No poupar é que está o ganho A presidente do PSD dos Açores deu uma entrevista ao "Expresso das Nove" onde diz, de acordo com o título do jornal, "Poupar é a palavra de ordem para os tempos que correm". Espevitado pelo título apressei-me a ler a entrevista, esperançado em encontrar indicações de um novo rumo para a edilidade de Ponta Delgada ou mesmo compromissos eleitorais para 2012. E na verdade abundam os conselhos para que se poupe e as análises que fazem dos excessos do crédito e do consumo os culpados da crise. Enfim, quando me preparava para ler o anúncio de um rol de medidas draconianas de corte na despesa pública e de desincentivo ao consumo e ao crédito e de crítica aos excessos do governo, eis que temos exactamente o contrário. Concretamente, as propostas apresentadas pela Presidente social-democrata são três: 1. Linha de crédito da Região para a habitação e aumento das linhas de crédito iniciadas pelo Governo Regional para as empresas; 2. Aumento das subvenções para os idosos; 3. Baixa de impostos (IRS). Por outras palavras, a senhora Presidente do PSD enaltece as medidas tomadas pelo Governo Regional, anuncia que ela faria ainda mais na mesma direcção, apontando para iniciativas que, todas elas, aumentariam a despesa, o crédito, o défice e o consumo. Em que ficamos? Com tudo e o seu contrário, ou Sol na eira e chuva no nabal, como diz o ditado. Na verdade, trata-se de um exercício de marketing em estado puro. Despesa, défice, consumo e imposto são palavras que não soam bem e fica melhor dizer-se que se baixam impostos, em vez de se dizer que se aumentam défices; que se aumenta a poupança, em vez de se dizer que se diminui o consumo e o investimento; que se está contra o excesso de dívida, mas que se arranjam créditos para o que sabemos ser indispensável – habitação e dinheiro nas empresas; que se pagam os remédios dos idosos, em vez de se dizer que se aumenta a despesa pública. Quanto ao resto ficam os bons sentimentos, os desejos e as esperanças: que a crise seja económica mas não chegue a ser social, com o aumento do desemprego e das convulsões e sobretudo que passe depressa. A Dra. Berta Cabral afinal é socialista? É pelo menos contra os excessos do capitalismo, como nos explica em resposta ao entrevistador. A Dra. Ferreira Leite faria bem em ler a entrevista e perceber que não se apanham moscas com vinagre e que nada ganha em assustar as pessoas com palavras que elas não querem ouvir. Será que, no entanto, a falta de coerência do discurso da Dra. Berta Cabral não se vai virar contra ela? Ponta Delgada, 15/02/09 (Paulo Casaca)