Mestrado Integrado em Medicina Veterinária Ciências Veterinárias INSPEÇÃO SANITÁRIA DE SUÍNOS Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Helder José Cardoso Oliveira Orientador: Professora Doutora Maria Madalena Vieira-Pinto Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Vila Real, 2012 Para o Afonso “Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo.” Fernando Pessoa Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Agradecimentos AGRADECIMENTOS Na realização deste trabalho, imensas foram as pessoas e entidades que contribuíram com a sua dedicação, apoio, compreensão e conhecimentos. Não podia concluir esta etapa sem o mais sincero agradecimento a todos eles. O meu muito obrigado a todos. Agradeço: À Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), na pessoa do seu Magnífico Reitor, Professor Doutor Carlos Sequeira, manifesto o meu maior reconhecimento por todo o apoio concedido, que possibilitou a realização desta tese de Mestrado. À Professora Doutora Maria Madalena Vieira-Pinto, o meu muito obrigado por ter aceitado a árdua tarefa de me orientar e guiar nesta importante etapa da minha vida. Pela inteira disponibilidade, dedicação e apoio com que me recebeu ao longo destes meses. Por me ter incentivado e motivado a fazer um melhor trabalho sempre que precisei. Pelos imprescindíveis e valiosos esclarecimentos, críticas e sugestões, sem os quais este trabalho não seria possível, a minha mais sincera gratidão e profundo reconhecimento. À Direcção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), na pessoa do seu Diretor Geral, Dr. Alexandre Vieira e Brito, por ter permitido a execução da componente prática deste trabalho. Ao matadouro PEC Nordeste-Carnagri, na pessoa do seu Diretor, Eng. César Vieira, por permitir a execução da componente prática nas suas instalações. Ao Dr. Aires pelas agradáveis discussões futebolísticas à hora do almoço. A todos os Veterinários Oficiais (Dra. Patrícia Gonçalves, Dr. Orlando Martins, Dr. David Paulo Alves, Dra. Ana Oliveira, Dr. Domingos Cruz, Dra. Túlia Aires, Dra. Ana Costa, Dra. Silvana, Dra. Sandra Domingos, Dr. Luís Serra, Dra. Susana Gonçalves, Dr. Luís Duarte), que me transmitiram os seus conhecimentos nesta longa jornada. Aos Engenheiros Macedo e Adriano, pela partilha da sua sabedoria e boa disposição. A todos os magarefes e funcionários do matadouro PEC Nordeste-Carnagri, pela paciência, disponibilidade e boa disposição. -i- Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Agradecimentos Aos meus pais, José Fernando Oliveira e Maria José Cardoso, porque sem eles não estaria aqui, pela capacidade de serem ao mesmo tempo excelentes pais e óptimos amigos, por todos os sacrifícios que fizeram para meu benefício, por todo o apoio e amor, sempre. Aos meus irmãos (Paulo, Judite, Sérgio e Susana), por serem, simplesmente, os melhores irmãos do Mundo! À Goreti, pela sua dedicação, amor e compreensão. Agradeço todo o seu apoio e palavras de incentivo. Aos meus companheiros destes longos anos: Belinha, Ana Cláudia, Daniela, Patrícia, Rita, Ana Raquel, Raquel Fernandes, Vera, Diana, Inês Lindo, João Pedro, Barce, Marco e Rafa, pela amizade incondicional, brincadeiras e companheirismo. Um especial agradecimento à Filipa Mota, pela sua amizade, companheirismo e boa disposição; nunca será esquecida por aqueles que a conheceram. A todos aqueles que, embora não referidos, não foram esquecidos, tornaram a conclusão desta etapa da minha vida numa realidade, o meu muito obrigado. - ii - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Índice ÍNDICE I. Resumo v Abstract vi Lista de Abreviaturas vii Índice de Tabelas ix Índice de Gráficos x Índice de Figuras xi INTRODUÇÃO 3 II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 4 1. O consumo de carne de porco 4 1.1.No Mundo 4 1.2.Na União Europeia 5 1.3.Em Portugal 6 2. Tecnologia de abate e Inspeção sanitária de suínos 8 2.1.Inspeção ante mortem 8 2.2.Insensibilização 9 2.3.Sangria 11 2.4.Escaldão 11 2.5.Depilação/Chamusco 12 2.6.Raspagem/Polimento 12 2.7.Evisceração 12 2.8.Corte sagital da carcaça 13 2.9.Inspeção post mortem 13 2.9.1. Avaliação do risco nos procedimentos de Inspeção post mortem de suínos 15 2.10.Lavagem final 17 2.11.Arrefecimento 17 3. Principais lesões músculo-esqueléticas em suínos abatidos