UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES CURSO DE LICENCIATURAS EM LETRAS HABILITAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA TATIANE GOMES DE MOURA AS METÁFORAS CONCEPTUAIS UTILIZADAS EM TEXTOS QUE ABORDAM O TEMA SEXO JOÃO PESSOA MARÇO/2014 TATIANE GOMES DE MOURA AS METÁFORAS CONCEPTUAIS UTILIZADAS EM TEXTOS QUE ABORDAM O TEMA SEXO Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Letras Português, como requisito parcial à aprovação da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso de Licenciatura em Letras Português pela Universidade Federal da Paraíba. Orientadora: Profª. Drª. Lucienne Claudete Espíndola JOÃO PESSOA MARÇO/2014 Universidade Federal da Paraíba. Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA). M929m Moura, Tatiane Gomes de. As metáforas conceptuais utilizadas em textos que abordam o tema sexo / Tatiane Gomes de Moura- João Pessoa, 2014. 28f. Orientadora: Lucienne Claudete Espíndola Monografia (Graduação) - UFPB/CCHL 1. Linguística. 2. Metáforas conceptuais. 3. Tema sexo. 4.Efeito do sentido. UFPB/BC CDU: 801(043.2) TATIANE GOMES DE MOURA AS METÁFORAS CONCEPTUAIS UTILIZADAS EM TEXTOS QUE ABORDAM O TEMA SEXO Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Letras Português, como requisito parcial à aprovação da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso de Licenciatura em Letras Português pela Universidade Federal da Paraíba. Aprovada em 25 de março de 2014. Banca Examinadora: ____________________________________________ Profª. Drª. Mônica Mano Trindade Ferraz (CCHLA/UFPB) ____________________________________________ Prof. Dr. Magdiel Medeiros Aragão Neto (UFPB) ___________________________________________ Profª. Drª. Lucienne Claudete Espíndola (CCHLA/UFPB) (Orientadora) AGRADECIMENTOS A Deus, primeiramente, pelo dom da vida e por me amar incondicionalmente. A minha mãe, Kátia, por sempre, em todos os momentos, estar ao meu lado, ter me dado seu apoio e dedicação. A meus irmãos, por momentos de descontração durante esse tempo de turbilhão de preocupações. A minha família, por sempre me incentivar e acreditar em mim. A meu amor, Mallisson, por estar ao meu lado sempre e compreender minha ausência. A minhas queridas ―Paroxítonas‖, Gabriela Pontes; Lidiane Araújo; Mariana Coutinho; Mariana Soares; Laís Cavalcanti; Kelianny Nonato; Mayara Sales; Maria Isabelle e Patrícia Santos, por estarem ao meu lado durante esses anos de aflição e ansiedade, mas de vitórias e conquistas também; obrigada pelo companheirismo e amizade. A todos os meus amigos, que torcem por minha realização pessoal e profissional. Ao curso de letras, em geral, por me proporcionar realizar experiências incríveis e inesquecíveis, e conhecer diversas paixões (leituras). A minha orientadora querida, Lucienne Espíndola, pelo aprendizado e pelos ―puxões de orelha‖ que tanto me ensinaram. Obrigada pela oportunidade de conhecer melhor as metáforas e ser orientada por uma grande pesquisadora e professora. Aos professores, Mônica e Magdiel, por aceitarem participar da banca e avaliar este trabalho. Não falamos para dizer alguma coisa, mas para obter um determinado efeito. (Joseph Goebbels) RESUMO Esta monografia apresenta os resultados de uma pesquisa que objetivou analisar em vários gêneros, em versão online, as expressões linguísticas ―Molhar o biscoito‖ e ―Brincar de médico‖, que atualizam as metáforas conceptuais FAZER SEXO É COMER e FAZER SEXO É BRINCAR, respectivamente, e, examinar a possível intenção de o locutor ao utilizar essas metáforas conceptuais. Os pressupostos teóricos que embasaram esse estudo encontram-se em autores como Lakoff e Johnson (2002[1980]), Lakoff e Johnson (2003), Barcelona (2003), Espíndola (2007), Espíndola (2011), Castilho e Castilho (1993), Cervoni (1989), Lima (2008) e Nascimento (2009). A metodologia para a realização deste trabalho compreendeu quatro etapas: leitura e discussão das duas teorias que serviram de base para a elaboração da pesquisa, a Teoria da Metáfora Conceptual e A teoria da modalização; captura e armazenamento dos textos que constituem o corpus, levantamento e descrição das metáforas conceptuais e respectivas expressões linguísticas atualizadoras; reflexão a partir da descrição dos dados coletados. Os resultados encontrados apontam que a presença de metáforas conceptuais para falar de sexo é muito comum no dia a dia, porém falar de sexo ainda não é tão comum, então o locutor utiliza a metáfora em seu discurso como um modo de preservar sua face frente à sociedade. Palavras-chave: metáforas conceptuais; sexo; efeito de sentido. ABSTRACT This monograph presents the results of a survey that aimed to assess in various genres in the online version, the linguistic expressions ―Wet Biscuit‖ and ―Playing Doctor‖, that update the conceptual metaphors SEX is EAT; SEX is PLAY, respectively, and examine the possible intention of the speaker is used these conceptual metaphors. The theoretical assumptions that supported this study are found in authors like Lakoff and Johnson (2002 [1980]), Lakoff and Johnson (2003), Barcelona (2003), Espindola (2007), Espindola (2011), Castilho and Castilho (1993), Cervoni (1989), Lima (2008) and Nascimento (2009). The methodology for this work comprised four steps: reading and discussion of the two theories that formed the basis for the development of research, the Theory of Conceptual Metaphor and the Theory of Modalization, the capture and storage of texts belonging to the investigated topic, survey and description of conceptual metaphors and their current linguistic expressions theoretical reflection from the description of the data collected. The results indicate that the presence of conceptual metaphors to talk about sex are very common in everyday life, but talking about sex is not so normal, so the speaker uses the metaphor in his speech as a way to preserve your face from society. Keywords: conceptual metaphor; sex; effect of meaning. SUMÁRIO INTRODUÇÃO.................................................................................. 10 1. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS........................................................... 12 1.1 AS METÁFORAS CONCEPTUAIS............................................ 12 1.2 A TEORIA DA MODALIZAÇÃO.............................................. 17 2. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS............................. 20 2.1 CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS................................... 20 2.2 ANÁLISE........................................................................................ 21 CONCLUSÃO....................................................................................... 26 REFERÊNCIAS..................................................................................... 27 10 INTRODUÇÃO Durante bastante tempo, as metáforas foram vistas como "meramente ilustrativas", um ornamento linguístico, e consideradas uma maneira inadequada de descrever experiências. Hoje, muitos cientistas cognitivos, linguistas e filósofos reconhecem que a metáfora é inata ao nosso pensamento, que é cultural e não é possível vivermos sem ela. Escolhemos investigar, neste trabalho de conclusão, expressões metafóricas de cunho sexual devido à carência de estudos encontrados acerca desse tema, talvez pelo fato da abordagem do corpo, sexo e sensualidade ainda ser vista com preconceito. Como falar dos órgãos sexuais masculino e feminino, abertamente, pode despertar vergonha e ansiedade nas pessoas, dada a função sensual que lhes é atribuída (tida como socialmente imoral), tornou-se comum denominar os dois órgãos genitais de várias outras formas: primeiro porque isso atende à necessidade que conduz o ser humano a reduzir o impacto ou esconder o sentido do nome real, criando apelidos para driblar os preconceitos sociais existentes; e depois porque é através delas que se pode expressar, qualificar ou ressaltar as características do órgão, como no caso de espada, mastro, pistola, ferro etc., que representam objetos duros (o pênis em sua atividade fisiológica) e dotados de potencial agressivo. É comum também o uso de nomes próprios para designar os órgãos genitais masculino e feminino, tipo Aninha, Zezinho, Ritinha, ou então de animais, como passarinho, peru, pinto, minhoca, perereca, periquita, pomba, além de outros que aparentemente não representam nada maldoso quando mencionados porque esse é justamente o seu objetivo: compreender a atividade sexual em outros termos. Mas a variedade desses nomes, apelidos ou eufemismos, é muito grande e vai bem além do que qualquer indivíduo possa imaginar. Com o ato sexual acontece a mesma coisa. A relação sexual é a prática do coito envolvendo geralmente duas pessoas, cuja finalidade é o prazer e/ou a procriação. Porém, mesmo sendo um procedimento natural, comum, e até necessário, o encontro 11 amoroso, no sentido do prazer carnal que proporciona aos parceiros, continua sendo uma espécie de tabu para homens e mulheres. Por isso expressões como Brincar de médico e Molhar o biscoito, e outras mais, expressam com bem-humorada sutileza o relacionamento íntimo praticado por homens e mulheres, cada uma delas tendo a sua razão de ser, a sua causa, a sua origem. O nosso estudo objetivou o levantamento e análise das expressões linguísticas metafóricas do campo semântico do sexo, ―Molhar o biscoito‖ e ―Brincar de médico‖; atualizadoras das metáforas conceptuais FAZER SEXO É COMER; FAZER SEXO É BRINCAR. Nossa finalidade não é trabalhar estritamente com as quantidades de expressões linguísticas metafóricas encontradas no corpus investigado, mas sim buscar explicar o efeito de sentido relacionado às expressões linguísticas metafóricas aqui levantadas. A realização deste trabalho de conclusão de curso envolveu, em um primeiro momento, a leitura e discussão da Teoria da Metáfora Conceptual, incluindo a classificação das metáforas conceptuais em estruturais, orientacionais e ontológicas realizada por Lakoff e Johnson (2002[1980]) e o abandono dessa classificação realizado por Lakoff e Johnson (2003). Após o levantamento e descrição das metáforas conceptuais e respectivas expressões linguísticas atualizadoras, passou-se à leitura da Teoria da Modalização mediante a contribuição de autores como Castilho e Castilho (1993), Cervoni (1989) e Nascimento (2009), com a finalidade de se investigar o efeito de sentido das expressões linguísticas metafóricas encontradas em textos cuja temática fosse a atividade sexual. 