Do virtual ao realizado no virtual/presencial: pesquisas sobre o Curso de Artes Visuais Licenciatura em EAD/UFES. Moema Martins Rebouças-UFES RESUMO: Apresentar pesquisas realizadas para acompanhar o Curso de Artes Visuais Licenciatura em EAD/UFES que envolveram: as concepções de professor que nortearam/embasaram o currículo, análise dos processos de aprendizagem disponibilizados no Ambiente Virtual (AVA), as mediações nesse ambiente na oferta de uma das disciplinas e o acompanhamento do professor da educação básica aluno desse curso. Palavras chaves: formação de professor, educação à distância, pesquisa na formação. A Com a oferta em 2009 do Curso de Artes Visuais Licenciatura na modalidade semipresencial pela Universidade Federal do Espírito Santo UFES em 22 municípios a falta de professores de Arte para o interior do Estado do Espírito Santo começa a ser solucionada. Junto à Universidade Aberta do Brasil-UAB, este curso destinou para o ingresso no primeiro vestibular metade das vagas aos profissionais que já atuavam na educação básica. Tanto por esse fator, como pela compreensão que a oferta nessa modalidade de ensino, principalmente para um curso de Licenciatura em Artes deveria ser acompanhada por avaliações sistemáticas em todo os seus processos é que propomos e coordenamos quatro pesquisas sobre ele1. As pesquisas implicaram desde os estudos do próprio curso: as concepções de professor que nortearam/embasaram o seu currículo, a análise dos processos de aprendizagem disponibilizados no Ambiente Virtual (AVA), como os vídeos tutoriais e as mediações nesse ambiente na oferta de uma das disciplinas. Outra pesquisa que norteou as demais consistiu em acompanhar o processo desse aluno/professor em formação. Elas foram realizadas em tempos concomitantes, com exceção da etapa de uma delas que tinha como objetivo acompanhar o aluno/professor no curso. Esta pesquisa num primeiro movimento envolveu os próprios alunos do curso na investigação e os dados quantitativos coletados possibilitaram um mapeamento da docência de Arte no Espírito Santo. As demais etapas da investigação realizada pelo GEPEL, e as outras três pesquisas desenvolvidas por mestrandas e uma doutoranda 1 Grupo de Pesquisa intitulado GEPEL (Grupo de Pesquisa de Educação e Linguagem-registrado no CNPQ), que possui como interesse investigações que envolvam a docência em Artes. foram qualitativas e com a mesma base teórica metodológica. Assim, iniciaremos por apresentá-la, mesmo que sinteticamente. I. Passos metodológicos das investigações ou buscar junto daqueles que sabem o discurso de que são portadores. A metodologia utilizada nessas pesquisas teve como base os estudos qualitativos de cunho sociossemiótico, o que possibilitou a análise das narrativas como significantes das diversas produções textuais dos sujeitos. Considerou- também o apoio de Bakthin na análise das interações verbais, a partir do conceito de dialogismo, entendido como a relação que se dá entre os discursos e, portanto, entre o eu e o outro, e também no conceito de polifonia considerando a pluralidade de vozes que coexistem e interagem nas práticas discursivas daqueles que habitam um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). I.1. Movimentos investigativos: Como enunciado acima, as quatro pesquisas sobre o curso envolveram diferentes movimentos investigativos, no quadro abaixo é possível visualizar esses movimentos que o fazer investigativo percorreu, bem como os pesquisadores envolvidos. PESQUISAS SOBRE O CURSO ARTES VISUAIS LICENCIATURA-EAD Moema M. Rebouças(coord). Pesquisas objetivos pesquisadores Arte no Espírito Santo: de professores a alunos-Cnpq /UAB.(1) A formação do professor de Arte na modalidade Educação a Distância- UAB/UFES Vídeos tutoriais na educação a distância: as presenças do professor realizar um Mapeamento e Cartografia das Escolas de Educação Básica do Espírito Santo. investigar as concepções de professor de Arte que norteiam/embasam o Curso de Artes Visuais. contribuir para análises e criações de materiais que tenham esta finalidade e compreender se dá a presença do professor nos vídeos tutorias produzidos no curso. compreender o contexto de aprendizagem da disciplina de Cerâmica a partir das interações entre os alunos, professores e tutores presentes no Ambiente Virtual de Aprendizagem. acompanhar o professor que torna-se aluno do curso de Artes Visuais no processo dessa formação, para conhecer como se dá a articulação dos saberes advindos de sua prática construída no cotidiano com outros saberes da academia. 