A PUBLICAÇÃO DOS RESULTADOS DE PESQUISAS ELEITORAIS E SUA
INFLUÊNCIA NA INTENÇÃO DE VOTO PARA AS ELEIÇÕES
PRESIDENCIAIS DE 2010
Projeto
aprovado
no
Centro
Interdisciplinar de Pesquisa – CIP – da
Faculdade Cásper Líbero e que será
desenvolvido no biênio 2010/2011.
Linha de Pesquisa 2: Comunicação: meios e mensagens
São Paulo
Abril/2010
2
1. TEMA
A publicação dos resultados de pesquisas eleitorais e sua influência na
intenção de voto do eleitor, nas eleições presidenciais de 2010.
2. PROBLEMA
A linguagem matemática faz parte do nosso cotidiano. Procuramos
entender e explicar a realidade através da quantificação. O número tem o dom
de concentrar a mensagem. Será que o eleitor comum, que não tem
conhecimento profundo de matemática e de estatística compreende a maioria
das notícias publicadas diariamente, baseadas nessas linguagens? Como a
intenção de voto pode ser influenciada pelos resultados das pesquisas
eleitorais? Qual o real peso dos resultados de pesquisas eleitorais na decisão
do voto do eleitor brasileiro? Estas são as questões centrais que pretendemos
responder com a realização deste projeto de pesquisa.
3. HIPÓTESES
3.1. Hipótese 1
As pesquisas eleitorais não são o elemento determinante na formação
da intenção de voto do eleitor e, portanto não influenciam a sua escolha por um
ou outro candidato.
3.2. Hipótese 2
Não são os resultados das pesquisas eleitorais que influenciam o voto
do eleitor, mas sim a conotação (manipulação) dos dados estatísticos, através
da notícia sobre esses resultados, publicados pela mídia.
3
4. OBJETIVOS
4.1. Objetivo Geral
Analisar qual é o papel das pesquisas eleitorais na formação da intenção
de voto do eleitor.
4.2. Objetivos Específicos
Verificar o grau de entendimento e a importância dada pelo eleitor às
pesquisas eleitorais.
Identificar as formas de influência das notícias sobre pesquisas eleitorais
na decisão de voto do eleitor.
Estudar as formas de conotação dos resultados das pesquisas eleitorais
feitas pela mídia.
Analisar os elementos constitutivos da formação da opinião política do
eleitor e da sua intenção de voto.
5. JUSTIFICATIVA
Este projeto de pesquisa tem como tema a influência das notícias sobre
pesquisas eleitorais na formação da intenção de voto do eleitor brasileiro,
sendo, portanto um estudo de recepção da mensagem midiática, que se insere
na linha 2 de pesquisa do CIP: Comunicação: meios e mensagens.
Em todos os meios de comunicação encontramos mensagens com
números em suas mais variadas formas: percentuais, índices, taxas, resultados
de pesquisas, etc., e em períodos eleitorais a publicação dos resultados das
pesquisas de intenção de voto aumentam e passam a ser um elemento
cotidiano das notícias de todos os veículos de mídia. Paralelo a isso, e de
acordo com os resultados divulgados, sempre surge o debate sobre a validade
das pesquisas eleitorais e qual é o seu grau de influência sobre o eleitor.
4
Em nossa experiência como professora e pesquisadora sempre
encontramos pessoas que desconfiam das pesquisas ou desacreditam
totalmente deste instrumento de análise da realidade, particularmente no caso
das pesquisas que medem a intenção de voto. Para citar um único exemplo,
em uma lista de discussão feita pelo site UOL, sobre uma pesquisa de opinião
do Instituto Sensus, que avaliava o desempenho do governo Lula e que foi
publicada pelo site em 18/02/08, dos cerca de 210 internautas participantes do
debate, encontramos apenas um que acreditava nos resultados da pesquisa.
Todos os outros diziam que a pesquisa era “manipulada”, “fraudada”,
“comprada”, etc., e que não poderia ser usada como parâmetro de análise da
realidade.