12 1. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS 1.1 AS METÁFORAS CONCEPTUAIS A obra pioneira sobre metáforas em nível cognitivo foi intitulada como Methaphors we life by (1980), de George Lakoff e Mark Johnson, traduzida como Metáforas da Vida Cotidiana (2002). Eles afirmam que as metáforas conceptuais fazem parte do nosso cotidiano, sem darmos conta disso. A metáfora é espontânea, ela ocorre de modo natural, não é forçada, e, por muitas vezes, não há intenção consciente para seu emprego. Lakoff e Johnson usam o termo ―metáfora‖ para se referirem ao conceito metafórico, que ―consiste em experienciar uma coisa em termos de outra.‖ (LAKOFF; JOHNSON, 2002, p. 24). Lakoff (1980) utilizou-se da nossa compreensão de AMOR COMO VIAGEM para conceituar a metáfora conceptual. A metáfora envolve a compreensão de um domínio da experiência, o amor, em termos de um domínio muito diferente da experiência, as viagens. A metáfora pode ser entendida como um mapeamento (no sentido matemático) de um domínio de origem (neste caso, as viagens) a um domínio alvo (neste caso, o amor). O mapeamento é estruturado sistematicamente. Há correspondências ontológicas, de acordo com as quais as entidades no domínio do amor (por exemplo, os amantes, seus objetivos comuns, suas dificuldades, a relação amorosa etc.) correspondem sistematicamente a entidades no domínio de uma viagem (os viajantes, o veículo, os destinos etc.) […] O mapeamento é convencional, um dos nossos modos convencionais de entender o amor (LAKOFF; JOHNSON, 2002, p.24-25) Na metáfora conceptual constata-se um mapeamento cognitivo entre domínios diferentes, características de um domínio (domínio fonte) são transferidas para outro domínio (domínio alvo). De acordo com os estudos e as investigações feitas por Lakoff e Johnson, provavelmente, não conseguiríamos viver sem a metáfora, pois ela está no nosso inconsciente, é cultural, social, política e econômica, e, de acordo com Espíndola(2011), 13 há razões para ela ser utilizada, seja para dar credibilidade, seja para enfatizar, seja para encobrir algo etc. ―(...) a metáfora não está somente nos textos literários, mas que a metáfora está em todos os textos que circulam socialmente e permeia as interações cotidianas.‖ (ESPÍNDOLA, 2011, p. 13). Um exemplo claro e bastante utilizado no dia a dia é quando dizemos ―vou economizar meu tempo‖, pois estamos conceptualizando tempo com aspectos de dinheiro, um bem valioso, poupável, raro e acabável, e, em nossa cultura, puramente capitalista, temos desperdiçar tempo é desperdiçar dinheiro; as pessoas são remuneradas pela produção, pela jornada de trabalho (em dias, em meses etc). Aspectos do conceito de dinheiro, mais concreto, estão sendo utilizados para mapear o conceito de tempo, mais abstrato. O tempo constitui o domínio alvo, e, dinheiro, o domínio fonte. É cultural, pois em cada cultura há metáforas diferentes, são contextos e espaços diferentes, porque diferem os povos, as realidades, as situações, o convívio, a religião, o modo de pensar e agir. Conceitos metafóricos são utilizados em várias áreas, em vários lugares, a qualquer momento, no trabalho, nas mídias, na televisão, na política, na economia, em casa, na escola, na empresa, em todo lugar, e muitas vezes não são notados. Um exemplo dado por Sardinha (2007) frequente no nosso cotidiano é a expressão ―Meu namoro está indo muito bem‖, em que namoro é conceptualizado em termos de viagem. Namoro constitui o domínio alvo, e, viagem, o domínio fonte. Lakoff e Johnson asseguraram que nosso sistema conceptual está muito além da própria linguagem literal, além do sentido, do significado, da própria palavra, assim podendo influenciar nos nossos atos, pensamentos, raciocínios. Devido a isso, afirmam que as expressões metafóricas são baseadas nas nossas experiências corpóreas. ―É importante notar que a estruturação metafórica aqui envolvida é apenas parcial e não total. Se fosse total, um conceito seria, de fato, o outro e não simplesmente entendido em termos de outro.‖ (LAKOFF; JOHNSON, 2002, p. 57). Por exemplo, o amor não é realmente uma guerra. O amor não ―mata‖ pessoas, ninguém morre de amor, literalmente. Em ―Eu ganhei o coração do meu noivo no dia que nos beijamos.