1 ESTUDO SOBRE BIOCERÂMICAS COM APLICAÇÕES OFTALMOLÓGICAS Zurba, N.K.(1); Fredel, M.C.(1); Fernandes, M.H.V.(2); Barra, G.M.O.(1) Avenida Marcolino Martins Cabral, no 3472, Passagem. CEP: 88705-004. Tubarão, Santa Catarina. E-mail: [email protected]. (1) Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil (2) Universidade de Aveiro, Portugal RESUMO A aplicação de hidroxiapatita, HA, na área oftalmológica pode ser verificada em produtos destinados ao suporte de intervenções cirúrgicas e em próteses intraoculares de anoftalmos. Considerando essa aplicação, foi relacionada a biocompatibilidade e biofuncionalidade de algumas superfícies biocerâmicas com o meio biológico, bem como o design envolvido. A sistematização desse conhecimento pode contribuir para o desenvolvimento de novos produtos oftalmológicos em HA. Palavras-chave: prótese, hidroxiapatita, oftalmologia, intra-ocular. INTRODUÇÃO A aplicação de hidroxiapatita, HA, na área oftalmológica pode ser verificada em produtos destinados ao suporte de intervenções cirúrgicas e em próteses intraoculares de anoftalmos. O presente artigo busca um aprofundamento sobre acessibilidade visual com ênfase nessa aplicação, em continuidade à Dissertação de Mestrado em Ciência e Engenharia de Materiais (1) . As biocerâmicas, ao possibilitarem um tratamento mais efetivo no corpo do indivíduo, servem também de base científica como um “Material de Acessibilidade” (2) . A acessibilidade visual é assunto preocupante para um mundo onde existe cerca de 38 milhões de cegos, definindo a cegueira – a mais grave deficiência visual - como a incapacidade de contar dedos a uma distância de 3 metros. Com visão subnormal, a população mundial sobe para 110 milhões de pessoas, cuja acuidade visual é inferior a 0,3 (6/18). A Organização Mundial de Saúde (3) alerta e propõe a redução da cegueira evitável a menos de 0,5%, pois se não forem tomadas medidas efetivas e sistemáticas, o número de cegos no mundo deverá estar duplicado no ano de 2020, gerando uma degradação social. 2 Devido a restrições sócio-econômicas, países em desenvolvimento apresentam taxas de cegueira 10 a 40 vezes mais elevadas que países industrializados, onde a causa está diretamente relacionada com o envelhecimento da população. No Brasil, são cerca de 140 mil cegos e 16.644.842 pessoas com incapacidade ou alguma grande dificuldade de enxergar (4), uma realidade que exige tratamento. Neste contexto, o presente artigo tem por objetivo conhecer algumas características de biocerâmicas com aplicações oftalmológicas, visando a utilização da HA no design de novos produtos para acessibilidade visual. METODOLOGIA A metodologia consistiu em estudos realizados na vigência do Doutorado em Ciência e Engenharia de Materiais, notadamente pela disciplina de Biomateriais ministrada no trimestre 2004-3, junto ao Programa de Pós-graduação da UFSC. A revisão bibliográfica concentrou-se em implantes de anoftalmos em hidroxiapatita. O aprofundamento sobre aplicação de hidroxiapatita na área oftalmológica ocorreu com a participação em evento no Congresso Materiais 2005 (5), realizado em Aveiro, Portugal. Na apresentação, foi abordada a confecção e mobilidade dos implantes biocerâmicos em HA (Figura 1). Figura 1 – Mobilidade de implantes com biocerâmicas (5) . 3 Técnicas cirúrgicas de implante de HA e seus respectivos resultados tem por base o estudo in vivo (6) realizado com 43 pacientes. Foram divididos em 4 grupos, segundo as técnicas cirúrgicas empregadas (enucleação, evisceração com e sem conservação corneal, e em cavidades antigas), e realizado um acompanhamento pós-operatório entre 7 meses e 2 anos. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E DISCUSSÕES Histórico de aplicação de produtos oftalmológicos O homem em suas primeiras manifestações artísticas dava pouca importância à reprodução do órgão visual, o que ficou evidenciado nas pinturas rupestres encontradas nas cavernas européias de Altamira e Lascaux. A história comprova que o interesse pela reprodução dos olhos cresceu paralelamente com o desenvolvimento das artes plásticas. Os antigos egípcios, com a preocupação de embelezar suas estátuas, confeccionavam olhos artificiais em ouro e pedras preciosas, o que provavelmente suscitou a experimentação no homem. A própria arquitetura egípcia famosa pelas Pirâmides e túmulos dos faraós sofreu forte influência pela feição humana e pelos olhos, a exemplo do Templo de Luxor e esculturas femininas. Ambroise-Paré (1510-1590) idealizou um aro metálico que contornava a cabeça terminando em uma peça oval convexa que se adaptava à região orbital e pintada, simulava a região óculo-palpebral. As primeiras próteses cavitárias eram muito rudimentares causando pressão no fundo da cavidade anoftálmica com conseqüente edema palpebral, irritação, infecção e complicações advindas do mau posicionamento das pálpebras. Em 1579, o vidro foi utilizado pela primeira vez para confeccionar próteses, proporcionando boa tolerância a este material. A Alemanha, desde 1835, foi o centro de produção dos melhores olhos artificiais. Ludwig Muller-Uri nesta época foi o primeiro a fabricar um olho artificial para um ser humano a pedido de um médico da cidade de Meiningem que relacionou sua habilidade em confeccionar olhos de boneca. O resultado estético foi tão surpreendente que este trabalho altamente especializado, passou a ser uma 4 tradição familiar conservada até hoje por seus descendentes que ainda produzem próteses em uma clínica de protéticos na cidade de Weesbaden. Para a melhora da cosmética da cavidade anoftálmica, a primeira introdução de um implante intra-orbitário, de vidro, com o objetivo de aumentar o volume da cavidade foi descrita em 1885, por Mulles (7) . As taxas de extrusão eram extremamente altas, chegando a 93%. Relata-se que a partir da II Guerra Mundial a resina acrílica, material utilizado em próteses odontológicas, começou a substituir o cristal na confecção de olhos artificiais. Nesta época houve grande demanda devido à legião de mutilados provenientes do conflito que necessitavam de recuperação estética. O material utilizado para a confecção dos implantes foi sendo modificado, até chegar-se aos implantes bioreativos porosos. O aprimoramento da técnica de confecção de próteses oculares contribui para a auto-estima dos indivíduos que delas necessitam (8) , em vários e complexos aspectos que a perda da visão e a mutilação do órgão implicam. Com o objetivo de melhorar a mobilidade, Cutler (9) propôs em 1947 a fixação de um pino, em um segundo tempo operatório, ao implante intra-orbitário já presente, sobre o qual se encaixa a prótese. O polietileno poroso utilizado nessas próteses recebeu a aprovação do FDA (Food & Drug Administration) para sua utilização em cirurgia reconstrutiva em 1985, mas é utilizado desde 1947. Os implantes de hidroxiapatita começaram a serem utilizados no período compreendido entre 1983 e 1985, quando o Dr. Arthur Perry, da Califórnia, Estados Unidos, concluiu com bons resultados os primeiros experimentos em animais. Desde 1985 a 1989, testou em 80 pacientes e o novo implante foi aprovado pelo FDA, sendo permitida a utilização da HA como implante orbitário em todo o território americano a partir de agosto de 1989. Em 1949 iniciaram os implantes de Lentes Intra-Oculares (LIOs) de catarata e vêm sendo aperfeiçoados através dos anos em biopolímeros. Desde a aprovação da LIO multifocal progressiva, em 1997, que proporciona uma visão para longe e perto, tem sido estudada a possibilidade do paciente enxergar sem uso de óculos. 