450 alunos do curso. Cerâmica: interação produção de sentido educação a distância. e na Arte no Espírito Santo: de professores a alunosCnpq/UAB.(2) Vera de Oliveira Simões. Luciana Gama Soraya Mitsy Hamasaki. Flávia Mayer Souza, Juliana Contti Castro, Larissa Fabricio Zanin, Letícia Nassar Mesquita, Maria Nazareth Pirola, Myriam Pestana Oliveira. II. Mapeamento e Cartografia das Escolas de Educação Básica do Espírito Santo. Mapear o perfil dos docentes de Arte em nosso estado para conhecer sua escolaridade, sua experiência, os fatores extras e intracurriculares que influenciam em seu fazer docente. Foram envolvidos mais de 450 estudantes, dos 22 Pólos situados nos municípios do curso de Artes Plásticas. A investigação fez parte da proposta da disciplina Estágio I e teve como objetivo central conhecer as escolas de Educação Básica do estado e os professores que ministram a disciplina Arte e/ou Educação Artística. Foi feito um mapeamento das instituições de ensino por município e realizada uma cartografia das mesmas a partir do olhar investigativo do aluno do curso. A coleta de dados ocorreu com os seguintes instrumentos de pesquisa: observação, incluindo fotografias e/ou filmagens, um questionário com 16 (dezesseis) perguntas e registros em diário de campo. A disponibilidade e o empenho de todos possibilitou o envolvimento de todos os alunos do curso totalizando, 22 municípios pesquisados2. Ao todo foram entrevistados 612 professores, com idade entre 26 e 40 anos, sendo mais de 90% do sexo feminino. Como os dados são muito extensos, destacaremos aqueles que para este artigo consideramos mais relevantes. Quando a pergunta diz respeito ao regime de trabalho destes professores, cerca de 40% diz ser profissional efetivo e 57% tem vínculo de contratação temporária nos municípios em que atuam. Ou seja, confirmou-se a complementação de carga horária dos docentes com a disciplina de Artes. Esta é uma prática que ainda persiste em nosso estado, entretanto, no final de 2012 quando os primeiros alunos do curso formaram, puderam se submeter ao concurso de efetivos pois a SEDU. Dos 284 alunos que colaram grau, e entre estes os que se submeteram aos concursos, a aprovação foi de 27 em 9 municípios que lançaram editais para efetivos, 56 aprovados no concurso da SEDU e no estado do Rio de Janeiro, e dois com aprovação no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFES, o que totalizam 136 aprovações. 2 Afonso Cláudio, Alegre, Aracruz, Bom Jesus do Norte, Cachoeiro de Itapemirim, Colatina, Conceição da Barra, Domingos Martins, Ecoporanga, Guaçuí, Itapemirim, Iúna, Linhares, Mantenópolis, Piúma, Pinheiros, Santa Leopoldina, Santa Teresa, São Mateus, Vargem Alta, Venda Nova do Imigrante e Vila Velha. A inserção desses alunos na escola, nos faz acreditar e a valorizar o esforço realizado por todos que investiram e acreditaram nessa modalidade, pois é com essa formação que eles ocupam atualmente as salas de aula das escolas situadas nos municípios do interior do nosso estado. III. A formação do professor de Arte na modalidade Educação a DistânciaUAB/UFES. O objetivo foi de identificar: as concepções de professor de Arte que norteiam/embasam o Curso de Artes Visuais, modalidade semipresencial, e como elas se manifestam no currículo do curso, nos documentos oficiais que o normalizam, nos discursos e nas práticas propostas pelos professores/formadores. Para proceder à análise dos discursos, a doutoranda Vera utilizou os fundamentos do teórico Bakhtin o que lhe possibilitou considerar a presença das inúmeras vozes nos diálogos proferidos e em interação nesse ambiente. O que implica que a palavra de um está impregnada pelas do outro, por vozes