4 Opinião - [email protected] O Estado do Maranhão - São Luís, 16 de abril de 2013 - terça-feira OESTADOMaranhão SECRETÁRIO DE REDAÇÃO: ADEMIR SANTOS - [email protected] COORDENADOR DE REDAÇÃO: CLÓVIS CABALAU - [email protected] DIRETOR DE REDAÇÃO: RIBAMAR CORRÊA “O Maranhão é uma saudade que dói e não passa. Não o esqueço um só dia, um só instante. É amor demais. Maranhão, minha terra, minha paixão.” DIRETOR COMERCIAL: GUSTAVO ASSUMPÇÃO José Sarney FUNDADORES: JOSÉ SARNEY E BANDEIRA TRIBUZI PRESIDENTE: TERESA SARNEY Editorial Protestos de cada dia S ão Luís iniciou a terceira semana deste mês tomada pela informação de que centenas de moradores do complexo de bairros polarizado pela chamada Vila Luizão interditaram a Avenida Hilton Rodrigues, na fronteira das regiões Olho d’Água e Araçagi, externando um sentimento de revolta causado pela desatenção da Prefeitura de São Luís em relação a vários dos muitos problemas que são da sua alçada e complicam a vida cotidiana de milhares e milhares de pessoas. Foram horas de discussões inflamadas, reclamações indignadas, tentativas de acalmar os ânimos. A manifestação foi finalmente dissolvida, mas o conjunto problemas que a motivaram, infelizmente, permanecem. Na semana passada, outra manifestação comunitária, marcada por elevado grau de tensão, ocorreu na Avenida General Artur Carvalho, próxima ao cruzamento com a Avenida São Luís Rei de França. Grande número de moradores interditou a primeira artéria, interrompendo o grande fluxo de veículos e cau- sando enorme transtorno coletivo, à medida pação e vontade política de resolver os proque impossibilitou o acesso de centenas de blemas denunciados. Mesmo decepcionapessoas aos seus locais de trabalho. Foi ne- das com outras gestões recentes, que passacessária uma firme intervenção policial, pa- ram ao largo dos problemas principais - urra que finalmente, após horas, a avenida fos- banização e transporte -, aquelas comunise liberada e o tráfego normalizado. Ali tam- dades acreditaram na mensagem do novo bém cidadãos cogovernante, quanmuns protestavam do em campanha, contra a falta de agora cobram as Mesmo decepcionadas com eações atenção da Prefeiprometidas. tura da capital aos outras gestões recentes, O problema é seus reclames e reique, pelo menos aquelas comunidades vindicações. por enquanto, não Manifestações há sinais claros de acreditaram na mensagem como aquelas vêm que providências se repetindo com do novo governante administrativas e frequência cada operacionais estevez maior. Elas exijam na pauta imebem, de um lado, crescente intolerância das diata da nova administração municipal. Sem comunidades periféricas para com o poder um plano de governo pré-concebido, como público municipal, e, de outro, a incapaci- era da sua obrigação gerencial, os novos didade daquele poder de oferecer respostas rigentes da capital encontram-se, no moefetivas, se não à altura das expectativas ini- mento, ainda tateando, procurando assim ciais, pelo menos que demonstrem preocu- os caminhos para dar funcionalidade ope- Cabral Sobe-Desce Um rim "criado" em laboratório foi transplantado para animais onde começou a produzir urina, afirmam cientistas norte-americanos. Apesar de menos eficaz que um rim natural, os médicos acreditam que a técnica representa uma grande promessa A inadimplência do consumidor teve alta de 10,5% no 1º trimestre na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo pesquisa da Serasa Experian divulgada ontem. A inadimplência em março cresceu 3,6% na comparação com fevereiro. Um dia como hoje 16 de abril 1922 1705 1917 Tratado Título Retorno A União Soviética e a Alemanha assinam um tratado, forçando