‖, não significa que a pessoa tenha lutado, literalmente, enfrentado batalhas com tanques de guerra, matado ou atirado em alguém, ou ainda, ter conquistado o coração dele como um troféu para que o noivo se apaixonasse. Quanto à estrutura, a metáfora conceptual é constituída da combinação: domínio-fonte e domínio-alvo. O primeiro é aquele de onde pegamos as atribuições, as características, os aspectos, de conceito mais concreto, e, o 14 segundo, é aquele que buscamos definir metaforicamente. Tomemos, como exemplo, a conceptualização de AMOR É GUERRA, o domínio-fonte é GUERRA, e o domínioalvo é AMOR. As metáforas foram classificadas por Lakoff e Johnson em três categorias: orientacionais, ontológicas e estruturais. As metáforas conceptuais orientacionais são caracterizadas por organizar um sistema de conceitos em relação a um outro, com referência, em sua grande maioria, à orientação espacial: ―para cima – para baixo‖, ―dentro – fora‖, ―frente – trás‖, ―em cima de – fora de‖, ―fundo-raso‖, ―central – periférico‖. Essas orientações, por serem de natureza física, podem variar de uma cultura para outra, ou seja, possuem uma base em nossas experiências físicas e culturais. Metáforas orientacionais do tipo: FELIZ É PARA CIMA e TRISTE É PARA BAIXO são atualizadas pelas seguintes expressões linguísticas: ―Eu estou me sentindo para cima‖; ―Meu astral subiu‖; ―Estou me sentindo para baixo‖ (LAKOFF; JOHNSON, 2002, p.60). Da mesma forma que as experiências básicas das orientações espaciais humanas dão origem a metáforas orientacionais, as nossas experiências com objetos físicos (especialmente com nossos corpos) fornecem a base para uma variedade extremamente ampla de metáforas ontológicas, isto é, formas de se conceber eventos, atividades, emoções, idéias, etc. como entidades e substâncias. (LAKOFF; JOHNSON, 2002, p.76). As ontológicas são aquelas que transformam conceitos abstratos em entidades – coisas ou seres (animais ou humanos), ou seja, transformam conceitos abstratos em conceitos concretos. Compreender nossas experiências em termos de objetos e substâncias permite-nos selecionar partes de nossa experiência e tratá-las como entidades discretas ou substâncias de uma espécie uniforme. Uma vez que podemos identificar nossas experiências como entidades ou substâncias, podemos referir-nos a elas, categorizá-las, agrupá-las e quantificá-las – e, dessa forma, raciocinar sobre elas. (LAKOFF; JOHNSON, 2002, p. 75-76). 15 Para exemplificar a definição, tomemos a metáfora ontológica MENTE É UMA ENTIDADE, que tem como expressões atualizadoras: ―Ainda estamos remoendo a solução para essa equação.‖ (MENTE É UMA MÁQUINA); ―O seu ego é muito frágil.‖ (MENTE É UM OBJETO QUEBRADIÇO). Porém, Espíndola (2007) refere-se a dois tipos de metáforas ontológicas: No primeiro grupo, estão aquelas metáforas em que um conceito abstrato é concretizado em um objeto, espaço etc. O segundo grupo é constituído pelas metáforas em que se constata a personificação, processo que pode ser atualizado de duas formas. A primeira é aquela em que uma experiência ou objeto físico é concebido como uma entidade animada (uso de características ou ações próprias de um ser vivo). [...] A segunda forma de personificação é a que personifica experiências – ou seja, essas experiências são concebidas como pessoas ou àquelas são atribuídas características destas. Nesse caso, constatamos, de fato, a humanização, como é o caso do exemplo apresentado pelos autores citados, para concretizar também a metáfora A INFLAÇÃO É UM ADVERSÁRIO. (ESPÍNDOLA, 2007, p.50-51) Espíndola (2007) exemplifica melhor essas duas formas de personificação utilizando a metáfora conceptual A INFLAÇÃO É UM ADVERSÁRIO (LAKOFF; JOHNSON, 1980, P.87), que licencia expressões do tipo: ―A inflação está devorando nossos lucros” em que embora a inflação seja tratada como uma entidade, a ela apenas foi concebida uma ação de um ser vivo (animação), sendo o ato de devorar próprio do animal. E “A inflação ludibriou as melhores mentes econômicas de nosso país” em que ocorre a personificação propriamente dita, possui categoria semântica [+ humano], sendo a ação de ludibriar própria do ser humano. As metáforas estruturais têm a função de estruturar metaforicamente um conceito em termos de outro. Têm grande presença em nosso dia a dia. Lakoff e Jonhson apresentaram o exemplo de DISCUSSÃO É GUERRA, atualizada em expressões linguísticas do tipo: ―Ele atacou todos os pontos fracos da minha argumentação.‖, ―Destruí sua argumentação‖, ―Ele derrubou todos os meus argumentos‖. Todas as ações veiculadas nessas expressões são concebidas a partir de 16 elementos que são utilizados numa guerra (atacar, destruir, derrubar), embora não se concretize uma batalha física, e sim verbal. Entretanto, Lakoff e Johnson (2003, p.264) proporcionam um novo olhar sob essa classificação. Eles afirmam que a categorização era muito artificial, já que todas as metáforas são estruturais, pois mapeiam estruturas para estruturas; todas as metáforas são ontológicas, pois criam entidades no domínio alvo; e muitas são orientacionais, elas mapeiam esquemas imagéticos orientacionais. Revisão feita em 2003, pelos autores citados acima, foi em relação ao conceito de projeção, pois, segundo eles, no mapeamento, ao projetar características do domínio fonte para o domínio alvo implicava levar tudo de um domínio para o outro, assim, contrapondo a perspectiva cognitiva. Desse modo, quando temos a metáfora conceptual FUTEBOL É GUERRA, se projetássemos todas as características de guerra para futebol, os dois termos seriam a mesma coisa. Assim sendo, Lakoff e Johnson(2003) abandonam esse conceito de projeção e afirmam que as características do domínio fonte são parcialmente projetadas para o domínio alvo, considerando que os domínios sejam de conhecimento compartilhado dos indivíduos. 