5 Biocerâmicas ou biopolímeros com aplicações oftalmológicas? Como demonstram os antecedentes históricos, os biopolímeros tem se manifestado de forma crescente na constituição de produtos oftálmicos em concorrência a biocerâmicas. Em geral, apresentam como propriedades macroscópicas flexibilidade, caráter hidrofílico para maior permeabilidade de oxigênio e transparência. Porém, costumam apresentar algumas desvantagens, como opacificação, bioadesão de bactérias e degradação (10) . Alguns produtos oftalmológicos, tais como lentes de contato dióptricas rígidas, hidrofílicas ou coloridas são constituídas em PMMA e outros biopolímeros. Quando rígidas, as lentes podem causar transtornos endoteliais (11) . Para que sejam filtrantes de radiação UV, devem apresentar em sua composição substâncias do grupo das bezofenonas, que barram a passagem dos raios UV mesmo quando incolor (12). Servindo como cristalino artificial, as LIOs de catarata são constituídas por biopolímeros como o PMMA, silicone, hidrogel e acrysoft, que ao longo do uso podem perder sua capacidade de transmitância, tornando-se opacas. Devido à fragilidade e dureza, o uso de biocerâmicas em LIOs de catarata não é recomendado, por causar cortes e injúrias nos tecidos moles. A aplicação de biocerâmicas na área oftalmológica assume, de fato, maior aplicação na confecção de próteses e implantes cavitários. Sua função é preencher a cavidade orbital e melhorar a aparência do paciente, com uso intra-ocular em implantes esféricos ou pinos. Quando o paciente tem seu olho eviscerado ou enucleado devido a causas como trauma ou complicações cirúrgicas, utiliza-se prótese intra-ocular de anoftalmo, como ilustra a Figura 2. Figura 2 – Prótese externa de anoftalmo conjugada à aplicação de biocerâmicas porosas. 6 As próteses de anoftalmos têm sido desenvolvidas artesanalmente e de forma manual por protéticos. Esse procedimento vem sendo realizado sem grandes critérios de padrão de cor e forma. Segundo a American Society of Ocularists, partese de uma análise visual do aspecto do olho saudável do paciente, buscando copiar sua aparência através do espelhamento de características na prótese a ser confeccionada (Figura 3). O uso de novas tecnologias, como a análise de imagem, pode contribuir para o melhoramento estético das próteses. Utiliza-se, também, embutir um botão em um disco de alumínio, que será pintado, polido e deve resultar em uma prótese a ser sobreposta sobre a esclera branca. Figura 3 – Processo manual de fabricação de prótese a partir de um botão. O uso de duas peças magnéticas em próteses oculares foi verificado como alternativa de uso e processamento, conjugando biomateriais metálicos, conforme ilustra a Figura 4. Além de próteses magnéticas, utilizam-se pinos intra-oculares para fixação, embora comumente apresentem complicações. Foram descritas taxas de 37% de extrusão com pinos em titânio e 27% de extrusão com pinos combinados de titânio e hidroxiapatita (13) e (14) . As altas taxas de extrusão devem-se ao fato de que existem diferentes forças de atrito entre os materiais: entre o implante intra-orbitário e o pino, e entre o pino e a prótese externa, favorecendo a extrusão deste pino (15). Figura 4 - Processo de fabricação de próteses magnéticas. 7 Implantes porosos de anoftalmos O material utilizado para a confecção dos implantes foi sendo modificado, até chegar-se aos implantes bioreativos. Em geral, os implantes possuem microporos que favorecem a proliferação vascular, aumentando a mobilidade e diminuindo os riscos de infecção, de migração e de extrusão. As próteses de anoftalmos representam um importante campo de aplicação de biocerâmicas porosas, utilizadas isoladas ou conjugadas a outros biomateriais, como metais e polímeros. Implantes porosos de anoftalmos totalmente integrados são aqueles que combinam biocompatibilidade através da integração do tecido orbitário fibrovascular e mobilidade por fixação dos músculos extra-oculares. A vascularização contribui para fixar o implante nos tecidos orbitários, fazendo com o que o risco de extrusão praticamente desapareça. Posteriormente, quando o implante já está vascularizado, ocorre o acoplamento da prótese externa. A presença de tecido fibrovascular aumenta a resistência à infecção e, se esta ocorrer, pode ser tratada com antibióticos, sem necessidade de recorrer à extração do implante. Os principais biomateriais pesquisados em implantes porosos foram: HA, polietileno e alumina. Hidroxiapatita A prótese intra-ocular de hidroxiapatita (HA) é um implante que pode ser composto por HA Coralina natural. É utilizada para restaurar o volume da cavidade do orbital que foi cirurgicamente