a Alemanha a reconhecer a União Soviética como uma nação, além de restabelecer relações diplomáticas e comerciais. A rainha Anne da Inglaterra concede a Isaac Newton o título de Cavaleiro do Império Britânico. Newton é um dos maiores cientistas da história, famoso pela teoria da gravidade universal. Chegada do líder do Partido Bolchevique da Rússia, Vladimir Ilyich Lênin, a Petrogrado, após anos de exílio em Zurique, recebido por centenas de simpatizantes na Estação Finlândia. A Primavera Árabe ALEXANDRE BRAGA O antigo império de Cartago fica aproximadamente a 40 minutos de distância saindo de uma estação no centro de Túnis, a capital da Tunísia. Lá, hoje, é um imponente sítio arqueológico e um dos maiores do mundo a céu aberto, só perdendo em grandeza para o Coliseu, de Roma. É nessa região do Norte da África que a humanidade volta a viver intensos acontecimentos políticos cujos resultados aos poucos vão sendo conhecidos. No Ocidente, os eventos receberam o nome de Primavera Árabe; mas, para os protagonistas, trata-se da Revolução de Jasmim, série de manifestações de rua e nas redes sociais nos países mulçumanos para exigir democracia, liberdade e outras mudanças no comportamento e na política desses países, principalmente para beneficiar as mulheres mulçumanas. A Primavera Árabe reúne, portanto, um conjunto díspare de interesses nos mais diversos campos sociopolíticos, já que há pautas diferentes por onde seus ventos têm soprado. Basicamente, o movimento iniciou-se como revolta organizada para pedir a substituição dos governos que estavam no poder há pelo menos 20 ou 30 anos, como no caso da Tunísia, Líbia, Iêmen. Nesse con- texto, há registro de protestos na Mauritânia, no Sudão, na Argélia, no Iraque e no Líbano. No caso de Marrocos e Síria, os dois mais complexos, a fúria popular chegou a provocar a possibilidade de separação geográfica e estão próximos a uma guerra civil. No Marrocos, o Saara Ocidental exige ser reconhecido como o mais novo país na região do Magreb para dar voz ao povo Sarauí. No Egito, situação que teve maior repercussão nos meios de comunicação, os rumos da Primavera Árabe foram capitalizados pela Irmandade Mulçumana, partido mais organizado, e, por isso, saiu-se vitorioso nas urnas. Todavia, no poder, a Irmandade Mulçumana enfrenta violentos protestos por conta de seu programa de governo, que pretende implementar a sharia entre os egípcios. Usando as redes sociais para mobilizar as massas populares, os manifestantes conseguiram organizar comícios, shows, campanhas de resistência civil para desobedecer às ordens das autoridades públicas, apoio internacional e, em algumas situações, foi utilizada a imolação individual, como aconteceu na Tunísia, onde um jovem ateou fogo no próprio corpo para protestar contra o presidente Zine Ben Ali, que fugiu para a Arábia Saudita, 10 dias após gigantescas manifestações tomarem as ruas do país. Em fevereiro de 2013, o líder da Frente Popu- lar ChrokiBelaid foi assassinado. Essa Frente é composta por diversas organizações da esquerda árabe, como o Partido Popular Socialista de Esquerda, o Partido Verde, o Partido dos Trabalhadores, o Partido Patriota dos Democratas, o Partido Patriota Socialista Revolucionário, o Partido Comunista dos Operários e outras organizações ecológicas, de mulheres, jovens e intelectuais e artistas. Esse cenário esquentará ainda mais com as eleições gerais de dezembro. Os protestos que agora varrem boa parte do Oriente Médio e Norte da África são movimentos politizados, de jovens e das esquerdas, mas, sobretudo, das mulheres mulçumanas. Elas, com ou sem burca, querem a liberdade religiosa, o Estado laico, a