Do virtual ao realizado no virtual/presencial: pesquisas sobre o
Curso de Artes Visuais Licenciatura em EAD/UFES.
Moema Martins Rebouças-UFES
RESUMO:
Apresentar pesquisas realizadas para acompanhar o Curso de Artes Visuais Licenciatura em
EAD/UFES que envolveram: as concepções de professor que nortearam/embasaram o
currículo, análise dos processos de aprendizagem disponibilizados no Ambiente Virtual
(AVA), as mediações nesse ambiente na oferta de uma das disciplinas e o acompanhamento
do professor da educação básica aluno desse curso.
Palavras chaves: formação de professor, educação à distância, pesquisa na formação.
A Com a oferta em 2009 do Curso de Artes Visuais Licenciatura na modalidade semipresencial pela Universidade Federal do Espírito Santo UFES em 22 municípios a
falta de professores de Arte para o interior do Estado do Espírito Santo começa a ser
solucionada. Junto à Universidade Aberta do Brasil-UAB, este curso destinou para o
ingresso no primeiro vestibular metade das vagas aos profissionais que já atuavam na
educação básica. Tanto por esse fator, como pela compreensão que a oferta nessa
modalidade de ensino, principalmente para um curso de Licenciatura em Artes
deveria ser acompanhada por avaliações sistemáticas em todo os seus processos é que
propomos e coordenamos quatro pesquisas sobre ele1.
As pesquisas implicaram desde os estudos do próprio curso: as concepções de
professor que nortearam/embasaram o seu currículo, a análise dos processos de
aprendizagem disponibilizados no Ambiente Virtual (AVA), como os vídeos tutoriais
e as mediações nesse ambiente na oferta de uma das disciplinas. Outra pesquisa que
norteou as demais consistiu em acompanhar o processo desse aluno/professor em
formação.
Elas foram realizadas em tempos concomitantes, com exceção da etapa de uma delas
que tinha como objetivo acompanhar o aluno/professor no curso.
Esta pesquisa num primeiro movimento envolveu os próprios alunos do curso na
investigação e os dados quantitativos coletados possibilitaram um mapeamento da
docência de Arte no Espírito Santo. As demais etapas da investigação realizada pelo
GEPEL, e as outras três pesquisas desenvolvidas por mestrandas e uma doutoranda
1
Grupo de Pesquisa intitulado GEPEL (Grupo de Pesquisa de Educação e Linguagem-registrado no
CNPQ), que possui como interesse investigações que envolvam a docência em Artes.
foram qualitativas e com a mesma base teórica metodológica. Assim, iniciaremos por
apresentá-la, mesmo que sinteticamente.
I. Passos metodológicos das investigações ou buscar junto daqueles que sabem o
discurso de que são portadores.
A metodologia utilizada nessas pesquisas teve como base os estudos qualitativos de
cunho sociossemiótico, o que possibilitou a análise das narrativas como significantes
das diversas produções textuais dos sujeitos. Considerou- também o apoio de Bakthin
na análise das interações verbais, a partir do conceito de dialogismo, entendido como
a relação que se dá entre os discursos e, portanto, entre o eu e o outro, e também no
conceito de polifonia considerando a pluralidade de vozes que coexistem e interagem
nas práticas discursivas daqueles que habitam um Ambiente Virtual de Aprendizagem
(AVA).
I.1. Movimentos investigativos:
Como enunciado acima, as quatro pesquisas sobre o curso envolveram diferentes
movimentos investigativos, no quadro abaixo é possível visualizar esses movimentos
que o fazer investigativo percorreu, bem como os pesquisadores envolvidos.
PESQUISAS SOBRE O CURSO ARTES VISUAIS LICENCIATURA-EAD
Moema M. Rebouças(coord).