17 1.2 A TEORIA DA MODALIZAÇÃO Os estudos acerca da modalização tiveram início na Lógica Clássica, passando depois pela Gramática Tradicional e, finalmente, chegaram à Linguística. Os gregos, na antiguidade, já se preocupavam com a modalidade, porém sob o olhar da Lógica. A linguística, depois, se preocupou também com a modalidade, mas isso vai além do estabelecido pela Lógica. A Modalização consiste no julgamento do falante frente a uma proposição, diz respeito tanto ao julgamento do teor de verdade da proposição quanto ao ato de expressar uma avaliação a respeito da forma escolhida para manifestar o conteúdo de uma proposição. Porém, têm sido empregados dois termos nesse sentido: modalidade e modalização. Segundo, Castilho e Castilho (1993, p. 217), a modalidade é quando o ―falante apresenta o conteúdo proposicional numa forma assertiva (afirmativa ou negativa), interrogativa (polar ou não-polar) e jussiva (imperativa ou optativa)‖, já a modalização é quando ―o falante expressa seu relacionamento com o conteúdo proposicional‖. Castilho e Castilho (1993, p.222), ainda, dividem a modalização em três tipos principais: Epistêmica, Deôntica e Afetiva. A Modalização Epistêmica ocorre nos casos em que o locutor demonstra uma avaliação sobre o valor de verdade da proposição. Esse tipo é dividido em três subclasses: Asseverativa; Quase-asseverativa e Delimitadora. Na Modalização Epistêmica Asseverativa, o falante considera verdadeiro o conteúdo da proposição, o qual é apresentado como uma afirmação ou negação a respeito da qual não existe dúvida. Tomemos o exemplo: ―Com certeza Carlos assistiu ao filme‖. Na Quase-asserativa, o locutor considera o conteúdo da proposição como uma possibilidade, hipótese ou crença. Tomemos o exemplo: ―Provavelmente Carlos assistiu ao filme‖. A Delimitadora circunscreve o limite de leitura do conteúdo da proporção. Assim, temos no exemplo: ―Profissionalmente Carlos é muito responsável‖. 18 A Modalização Deôntica caracteriza-se pela circunstância de o falante considerar o conteúdo da proposição como algo que necessita acontecer obrigatoriamente. Como no exemplo: ―Carlos deve assistir ao filme‖. A Modalização Afetiva ocorre quando o locutor manifesta suas reações subjetivas ou emotivas em relação ao conteúdo da proposição. Esse tipo de modalização está contido no campo da função emotiva da linguagem e se subdivide em dois tipos: subjetiva e intersubjetiva. A Subjetiva manifesta uma predicação dupla, a do locutor frente à proposição e à própria proposição. Exemplo: ―Infelizmente Paulo não foi ao carnaval de Olinda‖ (para mim é uma infelicidade que Paulo não tenha ido ao carnaval de Olinda e Paulo não ter ido ao carnaval de Olinda é uma infelicidade). A Intersubjetiva manifesta uma predicação simples, frente ao locutor assumida pelo falante, a propósito da proposição. Exemplo: ―Francamente Felipe é muito elegante‖, o modalizador expresso, francamente, é unicamente direcionado ao locutor. Nascimento (2009) afirma: (...) mais do que revelar um sentimento ou emoção do locutor em função da proposição ou enunciado, esse tipo de modalização indica uma avaliação da proposição por parte do falante, emitindo um juízo de valor e indicando, ao mesmo tempo, como o falante quer que essa proposição seja lida. (p. 46) Assim sendo, o citado autor propõe outra denominação para esse tipo: modalização avaliativa. Em relação à modalidade, Conforme a definição tradicional, só serão consideradas modalidades as determinações referentes a uma proposição. Mas, para o lingüista, não há hipótese de ver proposições apenas nas frases que têm uma forma canônica (Sócrates corre, educa os jovens, é um homem...). As teorias lingüísticas contemporâneas demonstraram a vantagem de se supor estruturas subjacentes para as formas de superfície e de dar lugar ao implícito na análise das frases. (CERVONI, p.62, 1989) 19 A modalização pode ocorrer sobre um texto, sobre parte de um texto, sobre uma proposição ou mesmo sobre uma palavra. Assim, Cervoni (1989, p. 63) estabeleceu uma classificação que propõe a distinção entre o que é tipicamente modal, que denominou de núcleo duro, e o que é parcialmente modal, chamou de modalidade impura. No núcleo duro, perspectiva tradicional, aquela cujos modalizadores que estejam incidindo sobre a proposição explícita ou possível de ser recuperada, que convêm as modalidades proposicionais e os auxiliares de modo. As modalidades proposicionais incidem sobre frases do tipo ―(unipessoal) + é + Adjetivo + que P ou infinitivo‖, como evidenciado no exemplo “É possível que as aulas comecem em julho”. No exemplo, temos ―É possível‖ que incide totalmente sobre a proposição ―que as aulas comecem em julho‖. Os auxiliares de modo são realizados por meio de verbos como poder, dever, querer, saber, como em frases do tipo “Ele deve chegar cedo‖. Esse é um exemplo cuja modalidade expressa pelo verbo dever tanto transmite uma probabilidade como também incide sobre