O leigo tem uma relação quase “esotérica” com as pesquisas: trata-se
de uma questão de crença. Há os que acreditam e os que não acreditam nos
resultados estatísticos. Poucos são aqueles que entendem ou mesmo sabem
como usar esta ferramenta. Em grande medida, esse quadro pode se justificar
pela forma superficial e muitas vezes distorcida, de como as pesquisas são
divulgadas pela mídia.
As pesquisas de opinião são utilizadas pela mídia como complemento de
uma notícia – balizando uma análise e/ou a opinião do veículo ou do jornalista,
e na maioria das vezes o resultado de uma pesquisa é a própria notícia. A
relação estreita entre mídia e Institutos de Pesquisa é conhecida em nosso
país. O Ibope, de empresa de pesquisa passou a ser sinônimo de audiência e o
jornal Folha de S. Paulo tem seu próprio instituto, o Datafolha. Em nossa
dissertação de mestrado sobre a quantificação da mídia impressa verificamos
que cerca de 32% das notícias publicadas na revista Veja e 14% das matérias
divulgadas no primeiro caderno do jornal O Estado de SP são baseadas em
dados estatísticos.1
Em um estudo que desenvolvemos para o Centro Interdisciplinar de
Pesquisa – CIP – da Faculdade Cásper Líbero, em 2004/2005, sobre a
1
SOUZA, Genilda Alves. “A Conotação dos Dados Estatísticos pela Mídia Impressa”. Dissertação
apresentada para a obtenção do título de mestre na Faculdade Cásper Líbero em 2009, pags. 83 e 88.
5
publicação das pesquisas eleitorais na mídia impressa, levantamos algumas
hipóteses para a descrença e a desconfiança nos resultados das pesquisas,
em particular as eleitorais. O primeiro fator é o desconhecimento que o público
leitor (incluído a maioria dos jornalistas) tem sobre os fundamentos teóricos da
estatística e das pesquisas quantitativas. O segundo é o fato da mídia não se
preocupar em informar ou esclarecer o público, sobre a terminologia técnica
usada nas pesquisas. Fala-se em percentuais, margem de erro, nível de
confiança, empate técnico, etc., sem a mínima preocupação de explicar o seu
significado ou origem. O terceiro fator é que os resultados de pesquisas que
são publicados pela mídia são parciais, imprecisos e manipuladores. Muitas
vezes há mais preocupação com a estética e os efeitos visuais, do que com a
precisão dos dados que estão sendo informados. A pesquisa quantitativa,
assim
divulgada,
passa
a
conferir
aval
técnico-científico
à
notícia
“espetacularizada”, para lhe dar maior credibilidade.
O número, que é considerado a mais objetiva das linguagens,
quando transformado em mensagem – a notícia – passa a ser
um simulacro de si mesmo e acaba induzindo ao receptor (o
leitor), sem que ele perceba, muito mais do que apenas os
resultados numéricos atestam ou explicam. (SOUZA, 2009:16)
Na “Dialética do Esclarecimento”, Adorno e Horkheimer apontaram com
precisão
a
importância
da
linguagem
matemática
nas
sociedades
contemporâneas:
[...] A natureza é, antes e depois da teoria quântica, o que
deve ser apreendido matematicamente. Até mesmo aquilo que
não se deixa compreender, a indissolubilidade e a
irracionalidade, é cercado por teoremas matemáticos. [...] Ele
confunde o pensamento e a matemática. Desse modo, esta se
vê por assim dizer solta, transformada na instância
absoluta. [...] O procedimento matemático tornou-se, por
assim dizer, o ritual do pensamento. (ADORNO,
HORKHEIMER, 2006:32-33) (grifos nossos)
Os dados estatísticos, e em particular as pesquisas de opinião, quando
publicados na mídia acabam influenciando de alguma maneira a opinião do
6
receptor. Em 1994, o Instituto Datafolha fez uma pesquisa na cidade de SP,
sobre a influência das pesquisas eleitorais na decisão do voto. Os resultados
encontrados mostraram que 81% dos entrevistados nunca definiram ou
mudaram de voto por causa das pesquisas eleitorais. Os que admitiram a
influência das pesquisas na mudança de voto foram 19% dos eleitores
consultados. É esta parcela dos eleitores que poderiam optar pelo “voto útil”,
isto é, o voto dado a certo candidato porque ele está na frente (efeito
“bandwagon”)2 ou ao candidato que não tem chances de ganhar, como forma
de protesto (efeito “underdog”).3 (SOUZA, 2009)
Em 2001, o Instituto Datafolha voltou a realizar uma pesquisa com
eleitores, para saber a opinião destes sobre as pesquisas eleitorais e a
influência que elas tinham sobre a intenção de voto dos entrevistados. Os
resultados não foram animadores:
[...] 39% dizem que as pesquisas eleitorais não são confiáveis”.