Pesquisas
objetivos
pesquisadores
Arte no Espírito Santo: de
professores a alunos-Cnpq
/UAB.(1)
A formação do professor de
Arte na modalidade Educação
a Distância- UAB/UFES
Vídeos
tutoriais
na
educação a distância: as
presenças do professor
realizar um Mapeamento e Cartografia
das Escolas de Educação Básica do
Espírito Santo.
investigar as concepções de professor
de Arte que norteiam/embasam o Curso
de Artes Visuais.
contribuir para análises e criações de
materiais que tenham esta finalidade e
compreender se dá a presença do
professor
nos
vídeos
tutorias
produzidos no curso.
compreender
o
contexto
de
aprendizagem
da
disciplina
de
Cerâmica a partir das interações entre
os alunos, professores e tutores
presentes no Ambiente Virtual de
Aprendizagem.
acompanhar o professor que torna-se
aluno do curso de Artes Visuais no
processo
dessa
formação,
para
conhecer como se dá a articulação dos
saberes advindos de sua prática
construída no cotidiano com outros
saberes da academia.
450 alunos do curso.
Cerâmica:
interação
produção de sentido
educação a distância.
e
na
Arte no Espírito Santo: de
professores
a
alunosCnpq/UAB.(2)
Vera de Oliveira Simões.
Luciana Gama
Soraya Mitsy Hamasaki.
Flávia Mayer Souza,
Juliana Contti Castro,
Larissa Fabricio Zanin,
Letícia Nassar Mesquita,
Maria Nazareth Pirola,
Myriam Pestana Oliveira.
II. Mapeamento e Cartografia das Escolas de Educação Básica do Espírito
Santo.
Mapear o perfil dos docentes de Arte em nosso estado para conhecer sua escolaridade,
sua experiência, os fatores extras e intracurriculares que influenciam em seu fazer
docente. Foram envolvidos mais de 450 estudantes, dos 22 Pólos situados nos
municípios do curso de Artes Plásticas.
A investigação fez parte da proposta da disciplina Estágio I e teve como objetivo
central conhecer as escolas de Educação Básica do estado e os professores que
ministram a disciplina Arte e/ou Educação Artística. Foi feito um mapeamento das
instituições de ensino por município e realizada uma cartografia das mesmas a partir
do olhar investigativo do aluno do curso. A coleta de dados ocorreu com os seguintes
instrumentos de pesquisa: observação, incluindo fotografias e/ou filmagens, um
questionário com 16 (dezesseis) perguntas e registros em diário de campo. A
disponibilidade e o empenho de todos possibilitou o envolvimento de todos os alunos
do curso totalizando, 22 municípios pesquisados2.
Ao todo foram entrevistados 612 professores, com idade entre 26 e 40 anos, sendo
mais de 90% do sexo feminino. Como os dados são muito extensos, destacaremos
aqueles que para este artigo consideramos mais relevantes.
Quando a pergunta diz respeito ao regime de trabalho destes professores, cerca de
40% diz ser profissional efetivo e 57% tem vínculo de contratação temporária nos
municípios em que atuam. Ou seja, confirmou-se a complementação de carga horária
dos docentes com a disciplina de Artes.
Esta é uma prática que ainda persiste em nosso estado, entretanto, no final de 2012
quando os primeiros alunos do curso formaram, puderam se submeter ao concurso de
efetivos pois a SEDU. Dos 284 alunos que colaram grau, e entre estes os que se
submeteram aos concursos, a aprovação foi de 27 em 9 municípios que lançaram
editais para efetivos, 56 aprovados no concurso da SEDU e no estado do Rio de
Janeiro, e dois com aprovação no mestrado do Programa de Pós-Graduação em
Educação da UFES, o que totalizam 136 aprovações.
2
Afonso Cláudio, Alegre, Aracruz, Bom Jesus do Norte, Cachoeiro de Itapemirim, Colatina,
Conceição da Barra, Domingos Martins, Ecoporanga, Guaçuí, Itapemirim, Iúna, Linhares,
Mantenópolis, Piúma, Pinheiros, Santa Leopoldina, Santa Teresa, São Mateus, Vargem Alta, Venda
Nova do Imigrante e Vila Velha.
A inserção desses alunos na escola, nos faz acreditar e a valorizar o esforço realizado
por todos que investiram e acreditaram nessa modalidade, pois é com essa formação
que eles ocupam atualmente as salas de aula das escolas situadas nos municípios do
interior do nosso estado.
III. A formação do professor de Arte na modalidade Educação a DistânciaUAB/UFES.
O objetivo foi de identificar: as concepções de professor de Arte que
norteiam/embasam o Curso de Artes Visuais, modalidade semipresencial, e como elas
se manifestam no currículo do curso, nos documentos oficiais que o normalizam, nos
discursos e nas práticas propostas pelos professores/formadores.