todo conteúdo proposicional ―Ele chegar cedo‖. De acordo com Cervoni (1989, p. 65), a modalidade impura acontece de modo implícito ou combinado num lexema, num mesmo morfema, em uma mesma expressão, e a outros elementos que agregam o significado. A esse grupo competem alguns adjetivos avaliativos como: útil, agradável, interessante, grave, etc., e também os modos verbais. Porém, de acordo com Cervoni (1989, p.70), só podemos considerar modais os adjetivos avaliativos quando for possível recuperar a forma canônica. Os adjetivos avaliativos que podem fornecer uma expressão unipessoal determinam ou uma proposição – eventualmente ―reativada‖ (ex.: Sua queda é grave = É grave que tenha caído), e então eles se vinculam às modalidades – e, ou um nome não ―reativável‖ (ex.: Um ferimento grave), e, neste caso, não cabe considerá-los como portadores de modalidade. Diante da reflexão dos pressupostos teóricos apresentados até aqui, a seguir apresentamos a discussão dos resultados e nossa hipótese através da análise realizada no corpus. 20 2 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 2.1 CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS No presente trabalho, fez-se uso do método da leitura postulado por Sardinha (2007): ―Este método consiste em encontrar metáforas pela leitura de materiais escritos [...] O procedimento envolvido nesse método é simples: basta ler o texto, prestando atenção nas ocorrências que se julgar metafóricas.‖ (p. 145). A metodologia, para realização deste trabalho de conclusão de curso, envolveu quatro etapas. A primeira etapa foi referente à fundamentação teórica: houve leitura, discussão e elaboração de fichamentos e resenhas das teorias que serviram de base para a elaboração da pesquisa, A Teoria da Metáfora Conceptual e A Teoria da Modalização. A segunda etapa envolveu a captura e armazenamento de textos da internet, de diferentes sites e gêneros, como piadas, músicas, notícias etc., que apresentassem as expressões metafóricas relacionadas ao tema sexo. A terceira etapa do nosso trabalho foi o levantamento das respectivas expressões linguísticas escolhidas para nosso estudo, que são ―Molhar o biscoito‖ e ―Brincar de médico‖ e respectivas metáforas conceptuais subjacentes a essas expressões. A quarta e última etapa referiu-se à descrição das metáforas conceptuais encontradas a partir das expressões metafóricas escolhidas para a análise, e, reflexão acerca do efeito de sentido, à luz da teoria da Modalização. 21 2.2 ANÁLISE Após discorremos acerca da metodologia utilizada para realização desta investigação, neste capítulo apresentamos os resultados quanto à investigação das expressões metáfóricas encontradas nos textos coletados. No momento seguinte, realizamos a análise do efeito de sentido nas expressões linguísticas recorrentes no corpus e a discussão de nossa hipótese. Em nosso cotidiano, não é difícil escutarmos metáforas relacionadas ao sexo. Elas estão presentes em nossas conversas mais informais. Durante nossa pesquisa, encontramos diversas variações de metáforas com o tema sexo, porém optamos selecionar duas para nosso corpus. Selecionamos 14 textos que apresentam a expressão ―Brincar de médico‖, que atualiza a metáfora FAZER SEXO É BRINCAR, e, ―Molhar o biscoito‖ em 7 textos, que atualiza a metáfora FAZER SEXO É COMER, de diferentes gêneros verbais em versão online, totalizando um corpus de 21 textos. Convencionamos referenciar os textos aqui escolhidos, de tal maneira: a letra ―T‖ mais o número do texto, para facilitar encontrar a fonte do mesmo, o site, que se encontra na última secção desse trabalho, referências. Em 21 textos, retiramos 24 expressões linguísticas metafóricas. As expressões ―brincar de médico‖ e ―molhar o biscoito‖, que atualizam, respectivamente, as metáforas conceptuais FAZER SEXO É BRINCAR e FAZER SEXO É COMER, têm conotação sexual em nossa cultura e são expressões normalmente ditas em nosso dia a dia. Em ―Brincar de médico‖, devido à profissão de médico exigir o contato com o corpo humano, é, geralmente, uma fantasia sexual, fetiche, para as pessoas. ―Molhar o biscoito‖ vem do hábito de mergulhar o biscoito em algum líquido, como leite ou café, que é muito popular em nossa cultura. Isto sugere algo que é gostoso e prazeroso de fazer, um hábito simples do dia a dia. Também, pelo movimento do biscoito, de ir e vir no líquido, desencadear essa ideia de ato sexual. 