O BRASIL E AS DIRETIVAS EUROPÉIAS: O QUE ESTÁ SENDO FEITO PARA ATENDÊ-LAS? Por Sabrina R. Sousa, Marcia R. Ewald, Tiago B. Rocha, José Augusto Oliveira e José Rocha A. Silva Em 2003, a Comunidade Européia publicou duas diretivas que influenciam diretamente o setor de equipamentos eletroeletrônicos (EEE). A primeira diretiva, conhecida como RoHS (Restriction of the use of certain Hazardous Substances in electrical and electronic equipment), dispõe sobre a restrição do uso de determinadas substâncias perigosas na composição de EEE, como os metais pesados e outros compostos utilizados como retardadores de chamas. A RoHS é seguida pela diretiva WEEE (Waste Electrical and Electronic Equipment), que dispõe sobre o gerenciamento de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos, priorizando a reutilização e a reciclagem dos resíduos. Em vigor desde julho de 2006, tais diretivas afetam tanto os produtos fabricados pelos países membros da Comunidade Européia quanto os produzidos em outros países que visam o mercado europeu, como o Brasil. Elas abrangem uma vasta gama de produtos EEE e incluem as categorias de: eletrodomésticos de pequeno e grande portes, equipamentos de informática e telecomunicações, equipamentos de consumo e de iluminação, ferramentas elétricas e eletrônicas (com exceção das grandes ferramentas industriais fixas), e equipamentos desportivos, de lazer e brinquedos. Apesar de serem citadas nas diretivas, as categorias de aparelhos médicos, instrumentos de monitoramento e controle e disjuntores automáticos ainda não possuem uma data definida para início da vigência. No Brasil, em consonância com a tendência internacional, foi publicada a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305, de 02/08/2010) que, embora não seja uma lei específica para o setor de EEE, apresenta entre seus objetivos, o estímulo a padrões sustentáveis de produção e consumo de produtos (bens e serviços) e a adoção e o aprimoramento de tecnologias limpas para a minimização de impactos ambientais, com a redução do volume e da periculosidade dos resíduos e a implementação da avaliação do ciclo de vida e da rotulagem ambiental, para nortear a tomada de decisão de organizações e de cidadãos mais conscientes. Para satisfazer as exigências de um mercado cada vez mais restritivo e manter sua competitividade, as empresas nacionais precisam agir proativamente, adequando seus produtos e processos, principalmente no atendimento às diretivas européias, que servem de base para outros mercados internacionais. Embora o atendimento às diretivas seja comunicado por meio de auto declarações, a implementação de um sistema de gestão é recomendada para garantir a efetividade das ações tomadas. Elaborada com este propósito, a especificação ABNT IECQ/QC 080000 apresenta os requisitos mínimos a serem cumpridos para o gerenciamento de substâncias restritas, com foco em seu controle e identificação e também no estabelecimento de planos para eliminação, em conformidade com os requisitos da norma ABNT NBR ISO 9001. Um sistema de gestão baseado nos requisitos da ABNT IECQ/QC 080000 pode proporcionar: a garantia da satisfação e fidelização dos clientes, por meio do atendimento às suas expectativas e necessidades, a redução dos riscos por descumprimento a legislações e outros regulamentos e o fortalecimento da marca e diferenciação no mercado pela introdução de produtos inovadores. Além disso, o sistema estimula ações em todas as etapas do ciclo de vida do produto, principalmente nos fornecedores. COMUNICAÇÃO AMBIENTRONIC Nº 1 – ABRIL/2011 1 Para direcionar atividades de melhoria ambiental de produtos, é essencial o uso de técnicas com abordagem proativa e que levem em consideração o ciclo de vida completo, como a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) e o Ecodesign. A ACV identifica os aspectos ambientais e avalia os impactos potenciais, identificando oportunidades e dando suporte aos processos decisórios. O Ecodesign, ou “projeto para o meio ambiente”, consiste na incorporação dos aspectos ambientais no processo de desenvolvimento de novos produtos ou no redesenho de produtos consolidados. Ele pode focar, entre outras opções, no desenvolvimento de alternativas que incluam materiais ou componentes atóxicos e/ou recicláveis, no consumo eficiente dos recursos energéticos e no projeto com vistas para desmontagem final e/ou reciclagem. Uma iniciativa do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI), apoiada pelos Ministérios de Ciência e Tecnologia (MCT), Meio Ambiente (MMA) e de Desenvolvimento da Indústria e Comércio (MDIC), tem como objetivo promover o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis e voltadas à inovação de produtos, processos, modelos de gestão, componentes e materiais eletroeletrônicos. Intitulado AMBIENTRONIC, o projeto visa também criar no país a infraestrutura necessária para auxiliar o complexo eletrônico nas ações de adequação às normas ambientais e a outros requisitos igualmente importantes para agregar valor aos produtos nacionais. Dentro do AMBIENTRONIC está sendo desenvolvido um projeto piloto com empresas do setor de equipamentos eletromédicos (EHMO). As atividades previstas para o piloto envolvem a implementação de um sistema de gestão de substâncias perigosas baseado na ABNT IECQ/QC 080000, ações voltadas à gestão de resíduos (REEE), estratégia e inovação, análise de mercado de EHMO, avaliação da gestão e da competitividade coletiva das empresas envolvidas (BenchStar) e estruturação de um portal para gestão do conhecimento. COMUNICAÇÃO AMBIENTRONIC Nº 1 – ABRIL/2011 2