sociais, conhecimentos de mundo e experiências profissionais que, nesse processo de interação verbal, se tornam, segundo a concepção bakhtiniana, uma produção coletiva de saberes e práticas. Para identificar as concepções de professor de Arte que embasam o Curso de Artes Visuais Licenciatura, foram pesquisados vários documentos oficiais, entre eles, a doutoranda destaca o projeto do curso (2007,p.25-25), no tópico que se refere à estrutura e organização curricular. Nesse, e em outros escritos, identifica-se a concepção de professor pesquisador, própria do profissional docente que atua refletindo sobre a sua prática. Nessa reflexão embasada na aliança entre a teoria e a prática, por meio da pesquisa, vão sendo construídas novas práxis, no intuito de possibilitar aos estudantes condições de aprendizagens, cuja meta é a arte como conhecimento. Assim, como o apoio do referencial bakhtiniano de análise, tendo em vista as interações verbais, a construção dos discursos e dos saberes construídos coletivamente em ambiente virtual, Vera apresenta as considerações que a análise das disciplinas ( uma de cada eixo em que são distribuídas as 44 disciplinas no currículo) Estágio I, Historia da Arte III e Vídeo permitiram construir. Comenta que a disciplina Estágio I apresenta, em sua trajetória, uma proposta de transformação da prática docente por meio da pesquisa, por envolver os alunos no mapeamento da docência em Arte do estado. Desde o discurso inicial das professoras, bem como nos discursos e práticas propostos no decorrer da disciplina ela identificou uma concepção de professor de Arte que se aproxima das práticas progressistas em educação. Nelas o professor é caracterizado como reflexivo por refletir sobre a sua prática, para alcançar o “status” de mediador do processo ensino-aprendizagem pautado na interação e no diálogo com os alunos. Assim está na reflexão fundamentada na práxis a possibilidade de um educador se transformar, pois é na vivência e na convivência que ocorre a construção do conhecimento. Tal postura é preconizada pelas teorias educacionais ao tratarem dos requisitos que consideram essenciais nos cursos de formação e no exercício da docência na atualidade. Nos discursos e práticas que conduzem a disciplina História da Arte III, foram identificadas principalmente duas concepções de professor. Estão ali presentificadas a concepção tradicional e a concepção considerada progressista, denominada críticosocial por José Libâneo (1989). Contudo, a concepção predominante apontada por Vera foi a de professor tradicional, cujos métodos se baseiam tanto na exposição verbal como na demonstração dos conteúdos, que são apresentados de forma linear e numa progressão lógica, seguindo a metodologia e as estratégias adotadas pela maioria dos professores que ministram as disciplinas que contemplam a História da Arte no curso presencial da UFES. Simulam então no AVA, a partir de meios como as websconferências o espaço da sala de aula do presencial, em que é o professor que assume o lugar do saber. A concepção progressista ou dialógica identificada está na dialogicidade proposta pela professora por meio de práticas referenciadas em Argan (1992). Tais propostas exigiram dos alunos competência de leitura e compreensão dos conteúdos artísticos e plásticos nas obras estudadas. Essas práticas estão pautadas na contextualização dos fatos, exigindo do sujeito a interação com o contexto estudado, ao mesmo tempo em que lhe dá liberdade de criação e expressão. Quanto às concepções de professor identificadas nos discursos e práticas que conduziram a disciplina Vídeo, desde a apresentação até a sua conclusão, identifica-se a de um professor em busca de parceria. Para a doutoranda está é uma parceria necessária, principalmente por se tratar de uma disciplina de natureza prática que propõe um fazer contextualizado. Para dialogar com ela cita Ferraz e Fusari (1992,p.42) , “A conscientização política ocorre na prática social ampla e concreta do cidadão”. Para tanto, a educação deve assumir “[...] a responsabilidade de dar ao educando o instrumental necessário para que ele exerça uma cidadania