OUTROS ESPAÇOS – MICHEL FOUCAULT O século XIX foi marcado pelo estudo do tempo ou da história. Atualmente vivemos a época do espaço (não qualquer espaço, mas o espaço mediado pela técnica) “da simultaneidade, do perto e do longe, já justaposição”, pois, o mundo se apresenta como uma “rede que religa pontos e que entrecruza sua trama” (p, 411). O ESTRUTURALISMO se apresenta não como a negação do tempo, mas sim, como uma maneira diferente de tratar o que se chama de tempo e o que se chama de história. ESPAÇO Localização (Idade Média) – É um conjunto Espaço da Posição (relação com a técnica) – “É hierarquizado de lugares: sagrados, protegidos, definido pelas relações de vizinhança entre pontos abertos e sem defesa, urbanos, rurais, etc. ou elementos” (p, 412). Inicia-se com Galileu, pois, o mesmo, definiu o espaço como infinito e infinitamente aberto, mas ele avança nessa ideia e a partir dele o espaço ganha sentido de extensão, que passa tomar o lugar da simples localização. Exemplo: Se tratando de questões demográficas, não basta saber se tal lugar tem o tamanho suficiente para uma determinada população, mas se naquele local haverá as condições (os relações de vizinhança) que possibilitem à estocagem, a circulação, e as localizações necessárias àquela população. O TEMPO atualmente só aparece como “um jogo de distribuição possível entre elementos que se repartem no espaço”. (p, 413). APESAR de o espaço contemporâneo ser mediado pela técnica, ainda, existe certa SACRALIZAÇÂO prática do espaço (Galileu promoveu certa dessacralização, mas isso não aconteceu plenamente) Exemplo: Espaço do lazer, espaço do trabalho, espaço público, espaço privado, etc. O ESPAÇO É HETEROGÊNEO, sendo assim, NÃO vivemos em um espaço “vazio que se encheria de corres com diferentes reflexos, vivemos no interior de um conjunto de relações que definem posicionamentos irredutíveis uns aos outros e absolutamente impossíveis de ser sobrepostos” (p, 414). Recusa da ideia de receptáculo. Esse espaço heterogêneo pode ser dividido dois grandes tipos (ou polos): Utopias Heterotopias Experiência Mista Utopias – “São os posicionamentos sem lugar real. São posicionamentos que mantêm com o espaço real da sociedade uma relação geral de analogia direta ou inversa. É a própria sociedade aperfeiçoada ou é o inverso da sociedade, mas de qualquer forma, essas utopias são espaços que fundamentalmente são essencialmente irreais” (p, 415). Heterotopias – São os “lugares reais, lugares efetivos, lugares que são delineados na própria instituição da sociedade e que são espécies de contraposicionamentos, espécies de utopias efetivamente realizadas nas quais os posicionamentos reais, todas os outros posicionamentos reais que se podem encontrar no interior da cultura estão ao mesmo tempo representados , contestados e invertidos, espécies de lugares que estão fora de todos os lugares, embora eles sejam efetivamente localizáveis” (p, 415). Experiência mista – É ao mesmo tempo uma utopia e uma heterotopia. Exemplo: Imagem refletida no espelho. PRINCÍPIOS DA HETEROTOPIA: 1. “Não há uma única cultura no mundo que não se constitua de heterotopias” (p, 416). Sejam essas heterotopias de crise ou heterotopias de desvio. 2. Cada heterotopia tem um funcionamento preciso e determinado no interior da sociedade, e a mesma heterotopia pode, segundo a sincronia da cultura na qual se encontra, ter um funcionamento ou outro. 3. Exemplo: Cemitério (quase eternidade), Museu (acumulação de tempos, um espaço fora desse tempo), heterotopia crônica (cidades de veraneio em polinésia – em algumas semanas as pessoas vivem uma nudez primitiva e eterna aos seus habitantes). Princípio – As heterotopias supõem sempre um sistema de abertura e fechamento que, simultaneamente, as isola e as torna penetráveis. 6. Exemplo: Jardim dos persas, que é a menor parcela do mundo e é também a totalidade do mundo. O jardim é desde a mais longínqua antiguidade, uma espécie de heterotopia feliz e universalizante (daí nossos jardins zoológicos). As heterotopias estão ligadas ao tempo (heterocronias), elas se põem em funcionamento quando os homens estão em uma espécie de ruptura com seu tempo tradicional. 5. Exemplo: Cemitério que passa da heterotopia da crise (lugar sagrado e muitas vezes dentro da igreja), para uma heterotopia de desvio (fora da cidade, por que, é considerada como um lugar propício à proliferação de doenças). A heterotopia tem o poder de justapor em um só lugar real, vários espaços, vários posicionamentos que são em si próprios incompatíveis. 4. HETEROTOPIAS DE CRISE – Constituída por lugares sagrados ou proibidos (Exemplo: Nas sociedades primitivas, as mulheres menstruadas eram isoladas ou colocadas em outros espaços durante esse determinado período, atualmente podemos apontar o serviço militar como uma heterotopia para os homens, a viagem de núpcias [até meados do século XX] como a procura de “nenhum lugar” [trem, motel, hotel, etc.] para a defloração da mulher). HETEROTOPIAS DE DESVIO – Constituída por lugares de isolamento que segrega indivíduos cujo comportamento se devia em relação à média ou à norma exigida (Exemplo: casas de repouso, prisões, clinicas psiquiátricas, etc.). Exemplo: Casas no Brasil onde um cômodo era construído fora do ambiente familiar da casa, e destinado aos viajantes que estavam de passagem por aquela localidade. Atualmente, temos os quartos de motéis americanos, onde a sexualidade ilegal é ao mesmo tempo abrigada e afastada. As heterotopias tem uma função – Dois polos extremos – Ou elas têm o papel de criar um espaço de ilusão que denuncia como o mais ilusório ainda qualquer espaço real (Bordeis) ou pelo contrario é um espaço da compensação, das regras e os horários regulados (Colônias, os jesuítas no Paraguai). Os barcos são a ligação entre a heterotopia da ilusão e da compensação. “O Navio é a heteropia por excelência. Nas civilizações sem barcos os sonhos se esgotam, a espionagem ali substitui a aventura e a polícia, os corsários” (p, 422).