para consumo 18 22 3.1.Osteíte/Osteomielite 3.1.1. Expressão osteogénica da COX-2 e resposta sistémica na osteomielite 3.2.Abcessos 23 24 - iii - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Índice 3.3.Influência das lesões de caudofagia: factor interveniente na etiologia de abcessos e osteomielite 26 III. OBJECTIVOS 28 IV. MATERIAL E MÉTODOS 29 1. Introdução 29 2. Acompanhamento dos Atos de Inspeção Sanitária 29 2.1.Inspeção ante mortem 29 2.2.Inspeção post mortem 30 3. Análise Percentual dos Resultados 30 V. RESULTADOS E DISCUSSÃO 31 1. Registo dos animais apresentados para abate 31 1.1.Total de animais apresentados para abate 31 1.2.Reprovações ante mortem 32 2. Registo dos animais admitidos para abate 2.1.Reprovações totais post mortem 33 33 3. Causas de reprovação total post mortem nos suínos 35 3.1.Lesões músculo-esqueléticas responsáveis por reprovação total nos suínos 42 3.1.1. Lesões vertebrais de osteomielite purulenta 42 3.1.2. Abcessos musculares múltiplos 49 4. Reprovações parciais nos suínos e causas 51 VI. CONSIDERAÇÕES FINAIS 62 VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 64 RESUMO - iv - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Resumo A Inspeção Sanitária em matadouro é um acto médico-veterinário que, após a produção primária, constitui a primeira linha de defesa da saúde do consumidor, contribuindo para que apenas seja colocada nos circuitos comerciais carne apta para consumo humano. Esta actividade baseia-se, maioritariamente, no exame ante mortem do animal e no exame post mortem (sensorial) da carcaça e das respectivas vísceras. Por conseguinte, no matadouro, é possível detetar muitos estados patológicos que comprometem negativamente os índices de produtividade e a rentabilidade das suiniculturas e que podem ser alvo de monitorização no decurso do abate. A componente prática deste trabalho teve como objectivo acompanhar de perto a actividade médico-veterinária na área da Inspeção sanitária de carnes de ungulados domésticos num matadouro, tendo-se dado particular atenção à Inspeção sanitária de suínos e, nesta, aos problemas músculo-esqueléticos que estão na origem de reprovações totais. Adicionalmente, durante o período de Outubro a Dezembro, efectuou-se o registo das causas de reprovação parcial em 3955 suínos abatidos. No presente estudo, as principais causas de reprovação total de suínos estavam associadas a lesões músculo-esqueléticas, nomeadamente a lesões de osteomielite purulenta e a abcessos musculares. Das reprovações totais post mortem de suínos de engorda, as lesões de osteomielite purulenta e de abcessos musculares múltiplos constituíram, respectivamente, 61,90% e 14,29% dos casos observados. Por seu lado, a presença de lesões melanocíticas foi a principal causa de reprovação total nos leitões, tendo-se registado uma taxa de 29,41% relativamente aos animais reprovados. Neste estudo, verificou-se que os pulmões (73,2%), os rins (16,01%) e o fígado (14, 7%) foram as vísceras mais reprovadas. A consolidação craneo-ventral, vulgarmente associada a lesão compatível com Pneumonia enzoótica, causada por Mycoplasma hyopneumoniae, foi detetada em 46,25% dos pulmões inspeccionados; a aspiração agónica de sangue observou-se em 30,92%. Relativamente aos rins, as lesões compatíveis com congestão (35,55%) e nefrite (33,18%) foram as principais causas de reprovação observadas. A presença de lesões compatíveis com “milk spots” ou manchas leitosas (44,41%), causadas por Ascaris suum, e de fibrose (29,43%) foram as principais causas de reprovação do fígado. -v- Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Abstract ABSTRACT The Sanitary Inspection in a slaughterhouse is a veterinary act that, after primary production, is the first line of defense of consumer health, contributing to only be commercialized meat fit for human consumption. This activity is based mainly on ante mortem inspection of animals and post mortem examination (sensory) of the carcass and its viscera. Therefore, in the slaughterhouse, it is possible to detect many pathological processes that compromise negative rates of productivity and profitability of pig farms and may be subject to monitoring during the slaughter. The practical aim of this study was to closely monitor the activity of meat inspection