removido, e pode ser produzida em diversos diâmetros (16) , conforme necessidade do paciente (Figura 5). Historicamente, o uso de implantes oculares sintéticos não-porosos tem avançado em complicações como migração, infecção, mobilidade e estética. A HA foi utilizada previamente em cirurgia ortopédica e maxilofacial e se mostrou biocompatível, não-tóxica e não-alergênica. Para a elaboração da HA porosa coralina são usados corais da família porites, de rápida auto-regeneração, e são extraídos aqueles que ficam soltos no arrecife depois de se romperem por efeito dos ventos. A coleta deve ser feita por pessoal especializado em Oceanologia, segundo normas de sustentabilidade. O processo de manufatura permite controlar o diâmetro do poro, embora no caso da HA o diâmetro do poro dependa da espécie de coral do qual deriva. 8 Figura 5 – Orbitais com biocerâmica hidroxiapatita (16) . Implantes de Hidroxiapatita Porosa Coralina HAP-200 são utilizados em forma esférica com diâmetros de 18, 19, 20 e 21 mm segundo o tamanho da cavidade a tratar (6) . Este produto apresenta uma morfologia porosa tridimensionalmente interconectada com um diâmetro médio de poros entre 250-500 µm, uma composição molar Ca/P cerca de 1,66 e nos estudos pré-clínicos tem demonstrado ser osteocondutor e não reabsorvível. Implantes de anoftalmos foram desenvolvidos com HA em estudo (17) , obtendo densidade teórica de 3,17g/cc, densidade aparente de 0,61g/cc e peso total de 2g. O fator de resistência à compressão medido esteve na ordem de 5 a10 MPa. A hidroxiapatita, HA, Ca10(PO4)6(OH)2, apresenta excelente biocompatibilidade por não provocar resposta inflamatória crônica e/ou reações tóxicas com o meio (18) . A obtenção de HAp pelo método de neutralização pode ser desenvolvida utilizando ácido ortofosfórico H3PO4 (0,3M) e hidróxido de cálcio Ca(OH)2 (0,5M), sob agitação constante, mantendo pH=7, a temperatura ambiente e a 70ºC. A suspensão foi mantida em digestão por 24 horas na temperatura em questão, filtrada, lavada, seca e calcinada a 800 e 1000ºC, obtendo-se um pó fino. Após a obtenção da HA particulada, esta pode ser conformada e sinterizada como produto. Como resultados de implantes de HA realizados, a evolução de sinais e sintomas clínicos pós-operatórios e de longo prazo foram satisfatórios em 93% dos casos; não se encontraram respostas adversas ou sintomas de rejeição ao biomaterial de implante (6) . Os estudos demonstraram uma integração fibrovascular em 100% dos casos analisados. Foi encontrada uma conservação de sulco orbitário superior a 88,4% e uma mobilidade em 83,6%, dos casos, considerados como bons 9 parâmetros estabelecidos pelo protocolo. A tolerância ao implante foi considerada como boa em 95,3% dos pacientes; apresentaram 2 extrusões. A Hidroxiapatita Porosa Coralina HAP-200 apresentou bom resultado estético e biocompatibilidade. Outros estudos histopatológicos (19) evidenciaram a formação de tecido fibrovascular em um implante orbitário de hidroxiapatita 4 semanas após sua implantação. A reação inflamatória que se procede é leve na maioria dos casos. Devido à sua superfície rugosa, quando se coloca na cavidade anoftálmica, se requer um recobrimento para não injuriar a conjuntiva. Para isso, foram desenvolvidos implantes de diferentes formas e tamanhos que vem preparados com uma malha de Vicryl ou com uma cobertura de PTFEe (politetrafluoroetileno expandido de grandes poros). Polietileno poroso X hidroxiapatita O polietileno poroso de alta densidade ou Medpor é um material sintético criado por polimerização de partículas de etileno sob alta pressão e temperatura. Os implantes esféricos empregados para reabilitar a cavidade anoftálmica têm um diâmetro de poro entre 100 e 500 µm de diâmetro (habitualmente 200). Aproximadamente 85% dos poros são maiores que 150 µm. A estrutura do poro é multidirecional devido à natureza do processo de síntese. Uma vantagem teórica sobre a hidroxiapatita deve-se à sua textura que é mais lisa e suave, não necessitando de uma cobertura para não injuriar o tecido conjuntivo adjacente (19) . Além