[...] 30% dos que não confiam em resultados de pesquisas
eleitorais, acreditam que os Institutos manipulam os resultados.
[...] O grau de desconfiança nas pesquisas eleitorais aumentou,
em média, 40% de 1994 para 2001[...] (DATAFOLHA, 2001)
As pesquisas eleitorais sempre foram tema de polêmica desde que
começaram a ser feitas pelo Ibope em 1945. De lá para cá, as pesquisas de
intenção de voto passaram a ser comuns nas eleições brasileiras. Muitos
institutos surgiram e as técnicas e métodos por eles utilizados foram se
aperfeiçoando. Mas, sempre que o Brasil passa por um novo processo eleitoral,
as mesmas polêmicas, envolvendo as pesquisas, voltam à mídia.
[...] por que os institutos „erram‟? Por que os números dos
institutos não „batem‟ entre si? O resultado das pesquisas
influencia os eleitores? Deve-se impedir a divulgação dos
resultados de pesquisas feitas nas vésperas da eleição? Os
próprios candidatos revelam uma posição dúbia em relação aos
resultados, estejam estes números contra ou a favor de seus
esforços. Tornou-se lugar comum dizer „não acredito em
2
Palavra usada para descrever um “veículo imaginário” que carrega políticos, cujas propostas
têm apoio popular.
3
Palavra que indica o perdedor em qualquer luta. Indica também uma tendência a apoiar o
mais fraco.
7
pesquisas‟ ou „as pesquisas, mesmo se corretas, refletem um
instante de uma realidade que já passou. (BERALDO, 2002:02)
No ano de 2002, durante a campanha eleitoral para presidente da
república, a mídia atribuiu às pesquisas eleitorais um novo papel: os resultados
eram responsáveis pelo melhor ou pior desempenho da economia brasileira.
Desta forma, a cada divulgação de uma pesquisa eleitoral ou mesmo a
especulação sobre uma nova pesquisa poderia modificar o desempenho da
bolsa de valores, do câmbio e do risco Brasil. A Comissão de Valores
Mobiliários da Bolsa de SP chegou a criar uma norma que previa que as
empresas participantes da Bovespa, que encomendassem pesquisas eleitorais,
deveriam registrar este fato junto à instituição, três dias antes da divulgação
dos resultados. Queriam com isso, prevenir ou controlar os futuros ataques
especulativos ao mercado que pudessem beneficiar os compradores das
pesquisas. A normatização da informação chegou ao mercado financeiro e os
resultados das pesquisas eleitorais passaram a ser mercadoria de muito valor.
Em nossa dissertação de mestrado, após o estudo das formas de
conotação do resultado estatístico pela mensagem jornalística (a notícia),
concluímos que a influência que as pesquisas de opinião podem causar nos
indivíduos, não vem apenas da importância que damos ao pensamento
empírico-racional e a objetividade que atribuímos aos números. Antes de tudo,
esta influência é causada pela conotação do dado estatístico presente na
mensagem jornalística. O indivíduo comum não tem acesso aos dados
estatísticos a partir de sua fonte original, os Institutos de Pesquisa. Ele só toma
conhecimento destes dados através dos veículos de comunicação. Portanto, se
os resultados das pesquisas causam alguma influência na opinião dos
receptores, isto só pode ocorrer através da mensagem midiatizada. Isto porque
a realidade transmitida ao receptor e supostamente representada pelo dado
estatístico é duplamente conotada. Em primeiro lugar, pela Estatística através
do resultado da pesquisa e em segundo lugar, pela mídia através da notícia.