in slaughtered domestic ungulates, having been given particular attention to the sanitary inspection of pigs, and this, the musculoskeletal problems that are the source of total condemnations. Additionally, during the period October to December, took place the registration of causes of partial condemnation on 3955 slaughtered pigs. In this study, the main causes of total condemnation of pigs were associated with musculoskeletal disorders, including lesions of purulent osteomyelitis and muscle abscesses. Among the post mortem total condemnations of fattening pigs, purulent lesions of osteomyelitis and multiple muscle abscesses represented, respectively, 61.90% and 14.29% of the observed cases. Additionally, the presence of melanocytic lesions was the main cause of total condemnation in piglets, have been recorded a rate of 29.41% in the condemned animals. In this study, it was found that the lungs (73.2%), kidneys (16.01%) and liver (14, 7%) were the most condemned viscera. The cranio-ventral consolidation, commonly associated with lesions compatible with enzootic pneumonia, caused by Mycoplasma hyopneumoniae, was detected in 46.25% of lung inspected; agonizing aspiration of blood was observed in 30.92%. For kidneys, compatible lesions of congestion (35.55%) and nephritis (33.18%) were the main causes of observed condemnation. The presence of compatible lesions of "milk spots" (44.41%), caused by Ascaris suum, and fibrosis (29.43%) were the main causes of liver condemnation. - vi - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total LISTA DE ABREVIATURAS © – se consumo humano AAS – aspiração agónica de sangue absol – absoluta am – ante mortem Anon – Anónimo Bov – Bovinos Cap – Caprinos Categ – Categoria CEE – Comunidade Económica Europeia CO2 – dióxido de carbono COX – ciclooxigenase D.F.D. – Dark, Firm, Dry Eng – Engorda Esp – Espécie ex – exemplo Fig. – Figura HACCP – Análise de Perigos e Pontos de Controlo Críticos IC – Insuficiência Cardíaca INE – Instituto Nacional de Estatística IRCA – Informação Relativa à Cadeia Alimentar kg – quilograma L.c.c. – Lesão compatível com Leit – Leitões m – meses OIE – Organização Internacional de Epizootias Ov – Ovinos PE – Pneumonia Enzoótica PG - prostaglandina pm – post mortem P.S.E. – Pale, Soft, Exsudative Rep – Reprodutores - vii - Lista de abreviaturas Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total relat – relativa reprov – reprovação SIPS – Sistemas Intensivos de Produção de Suínos SPF – Specific Pathogen Free Subtot – Subtotal Suí – Suínos USA – Estados Unidos da América - viii - Índice de figuras Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Índice de tabelas ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1. Principais países produtores de carne de porco Tabela 2. Abate de suínos na União Europeia (milhares de cabeças) Tabela 3. Consumo humano de carne em Portugal, em 2011 (adaptado de INE, 2012a) Tabela 4. Consumo humano per capita (Kg/habitante) de carne em Portugal, em 2011 Tabela 5. Protocolo obrigatório de Inspeção post mortem dos suínos Tabela 6. Lesões músculo-esqueléticas que podem ser observadas em suínos abatidos para consumo Tabela 7. Total de animais apresentados para abate Tabela 8. Reprovações totais ante mortem Tabela 9. Reprovações totais post mortem Tabela 10. Causas de reprovação total post mortem nos suínos Tabela 11. Topografia das lesões vertebrais de osteomielite purulenta que causaram reprovação total nos suínos Tabela 12. Reprovações parciais das diferentes vísceras, cabeças, línguas e orelhas nos 3955 suínos analisados Tabela 13. Causas de reprovação parcial em 3955 suínos analisados - ix - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total ÍNDICE DE GRÁFICOS Gráfico 1. Distribuição do consumo humano de carne em Portugal, em 2011 -x- Índice de gráficos Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Índice de figuras ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1. Broncopneumonia purulenta em pulmão de suíno Figura 2. Enterite séptica em intestino de suíno Figura 3. Linfadenite generalizada em carcaça de suíno Figura 4. Nefrite intersticial purulenta em rim de suíno Figura 5. Artrite aguda em membro de leitão Figura 6. Leitão com aspecto repugnante devido a numerosas lesões cutâneas Figura 7. Pericardite