1 - INSENSÍVEL À VOZ DO AMOR (a ruptura)
“O filho mais jovem disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me cabe’.
E o pai dividiu os bens entre eles. Poucos dias depois, ajuntando todos os seus pertences, o filho mais
jovem partiu para uma região longínqua,...” (Lc 15,12-13)
O que está acontecendo aqui é um fato inaudito, danoso, ofensivo, e em flagrante contradição com os hábitos mais respeitáveis da época. Ao exigir sua herança enquanto seu pai ainda vive mostra que a maneira
do filho partir é equivalente a desejar a morte de seu pai.
As palavras do filho mais novo: “dá-me a parte da herança que me cabe”, são a ferida mais dolorosa que
um filho podia causar no pai, pois elas expressam a ruptura do convívio e da comunhão com ele.
Trata-se de uma rejeição cruel do lar no qual o filho nasceu e foi criado e uma ruptura com a mais preciosa tradição apoiada pela comunidade maior da qual ele faz parte. Com a transferência imediata dos bens,
o filho mais novo torna-se autônomo, mas não tem mais nenhum direito; e ele é bem consciente disso.
Quando Lucas escreve “partiu para uma região longínqua” ele se refere a uma quebra drástica da
maneira de viver, pensar e agir que recebeu como um legado sagrado através das gerações, e uma traição
aos valores cultuados pela família e pela comunidade.
O “país distante” é o mundo no qual não se respeita o que em casa é considerado sagrado.
As consequências da ruptura com o pai serão a miséria extrema e a degradação máxima. Quando
atravessou o limiar da casa paterna e deu as costas ao pai, o filho estava partindo para a solidão, para a
alienação, para a perdição.
Mas o pai não podia forçar o filho a permanecer em casa. Não podia impor o seu amor ao seu amado.
Tinha que deixar que ele partisse em liberdade, embora sabendo a dor que isso causaria a ambos.
A decisão do filho faz o pai sofrer, mas ele sofre em silêncio, sem pronunciar uma única palavra de repreensão nem de queixa. O que iria acontecer no “país distante” era previsível: a ruína, a miséria e a solidão.
Contudo, mesmo com o coração sangrando, o pai respeita a decisão tomada pelo filho e assume os riscos
inerentes a este passo.
Foi o próprio amor que impediu o pai de manter o filho em casa a qualquer preço.
Ninguém, nem sequer um pai, pode “exigir”, como se fosse um direito, ser amado.
Foi ainda o amor que fez deixar o filho procurar o seu caminho, mesmo com o risco de perdê-lo.
O amor é por definição livre e gratuito. Um amor imposto não é amor.
O Deus que Jesus nos revela é o Deus da Vida e da Liberdade.
Porque é Pai, quer que seus filhos(as) o amem livremente. Ele nos oferece sempre o seu Amor, mas nós
podemos acolhê-lo ou rejeitá-lo. Deus deseja, espera nosso amor, mas não o “exige”.
Na oração: “Deixar a casa” é negar a realidade de que pertenço a Deus com todo o meu ser, que Deus
Deus me ampara num eterno abraço, que sou realmente moldado nas palmas das suas mãos
e escondido nas suas sombras.
- “Deixar a casa” significa ignorar a verdade de que Deus me moldou “em segredo, tecido na terra mais
profunda”.
- “Deixar a casa” é viver como se eu ainda não possuísse um lar e precisasse procurar um outro espaço
mas que não pode ser encontrado.
Somos filho pródigo toda vez que buscamos amor incondicional onde não pode ser encontrado.
Por que continuamos a ignorar o lugar do amor verdadeiro e insistimos em buscá-lo noutra parte?
Por que insistimos em sair de casa, quando aí somos chamados de filhos(as) de Deus?
Aqui o mistério de nossa vida é revelado. Somos amados a tal ponto que temos liberdade para abandonar
a casa do Pai.
A bênção existe desde o princípio. Deixamos o lar muitas vezes, mas o Pai está sempre nos buscando
com braços estendidos para nos receber de volta e de novo sussurrar aos nossos ouvidos:
“Tu és o meu amado, sobre ti ponho todo o meu carinho”.
Pedir a graça: - pedir, com insistência e confiadamente, a graça de conhecer o Amor sempre fiel e ilimitado,
apaixonado e compassivo com que Des ama a todos e a cada um dos seus filhos;
- pedir a graça de experimentar esse Amor de Deus por mim, a paixão com que me busca quando estou perdido;
- pedir a graça de corrigir as minhas imagens falsas ou distorcidas de Deus, imagens que não correspondem ao
Deus Pai que nos foi revelado por Jesus Cristo.
FONTE: CEI-JESUÍTAS - Centro de Espiritualidade Inaciana
Rua Bambina, 115 - Botafogo – RJ – 22251-050
[email protected] / www.ceijesuitas.org.br
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