É POSSÍVEL DOBRAR A RENDA PER CAPITA EM 15 ANOS?
Samuel Pessoa
Quinta-feira da semana passada fui responsável pela palestra de abertura do 19º Encontro dos
Economistas da Região Sul, organizado pelo Corecon do Paraná, no belíssimo campus da
Universidade Positivo em Curitiba. A organização do evento pediu-me que discorresse sobre as
possibilidades de a economia brasileira dobrar a renda per capita em 15 anos.
Para dobrarmos a renda per capita, a economia terá que crescer nos próximos 15 anos à taxa
média de 5,8% ao ano. Para termos uma ideia do desafio, ao longo do quadriênio da
presidente Dilma o crescimento médio anual será de 1,7%. Nos oito anos de Lula, nosso
melhor período nos últimos 35 anos, crescemos à taxa média de 4% ao ano.
Para conseguirmos elevar nosso crescimento para o patamar anual de 5,8% será necessário
elevar a taxa de investimento dos atuais 18% do PIB para algo próximo de 25%.
Adicionalmente, a taxa de crescimento da produtividade sistêmica da economia, que no
período Lula cresceu 1,5% ao ano, e no período Dilma apresentará crescimento nulo, terá de ir
para algo próximo a 2,5% ao ano.
Duas estatísticas – taxa de investimento e produtividade sistêmica – e duas agendas distintas.
Vamos a elas por partes.
A elevação da taxa de crescimento da eficiência sistêmica da economia dependerá da reversão
do pacote de políticas adotado a partir de 2009, conhecido por nova matriz econômica.
A nova matriz econômica aumenta muito a intervenção direta do Estado no dia a dia do
funcionamento da economia. Amplia muito a discricionariedade, reduz a previsibilidade, além
de distorcer os preços relativos. Trocamos regras, regimes e sistemas por medidas
administrativas, sem consistência sistêmica, a reboque dos fatos e de forma tópica.
Além de toda a desorganização na institucionalidade microeconômica promovida pela nova
matriz econômica, ela desorganizou também o regime de política macroeconômica. Um
exemplo é suficiente: a inflação tem que ser de 4,5% ao ano. Esta é a meta. A banda de dois
pontos percentuais para cima ou para baixo serve para acomodar choques de oferta.
Há hoje clara pressão para um ajustamento no câmbio. Como a inflação tem rodado no teto da
meta nos últimos anos, o BC opera no mercado futuro para neutralizar a tendência de
desvalorização, pois não há espaço para acomodarmos uma perda de valor da moeda, que cria
pressões inflacionárias. A redução dos preços das commodities deixa de ser compensada pela
desvalorização do câmbio. Um sistema deixa de operar, e com ele a previsibilidade.
Assim, a agenda de elevar a taxa de crescimento da produtividade sistêmica dependerá de
recolocarmos a economia no caminho que ela trilhava até 2008. Atingir os 2,5% necessários
para dobrar a renda em 15 anos talvez não seja possível, mas os 1,5% ao ano do período Lula
pode ser recuperado.
O segundo ponto da agenda é elevar a taxa de investimento dos atuais 18% para algo mais
próximo de 25%. Dado que já estamos absorvendo poupança externa na casa de 3,7% do PIB,
o crescimento da poupança em sete pontos percentuais do PIB para financiar o aumento da
taxa de investimento terá que ser na poupança doméstica.
Países que sustentam longos ciclos de aceleração do crescimento apresentam instituições que
garantem que a aceleração do crescimento, fruto da melhora institucional e,
consequentemente, da eficiência sistêmica da economia, poupe parcelas crescentes do ganho
de produção. A elevação da taxa de poupança é consequência da aceleração do crescimento.
No Brasil este canal fundamental de sustentação de longos ciclos de crescimento está
entupido pela economia política. A sociedade escolhe que a maior parcela do ganho de
produção seja alocada no aumento do consumo. O ciclo de aumento do investimento acaba
tendo que ser financiado por poupança externa.
A primeira agenda, elevação da produtividade, requer alterar o regime de política econômica.
A segunda, o equilíbrio político. Não é possível crescermos 5,8%, mas poderíamos chegar a
3,5% ou um pouco mais.
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