6. REFERENCIAL TEÓRICO
8
“A estatística inteligente é uma escola de subjetividade, não uma
coleção de certezas. Eu arriscarei dizer que é uma arte”.
Jean-Louis Besson, estatístico.
É comum entre pesquisadores usarmos uma analogia com a fotografia
quando queremos nos referir ao fato de que as pesquisas representam sempre
um instante da realidade. Particularmente sobre as pesquisas eleitorais
dizemos: “pesquisa é um retrato do momento”. Assim como a fotografia, o
resultado de uma pesquisa é uma imagem paralisada de algo que está em
constante movimento: a opinião. As pesquisas não predizem o futuro, mas
apenas nos indicam tendências que podem ser alteradas se algo interferir na
realidade medida, fazendo com que mude a opinião pública.
Em um artigo intitulado “Pesquisas pré-eleitorais: legitimidade, influência
e contribuições à cidadania”, Gustavo Venturini, ex-diretor do Datafolha,
baseado na comparação entre fotografia e pesquisas, propõe a seguinte
metodologia para se avaliar os resultados de pesquisas eleitorais.
Primeira: é fundamental conferir o dia ou os dias em que a foto
foi tomada, a data de realização da pesquisa”. (grifos do
original). (VENTURINI, 1995:86-87)
Sabe-se que entre a coleta dos dados e sua divulgação pode acontecer
um fato novo, que altere os resultados colhidos anteriormente, como um
debate, uma denúncia contra algum dos candidatos, o que pode tornar o
resultado ultrapassado, já que cada novo fato da realidade pode alterar a
opinião do eleitor. Ao analisar pesquisas eleitorais, devemos ficar atentos a
data de realização da mesma para saber se os resultados apresentados não
estão “velhos”.
Segunda: é preciso verificar a abertura ou angulação da lente
utilizada, a adequação do desenho amostral ao universo
pesquisado. (grifos do original). (VENTURINI, 1995:86-87)
Verifique se o universo pesquisado é adequado ao tipo de pesquisa, isto
é, se de fato a pesquisa dita nacional foi feita em todo o Brasil. Analise se a
9
amostra é representativa da população pesquisada, se está corretamente
distribuída pelos extratos existentes no universo: cidades, idades, sexos,
classes sociais, etc. Aliás, desconfie de pesquisas que não trazem estas
informações de forma explícita. Isto já é um indício ou de um estudo mal feito
ou mal divulgado.
Terceira: é necessário levar em conta a falta de nitidez da foto,
dada a imprecisão do equipamento utilizado. (grifo do original).
(VENTURINI, 1995:86-87)
Uma pesquisa é falível, isto é, tem erro, porque é feita por amostragem 4.
Por mais representativa que seja uma amostra5 da população ou universo6
estudado, há sempre um erro amostral (margem de erro7) para mais ou para
menos. Os resultados apresentados estão dentro de um intervalo e é isto que
determina, por exemplo, que candidatos com resultados muito próximos
estejam na verdade tecnicamente empatados8.
Quarta: é recomendável verificar a sensibilidade do filme
utilizado, a formulação das perguntas aplicadas. (grifos do
original). (VENTURINI, 1995:86-87)
A correta formulação das perguntas no questionário, com objetividade,
linguagem clara e compreensível e isenta de tendenciosidade é determinante
para a obtenção de resultados corretos. Até mesmo a entonação de voz do
entrevistador ou algum gesto corporal mal entendido pelo entrevistado, podem
alterar a resposta dada às perguntas da pesquisa, modificando os resultados.
Quinta: é aconselhável conferir as credenciais do fotógrafo e os
propósitos do cliente, que instituto assina a pesquisa e quem a
encomendou. (grifos do original). (VENTURINI, 1995:86-87)
4
Método pelo qual formamos as amostras.
