Neste destaque procuramos analisar a relação existente, em Portugal, entre o crescimento da produtividade do trabalho e o PIB real per capita, normalmente considerado como medida da evolução dos padrões de vida de uma economia. Nas economias desenvolvidas o crescimento da produtividade do trabalho é considerado o determinante mais importante para alcançar, no longo prazo, melhorias no produto potencial e nos padrões de vida. Um maior crescimento da produtividade do trabalho é pois uma condição importante para atingir o objectivo de aumentar os padrões de vida de uma economia. O gráfico 1 sugere, para os Estados-membros (EM) da UE25, uma relação positiva entre o PIB real per capita e a produtividade do trabalho (medidos em paridades de poder de compra), verificando-se que os EM com melhor desempenho em termos de PIB real per capita são, grosso modo, os que apresentam melhores níveis de produtividade do trabalho face à média da UE25. Gráfico 1: PIB real per capita e produtividade do trabalho – 2003 (ppc; UE25=100) Fonte: CE, base de dados AMECO (Outubro 2004). Legenda dos Estados-membros: A - Áustria, B - Bélgica, CY - Chipre, CZ - República Checa, D - Alemanha, DK - Dinamarca, E - Espanha, EE - Estónia, EL - Grécia, F - França, FIN - Finlândia, HU - Hungria, I - Itália, IRL - Irlanda, L - Luxemburgo, LT - Lituânia, LV - Letónia, MT - Malta, NL - Holanda, P - Portugal, PL - Polónia, S - Suécia, SI - Eslovénia, SK - Eslováquia, UK - Reino Unido. A partir de meados da década de 90 o crescimento da produtividade do trabalho abrandou na UE25 em geral, sendo que em Portugal o abrandamento foi mais intenso. Deste modo, tal como mostram os gráficos 2 e 3, nos últimos anos o gap de produtividade do trabalho de Portugal face à UE25 aumentou. (1995=100) ! Fonte: CE, base de dados AMECO (Outubro 2004). " # (ppc; UE25=100) ! Fonte: CE, base de dados AMECO (Outubro 2004). O aumento da divergência da produtividade do trabalho de Portugal face à UE25 transmitiu-se à evolução do PIB real per capita assistindo-se assim a um retrocesso no processo de convergência para os padrões de vida médios da UE25, como sugerem os gráficos 4 e 5. $ % (1995=100) % ! Fonte: CE, base de dados AMECO (Outubro 2004). % # (ppc; UE25=100) % Fonte: CE, base de dados AMECO (Outubro 2004). Procedendo à decomposição do PIB real per capita nas suas componentes, utilização do trabalho e produtividade do trabalho, tem-se que: O quadro 1 sintetiza os contributos da utilização do trabalho e da produtividade do trabalho para o crescimento do PIB real per capita em Portugal. Quadro 1: Decomposição do PIB real per capita em Portugal (taxa de variação, %) Fontes: INE, Ministério das Finanças e da Administração Pública e Growth and Development Centre de Groningen. * Utilizando os dados de horas trabalhadas por empregado do Growth and Development Centre de Groningen. Como se pode constatar, a redução no crescimento real per capita em Portugal nos últimos anos reflecte o crescimento mais fraco da utilização do trabalho mas, principalmente, a estagnação do crescimento da produtividade do trabalho, o que em parte pode ser explicado pela evolução cíclica da economia neste período. A redução do crescimento da produtividade do trabalho verificou-se quer o factor trabalho fosse medido pelo número de indivíduos empregados ou pelo número de horas trabalhadas. No entanto, quando medido em termos de horas trabalhadas o crescimento da produtividade do trabalho foi mais elevado do que quando medido em termos de indivíduos empregados, o que se deve ao facto de nos períodos em análise o emprego ter aumentado mais do que o número médio de horas trabalhadas. Este breve diagnóstico sugere que a redução do crescimento da produtividade do trabalho foi o factor que mais contribuiu para o aumento da divergência de Portugal face à UE25 em termos de padrões de vida nos últimos anos.