consciente, crítica e participante. Isto implica em que o trabalho pedagógico propicie uma crítica ao social, no sentido de transformá-lo”(p.42), para assim cumprir o seu papel de transmitir conhecimento acumulado e em produção pela humanidade. Assim, os documentos que embasam o curso, os discursos dos professores especialistas, dos tutores, dos alunos, ou mesmo dos autores cujas pesquisas serviram de referencia para a condução das disciplinas impregnados de variadas concepções, tecidas a partir dos fios ideológicos que servem de trama às relações sociais. (BAKHTIN, 1979 p.41). Portanto, esses discursos traduzem às concepções de professor de Arte de cada um dos sujeitos que agiu e interagiu no AVA. Eles se colocaram na cena, no processo de construção de um currículo e de práticas “capazes de fomentar uma real transformação social...”, que envolveu muitos “outros” nesse diálogo entre o “eu” e o “outro”, entre muitos “eus” e muitos “outros”, numa constante alternância de vozes. É importante comentar que a nova oferta do curso, já traz as modificações e os ajustes que a avaliação por meio de pesquisas como essa e das participações de todos nesse processo permitiram propor e encaminhar. III. Vídeos tutoriais na educação a distância: as presenças do professor. Com a premissa de que o vídeo é um forte material didático para criar vínculos de aproximação entre professores e alunos em um curso EAD, o objetivo da pesquisa de Luciana foi o de contribuir para análises e criações de materiais que tenham esta finalidade e de compreender como se dá a presença do professor nos vídeos tutorias. Por tratar-se de um tipo de vídeo que possui características específicas tais como: a curta duração; a utilização de planos mais fechados ( devido ao fato de que eles também podem ser vistos em telas pequenas, como celular ou smartphone e que, caso o plano seja muito aberto, não permitirá que os detalhes sejam visualmente assimilados); a informalidade na produção, (eles seguem um estilo homemade, que prioriza a forma caseira de produção, que é mais natural e muitas vezes menos produzida) se difundiu em larga escala na internet. Assim como as demais fontes de informações que cercam o nosso cotidiano, o vídeo tutorial está inserido em um contexto múltiplo, que pode seguir as correntezas que levam à destruição da experiência ou pode ser resgatado em modos de fazer específicos que indiquem outras possibilidades para o seu uso, seja dentro da escola, seja em casa ou na comunidade em que se vive. No curso de Artes Visuais do Ne@ad/UFES este diálogo com o cotidiano é mantido na medida, por exemplo, em que os próprios alunos trazem vídeos que fazem parte do dia-a-dia deles, como reportagens, comerciais de TV, videoclipes e filmes, para compartilhar nos fóruns em links com os demais alunos, professores, tutores. Dentro do AVA na qual faz funcionar o curso de Artes Visuais do Ne@ad, foi verificada diversas citações e presenças do vídeo no processo de aprendizagem do curso: Seguem abaixo alguns trechos retirados de fóruns distribuídos na plataforma e que mostram um pouco da recepção desses vídeos. Aluno A: Senti falta dos vídeos nestas duas últimas unidades. Eles nos ajudaram bastante. Apesar dos livros serem um bom suporte, nos vídeos aprendemos a "por a mão na massa". Tutor A: Sabemos que os vídeos ajudam, mas existem muitos alunos (de diversos polos) que não estão lendo o material impresso (que está super detalhado nas propostas de exercício), esperando o vídeo para "copiar". Sabemos que a maioria trabalha (em mais de 2 turnos até), mas também precisam dedicar um tempo às leituras que são parte fundamental da formação acadêmica (ler, compreender e interpretar). A mestranda aponta que a visualização dos vídeos tutoriais é impulsionada pelo querer desse aluno pois é ele quem busca o assunto desejado e estabelece assim a relação de aprendizagem com o objeto selecionado. Os vídeos tutoriais analisados na pesquisa e que fazem parte do curso não seguem o modelo colaborativo e de inversão dos sujeitos produtores de conteúdo. Eles refletem a tradicional comunicação professor - aluno. As