necropurulenta em carcaça de leitão Figura 8. Lesões melanocíticas em carcaça e pulmões de leitão Figura 9. Lesão melanocítica em carcaça de leitão Figura 10. Osteomielite purulenta em carcaça de suíno Figura 11. Osteomielite purulenta em carcaça de suíno Figura 12. Osteomielite purulenta em carcaça de suíno Figura 13. Osteomielite purulenta em membro anterior de leitão Figura 14. Osteomielite purulenta em carcaça de suíno Figura 15. Osteomielite purulenta em carcaça de suíno Figura 16. Osteomielite purulenta em carcaça de suíno Figura 17. Leitão com osteomielite purulenta Figura 18. Abcessos múltiplos em carcaça de suíno, principalmente nos membros, com presença de uma lesão necrótica na proximidade do abcesso, potenciando a entrada de bactérias Figura 19. Abcessos múltiplos em carcaça de suíno Figura 20. “Milk Spots” Figura 21. Abcessos Figura 22. L.c.c. Fibrose Figura 23. L.c.c. Esteatose Figura 24. Fìgado com aspecto friável Figura 25. Aderências hepáticas Figura 26. L.c.c. Nefrite intersticial Figura 27. L.c.c. Hidronefrose Figura 28. Quistos - xi - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Figura 29. Congestão Figura 30. Hipoplasia (esquerdo) Figura 31. Linfadenite granulomatosa Figura 32. Pleurisia Figura 33. Consolidação craneo-ventral Figura 34. Aderências Figura 35. AAS Figura 36. Enfisema Figura 37. Linfadenite granulomatosa Figura 38. Fractura Figura 39. Pericardite - xii - Índice de figuras Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total I. Introdução INTRODUÇÃO A alimentação é uma necessidade básica do ser humano. Com a sua evolução, e à luz dos seus conhecimentos, o Homem tem demonstrado querer obter produtos alimentares mais seguros, sendo, hoje em dia, a Segurança Alimentar uma questão que se reveste da maior importância. Neste âmbito, no passado, os Veterinários estavam mais sensibilizados para o controlo de doenças das espécies pecuárias e zoonoses, mas à medida que a sua expressão tem vindo a diminuir, os serviços têm apostado mais na segurança e higiene dos géneros alimentícios. Nos matadouros, os médicos veterinários fazem uma constante vigilância epidemiológica, através da Inspeção sanitária dos animais e das suas carnes. Todos os alimentos devem ser detentores de três características: qualidade, salubridade e segurança. A Inspeção Sanitária em matadouro é um acto médico-veterinário que, após a produção primária, constitui a primeira linha de defesa da saúde do consumidor, contribuindo para que apenas seja colocada nos circuitos comerciais carne apta para consumo humano. A actividade do Médico Veterinário Oficial (MVO), que é a designação correcta do Veterinário que exerce funções de Inspeção no matadouro, não se pode focar exclusivamente na Inspeção ante e post mortem. As suas responsabilidades são mais abrangentes e vão desde o controlo das informações relativas à cadeia alimentar e das condições de transporte dos animais e do seu bem-estar, até ao controlo da higiene das instalações e das operações de abate. Além disso, é também responsável por auditorias em matéria de recolha, transporte, armazenagem, manuseamento e eliminação de subprodutos de origem animal, nos quais se incluem as matérias de risco especificadas. No âmbito da conclusão do Mestrado Integrado em Medicina Veterinária, o meu trabalho de fim de curso decorreu no matadouro de ungulados domésticos PEC Nordeste-Carnagri, situado em Penafiel, entre o dia 12 de Setembro de 2011 e o dia 13 de Janeiro de 2012, tendo como orientadora a Professora Doutora Maria Madalena Vieira-Pinto. A componente prática deste trabalho teve como objectivo acompanhar de perto a atividade médico-veterinária na Inspeção sanitária de carnes de ungulados domésticos num matadouro, tendo-se dado particular atenção à Inspeção sanitária de suínos e, nesta, aos problemas músculo-esqueléticos que estão na origem de reprovações totais. Por este motivo, a presente dissertação é, sobretudo, desenvolvida em torno destes temas. -3- Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total II. Revisão bibliográfica REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1. O consumo de carne de porco A carne é um elemento importante na cadeia alimentar, uma vez que constitui uma importante fonte proteica, por conter todos os aminoácidos essenciais, associada a um baixo conteúdo calórico. É uma excelente fonte de ácidos-gordos essenciais, de vitaminas do complexo B, nomeadamente a cobalamina, e dos minerais ferro e zinco, sendo praticamente desprovida de hidratos de carbono (Palma, 2010). Por carne entende-se, segundo o Regulamento (CE) n.