Palestina livre e, principalmente, viver em seus países sem precisar sofrer a inferiorização em relação ao sexo masculino. Por isso, a luta contra o fundamentalismo islâmico e a opressão de gênero é tão forte nos acontecimentos da Primavera Árabe - essa revolução da juventude, que quer ir muito além de simplesmente poder usar a internet. Elas querem sacudir o mundo árabe. Estudante de Ciências do Estado na UFMG e diretor nacional de Comunicação da União de Negros Pela Igualdade e-m mail: [email protected] O ESTADO DO MARANHÃO não se responsabiliza por opiniões emitidas nesta seção. Os comentários, análises e pontos de vista expressos pelos colaboradores são de sua inteira responsabilidade. As cartas para esta seção devem ser enviadas com nome, número da carteira de identidade, endereço e, se possível, telefone de contato. Os textos devem ser encaminhados para a Redação em nome do editor de Opinião, avenida Ana Jansen, 200 - Bairro São Francisco - São Luís-MA - CEP 65.076-902 ou para os e-mails: [email protected] ou [email protected], ou ainda pelo fax (098) 3215-5054. racional à máquina pública municipal. E, de acordo com o que disse o próprio prefeito em três entrevistas - uma coletiva (um desastre em matéria de informação) e duas articuladas com jornais que lhe são simpáticos - ele e sua equipe ainda estão "arrumando a casa". Ou seja, ações efetivas virão depois. O problema é que, por ter crescida de maneira irregular e à base de invasões gigantescas, que se tornaram bairros "na marra" - a exemplo de Vila Luizão, Sol e Mar e Divineia -, sem infraestrutura, sem as condições mínimas de saneamento, mobilidade e segurança e, o que é mais grave, com a complacência das administrações municipais da época. Agora consolidadas como aglomerados urbanos irreversíveis, cobram, com razão e pleno direito, a atenção que a Prefeitura lhe deve. Todos torcem para que a "arrumação da casa" seja mais célere, para que as comunidades periféricas recebam o cuidado que a nova gestão prometeu. O casamento e a espada do oficial JOSÉ LINHARES DE ARAÚJO Estava eu "posto em sossego", num domingo destes, vendo a Revista do PH, no O Estado do Maranhão, admirando as fotos bonitas, bem apanhadas e melhormente caprichadas, em escolha a dedo, das pessoas gradas, bem nascidas e posicionadas na vida social, política e econômica em São Luís e alhures; bem trajadas, risonhas e felizes, quando me deparei com o registro do casamento do Oficial da Marinha Paulo Bacchini Munis com a atriz Evelyn Bezerra Raposo, justo no momento da recepção do casal nos salões do Quality São Luís Hotel. No detalhe, quando Oficial desembainhou a longa e larga espada, para com ela cortar o bolo da noiva, fui remetido àqueles bons tempos de Caxias e senti o mesmo pavor e calafrio; ali pelo final da década de 50, no casamento do também Oficial, mas da Aeronáutica, Dário Nascimento, filho do Sr. Gil Balbino Nascimento com uma moça da alta e nobre sociedade caxiense, cujo nome e família não tenho como lembrar! Mas foi assim: Dário um garotão de 17 anos de idade, cheio de sonhos, cismou da insistência paterna querendo a todo custo prepará-lo para assumir as lides comerciais da empresa dele, estabelecida no Largo do Cemitério de São Benedito, com comércio de panos, secos e molhados, por longos anos e com fregueses cativos no Segundo Distrito de Caxias e em franco progresso; até por que o filho mais velho, o Zé Nascimento, pai do cantor César Nascimento, acabara de entrar para o Banco do Brasil! Desistindo de vez da tal empresa. Dário, às escondidas, com a cumplicidade da mãe e do irmão, em Teresina-PI, fizera as provas para oficial de Aeronáutica e fora