formações ideológicas do saber reproduzem a postura docente verticalizada e tradicional da sala de aula, na qual o professor se posiciona "de pé" em frente aos alunos, que "sentados", ouvem a aula expositiva que se sucede. Entretanto, a fala é feita para um aluno solitário que está do outro lado da tela, em circunstâncias de tempo e espaço distintas do coletivo espaço de uma sala de aula presencial. A partir da análise de sete vídeos tutoriais trabalhados nas disciplinas Cor e Laboratório de Tintas, Desenho I e alguns vídeos produzidos por um dos tutores do curso, Luciana considera nos vídeos: i. simulação da proximidade: nessas produções de vídeo tutorial o professor ou tutor tem a possibilidade “de mandar um pouco de si através do espaço” E se aproximar do aluno no momento da enunciação ( do ato). ii. a simplicidade: são vídeos simples, que seguem as características da produção caseira, estilo homemade, e que comprovam a hipótese inicial, ou seja os vídeos tutoriais utilizados no curso de graduação a distância do curso de Licenciatura em Artes Visuais do Ne@ad da UFES são construídos de maneira que simulem a naturalidade e a proximidade de uma sala de aula presencial, sem ousar ou buscar outras inovações com o vídeo, e sim marcar de forma intensa a presença de um professor em um curso a distância. iii. diretividade: embora a imagem explique melhor que a narração, o uso do pronome de tratamento pessoal no plural, vocês, foi utilizado por todos os três sujeitos, que ora se referiam ao aluno, particularmente no singular, ora falavam para uma sala de aula inteira. Desse modo, entre o dizer e o dito, obtido por meio de entrevistas e da análise dos vídeos, nas intenções dos professores, obtidas mediante entrevista, a mestranda detecta o desejo de se produzir um material que possibilite ao aluno visualizar e vivenciar uma experiência necessária e inerente à disciplina. Nesses vídeos analisados tem-se a presença de um professor que se aproxima do aluno e possibilita a cada visualização do material a sua presença sempre no momento da ação. Para finalizar, lança algumas reflexões: Como trabalhar o conteúdo no vídeo tutorial de forma que se possibilite a pluralidade de vozes e não a repetição da hierarquia da educação tradicional? IV. Cerâmica: interação e produção de sentido na educação a distância. O objetivo foi de compreender o contexto de aprendizagem da disciplina de Cerâmica a partir das interações entre os alunos, professores e tutores presentes no Ambiente Virtual de Aprendizagem. Para a análise, foram selecionados os fóruns (Fórum Construir Saberes, Fórum Tira Dúvidas e Fórum de Tutores) dessa disciplina e as postagens de alunos dos Pólos de Aracruz e de Santa Tereza. Nas considerações é apontado que o ambiente virtual não deve ser caracterizado de forma autônoma, pois apesar de constatar que os aparatos tecnológicos, como a internet e o computador, entre outros, ressignificam os processos de comunicação delineando modos singulares de produção e consumo de informações, estes suportes (computador, internet) são empregados em função de seu uso social, o que propicia uma nova significação nas interações entre os sujeitos envolvidos nesse processo. No caso da EAD, existe o espaço real, que é o local dos encontros dos alunos nos Pólos; e o espaço virtual, que é o AVA. Conclui que é no ambiente virtual que ocorre a construção de conhecimento dos sujeitos envolvidos nesse processo sem a mediação da relação presencial. Portanto, são as narrativas, ou modos de se manifestar ali como presenças virtuais que atuam nessa construção de conhecimento. É ali que os papéis apesar de definidos (professor/aluno, aluno/tutor), são rearticulados pelas ações desempenhadas pois cada um se manifesta, e nesse fazer se constitui ali. Como exemplo quero destacar um dos tópicos de um fórum analisado o de “Ceramistas do Espírito Santo”. Uma das tutoras da disciplina ao postar o enunciado abaixo assume a posição de professora e provoca o aluno a participar: Ceramistas do Espírito Santo Tutora: Você conhece os artistas que trabalham cerâmica no Espírito Santo? Como é o trabalho dessas