A amostra é uma parte do universo ou população, representativa desta população. É um
subconjunto da população.
6
População ou universo é uma porção da realidade que nos cerca, sobre a qual é feito um
estudo e cujos elementos têm pelo menos um atributo em comum.
7
Margem de erro é a diferença entre o que é objetivamente medido na amostra e o que seria
medido na população se pudéssemos fazê-lo. É uma variação, para mais ou para menos, dos
resultados encontrados na pesquisa.
8
O empate técnico em uma pesquisa ocorre, quando a diferença entre um ou mais resultados
está abaixo ou é igual à margem de erro.
5
10
O grau de independência de uma pesquisa depende de alguns fatores:
têm que ser planejadas com isenção e competência; o instituto que realiza a
pesquisa e o órgão que a divulga devem ter credibilidade junto à opinião
pública; tanto o instituto quanto o órgão de divulgação da pesquisa devem ter
independência em relação aos patrocinadores da mesma, para não
comprometer
a
credibilidade
dos
resultados.
Pesquisas
eleitorais
encomendadas por candidatos e divulgadas em um órgão de imprensa
comprometido com este candidato, dificilmente terá um comportamento isento.
Sexta: é crucial ver a fotografia com os próprios olhos, aprender
a ler os números. (grifos do original). (VENTURINI, 1995:86-87)
Na medida em que é impossível que a divulgação dos resultados de
pesquisas eleitorais, pela mídia, seja feita de forma objetiva e isenta, é
recomendável que se aprenda a ler os dados – gráficos e tabelas – para se ter
uma avaliação crítica dos resultados e análises apresentados e assim se tirar
as próprias conclusões. A divulgação de um resultado de pesquisa pode ser
distorcido de várias maneiras: pelas cores, formas e tamanhos dos gráficos;
pela terminologia usada para apresentar os resultados; com a apresentação de
resultados parciais ou incompletos e diversas outras formas. Tudo isso pode
induzir o leitor ou telespectador ao “resultado” desejado pelo veículo, instituto
ou patrocinador da pesquisa.
O resultado de uma pesquisa eleitoral transformado em notícia está
submetido às leis do mercado, isto é, a necessidade de vendagem do veículo
para a obtenção de lucros. Está limitada e delimitada por aspectos sociais,
culturais e ideológicos do meio que a divulga e daqueles que a recebem como
mensagem.
Uma pesquisa de opinião é um levantamento estatístico, de uma
amostra particular, sobre uma determinada população. Ela tem como objetivo
medir a opinião de um grupo de pessoas sobre um determinado assunto e
então se extrapola os dados encontrados na amostra para a população,
respeitando-se a margem de erro e o intervalo de confiança da pesquisa. A
11
grande maioria das pesquisas de opinião é feitas a partir de amostras, na
medida em que as populações, em sua maioria são infinitas.
A opinião pública pode ser definida como “... todo fenômeno que, tendo
origem em um processo de discussão coletiva e que se refira a um tema de
relevância pública (...) esteja sendo expresso publicamente, seja por sujeitos
individuais
em
situações
diversas,
seja
em
manifestações
coletivas”
(FIGUEIREDO e CERVELLINI, 1995:116). A opinião pública assim concebida
tem um aspecto plural, e desta forma não existe uma, mas várias formas de se
identificar à opinião. Ela “... se expressa através dos grupos organizados, (...)
das pesquisas, das eleições, (...) dos meios de comunicação, etc. Nesse
sentido, a opinião pública não designa apenas uma coisa, mas várias. Isso
porque a coletividade também não tem uma única forma de se manifestar, mas
diversas” (FIGUEIREDO e CERVELLINI, 1995:115).