º 853/2004, todas as partes comestíveis, incluindo o sangue, dos seguintes animais: ungulados domésticos (bovinos, suínos, ovinos, caprinos e solípedes domésticos), aves de capoeira, lagomorfos (coelhos, lebres e roedores) e caça (selvagem, de criação, miúda selvagem e grossa selvagem). 1.1.No Mundo Actualmente, e a nível mundial, o consumo per capita de carne e seus produtos é elevado (Tabela 1), nomeadamente quando comparado com os produtos de origem vegetal. Este facto é realçado nos países em desenvolvimento, cujo consumo de carne duplicou desde 1980 (USDA). Para o aumento do consumo global de carne contribuiu, principalmente, o aumento no consumo de carne de aves e de suíno, em detrimento do consumo de outras carnes, como a carne de bovino. Esta situação deve-se ao preço da carne destes animais ser mais baixo quando comparado com o preço da carne de bovino ou de pequenos ruminantes, mas também devido aos vários estudos na área da nutrição considerarem que estas carnes são mais saudáveis, principalmente quanto ao teor em gordura. A tabela 1 apresenta os principais países produtores de carne de porco, expressando as quantidades em milhares de toneladas. A China continua a representar metade da produção mundial (49%). -4- Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Revisão bibliográfica Tabela 1. Principais países produtores de carne de porco (Fontes: USDA e Comissão da União Europeia) Países 1986 1992 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 % China 17.960 26.353 45.186 43.410 45.553 46.505 42.878 46.205 48.905 51.070 49.500 49,0 U.E. 12.384 13.855 17.787 21.074 21.105 21.405 22.781 22.564 21.449 22.187 22.515 22,3 EUA 6.379 7.817 9.056 9.312 9.392 9.559 9.962 10.599 10.442 10.186 10.278 10,2 Brasil 800 1.200 2.560 2.600 2.710 2.830 2.990 3.015 3.130 3.195 3.227 3,2 Canadá 1.097 1.209 1.882 1.936 1.765 1.748 1.746 1.786 1.789 1.772 1.753 1,7 Rússia 6.065 2.784 1.710 1.725 1.735 1.805 1.640 1.736 1.844 1.920 1.965 1,9 Japão 1.552 1.432 1.260 1.272 1.245 1.247 1.250 1.249 1.310 1.292 1.255 1,2 México 910 830 1.100 1.150 1.195 1.109 1.152 1.161 1.162 1.165 1.170 1,2 Coreia 1.149 1.100 1.036 1.000 1.043 1.056 1.062 1.110 835 0,8 do Sul Vietname 1.408 1.602 1.713 1.832 1.850 1.850 1.930 1.960 1,9 Filipinas 1.145 1.175 1.215 1.250 1.225 1.240 1.255 1.260 1,2 Outros 10.592 8.785 8.475 5.501 5.336 5.201 5.387 5.240 5.219 5.298 5.394 5,3 TOTAL 57.739 64.265 90.165 91.633 93.849 95.337 94.181 98.010 99.763 102.380 101.112 100,0 1.2.Na União Europeia A tabela seguinte apresenta o volume de abate de suínos na União Europeia. A Alemanha (23,3%) e a Espanha (16,5%) são os países europeus com maior volume de abate. Portugal ocupa o décimo lugar (2,3%). Tabela 2. Abate de suínos na União Europeia (milhares de cabeças) – Continua (Fonte: EUROSTAT) Países Bélgica Bulgária R. Checa Dinamarca Alemanha Estónia Grécia Espanha França Irlanda Itália Chipre Letónia Lituânia 2001 11.315 21.854 44.023 2.224 36.331 26.473 3.298 13.153 - 2002 11.176 22.377 44.173 2.224 37.024 26.664 3.109 13.275 - 2003 11.234 22.499 45.373 2.189 38.180 26.468 2.895 13.576 - 2004 11.117 4.618 22.902 46.321 503 2.183 37.835 26.171 2.734 13.583 678 489 1.324 2005 10.903 4.278 22.109 48.252 489 2.105 38.705 25.681 2.647 13.010 673 500 1.353 2006 10.741 4.039 21.419 50.113 447 1.990 39.277 25.484 2.658 13.380 648 501 1.346 -5- 2007 11.223 599 4.066 21.385 53.311 476 1.945 41.489 25.730 2.615 13.596 679 526 1.262 2008 11.157 993 3.804 20.790 54.848 496 1.913 41.396 25.735 2.578 13.616 725 524 937 2009 11.161 549 3.243 19.307 56.177 387 1.878 40.118 24.908 2.418 12.698 722 324 542 2010 11.955 545 3.116 20.114 58.098 408 1.832 40.847 24.935 2.657 12.908 734 316 703 2011 11.765 719 2.982 20.875 59.169 394 1.829 42.066 24.804 2.905 12.346 716 313 752 % 4,6 0,3 1,2 8,2 23,3 0,2 0,7 16,5 9,7 1,1 4,9 0,3 0,1 0,3 Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Revisão bibliográfica Tabela 2. Abate de suínos na União Europeia (milhares de cabeças) (Continuação) Países