22 Assim, temos a seguir as metáforas conceptuais e as respectivas expressões linguísticas: FAZER SEXO É COMER Casal aproveita a corrida de charrete para molhar o biscoito e amassar o Bombril (...) Um casal foi filmado fazendo sexo (...) (T1) Receitas para ―molhar o biscoito‖ - O escritor norte-americano Ted Jendrysik lançou o divertido livro ―The Cookie Sutra‖, sob o pseudônimo de Edward Jaye. Com ajuda da esposa, inventou diversas receitas de cookies no formato de posições sexuais. Tem papai-e-mãe de chocolate, 69 de limão, frango assado de amendoim e por aí vai… (...) (T2) Não consigo parar de imaginar que Ted e sua mulher devem ter tido a ideia do livro enquanto ―molhavam o biscoito na cozinha‖. (T2) Nada de molhar o biscoito (...) Madonna declarou em recente entrevista à revista Elle que fazer sexo com seu marido é incrível. Porém, agora ela revelou ao jornal britânico The Mirror que Guy Ritchie passou um tempo sem comparecer, se é que vocês me entendem... (T3) De acordo com a rainha do pop, seu marido passou algum tempo sem molhar o biscoito em virtude de uma dieta baseada em biscoito. (...) "Meu marido começou a comer esses biscoitos e foi horrível, porque ele não queria mais fazer sexo. Ainda bem que abandonou a dieta". (T3) Casal é preso por fazer sexo em piscinão (...) Eles queriam muito molhar o biscoito e não deu para esperar a maré baixar (T4) Dormir após o sexo nem sempre é um crime (...) Antes do picote ele estava todo aceso, com um fogo danado, mas bastou molhar o biscoito para ele desmoronar. (T5) Casa Branca não deixa molhar o biscoito (...) A casa branca mantém um escritório pra promover ações visando a manter os gringos acumulando libido fácil. (T6) Um casal foi flagrado em um parque aquático em Opoczno (Polônia) mandando brasa no quiabo escorregador, ou como se diz no popular, ―molhando o biscoito‖. (T7) FAZER SEXO É BRINCAR vamos brincar de médico chega mais pra cá/ quero ouvir seu coração e te diagnosticar (T8) 23 Mas como se brinca de médico Joãozinho? - Pergunta Mariazinha. - Ah, deita aí e me mostra sua pipoquinha, aí eu vou examinar. (T9) Policiais são demitidos por brincar de médico (...) Os oficiais estavam de serviço quando foram filmados fazendo sexo dentro de um hospital. (T10) A missão deles era transportar e cuidar de um presidiário que precisou fazer exames, mas os dois também quiseram brincar de médico. (T10) No quarto, brincando de médico com o Joãozinho. - De médico!?! .... a mãe dá um grito e um salto da cadeira. (T11) "Oh José , por que você não faz como eu, brinca de médico durante uma hora!!! Isso mudou minha vida com minha esposa!! Saímos da monotonia!!" (T12) Eu fico aceso eu não nego/ Só pra gente brincar de medico (T13) — Mamãe, o meu namorado me levou pra casa dele e me fez brincar de médico com ele. A mãe toma um susto e pergunta. (...) (T14) Quando a gente vai ao médico ele sempre manda tirar a roupa. A gente vai brincar de médico, não vai. Ou você não quer mais brincar comigo? (T15) Isso tem solução. Seja criativo, descubra novas formas de seduzir sua mulher. Quando você chegar em casa, diga a ela que vocês vão brincar de médico, por exemplo. (T16) Brincando de médico! Michel faz surpresa sexy para Patrícia (T17) Vamos agora brincar de médico? / Pede um garotinho à menina cheia de graça... / Bem, preciso que você agora baixe sua cueca... (T18) ―Eu tava bem comportadinha, só brincando de casinha. Agora a gente tá brincando de médico‖, ironizou Natália sobre a relação com o lutador. (T19) Aquela menininha sapeca volta da escolinha e conta à mãe que o Huguinho a havia chamado para brincar de médico. A mãe apavorada (...) (T20) Comia todas as menininhas da cidade/ De tanto brincar de médico aos doze era professor (T21) O ato de fazer sexo é natural dos seres vivos, porém não se trata do assunto com naturalidade, devido por ainda ser visto como tabu. Aqui, na nossa investigação, percebemos que se relacionar sexualmente com outra pessoa recebe muitos nomes diferentes. Antigamente, o motivo dos homens necessitarem se relacionar sexualmente é porque somos seres humanos e sexuados, e precisamos nos reproduzir. Na 24 contemporaneidade, com a guerra dos sexos, com a luta da igualdade das mulheres, essa ideia mudou, ou melhor, vem mudando, em um ritmo lento, já que ainda nos dias de hoje se fala pouco sobre o tema, e quando se fala é com cautela. Essa tradição de que sexo é pecado, algo proibido, vem de uma sociedade altamente influenciada pela igreja, onde muitos pais têm medo, vergonha ou preferem não falar sobre o assunto com seus filhos ainda jovens para não despertar o desejo, a vontade ou a curiosidade. O corpus revela que a intenção do falante, ao utilizar metáforas para falar de sexo, nas revistas, notícias, jornais, piadas, charges, músicas, etc., é a de deixar o texto mais leve, com um assunto considerado ―pesado‖. Geralmente, o locutor faz uso dessas metáforas para trazer um pouco de humor, o que torna mais fácil discutir sobre o tema. A recorrência das metáforas FAZER SEXO É COMER e FAZER SEXO É BRINCAR, pode ser interpretada como uma forma de tornar o assunto mais leve. Como justifica Nascimento (2009), a teoria da modalização se apresenta como uma teoria que explica como um locutor deixa registradas, no seu discurso, marcas de sua subjetividade através de determinados elementos linguísticos e, portanto, imprime um modo como esse discurso deve ser lido. (pág.37) Considerando a teoria Modalização, é possível, então, sabermos que todo e qualquer falante tem uma finalidade ao produzir seu discurso. Explicamos isso através das marcas em seu texto; ―A modalização consiste, portanto, em uma das estratégias argumentativas que se materializa linguisticamente.