pessoas? Suas propostas são realmente "objetos sensíveis", de Arte, ou a técnica faz com que a produção em série dê um tom de artesanato aos trabalhos? Vamos compartilhar as nossas "descobertas"? Este tópico promoveu discussões pertinentes ao conhecimento destes alunos sobre cerâmica, sobre os processos de criação, sobre a história da cerâmica e de alguns ceramistas, dentre outros temas. Responderam a esta postagem citando exemplos de ceramistas do seu município, como o exemplo de Dona Antonia Alves dos Santos, uma senhora, que reside em São Mateus e fabrica peças utilitárias. Essa aluna, ao pesquisar sobre uma ceramista de seu município, a partir de seu contexto, constrói o seu conhecimento e o lança aos demais, correlacionando teoria e prática. Outra aluna em resposta a essa postagem faz uma reflexão sobre a diferença entre objeto artístico e artesanato. Portanto, há competências para que este papel de mediador seja realizado de forma eficaz, pois, tendo o ambiente virtual como elemento mediador deste processo de ensino e aprendizagem, o sujeito que assume o papel de professor deve proporcionar um ambiente rico e diversificado de informações relacionadas ao conteúdo proposto possibilitando a socialização e a troca de informações. Desse modo, o conhecimento se dá de forma colaborativa, descentralizando o papel do professor e rearticulando-o junto a outros sujeitos participantes desse processo. No caso da disciplina Cerâmica há uma provocação e uma intencionalidade para que o aluno investigue o seu entorno, desde a materialidade presente nele, como as pesquisas sobre as argilas em suas regiões o que envolveu a recolha, experiências e categorização delas até a busca por ceramistas em seus municípios. Essa é um ênfase que inter-relaciona vários saberes de distintos sujeitos (os locais, aos regionais, aos nacionais) e possibilita a valorização do próprio contexto em que esses alunos vivem. V. Arte no Espírito Santo: de professores a alunos Essa pesquisa teve como objetivo o acompanhamento do professor que torna-se aluno do curso de Artes Visuais no processo mesmo dessa formação, para adentrar e conhecer como se dá a articulação dos saberes advindos de uma prática construída no cotidiano das salas de aula, em confronto com outros saberes Como processo metodológico para acompanhamento desse aluno/professor realizamos um recorte a partir das disciplinas Estágio II e Trabalho de Graduação I. Com essas disciplinas foi possível conhecer como esse aluno se apropriou dos conteúdos e metodologias da Arte e os relacionou com os significados coletivos compartilhados socialmente. Tomamos assim para estudo os planejamentos e as propostas educativas em projetos específicos de intervenção na escola como de uma oficina inter e transdisciplinar proposta na disciplina Estágio II, e nos projetos que apresentou em Trabalho de Graduação I. Se no estágio foi possível repensar a escola, deslocando-o de seu próprio papel de professor regente e de seu espaço rotineiro de docente no interior de uma sala de aula, para pensar e refletir na escola como um todo. A segunda foi o momento do curso em que após todas as etapas, dos quatro estágios realizados e das práticas de ensino o que incluiu vários deslocamentos, a possibilidade de repensar e articular todos os seus conhecimentos para elaborar uma proposta para a educação da arte que é autoral, como a que consistiu o seu projeto de monografia. Escolhemos alguns dados dessa pesquisa para apresentá-los aqui obtidos a partir do mapeamento dos projetos da disciplina Trabalho de Graduação I. O mapeamento foi realizado a partir de 186 projetos de TG1, pertencentes a professores/alunos de 18 Pólos de Formação 3 .Para a sistematização dos dados, consideramos o objeto da pesquisa, quem são os sujeitos, quais práticas contemplam e os pressupostos teóricos/metodológicos utilizados. 