disso, os músculos extra-oculares podem ser suturados diretamente ao implante, o que simplifica e encurta a intervenção. O acoplamento da prótese externa pode ser feito com um pino de titânio. A vascularização do Medpor começa mais tardiamente que a HA, entre a 5ª e a 12ª semana. Questiona-se que não há diferenças significativas no crescimento vascular e reações inflamatórias entre HA e o polietileno poroso (19) . Aponta-se para a necessidade de pesquisar alternativas de tratamento de cavidades anoftálmicas, pois o alto custo da HA natural e do polietileno faz com que não sejam materiais rotineiramente usados. Sugeriu-se, assim, o uso de HA sintética a partir de fosfato de cálcio combinado com fosfato de sódio (20). 10 Alumina Outro implante de orbital biocerâmico feito de biomaterial poroso, resistente, frágil pode ser constituído de alumina (Al2O3), comercialmente conhecido como POREX (16) (Figura 6). Apresenta como característica poros altamente uniformes e interconectados. O sistema poroso contribui para o aumento fibrovascular que mantém o implante migrado e seguro no local aplicado por músculos extra-oculares que ajudam a impedir sua mobilidade. Figura 6 – Orbital com biocerâmica alumina (16). Este implante é feito de um material poroso sintético (Al2O3) com 99% de pureza. O diâmetro médio de seus poros é de 500 µm. Pode-se utilizar sem cobertura, embora nos casos de enucleação seja recomendável recobrir com um material autógeno ou material sintético, como PTFE ou o Vicryl. A vascularização completa do implante ocorre em torno de 6 meses após sua colocação. No ato médico, as próteses de alumina foram as que apresentaram maior fragmentação durante a colocação, provavelmente devido à dificuldade de corte (19). CONSIDERAÇÕES FINAIS Pelo presente estudo pode-se concluir que os biopolímeros, tais como PMMA, hidrogel, silicone e acrysoft, vêm gradativamente ocupando o campo de aplicação de biocerâmicas com aplicações oftalmológicas. Isso ocorre devido à leveza, flexibilidade e propriedades ópticas dos biopolímeros, amplamente utilizados em lentes de contato e em LIOS de catarata. Entretanto, os biopolímeros podem apresentar problemas de bioadesão de bactérias, degradação e opacificação. As biocerâmicas, por sua vez, podem estar relacionadas com a causa de cortes e injúrias oftálmicas na córnea e tecidos moles devido à sua dureza e fragilidade. 11 Em contrapartida, apresentam excelente biocompatibilidade, porosidade que facilita o crescimento fibrovascular, justificando sua aplicação na constituição de próteses de anoftalmos e preenchimento cavitário. A Hidroxiapatita Porosa Coralina HAP-200 mostrou-se apropriada para a restauração facial em implantes de anoftalmos, apresentando elevada biocompatibilidade, boa formação de rede fibrovascular, boa mobilidade das próteses e resultados estéticos. Pelo presente estudo conclui-se que biocerâmicas como hidroxiapatita e alumina apresentam características que permitem suportar o design de produtos e dispositivos na área oftalmológica. E que o uso de biocerâmicas pesquisado no tratamento de enfermidades oftálmicas não previne diretamente a cegueira através de sua aplicação em implantes de anoftalmos, mas ajuda a preservar a binocularidade do olho saudável, o que pode contribuir de forma indireta para a acessibilidade visual. Biocerâmicas constituem-se, portanto, em Materiais de Acessibilidade quando aplicados na área oftalmológica. REFERÊNCIAS 1. ZURBA, N.K. Metodologia do Processo de Design e de Classificação de Pisos para Acessibilidade aplicada em Porcelanato. Dissertação de Mestrado em Ciência e Engenharia de Materiais. UFSC: Florianópolis, 2003. 106p. 2. ZURBA, NK; DISCHINGER, M; ALARCON,O.E. Estudo de Caracterização da Cerâmica como Material de Acessibilidade a partir da Propriedades Formais. Anais do XVI Congresso Brasileiro de Ciência e Engenharia de Materiais. CBECIMAT: Porto Alegre, 2004. 3. OMS – Organização Mundial de Saúde. Estrategias para la Prevención de la Cegueira en los Programas Nacionales. 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