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Agora imagine que esses vizinhos são personagens
inspirados nas obras das mais geniais mentes criativas; escritores como T.S. Eliot, Paul Valéry, Italo
Calvino, Bertold Brecht, entre outros.
Pois na coleção O Bairro, de Gonçalo M. Tavares, somos apresentados a esses moradores, um livro por vez.
De maneira espirituosa, Tavares nos leva em uma viagem pelo universo intelectual de escritores memoráveis. Delicie-se com essas homenagens.
Obra apoiada pela Direcção-Geral do
Livro e das Bibliotecas / Ministério da
Cultura de Portugal
ISBN 978-85-7734-196-2
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O SENHOR SWEDENBORG E AS INVESTIGAÇÕES GEOMÉTRICAS
GONÇALO M. TAVARES nasceu
em Luanda em 1970 e foi criado
em Portugal. Desde a publicação
de seu primeiro livro em 2001,
Tavares impressiona os leitores
pela prolixidade e qualidade
de sua escrita. Em 2005, foi
agraciado com o Prêmio José
Saramago pelo livro Jerusalém.
Durante o discurso de premiação,
Saramago comentou que Tavares
não tinha o direito de escrever
tão bem e ter apenas 35 anos.
Entre seus livros lançados no
Brasil estão O homem ou é tonto
ou é mulher (Casa da Palavra) e
Viagem à Índia (LeYa).
Gonçalo M. Tavares
Imagine um bairro de uma cidade qualquer, com novos
vizinhos chegando a cada dia e outros se despedindo.
Do vencedor dos prêmios José
Saramago e Portugal Telecom
Do vencedor dos prêmios José Saramago e Portugal Telecom
GONÇALO M. TAVARES
o senhor
GONÇALO M. TAVARES
O senhor Swedenborg e as
investigações geométricas, de
Gonçalo M. Tavares, é inspirado
na obra do cientista e teólogo
sueco Emanuel Swedenborg
(1688-1772), reconhecido como
o precursor do espiritismo. O
Swedenborg fruto do imaginário
de Tavares se utiliza das palestras
que seus colegas e as pessoas
que vivem no Bairro ministram
para ajudá-lo a repensar e dar a
cabo de sua análise geométrica
do mundo. Suas reflexões sobre
memória, sedução, desejo, morte
e dezenas de outros temas são
agudas observações sobre a
vida, sempre de uma perspectiva
matemática e lógica, escritas no
tom conhecidamente divertido
do autor.
o senhor
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e as investigações
geométricas
SWEDENBORG
e as investigações
geométricas
www.casadapalavra.com.br
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O senhor Swedenborg
e as investigações geométricas
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O senhor Swedenborg acabara de sair da sala onde o
senhor Brecht costumava contar as suas histórias (tempo
que o senhor Swedenborg aproveitava para as suas investigações sobre astronomia), e dirigia-se agora, a passo
rápido para não chegar atrasado, a mais uma conferência
do senhor Eliot. Conferências essas em que o senhor Swedenborg aproveitava para se concentrar mentalmente nas
suas investigações geométricas.
Cruzou-se nessa altura com o senhor Calvino, que levava
uma barra de ferro paralela ao solo. O esforço que o senhor
Calvino fazia para que a barra se mantivesse paralela ao
solo era evidente, mas a elegância no modo de andar, nos
gestos e na fala nunca era abandonada.
O senhor Calvino cumprimentou o senhor Swedenborg,
mas este ia pensando em outra coisa.
O senhor Swedenborg não faltava a uma única palestra
do senhor Eliot. Os espectadores, de resto, não eram muitos. Os habituais senhor Borges, senhor Breton, senhor
Balzac e o senhor Swedenborg. E ainda, por vezes, e de
saída, o senhor Warhol. E poucos mais.
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Depois dos agradecimentos, o senhor Eliot começou a
sua conferência intitulada:
Explicação de um verso de Sylvia Plath – Não sou ninguém; não
tenho nada a ver com explosões
Não se trata aqui de um assunto... – começou o senhor Eliot.
O senhor Swedenborg ainda escutou metade do título da
conferência, mas de imediato a sua cabeça retomou o ponto
exato onde tinha ficado nas suas investigações geométricas;
investigações que se encontravam suspensas, na sua própria
cabeça, desde a anterior conferência do senhor Eliot.
Com os olhos completamente fixos e que pareciam atentos à conferência do senhor Eliot, a que assistia, o senhor
Swedenborg avançava nos seus raciocínios interiores.
E, mais uma vez, as investigações geométricas do senhor
Swedenborg só terminariam com o sobressalto provocado
pelos aplausos no final da conferência do senhor Eliot.
Até lá, enquanto durasse a conferência, e tendo esta como
uma música de fundo, o senhor Swedenborg investigaria
por conta própria.
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Sobre o ofício de um escritor
1. A escrita não tem um percurso uniforme
2. Escrever uma linha no espaço...
3. ...não é escrever
4. O ponto é o início de um livro: surge antes da primeira
letra da primeira frase
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Sedução
1. O que é a sedução?
2. Um ponto a caminhar à frente de um quadrado. É
isto a sedução
3. O que é ser seduzido?
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4. Os ângulos retos ganham formas curvas. É isto ser
seduzido
5. O que é ser seduzido?
6. Ser seduzido é perder a forma original
7. Ser seduzido é bom ou é mau?
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8. Ser seduzido é perder a forma original e ganhar a
forma do sedutor
9. É bom ou é mau?
10. Ser seduzido é perder a forma original e ganhar a
forma geral do sedutor
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Desejo
1. Todos os ângulos são desejo
2. É possível fechar o desejo
3. Mas o desejo apenas se fecha temporariamente. O
desejo, com o tempo, reabre
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4. Dois ângulos são dois desejos
5. Para fechar dois desejos é necessário uma linha maior
(é necessário mais força para travar)
6. Mas o desejo apenas se fecha temporariamente. O
desejo, com o tempo, reabre
7. Três ângulos são três desejos
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8. Fechar, de novo, o desejo com uma linha
9. Mas o desejo apenas se fecha temporariamente. O
desejo, com o tempo, reabre
10. Quatro ângulos são quatro desejos
11. Fechar, mais uma vez, o desejo com uma linha
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12. Mas o desejo apenas se fecha temporariamente. O
desejo, com o tempo, reabre
13. Cinco ângulos são cinco desejos
14. A vida é: contínua abertura e fechamento de desejos
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Biografia
1. Como fazer biografias?
2. Contar número de desejos fechados
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3. A biografia do viajante, do experimentador
4. E a biografia do sábio
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Depressão
1. Não há nada a fazer
2. Mas você pode fazer algo
3. 1, 2, 3, 4, 5, 6: seis possibilidades
4. Você pode aumentar as possibilidades
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5. Aumentar as possibilidades
6. Aumentar as possibilidades
7. Mas há um limite: depois de fazer tudo verá que não
há nada a fazer
8. Nada a fazer
9. Nada a fazer.
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SWEDENBORG - Casa da Palavra