Luxemburgo Hungria Malta Holanda Áustria Polónia Portugal Roménia Eslovénia Eslováquia Finlândia Suécia R. Unido UE -15 UE -25 UE -27 2001 134 15.701 5.164 4.816 2.063 3.198 10.628 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 163 172 157 158 144 147 150 131 5.155 4.920 5.260 5.382 4.994 4.299 105 108 104 94 102 90 15.401 13.890 14.341 14.377 14.027 14.187 14.505 13.816 5.399 5.425 5.411 5.324 5.365 5.599 5.553 5.537 23.244 22.665 24.289 24.744 22.321 18.678 5.044 5.220 5.044 5.137 5.379 5.778 5.976 5.904 5.933 5.660 4.935 443 392 410 405 381 292 1.675 1.516 1.319 1.203 1.084 776 2.143 2.290 2.351 2.403 2.391 2.446 2.459 2.343 3.282 3.305 3.365 3.160 3.022 3.004 3.073 2.956 10.575 9.355 9.368 9.173 9.097 9.484 9.427 9.031 2010 134 4.610 85 13.943 5.692 19.966 5.960 5.093 289 758 2.248 2.923 9.662 2011 131 4.290 83 14.208 5.613 20.979 5.887 5.538 274 642 2.267 2.845 10.066 % 0,1 1,7 0,0 5,6 2,2 8,2 2,3 2,2 0,1 0,3 0,9 1,1 4,0 200.38 202.03 202.07 241.12 240.04 242.85 257.31 255.20 243.22 250.53 254.46 100 1.3.Em Portugal Portugal é um país onde se verifica o aumento do consumo de carne de aves e de suíno, em detrimento do consumo de outras carnes, como a carne de bovino, pois de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), a carne de aves juntamente com a carne de suíno representam actualmente a grande fatia (75%) do total de carne consumida no nosso país (Tabela 3 e Tabela 4; Gráfico 1). Na tabela 3 é apresentado o consumo humano de carne (expresso em milhares de toneladas) por tipo de carnes, em Portugal, referente ao ano de 2011. -6- Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Revisão bibliográfica Tabela 3. Consumo humano de carne em Portugal, em 2011 (adaptado de INE, 2012a) Tipo de carnes Consumo humano de carne (milhares toneladas) Carne de suínos 475 Carne de animais de capoeira 372 Carne de bovinos 182 Miudezas 59 Outras carnes 27 Carne de ovinos e caprinos 26 Carne de equídeos 0 Total de carnes e miudezas 1141 Gráfico 1. Distribuição do consumo humano de carne em Portugal, em 2011 (INE, 2012a) t (milhares) Carne de bovinos 2% 5% Carne de suínos 16% Carne de ovinos e caprinos 33% Carne de equídeos 42% Carne de animais de capoeira Outras carnes 0% 2% Miudezas Na tabela 4 é apresentado o consumo humano per capita de carne (expresso em quilograma/habitante) em Portugal, referente ao ano de 2011. -7- Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Revisão bibliográfica Tabela 4. Consumo humano per capita (Kg/habitante) de carne em Portugal, em 2011 (adaptado de INE, 2012b) Tipo de carnes Consumo humano de carne per capita (kg/hab.) Carne de suínos 44,6 Carne de animais de capoeira 35,0 Carne de bovinos 17,1 Miudezas 5,5 Outras carnes 2,5 Carne de ovinos e caprinos 2,4 Carne de equídeos 0 Total de carnes e miudezas 107,1 O grande aumento no comércio e consumo da carne e dos produtos cárneos, tanto a nível nacional como internacional, resulta, também, num aumento da atenção governamental para a potencial transmissão de doenças por via alimentar (FAO, 2004). A carne é um alimento que é visto, tradicionalmente, como um importante veículo de microrganismos patogénicos, pois constitui um meio de cultura excelente para o desenvolvimento microbiano, devido às suas características – apresenta elevada actividade da água (0,99) e é rica em nutrientes de baixo peso molecular (Veloso, 2000). 2. Tecnologia de abate e Inspeção sanitária de suínos 2.1.Inspeção ante mortem No âmbito da Inspeção ante mortem, todos os animais são examinados antes do abate. O exame deve ser efectuado nas 24 horas seguintes à chegada dos animais ao matadouro e menos de 24 horas antes do abate (Reg. (CE) n.º 854/2004, Anexo I, Secção I, Capítulo II, Parte B, ponto 1). Durante a Inspeção ante mortem verifica-se o bem-estar animal é respeitado e se existem sinais de qualquer outro factor que possa ter implicações negativas para a saúde humana ou animal, nomeadamente doenças zoonóticas e/ou doenças da lista da Organização Internacional de Epizootias (Reg. (CE) n.