‖ (Nascimento, 2009, p.38) Assim, o locutor trata o sexo como uma brincadeira, ou ato de comer, ou seja, trata a relação sexual como qualquer outra atividade comum do nosso cotidiano. As expressões metafóricas para falar de sexo parecem mais aceitáveis, porque trazem um ar de humor e, talvez, por isso encontramos com maior facilidade essas expressões em gêneros como piadas, charges, em blogs de teor humorístico, dentre outros. Ao mapearmos a metáfora conceptual FAZER SEXO É COMER, algumas atribuições de comer são esquematizadas ao ato de fazer sexo, como os atos de 25 abocanhar, engolir, morder etc. Já em FAZER SEXO É BRINCAR, mapeamos as características de brincar, como o contato corporal e visual, a ideia de diversão, exploração, descobrimento, para o ato de fazer sexo. Chegamos à conclusão que a possível intenção do locutor ao utilizar as metáforas conceptuais para falar de sexo é a de preservar moralmente a sua imagem perante a sociedade, ou seja, o falante quer se poupar dos julgamentos frente a sua produção. De acordo com a classificação feita por Cervoni (1989), as expressões linguísticas elencadas aqui na análise podem ser classificadas em modalidade impura, pois, de um modo implícito, a modalização não incide sobre parte da proposição, mas sim em parte do discurso. Contudo, Espíndola e Carvalho já haviam apresentado resultados semelhantes quanto às metáforas conceptuais em resumos acadêmicos, porém, em suas investigações, a estratégia argumentativa é outra, considerando que o efeito de sentido pode divergir em gêneros diferentes e/ou temas diferentes, pois, é determinado, na maioria das vezes, pela função sociocomunicativa do gênero e/ou tema. Eles incluem as expressões linguísticas na modalização impura. ―Nesse grupo, também pretendemos incluir as expressões linguísticas atualizadoras de metáfora e/ou metonímia conceptuais com a função de afastar o locutor do seu discurso.‖ Espíndola (2011) afirma que, em relação às expressões linguísticas que não são modalidade pura: As outras formas de modalização serão incluídas na modalização impura, por não serem tipicamente modais; mas somente em alguns contextos. Entendemos que haverá modalização quando constatarmos, no discurso, qualquer forma de avaliação, de julgamento ou mesmo de estratégia de afastamento do discurso por parte do locutor, materializada por recursos morfológicos e sintáticos, independente de incidirem sobre o todo ou sobre partes do discurso. 26 CONCLUSÃO As expressões apresentadas aqui são comumente faladas no nosso cotidiano, quando nos referimos a relações sexuais, é normal ouvir ―Fulano comeu duas gatas neste carnaval‖, que atualiza a metáfora FAZER SEXO É COMER, ou quando falamos que a esposa quer brincar de médico com o marido para sair da rotina, atualiza a metáfora conceptual FAZER SEXO É BRINCAR. São expressões já aceitas em nosso grupo social, faz sentido aqui no Brasil. Os dados apresentados, no presente trabalho de conclusão, mostram claramente que o estudo analítico acerca das metáforas conceptuais mostra-se importante para se compreender qual o sentido que o locutor imprime ao texto ao utilizar expressões linguísticas metafóricas no momento da produção. Em nossa pesquisa, percebemos que a quantidade de metáforas relacionadas ao sexo é significativa, e pudemos perceber que elas corroboram com a tese de Lakoff e Johnson (2002) de que as metáforas conceptuais fazem parte do nosso cotidiano, mas sem termos a consciência disto; a metáfora faz parte de nossa cultura, ela a representa e está subjacente à linguagem. De acordo com a análise qualitativa dos textos aqui apresentados, o locutor quando fala de sexo utiliza expressões linguísticas metafóricas como recurso argumentativo com o intuito de suavizar o que está dito no texto, caracterizando, dessa forma, uma preservação da imagem moral e social do locutor. Esta investigação, porém, não constitui uma análise pronta e acabada acerca da metáfora conceptual e nem tampouco um ponto final aos estudos deste campo. 27 REFERÊNCIAS CASTILHO, A.T.; CASTILHO, C. M. M. de. Advérbios modalizadores. In: ILARI, Rodolfo (Org.). Gramática do Português Falado. 2. ed. Campinas: Editora da UNICAMP, 1993. Vol. II. CERVONI, Jean. A enunciação. São Paulo: Editora Ática, 1989. ESPÍNDOLA, Lucienne. C. (Org.). Metáforas conceptuais no discurso. João Pessoa: Editora Universitária / UFPB, 2011. ESPÍNDOLA, Lucienne C. A metáfora ontológica, publicidade e leitura. In: ______ e SOUSA, Maria Ester Vieira de. (Orgs.). O texto: vários olhares, múltiplos sentidos. João Pessoa: Editora Universitária, 2007. ESPÍNDOLA, Lucienne C.; CARVALHO, Sergio Ricardo Pereira de. Gênero discursivo resumo: recursos modalizadores. (No prelo) LAKOFF, G. & JOHNSON, M. (1980). Metáforas da Vida Cotidiana. (coordenação da Tradução Mara Sophia Zanotto) Campinas, SP: Mercados de Letras; São Paulo : EDUC, 2002. LAKOFF, G. & JOHNSON, M. (2003). Metaphors we live by. Chicago: University of Chicago Press. (with a new afterword) NASCIMENTO, Erivaldo Pereira do. Jogando com as vozes do outro: argumentação na notícia jornalística. João Pessoa: Editora Universitária, 2009. SARDINHA, T. B. Metáfora. 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