3 Afonso Claudio, Alegre, Aracruz, Bom Jesus, Cachoeiro de Itapemirim, Conceição da Barra, Domingos Martins, Ecoporanga, Linhares, Iúna, Itapemirim, Mantenópolis, Nova Venécia, Pinheiros, São Mateus, Vargem Alta e Nova Venécia. As práticas são as que envolvem os estudos das poéticas e os processos de criação e nelas estão envolvidos artistas e artesãos, portanto, abarcam um contexto exterior à escola, ou ainda ocorrem em seu interior e envolvem as crianças e adolescentes. Elas ainda podem ser divididas em práticas inclusivas, por considerarem e atenderem as políticas de inclusão na escola e as contribuições da arte nesse processo. Em práticas de formação do educador, pois contemplam a formação do docente, e buscam investigar quem é esse professor de arte e como ele se constitui como tal. Finalmente, as práticas da educação da arte, em que estão os projetos que envolvem as metodologias da educação da arte. Os projetos concentram-se em duas grandes áreas, a dos estudos antropológicos/culturais, com 46 projetos e os que incluem a Educação Infantil com 44. Esta escolha se justifica pelo fato de um grande número desses professores/alunos terem desenvolvido a sua docência na educação infantil. Embora o eixo norteador do currículo do curso não seja dos estudos antropológicos (culturais e multiculturais) como a do curso de Artes Visuais Licenciatura ofertado pela UFG, acreditamos que essa ênfase se deve às reflexões sobre as práticas cotidianas e o olhar investigativo ao seu entorno. Tais práticas nortearam várias disciplinas do curso, e também os seminários interdisciplinares que ocorriam a cada oferta de módulo. Eles promoveram e envolveram as comunidades em que estão localizados os Pólos, e estes com as escolas. As provocações durante o curso para que considerassem os estágios como oportunidades de refletir sobre as práticas educativas e as escolas como campo de pesquisa parecem que deram certo, no que tange aos projetos contidos neste mapeamento. Os alunos/professores, ao voltarem para seu entorno, compreenderam que a Arte está imersa na cultura e que, motivados, podem abandonar as regularidades seguras das ações programadas e aventurarem-se em investigações que, ao mesmo tempo que os constituem, constroem conhecimento. O mérito está na adoção da pesquisa como fundamento da configuração dos estágios, e a presença da investigação como opção pedagógica nas disciplinas pertencentes aos demais fundamentos teóricos e metodológicos propostos. Advogamos que somente pela pesquisa é possível ressignificar as práticas e construir conhecimento a respeito das Artes: Como diz uma aluna: A escola por muito tempo foi limitada a ser um ambiente em que os professores transmitiam conhecimentos e os alunos assimilavam. O conhecimento era visto como produto sendo enfatizado, portanto os resultados e não o processo pelo qual o aluno aprenderia. Além disso, não havia nenhuma articulação entre o conhecimento escolar e a vida dos alunos. O mapeamento apresenta uma outra configuração de prática docente com projetos pertencentes a sujeitos inventores, questionadores, que podem propor práticas ressignificadas, pois inclui nelas o mundo enquanto significante. Como aponta Landowski (2009) esse é o sujeito crítico. Se ele foi capaz de discursivizá-las pode ser capaz de praticá-las, essa é a nossa torcida! Referencias ARGAN,G.(1992).Guia de História da Arte. Tradução de M. F. G de Azevedo. Lisboa. Ed.Estampa,p.37. BAKHTIN,M.(1979).Estética da criação verbal. Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes.p.41. FUSARI, M;FERRAZ, M.H.(1992). Arte na Educação Escolar. São Paulo: Cortez. GAMA, L. (2012). Vídeos tutoriais na educação a distância: as presenças do professor. Dissertação ( Mestrado em Educação)- Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória. HAMASAKI,S.M.P.(2012). Cerâmica: interação e produção de sentido na educação a distância. Dissertação ( Mestrado em Educação)- Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória. LANDOWSKI, E. Interacciones arriesgadas. Tradução de Desiderio Blanco. Lima: Universidad de Lima, Fondo Editorial, 2009. LIBÂNEO,J.C.(1989).Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos.8.ed.São Paulo :Loyola. SIMÕES, V.L.O.(2013). A formação do professor de Arte na modalidade Educação a Distância- UAB/UFES. Tese ( Doutorado em Educação)-Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória