorizada, principalmente pela imprensa, pois
consideravam as virtudes maternais da abnegação, do carinho e do desvelo, as
bases de uma sociedade perfeita.
Mesmo depois da Proclamação da República os papéis que definiam a
feminilidade continuavam sendo os de esposa, mãe e dona de casa. Ela deveria
aperfeiçoar o esposo e educar os filhos para a Humanidade. A tradição da cidade
era garantida pelas mães. Juntamente com a escola, a religião e a língua, as
mães promoviam a conservação da identidade nacional baseada na origem étnica.
Eram valorizadas as
imigrantes
italianas e
alemãs,
estas últimas por
demonstrarem serem bastante trabalhadoras, pois para os homens, mulheres que
não sabiam os trabalhos domésticos, eram apenas prejuízo e comida
desperdiçada.
Joana Maria Pedro nos trás um relato de 1926, que saiu no jornal da
época o Diário da Tarde, que divulgava a imagem da esposa ideal:
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A esposa que procura compreender o gênio do marido, a que se
alegra com as alegrias dele, a que lhe aplaina o caminho escabroso
da vida diária, a que se mostra sempre contente ou ao menos
resignada, dócil às suas exigências, a que sabe cativar o marido com
meigos sorrisos, sem falar sempre fora de propósito, a que é
econômica e modesta, cuidadosa e de atividade silenciosa – tal
mulher é bendita por Deus. Ela é a esposa ideal.
Até hoje, percebemos essa ”exigência” dos homens. Podemos perceber
também que o machismo imperial perdura em alguns aspectos até hoje,
desfavorecendo as mulheres. Ao nosso ver, com nossa mentalidade atual, nunca
aceitaríamos tais exigências, de aceitar um casamento imposto, de conhecer o
marido apenas no dia do casamento, de viver só para as atividades domésticas,
ser quase como uma empregada do marido, sendo que devia ser muito valorizada,
justamente por ser esposa dele.
Um aspecto que até hoje é valorizado pelos homens como requisito do
casamento é que a moça seja virgem, não é obrigatório, mas os homens
preferem, ao mesmo tempo em que desvirginam várias moças, para casar eles
procuram uma que ainda seja virgem, onde percebemos o machismo ainda
prevalecendo.
Como eram também humilhadas as mulheres, que com pouca instrução
não sabiam o que era aquele sangramento mensal, e eram consideradas loucas
pela mudança de comportamentos no período pré-menstrual.
A partir daí podemos pensar seriamente em uma nova questão, a mulher
era amada ou usada? Para a época podemos considerar que era amada, pois era
assim que homens e também mulheres aceitavam as condições do casamento,
mas hoje podemos relatar que ela era usada, pois nem direito de voz ou de estudo
tinha como os homens tinham. Na verdade, que direitos elas tinham?
Mas, hoje, no século XXI as mulheres dispõem de vários programas de
ajuda e defesa no mundo inteiro. Elas também já conquistaram cargos de grande
importância na política e empresas, superando muitos homens. Porém a
remuneração salarial, na maioria dos casos, ainda é maior para homens do que
para as mulheres, mesmo ambos exercendo o mesmo cargo. A violência contra a
mulher infelizmente é muito intensa em países do Ocidente médio, da América
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Central e do continente africano onde absurdamente o machismo ainda está
presente nessas culturas.
No Brasil a mulher vem se destacando com grande força na família, tem
voz e opinião na educação dos filhos e muitas ajudam com as despesas da casa.
Muitas conseguem se dividir entre a família e trabalho com muita coragem, elas se
destacaram pouco a pouco e hoje são vistas pela sociedade como guerreiras que
fizeram seus direitos serem reconhecidos.
Apesar da figura da mulher ser tão humilhada pela sociedade, elas
conseguiram mostrar seus valores e hoje fazem isso com perfeição.
REFERÊNCIAS
ALGRANTI, Leila Mezan, Honradas e devotas – mulheres da colônia, Rio de
Janeiro: Edunbr, p. 349, 1993.
PRIORE, Mary Del. BASSANEZI, Carla. História das mulheres no Brasil.
SãoPaulo: Contexto, Unesp, p.223 – 605, 1997.
SCOTT, Joan W. História das mulheres no Ocidente. Volume 4 - Século XIX.
São Paulo: Ebradil, p.443, 1991.
SILVA, Maria Beatriz Nizza da,
cidade : editora, p., 1983.
Sistema de casamento no Brasil colonial,
Download

mulheres - sociedade colonial,época do império e nos