aprovado e ia embora para São Paulo ser aviador, dentro de três meses! Somente muito tempo depois apareceu já Oficial, pilotando um Caça de Combate e fazendo radicais acrobacias no céu de Caxias e voos rasantes sobre o Largo do Cemitério, tirando finos na cumeeira da casa do pai, que nem foi à porta para ver as estripulias do filho, enquanto o povo vibrava com as diabruras do Dário e as moças endoideciam e saudavam o piloto conterrâneo! Assim foi por diversas oportunidades, até obter as graças do pai e as bênçãos da mãe, os beijos das moças faceiras de sua terra. Uma delas o agarrou de vez e o levou ao altar! Como as famílias eram amigas e levavam gosto na união do jovem piloto com a professorinha prendada, foi marcada a data do meado do mês de maio do mesmo ano e feitos os arranjos do casamento. A arrumação foi na mansão do Sr. José Delfino e dona Princesa, tios do noivo, com apuro e bom gosto. A ornamentação, decoração e enfeites da Igreja Catedral e do Cassino ficaram a cargo da irmã da noiva, recém-formada em Artes, Corte e Costura, culinária e arranjos florais, além de prendas domésticas, na escola do senhor Miguel Arcanjo Silva, Miguel Fala, para os íntimos; na época, a última palavra em boa cozinha e ambientação festiva e boas maneiras. A moça cheia de ideias e sob a orientação do professor, desdobrou-se em salamaleques e mesuras! Desenhou o bolo da noiva com uma alegoria tirada da pintura do Sr. Mundico Santos: Uma vista aérea da cidade e precisamente do vale do Rio Itapecuru, situando os morros do Alecrim e do Sanharó com o rio separando-os, numa fenda de grossos lábios! Enfim o feliz dia! O casamento foi realizado na Igreja Catedral, com direito a tapete verde, desde a subida da escadaria até o altar-mor e sob a feérica iluminação da luz elétrica da Usina Dias Carneiro, uma condescendência do Sr. Nachor Carvalho, dono do serviço, cujo funcionamento não se dava à tarde! A recepção foi no Cassino Caxiense, também bem ornamentado e iluminado, com o comparecimento dos parentes, amigos e chegados, ainda da garotada irreverente da Praça Gonçalves Dias, sempre a tudo presente aos acontecimentos nas adjacências da praça e do Cassino. Deu-se: quando do ato do lançamento do buquê de flores da noiva, este caiu no colo da "moça velha" mais encalhada da paróquia, da Preta Macedo! Um ohhh troou forte naquele recinto solene! A pobre moça deu um chilique e voltou a si só depois de uma dose de uísque. No instante, porém, em que o noivo, num rompante másculo, militar e reiuno, desembainhou uma espada longa demais e de largura enorme, como um falo agressivo, a noiva empalideceu, cruzou as pernas, abriu a boca e soltou um murmúrio rouco e aterrador. O Dr. Delmar, ainda ele, não se conteve: "oh, não agora!!!" Enquanto o noivo, afoito e decidido, cortou uma tora do bolo com a ponta da espada e o ofereceu à noiva, ainda atordoada e se tremendo, foi dizendo solenemente: "tomai e comei, este é o meu corpo". Todos riram e a noiva, como a virgem do poeta Gonçalves Dias, "que numa hora rir-se e chora, depois cora e torna a rir", sôfrega comeu tudinho, nervosa e assustada e com suspiros dobrados. Sobrou-nos comer os restos do bolo e bebermos até tarde a saúde e a felicidade dos noivos, que, cedo ainda, seguiram para Teresina e de lá, no avião da FAB, desapareceram no tempo e no espaço. Nunca se soube do paradeiro deles, se foram felizes para sempre ou se a morte os separou, como está no preceito da instituição do matrimônio! "Meninos, eu vi" (Gonçalves Dias). Deu-se isto no ano cristão de 1952, se estou bem certo... mas marcou época no calenDÁRIO social da nossa Princesa culta e bela. e-m mail - [email protected]