Para proceder à análise dos discursos, a doutoranda Vera utilizou os fundamentos do
teórico Bakhtin o que lhe possibilitou considerar a presença das inúmeras vozes nos
diálogos proferidos e em interação nesse ambiente. O que implica que a palavra de
um está impregnada pelas do outro, por vozes sociais, conhecimentos de mundo e
experiências profissionais que, nesse processo de interação verbal, se tornam, segundo
a concepção bakhtiniana, uma produção coletiva de saberes e práticas.
Para identificar as concepções de professor de Arte que embasam o Curso de Artes
Visuais Licenciatura, foram pesquisados vários documentos oficiais, entre eles, a
doutoranda destaca o projeto do curso (2007,p.25-25), no tópico que se refere à
estrutura e organização curricular. Nesse, e em outros escritos, identifica-se a
concepção de professor pesquisador, própria do profissional docente que atua
refletindo sobre a sua prática. Nessa reflexão embasada na aliança entre a teoria e a
prática, por meio da pesquisa, vão sendo construídas novas práxis, no intuito de
possibilitar aos estudantes condições de aprendizagens, cuja meta é a arte como
conhecimento.
Assim, como o apoio do referencial bakhtiniano de análise, tendo em vista as
interações verbais, a construção dos discursos e dos saberes construídos coletivamente
em ambiente virtual, Vera apresenta as considerações que a análise das disciplinas (
uma de cada eixo em que são distribuídas as 44 disciplinas no currículo) Estágio I,
Historia da Arte III e Vídeo permitiram construir.
Comenta que a disciplina Estágio I apresenta, em sua trajetória, uma proposta de
transformação da prática docente por meio da pesquisa, por envolver os alunos no
mapeamento da docência em Arte do estado. Desde o discurso inicial das professoras,
bem como nos discursos e práticas propostos no decorrer da disciplina ela identificou
uma concepção de professor de Arte que se aproxima das práticas progressistas em
educação. Nelas o professor é caracterizado como reflexivo por refletir sobre a sua
prática, para alcançar o “status” de mediador do processo ensino-aprendizagem
pautado na interação e no diálogo com os alunos. Assim está na reflexão
fundamentada na práxis a possibilidade de um educador se transformar, pois é na
vivência e na convivência que ocorre a construção do conhecimento. Tal postura é
preconizada pelas teorias educacionais ao tratarem dos requisitos que consideram
essenciais nos cursos de formação e no exercício da docência na atualidade.
Nos discursos e práticas que conduzem a disciplina História da Arte III, foram
identificadas principalmente duas concepções de professor. Estão ali presentificadas a
concepção tradicional e a concepção considerada progressista, denominada críticosocial por José Libâneo (1989).
Contudo, a concepção predominante apontada por Vera foi a de professor tradicional,
cujos métodos se baseiam tanto na exposição verbal como na demonstração dos
conteúdos, que são apresentados de forma linear e numa progressão lógica, seguindo
a metodologia e as estratégias adotadas pela maioria dos professores que ministram as
disciplinas que contemplam a História da Arte no curso presencial da UFES. Simulam
então no AVA, a partir de meios como as websconferências o espaço da sala de aula
do presencial, em que é o professor que assume o lugar do saber.
A concepção progressista ou dialógica identificada está na dialogicidade proposta
pela professora por meio de práticas referenciadas em Argan (1992). Tais propostas
exigiram dos alunos competência de leitura e compreensão dos conteúdos artísticos e
plásticos nas obras estudadas. Essas práticas estão pautadas na contextualização dos
fatos, exigindo do sujeito a interação com o contexto estudado, ao mesmo tempo em
que lhe dá liberdade de criação e expressão.
Quanto às concepções de professor identificadas nos discursos e práticas que
conduziram a disciplina Vídeo, desde a apresentação até a sua conclusão, identifica-se
a de um professor em busca de parceria. Para a doutoranda está é uma parceria
necessária, principalmente por se tratar de uma disciplina de natureza prática que
propõe um fazer contextualizado. Para dialogar com ela cita Ferraz e Fusari
(1992,p.42) , “A conscientização política ocorre na prática social ampla e concreta do
cidadão”. Para tanto, a educação deve assumir “[...] a responsabilidade de dar ao
educando o instrumental necessário para que ele exerça uma cidadania consciente,
crítica e participante. Isto implica em que o trabalho pedagógico propicie uma crítica
ao social, no sentido de transformá-lo”(p.42), para assim cumprir o seu papel de
transmitir conhecimento acumulado e em produção pela humanidade.
