CARTA PÚBLICA - Mais um massacre de indígenas
Sex, 18 de Novembro de 2011 19:14
Coordenação Nacional da CPT divulga Carta Pública em solidariedade aos povos indígenas e
aos agentes do CIMI no Mato Grosso do Sul, e repudiando, mais uma vez, a matança de
membros de comunidades tradicionais em nosso país. Confira a Carta na íntegra:
Na manhã desta sexta-feira, 18 de novembro, ocorreu um massacre na comunidade
Kaiowá Guarani do acampamento Tekoha Guaviry, município de Amambaí, no Mato Grosso do
Sul, atacado por 42 pistoleiros fortemente armados. Segundo relatos de indígenas foi morto o
cacique Nísio Gomes, de 59 anos, e uma mulher e uma criança. Ainda segundo os relatos
foram sequestradas outras pessoas e há indígenas feridos. Os agentes do Conselho
Indigenista Missionário, CIMI, foram orientados a não saírem de seus locais de trabalho, por
estarem ameaçados.
Diante disto, a Coordenação Nacional da CPT, comovida profundamente, vem a público para
denunciar o descaso com que são tratados os povos indígenas, as comunidades quilombolas e
outras comunidades tradicionais em nosso Brasil. Por serem grupos humanos que não se
submetem aos ditames das leis do mercado e da economia capitalista, são tratados como
empecilhos ao “desenvolvimento e progresso” e por isso devem ser removidos a qualquer
custo. Quando se levantam para exigir os direitos que a Constituição Federal lhes reconheceu
são rechaçados violentamente. Aos interesses econômicos do capital são subordinados os
direitos dos mais pobres. Diante desses interesses, os poderes da República se curvam e os
reverenciam. Não é o que acontece com a construção da Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará,
e de diversas outras no rio Teles Pires, e Tapajós que afetam áreas indígenas? Não é o que
acontece quando o poder judiciário emite liminares e julga procedentes situações nas quais os
povos indígenas deviam antes ser ouvidos e consultados, como manda a Constituição e
Convênios internacionais assinados pelo Brasil? Não é o que acontece no Legislativo que se
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subordina aos ditames do agronegócio?
A triste situação em que vivem os Guarani Kaiowá vem se estendendo de longa data. Os
participantes do III Congresso da CPT, realizado em Montes Claros (MG), em maio do ano
passado, depois de ouvir os relatos de alguns indígenas presentes emitiram uma nota em que
diziam: “A realidade das comunidades indígenas do Mato Grosso do Sul é das mais cruéis e
violentas de nosso país, e merece a mais forte repulsa. Foram espoliadas de suas terras e hoje
vivem espremidas em minúsculas aldeias que não lhes possibilita as mais elementares
condições de sobrevivência, quando não são empurradas para acampamentos às beiras das
estradas, sempre perto de uma terra tradicional, sujeitas às intempéries, à fome, à sede... Um
povo auto-suficiente, de uma riqueza cultural ímpar, é tratado como marginal, como escória da
sociedade, mal visto pelo conjunto da sociedade sul-matogrossense. Uma realidade que clama
aos céus”.
O ocorrido nesta manhã confirma e corrobora o que foi denunciado.
A Funai, que tem com missão promover e defender os direitos indígenas e lhes garantir as
condições de sobrevivência tanto física, quanto cultural e espiritual, acaba tendo uma função
mais que marginal, quando também não se torna subserviente aos interesses hegemônicos do
capital.
A quem nega o direito dos mais fracos reafirmamos o que disse nosso III Congresso,
emprestando as palavras do profeta Miquéias: “Escutem, líderes e autoridades do povo!
Vocês que deviam praticar a justiça e, no entanto, odeiam o bem e amam o mal. Vocês
tiram a pele do meu povo e arrancam a carne dos seus ossos. Vocês devoram o meu
povo: arrancam a pele, quebram os ossos e cortam a carne em pedaços, como se faz
com a carne que vai ser cozida
”. (Miq 3,1-3)
Aos nossos irmãos Kaiowá Guarani, aos agentes do CIMI, a Coordenação da CPT quer
manifestar sua profunda solidariedade e apoio. A causa de vocês é nossa causa, a luta de
vocês é nossa luta. Com vocês compartilhamos as dores, mas, sobretudo, a esperança de que
um dia a justiça vai brilhar.
Goiânia, 18 de novembro de 2011.
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