Matematicamente pensando: O trabalho
Carlos Mesquita Morais
Entre as razões que nos levam a reflectir num determinado tema salientamos
a frequência com que esse tema é utilizado. O trabalho constitui um dos temas
frequentes e de utilização generalizada por muitas pessoas. Não pretendendo entrar
na componente científica da definição de trabalho associado à física ou a outras
ciências, vou orientar esta reflexão considerando o trabalho, como sugere um
dicionário de língua portuguesa da Porto Editora “exercício da actividade humana,
manual ou intelectual, produtiva”, numa perspectiva associada ao conceito de
grandeza e medida em vários contextos.
O conceito de trabalho pode ser enriquecido com os conceitos de criação,
construção e desenvolvimento equilibrado de cada pessoa e da sociedade em geral.
Associadas ao trabalho existem expressões sobre a legislação e as regras que
orientam a vida dos trabalhadores, tais como leis do trabalho, horário de trabalho,
trabalho individual, trabalho colectivo, impostos sobre o trabalho e expressões
associadas à caracterização das pessoas das quais saliento: trabalha muito, trabalha
pouco, só vê o trabalho, não quer saber do trabalho para nada, trabalha bem.
Num mundo com tantos desempregados e com tantas pessoas com vontade de
trabalhar não é aceitável que surjam propostas que legitimem a possibilidade de
alguém poder ser obrigado a trabalhar 65 horas por semana. Estaremos, como seres
sociais, a evoluir ou a regredir? Para quê tanto exagero e tanta competição? Quando
se privilegia a competição sem proveito para quem compete surgem, geralmente,
grandes fortunas, sem saber de quem são, de onde provêm e para onde vão,
resultando a desvalorização do trabalho e de quem o executa e a exaltação do
desconhecido e do inatingível, abrindo-se caminho para a deterioração permanente
da sociedade de que fazemos parte.
Por vezes a desvalorização do trabalho também se manifesta em situações que
pouco têm a ver com quem o executa, mas muito com quem tem obrigação de zelar
pelas suas consequências. Desses exemplos destaco um, retirado de um semanário
publicado em 21-06-08, “Confusão – O fim da DGV (Direcção Geral de Viação)
deixou a nova Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária sem meios - 6 500 000
multas esquecidas”. O que significam 6 500 000 multas? Quantos dias de trabalho
representam? Quem beneficiou desta situação? Quem ficou prejudicado?
É comum a expressão “é preciso trabalhar muito e bem”. O que significa
trabalhar muito? O que significa trabalhar bem? Penso que trabalhar muito e bem,
não pode significar mais do que trabalhar em função de projectos, com duração
prevista, de tal forma que seja possível saber quais as razões que nos levaram a
iniciar o trabalho, quais são os principais passos a executar e o que pode acontecer no
fim de cada projecto. Projectos que podem ser de curta, média ou longa duração, tais
como: questionar e definir o que se vai fazer esta manhã, esta tarde, na próxima
semana, no próximo mês e nos próximos anos. Quem hesita, permanentemente, e não
define o que pretende fazer, em geral, não constrói, destrói-se.
Embora o valor do trabalho físico e intelectual tenha variado ao longo dos
anos é sempre fundamental valorizar o trabalho e analisá-lo como uma grandeza que
pode ser medida a partir de unidades particulares, tais como: horas, objectos
produzidos, produção científica, produção artística, bem como em termos de prazer e
de satisfação pessoal para o qual não existem grandezas, unidades nem medidas, mas
apenas a interpretação pessoal de quem o executa ou dele obtém proveito.
Morais, C. (2008). Matematicamente pensando: O trabalho. Mensageiro Notícias, 27 de Junho de
2008, p. 14.
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