Assim, os documentos que embasam o curso, os discursos dos professores
especialistas, dos tutores, dos alunos, ou mesmo dos autores cujas pesquisas serviram
de referencia para a condução das disciplinas impregnados de variadas concepções,
tecidas a partir dos fios ideológicos que servem de trama às relações sociais.
(BAKHTIN, 1979 p.41).
Portanto, esses discursos traduzem às concepções de professor de Arte de cada um
dos sujeitos que agiu e interagiu no AVA. Eles se colocaram na cena, no processo de
construção de um currículo e de práticas “capazes de fomentar uma real
transformação social...”, que envolveu muitos “outros” nesse diálogo entre o “eu” e o
“outro”, entre muitos “eus” e muitos “outros”, numa constante alternância de vozes.
É importante comentar que a nova oferta do curso, já traz as modificações e os ajustes
que a avaliação por meio de pesquisas como essa e das participações de todos nesse
processo permitiram propor e encaminhar.
III. Vídeos tutoriais na educação a distância: as presenças do professor.
Com a premissa de que o vídeo é um forte material didático para criar vínculos de
aproximação entre professores e alunos em um curso EAD, o objetivo da pesquisa de
Luciana foi o de contribuir para análises e criações de materiais que tenham esta
finalidade e de compreender como se dá a presença do professor nos vídeos tutorias.
Por tratar-se de um tipo de vídeo que possui características específicas tais como: a
curta duração; a utilização de planos mais fechados ( devido ao fato de que eles
também podem ser vistos em telas pequenas, como celular ou smartphone e que, caso
o plano seja muito aberto, não permitirá que os detalhes sejam visualmente
assimilados); a informalidade na produção, (eles seguem um estilo homemade, que
prioriza a forma caseira de produção, que é mais natural e muitas vezes menos
produzida) se difundiu em larga escala na internet.
Assim como as demais fontes de informações que cercam o nosso cotidiano, o vídeo
tutorial está inserido em um contexto múltiplo, que pode seguir as correntezas que
levam à destruição da experiência ou pode ser resgatado em modos de fazer
específicos que indiquem outras possibilidades para o seu uso, seja dentro da escola,
seja em casa ou na comunidade em que se vive.
No curso de Artes Visuais do Ne@ad/UFES este diálogo com o cotidiano é mantido
na medida, por exemplo, em que os próprios alunos trazem vídeos que fazem parte do
dia-a-dia deles, como reportagens, comerciais de TV, videoclipes e filmes, para
compartilhar nos fóruns em links com os demais alunos, professores, tutores.
Dentro do AVA na qual faz funcionar o curso de Artes Visuais do Ne@ad, foi
verificada diversas citações e presenças do vídeo no processo de aprendizagem do
curso:
Seguem abaixo alguns trechos retirados de fóruns distribuídos na plataforma e que
mostram um pouco da recepção desses vídeos.
Aluno A: Senti falta dos vídeos nestas duas últimas unidades. Eles nos ajudaram bastante.
Apesar dos livros serem um bom suporte, nos vídeos aprendemos a "por a mão na massa".
Tutor A: Sabemos que os vídeos ajudam, mas existem muitos alunos (de diversos polos) que
não estão lendo o material impresso (que está super detalhado nas propostas de exercício),
esperando o vídeo para "copiar". Sabemos que a maioria trabalha (em mais de 2 turnos até),
mas também precisam dedicar um tempo às leituras que são parte fundamental da formação
acadêmica (ler, compreender e interpretar).
A mestranda aponta que a visualização dos vídeos tutoriais é impulsionada pelo
querer desse aluno pois é ele quem busca o assunto desejado e estabelece assim a
relação de aprendizagem com o objeto selecionado.