º 854/2004). -8- Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Revisão bibliográfica As finalidades do exame ante mortem são: Tornar o exame post mortem mais eficiente e menos laborioso, utilizando os dados colhidos no exame em vida – casos de corrimentos vulvares, claudicações (artrites pouco evidentes); Identificar os animais que exigem uma manipulação especial durante as operações de abate e/ou de um exame post mortem mais minucioso (animais muito sujos, doentes, com defeitos, provenientes de campanhas sanitárias), para evitar a contaminação da linha de abate e de outras carnes, melhorar a salvaguarda da saúde dos trabalhadores do matadouro e permitir ainda uma maior eficiência na garantia da qualidade hígio-sanitária da carne produzida; Detetar animais com doenças que podem não ser detetáveis no exame post mortem (ex. Raiva, Tétano, Envenenamentos); Evitar prejuízos à produção, não abatendo animais susceptíveis de recuperação; Descobrir animais mortos, em estado agónico ou acidentados; Velar para que os animais não sejam vítimas de maus-tratos e crueldades; Detetar animais fatigados ou excitados. 2.2.Insensibilização A insensibilização consiste em induzir o estado de inconsciência ao animal, de forma a evitar qualquer sofrimento desnecessário (Gil, 2000). A insensibilização deve ser feita através de um método seguro e apropriado para o efeito, deve provocar a perda de consciência do animal e perdurar até a altura da morte, aquando da sangria (Decreto-Lei n.º 28/96; FAO, 2007). É importante que haja formas de verificar se o processo de atordoamento está a ser correctamente executado, consoante a espécie e tamanho do animal. Os operadores responsáveis pela execução do método devem ser competentes e treinados para o efeito. Os dispositivos utilizados para a insensibilização devem ser limpos regularmente e, sempre que necessário, submetidos a manutenção apropriada. O animal só deve ser sujeito à insensibilização no caso de se proceder à sangria imediatamente depois (Decreto-Lei n.º 28/96; FAO, 2007). Os animais são normalmente conduzidos para a área de insensibilização através de mangas, de preferência com paredes maciças e sem arestas, com iluminação adequada e com chão antiderrapante, e com o mínimo de stresse possível (FAO, 2007). -9- Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Revisão bibliográfica Um correcto atordoamento implica que se faça antes a imobilização do animal, limitandolhe os movimentos (Gil, 2000). Segundo as normas estabelecidas pelo Decreto-Lei n.º 28/96, os animais devem ser sempre imobilizados, de forma a prevenir possíveis dores, sofrimento, agitação ou lesões desnecessárias. Existem vários tipos de imobilizadores de animais, que facultam a contenção do animal e facilitam o processo de insensibilização, tornando-o mais seguro, rápido e eficaz. O objectivo é confinar o animal e impedi-lo de fazer movimentos bruscos. No entanto, a imobilização dos animais também pode ser manual (FAO, 2007). É importante que, qualquer que seja o método de imobilização do animal, este não provoque lesões nem sofrimento ao animal (Gil, 2000). Segundo o Anexo D do Decreto-Lei n.º 28/96, existem vários métodos de atordoamento autorizados: eletronarcose ou atordoamento elétrico, atordoamento por concussão, atordoamento com pistola de êmbolo retráctil e atordoamento com atmosfera modificada ou exposição ao CO2. Nos suínos aplica-se o método de eletronarcose ou atordoamento elétrico e o método de atordoamento com atmosfera modificada ou exposição ao CO2. O método de eletronarcose consiste na utilização de eléctrodos, os quais são colocados ao nível dos temporais, para que a corrente eléctrica passe através do tálamo e córtex. O método de atordoamento com atmosfera modificada é feito com a ajuda de uma câmara com uma mistura de gases, aos quais o animal é exposto, capazes de provocar inconsciência no animal. Deve-se monitorizar e assegurar que a quantidade de gases e o tempo que o animal é exposto a eles são suficientes para uma insensibilização eficaz. Um animal correctamente insensibilizado sai da câmara com os músculos relaxados, sem respiração rítmica e sem resposta a estímulos dolorosos (FAO, 2007). Segundo o Decreto-Lei n.