As pesquisas, na medida em que medem a opinião pública, ganham
importância porque podem expressar aspectos latentes do conjunto dos
pensamentos individuais e assim da própria sociedade. “(...) as pesquisas são
uma das formas em que a deliberação ocorre hoje em dia, funcionando como
veículos de troca de informações sobre temas que já estão sendo discutidos e
pensados por alguns grupos ou pessoas, mas que nem por isso são totalmente
estranhos aos outros”. (FIGUEIREDO, CERVELLINI, 1995: 116)
As pesquisas de opinião (e eleitorais) são ferramentas importantes e
eficazes para o conhecimento da opinião e do comportamento dos grupos,
entre outros aspectos, e nos possibilita entender como se manifestam os
aspectos individuais dentro do grupo social.
No livro “Discurso das Mídias”, Charaudeau (2006) parte da afirmativa
de que o acontecimento é construído como discurso de um sujeito para outro.
É uma relação dialética entre aquele que comunica o acontecimento (o sujeito
de enunciação) e aquele que recebe esta comunicação (o receptor da
mensagem).
[...] o acontecimento nunca é transmitido à instância de recepção em
seu estado bruto; para sua significação, depende do olhar que se
estende sobre ele, olhar de um sujeito que o integra num sistema de
pensamento e, assim fazendo, o torna inteligível.
12
[...] tais fenômenos [as coisas] só adquirem existência significante
através da percepção-captura-sistematização-estruturação que delas
faz um sujeito linguageiro, pois é falando que o sujeito confere a tais
fenômenos uma significação. (CHARAUDEAU, 2006:95 e 96)
Um acontecimento é sempre transmitido com uma significação. Depende
do olhar de quem o transmite. A fala confere a um fenômeno uma significação.
Por isso, para Charaudeau, o acontecimento é sempre construído pela
significação dada pelo olhar de quem transmite o acontecimento.
As pesquisas eleitorais e a mensagem jornalística, a notícia (a
transmissão do acontecimento), têm sua significação dada pela fala de quem
transmite a notícia – o Instituto de Pesquisa e o jornalista e também pelo olhar
de quem a recebe – o leitor. Como discurso, o acontecimento é uma
construção social do emissor da mensagem, mas também do receptor desta
mensagem. O mesmo acontece com as pesquisas e a notícia.
Para ordenar os sentidos, o sujeito opera com uma dupla faculdade: a
de percepção e a de estruturação do mundo através da linguagem. Ele também
opera com três tipos de aptidão: a) reconhecimento do sistema de pensamento;
b) percepção de um elemento novo e c) reintegração do acontecimento
acidental a um dos sistemas do pensamento. (CHARAUDEAU, 2006). “O
acontecimento nasce, vive e morre numa dialética permanente da ordem e da
desordem, dialética que pode estar na natureza, mas cuja percepção e
significância
dependem
de
um
sujeito
que
interpreta
o
mundo.”
(CHARAUDEAU, 2006:99)
O acontecimento passa a ser significado socialmente pelo sujeito,
através da interpretação que ele faz do mundo. “Sendo a finalidade da
informação midiática a de relatar o que ocorre no espaço público, o
acontecimento será selecionado e construído em função de seu potencial de
„atualidade‟, de „socialidade‟ e de „imprevisibilidade‟.” (CHARAUDEAU,
2006:99).
Os resultados das pesquisas eleitorais e as notícias sobre estes
resultados, nunca são transmitidos em seu estado bruto ou neutro, pois eles
passam por um processo de significação e re-significação pelos atores
13
envolvidos: o emissor (Institutos de Pesquisa e mídia) e o receptor (eleitor). A
divulgação dos resultados de pesquisas eleitorais e a compreensão que tem o
eleitor sobre as informações que recebe são uma construção. "Sempre que
tentamos dar conta da realidade empírica, estamos às voltas com um real
construído, e não com a própria realidade." (CHARAUDEAU, 2006:131).
Também, por outras mediações de natureza “institucional, situacional,
referencial, tecnológica e cognitiva” (segundo classificação estruturada por
Guilhermo Orozco, a partir da teoria das mediações formulada por Jesús
Martín-Barbero), nossa percepção da realidade sempre passa pelo filtro de
nossos pontos de vista. A partir desta percepção particular da realidade,
construímos objetos particulares que são um fragmento do real. Os resultados
e as notícias sobre pesquisas eleitorais são um fragmento do real e não o
próprio real. São um real construído, pelo Instituto de Pesquisa, pelo jornalista
e seu veículo e pelo receptor da mensagem, que obedecem às necessidades
de audiência ou vendagem do jornal e a critérios culturais, políticos e
ideológicos do emissor e do receptor da mensagem.
7. METODOLOGIA DA PESQUISA
O universo a ser estudado serão os eleitores da cidade de SP, de ambos
os sexos, pertencentes a qualquer classe social e com idades entre 18 e 60
anos.
Para a comprovação das hipóteses levantadas neste projeto faremos
uma pesquisa causal, para medir a influência dos resultados das pesquisas
eleitorais para presidente em 2010 – causa, sobre a intenção de voto dos
eleitores selecionados para compor a amostra da pesquisa – efeito. Para isso,
serão formados dois grupos de eleitores: um experimental e um de
controle. O grupo experimental será formado por eleitores que não tenham
intenção de voto definida para presidente, no início da campanha eleitoral
presidencial, isto é, o período determinado pelo TSE – julho a outubro de 2010.
O grupo de controle será formado por eleitores que já tenham o voto definido
para presidente, nas eleições de 2010, quando começar a campanha eleitoral.
14
Aos dois grupos serão apresentadas notícias sobre pesquisas eleitorais
divulgadas pela mídia e será aplicado um questionário pessoal, nãoestruturado para medir: a) o grau de compreensão do resultado da pesquisa
eleitoral; b) a importância que o eleitor dá ao resultado apresentado e c) a sua
intenção de voto a partir do conhecimento do resultado da pesquisa eleitoral.
Os dois grupos serão estudados durante o período oficial da campanha
eleitoral para presidente da República.
A técnica de pesquisa utilizada será um experimento de campo, definido
como “um projeto de pesquisa experimental conduzido em uma situação real,
na qual uma ou mais variáveis independentes são manipuladas pelo
pesquisador [...]” (MATTAR, 1999:105).
O estudo das formas de conotação dos resultados das pesquisas
eleitorais será feito através da avaliação das notícias sobre pesquisas eleitorais
divulgadas pela mídia, durante a campanha eleitoral presidencial de 2010, com
base nos conceitos de Roland Barthes sobre denotação e conotação da
mensagem e através de entrevistas com pesquisadores de opinião e jornalistas
que escrevem sobre pesquisas eleitorais.
15
8. CRONOGRAMA
PERÍODO
RELAÇÃO DAS ATIVIDADES
- Pesquisa dos dados bibliográficos (leitura de textos e fichamento
dos autores selecionados).
- Seleção e organização dos grupos de eleitores entrevistados que
comporão a amostra da pesquisa.
1º sem/2010
- Seleção das notícias sobre pesquisas eleitorais publicadas na
mídia.
- Início do trabalho de campo: realização das entrevistas com os
eleitores selecionados.
- Elaboração dos relatórios trimestrais sobre o andamento da
pesquisa para o CIP.
- Continuação do trabalho de campo, com a realização das
entrevistas e da seleção das notícias sobre pesquisas eleitorais
publicadas na mídia.
- Realização de entrevistas com pesquisadores de opinião e
2º sem/2010
jornalistas.
- Análise e Interpretação dos resultados encontrados no trabalho
de campo.
- Elaboração dos relatórios trimestrais sobre o andamento da
pesquisa para o CIP.
- Produção de artigos, ensaios e materiais de divulgação da
pesquisa e participação em congressos.
- Início da redação do projeto da pesquisa: estrutura dos capítulos
1º sem/2011
da monografia e elaboração dos capítulos iniciais, com a
fundamentação teórica da pesquisa.
- Elaboração dos relatórios trimestrais sobre o andamento da
pesquisa para o CIP.
- Redação do projeto final da pesquisa, com as conclusões
2º sem/2011
encontradas.
- Elaboração dos relatórios trimestrais sobre o andamento da
pesquisa para o CIP.
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9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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a publicação dos resultados de pesquisas eleitorais e sua influência