Os vídeos tutoriais analisados na pesquisa e que fazem parte do curso não seguem o
modelo colaborativo e de inversão dos sujeitos produtores de conteúdo. Eles refletem
a tradicional comunicação professor - aluno. As formações ideológicas do saber
reproduzem a postura docente verticalizada e tradicional da sala de aula, na qual o
professor se posiciona "de pé" em frente aos alunos, que "sentados", ouvem a aula
expositiva que se sucede. Entretanto, a fala é feita para um aluno solitário que está do
outro lado da tela, em circunstâncias de tempo e espaço distintas do coletivo espaço
de uma sala de aula presencial.
A partir da análise de sete vídeos tutoriais trabalhados nas disciplinas Cor e
Laboratório de Tintas, Desenho I e alguns vídeos produzidos por um dos tutores do
curso, Luciana considera nos vídeos:
i. simulação da proximidade: nessas produções de vídeo tutorial o professor ou tutor
tem a possibilidade “de mandar um pouco de si através do espaço” E se aproximar do
aluno no momento da enunciação ( do ato).
ii. a simplicidade: são vídeos simples, que seguem as características da produção
caseira, estilo homemade, e que comprovam a hipótese inicial, ou seja os vídeos
tutoriais utilizados no curso de graduação a distância do curso de Licenciatura em
Artes Visuais do Ne@ad da UFES são construídos de maneira que simulem a
naturalidade e a proximidade de uma sala de aula presencial, sem ousar ou buscar
outras inovações com o vídeo, e sim marcar de forma intensa a presença de um
professor em um curso a distância.
iii. diretividade: embora a imagem explique melhor que a narração, o uso do pronome
de tratamento pessoal no plural, vocês, foi utilizado por todos os três sujeitos, que ora
se referiam ao aluno, particularmente no singular, ora falavam para uma sala de aula
inteira.
Desse modo, entre o dizer e o dito, obtido por meio de entrevistas e da análise dos
vídeos, nas intenções dos professores, obtidas mediante entrevista, a mestranda
detecta o desejo de se produzir um material que possibilite ao aluno visualizar e
vivenciar uma experiência necessária e inerente à disciplina.
Nesses vídeos analisados tem-se a presença de um professor que se aproxima do
aluno e possibilita a cada visualização do material a sua presença sempre no momento
da ação. Para finalizar, lança algumas reflexões: Como trabalhar o conteúdo no vídeo
tutorial de forma que se possibilite a pluralidade de vozes e não a repetição da
hierarquia da educação tradicional?
IV. Cerâmica: interação e produção de sentido na educação a distância.
O objetivo foi de compreender o contexto de aprendizagem da disciplina de Cerâmica
a partir das interações entre os alunos, professores e tutores presentes no Ambiente
Virtual de Aprendizagem. Para a análise, foram selecionados os fóruns (Fórum
Construir Saberes, Fórum Tira Dúvidas e Fórum de Tutores) dessa disciplina e as
postagens de alunos dos Pólos de Aracruz e de Santa Tereza.
Nas considerações é apontado que o ambiente virtual não deve ser caracterizado de
forma autônoma, pois apesar de constatar que os aparatos tecnológicos, como a
internet e o computador, entre outros, ressignificam os processos de comunicação
delineando modos singulares de produção e consumo de informações, estes suportes
(computador, internet) são empregados em função de seu uso social, o que propicia
uma nova significação nas interações entre os sujeitos envolvidos nesse processo.
No caso da EAD, existe o espaço real, que é o local dos encontros dos alunos nos
Pólos; e o espaço virtual, que é o AVA.
Conclui que é no ambiente virtual que ocorre a construção de conhecimento dos
sujeitos envolvidos nesse processo sem a mediação da relação presencial. Portanto,
são as narrativas, ou modos de se manifestar ali como presenças virtuais que atuam
nessa construção de conhecimento. É ali que os papéis apesar de definidos
(professor/aluno, aluno/tutor), são rearticulados pelas ações desempenhadas pois cada
um se manifesta, e nesse fazer se constitui ali. Como exemplo quero destacar um dos
tópicos de um fórum analisado o de “Ceramistas do Espírito Santo”. Uma das tutoras
da disciplina ao postar o enunciado abaixo assume a posição de professora e provoca
o aluno a participar:
Ceramistas do Espírito Santo
Tutora:
Você conhece os artistas que trabalham cerâmica no Espírito Santo? Como é o trabalho dessas pessoas?
Suas propostas são realmente "objetos sensíveis", de Arte, ou a técnica faz com que a produção em série
dê um tom de artesanato aos trabalhos?
Vamos compartilhar as nossas "descobertas"?
Este tópico promoveu discussões pertinentes ao conhecimento destes alunos sobre
cerâmica, sobre os processos de criação, sobre a história da cerâmica e de alguns
ceramistas, dentre outros temas. Responderam a esta postagem citando exemplos de
ceramistas do seu município, como o exemplo de Dona Antonia Alves dos Santos,
uma senhora, que reside em São Mateus e fabrica peças utilitárias. Essa aluna, ao
pesquisar sobre uma ceramista de seu município, a partir de seu contexto, constrói o
seu conhecimento e o lança aos demais, correlacionando teoria e prática. Outra aluna
em resposta a essa postagem faz uma reflexão sobre a diferença entre objeto artístico
e artesanato.
Portanto, há competências para que este papel de mediador seja realizado de forma
eficaz, pois, tendo o ambiente virtual como elemento mediador deste processo de
ensino e aprendizagem, o sujeito que assume o papel de professor deve proporcionar
um ambiente rico e diversificado de informações relacionadas ao conteúdo proposto
possibilitando a socialização e a troca de informações.
Desse modo, o conhecimento se dá de forma colaborativa, descentralizando o papel
do professor e rearticulando-o junto a outros sujeitos participantes desse processo.
No caso da disciplina Cerâmica há uma provocação e uma intencionalidade para que
o aluno investigue o seu entorno, desde a materialidade presente nele, como as
pesquisas sobre as argilas em suas regiões o que envolveu a recolha, experiências e
categorização delas até a busca por ceramistas em seus municípios. Essa é um ênfase
que inter-relaciona vários saberes de distintos sujeitos (os locais, aos regionais, aos
nacionais) e possibilita a valorização do próprio contexto em que esses alunos vivem.
V. Arte no Espírito Santo: de professores a alunos
Essa pesquisa teve como objetivo o acompanhamento do professor que torna-se aluno
do curso de Artes Visuais no processo mesmo dessa formação, para adentrar e
conhecer como se dá a articulação dos saberes advindos de uma prática construída no
cotidiano das salas de aula, em confronto com outros saberes
Como
processo
metodológico para acompanhamento desse
aluno/professor
realizamos um recorte a partir das disciplinas Estágio II e Trabalho de Graduação I.
Com essas disciplinas foi possível conhecer como esse aluno se apropriou dos
conteúdos e metodologias da Arte e os relacionou com os significados coletivos
compartilhados socialmente. Tomamos assim para estudo os planejamentos e as
propostas educativas em projetos específicos de intervenção na escola como de uma
oficina inter e transdisciplinar proposta na disciplina Estágio II, e nos projetos que
apresentou em Trabalho de Graduação I.
Se no estágio foi possível repensar a escola, deslocando-o de seu próprio papel de
professor regente e de seu espaço rotineiro de docente no interior de uma sala de aula,
para pensar e refletir na escola como um todo. A segunda foi o momento do curso em
que após todas as etapas, dos quatro estágios realizados e das práticas de ensino o que
incluiu vários deslocamentos, a possibilidade de repensar e articular todos os seus
conhecimentos para elaborar uma proposta para a educação da arte que é autoral,
como a que consistiu o seu projeto de monografia.
Escolhemos alguns dados dessa pesquisa para apresentá-los aqui obtidos a partir do
mapeamento dos projetos da disciplina Trabalho de Graduação I.
O mapeamento foi realizado a partir de 186 projetos de TG1, pertencentes a
professores/alunos de 18 Pólos de Formação 3 .Para a sistematização dos dados,
consideramos o objeto da pesquisa, quem são os sujeitos, quais práticas contemplam
e os pressupostos teóricos/metodológicos utilizados.
3
Afonso Claudio, Alegre, Aracruz, Bom Jesus, Cachoeiro de Itapemirim, Conceição da Barra,
Domingos Martins, Ecoporanga, Linhares, Iúna, Itapemirim, Mantenópolis, Nova Venécia, Pinheiros,
São Mateus, Vargem Alta e Nova Venécia.
As práticas são as que envolvem os estudos das poéticas e os processos de criação e
nelas estão envolvidos artistas e artesãos, portanto, abarcam um contexto exterior à
escola, ou ainda ocorrem em seu interior e envolvem as crianças e adolescentes. Elas
ainda podem ser divididas em práticas inclusivas, por considerarem e atenderem as
políticas de inclusão na escola e as contribuições da arte nesse processo. Em práticas
de formação do educador, pois contemplam a formação do docente, e buscam
investigar quem é esse professor de arte e como ele se constitui como tal. Finalmente,
as práticas da educação da arte, em que estão os projetos que envolvem as
metodologias da educação da arte.
Os
projetos
concentram-se
em
duas
grandes
áreas,
a
dos
estudos
antropológicos/culturais, com 46 projetos e os que incluem a Educação Infantil com
44. Esta escolha se justifica pelo fato de um grande número desses professores/alunos
terem desenvolvido a sua docência na educação infantil. Embora o eixo norteador do
currículo do curso não seja dos estudos antropológicos (culturais e multiculturais)
como a do curso de Artes Visuais Licenciatura ofertado pela UFG, acreditamos que
essa ênfase se deve às reflexões sobre as práticas cotidianas e o olhar investigativo ao
seu entorno. Tais práticas nortearam várias disciplinas do curso, e também os
seminários interdisciplinares que ocorriam a cada oferta de módulo. Eles promoveram
e envolveram as comunidades em que estão localizados os Pólos, e estes com as
escolas.
As provocações durante o curso para que considerassem os estágios como
oportunidades de refletir sobre as práticas educativas e as escolas como campo de
pesquisa parecem que deram certo, no que tange aos projetos contidos neste
mapeamento. Os alunos/professores, ao voltarem para seu entorno, compreenderam
que a Arte está imersa na cultura e que, motivados, podem abandonar as regularidades
seguras das ações programadas e aventurarem-se em investigações que, ao mesmo
tempo que os constituem, constroem conhecimento. O mérito está na adoção da
pesquisa como fundamento da configuração dos estágios, e a presença da investigação
como opção pedagógica nas disciplinas pertencentes aos demais fundamentos teóricos
e metodológicos propostos. Advogamos que somente pela pesquisa é possível
ressignificar as práticas e construir conhecimento a respeito das Artes:
Como diz uma aluna:
A escola por muito tempo foi limitada a ser um ambiente em que os professores
transmitiam conhecimentos e os alunos assimilavam. O conhecimento era visto como
produto sendo enfatizado, portanto os resultados e não o processo pelo qual o aluno
aprenderia. Além disso, não havia nenhuma articulação entre o conhecimento escolar
e a vida dos alunos.
O mapeamento apresenta uma outra configuração de prática docente com projetos
pertencentes a sujeitos inventores, questionadores, que podem propor práticas
ressignificadas, pois inclui nelas o mundo enquanto significante. Como aponta
Landowski (2009) esse é o sujeito crítico. Se ele foi capaz de discursivizá-las pode ser
capaz de praticá-las, essa é a nossa torcida!
Referencias
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Lisboa. Ed.Estampa,p.37.
BAKHTIN,M.(1979).Estética da criação verbal. Tradução de Paulo Bezerra. São
Paulo: Martins Fontes.p.41.
FUSARI, M;FERRAZ, M.H.(1992). Arte na Educação Escolar. São Paulo: Cortez.
GAMA, L. (2012). Vídeos tutoriais na educação a distância: as presenças do
professor. Dissertação ( Mestrado em Educação)- Programa de Pós-Graduação em
Educação, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória.
HAMASAKI,S.M.P.(2012). Cerâmica: interação e produção de sentido na educação
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Educação, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória.
LANDOWSKI, E. Interacciones arriesgadas. Tradução de Desiderio Blanco. Lima:
Universidad de Lima, Fondo Editorial, 2009.
LIBÂNEO,J.C.(1989).Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social
dos conteúdos.8.ed.São Paulo :Loyola.
SIMÕES, V.L.O.(2013). A formação do professor de Arte na modalidade
Educação a Distância- UAB/UFES. Tese ( Doutorado em Educação)-Programa de
Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória
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pesquisas sobre o Curso de Artes Visuais Licenciatura em EAD/UFES.