º 28/96, a concentração de CO2 para um atordoamento eficiente deve ser, no mínimo, de 70% em volume. A identificação de uma correcta insensibilização é fundamental para reconhecer situações de falhas no bem-estar animal. Após um atordoamento correcto e eficaz, o animal passa por duas fases: a fase tónica (com duração de 10 a 12 segundos, em que o animal cai rigidamente, com as patas anteriores esticadas e as posteriores flectidas, com respiração irregular) e a fase clónica (com duração de 20 a 35 segundos, em que o animal escoiceia, movimenta os olhos e saliva). Caso o animal não seja sangrado imediatamente, recuperará a respiração regular (FAO, 2007). Uma consequência possível de um atordoamento eléctrico incorrecto é o aparecimento de hemorragias de “choque” (também conhecida por “splashing”) na carcaça ou vísceras do animal. Estas petéquias aparecem, normalmente, nos tecidos contíguos à zona de descarga eléctrica, principalmente músculos e fáscias. Ocorre devido à súbita ruptura de capilares que a descarga - 10 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Revisão bibliográfica desencadeia, havendo várias teorias para o facto, como o atraso na realização da sangria após a insensibilização, mas nenhuma ainda foi provada. 2.3.Sangria A sangria consiste na depleção sanguínea do corpo do animal e deve ser efectuada com instrumento adequado, o qual satisfaça os requisitos técnicos e de higiene (Gil, 2000). De acordo com as normas estabelecidas no Decreto-Lei n.º 28/96, deve ser iniciada o mais rapidamente possível após o correcto atordoamento e ser efectuada antes da recuperação da consciência do animal. A sangria deve apenas ser feita em animais correctamente insensibilizados. Recorre-se a uma faca “tipo vampiro”, adequada ao tamanho e espécie do animal. O corte é feito na base do pescoço, na prega da jugular, apontando para o peito do animal (FAO, 2007). O que se pretende é seccionar a veia cava cranial, para que o animal sangre o mais completamente possível e a morte ocorra (Decreto-Lei n.º 28/96; FAO, 2007). Os tempos máximos tolerados para começar a sangria após atordoamento do animal, segundo o Decreto-Lei n.º 28/96, são os seguintes: Atordoamento eléctrico: 20 segundos; Atordoamento por exposição ao CO2: 60 segundos (após sair da câmara). É importante que o animal mantenha os movimentos respiratórios e os batimentos cardíacos para que a sangria seja o mais completa possível. Nos grandes animais, uma sangria completa demora entre 5 a 8 minutos. Uma má sangria leva a carnes com má apresentação, conservação e salubridade (Gil, 2000). Deve-se evitar o corte do esófago e da traqueia, excepto no caso de abate em conformidade com tradição religiosa (Reg. (CE) n.º 853/2004). O MVO deve examinar o sangue no acto da sangria em relação à cor e coagulabilidade. 2.4.Escaldão É a operação indispensável para a posterior remoção das cerdas nos suínos. Existem 2 tipos de escaldão: - 11 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Revisão bibliográfica Horizontal – Imersão das carcaças em tanque com água entre os 60 e os 62ºC, durante 5 a 6 minutos. O controlo da contaminação da água do escaldão é importante para a higiene das operações. Vertical – Com ar humidificado submetido a pressão através de agulhetas para alcançar toda a carcaça. 2.5.Depilação/Chamusco É a operação que consiste na eliminação da gordura cutânea, da camada córnea da epiderme dos suínos e de eventuais cerdas que não foram eliminadas na etapa anterior. Existem os seguintes métodos de depilação: Depilação manual ou mecânica Depilação por aspersão em túnel Depilação por banho de vapor de água Depilação por chamusco 2.6.Raspagem/Polimento Após o chamusco as carcaças passam para outra máquina depiladora, que elimina o resto das cerdas e material carbonizado, além de: As carcaças são lavadas; O duche facilita o arrefecimento; Ocorre, por vezes, recontaminação. 2.7.Evisceração Consiste na extracção dos órgãos das cavidades pélvica, abdominal e torácica (Gil, 2000) e deve ser realizada sem demoras desnecessárias (Reg. (CE) n.º 853/2004). De acordo com a antiga Portaria n.º 971/94, a evisceração deve efectuar-se imediatamente e estar terminada, o mais tardar, 45 minutos após o atordoamento ou, em caso de abate imposto por rito religioso, 30 minutos após a sangria. É indispensável tomar medidas para evitar o derrame do conteúdo digestivo durante a evisceração (Reg. (CE) n.º 853/2004), nomeadamente, o fecho do esófago e do ânus de forma - 12 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Revisão bibliográfica eficaz e higiénica para evitar a saída de conteúdo gástrico e intestinal), assim como evitar cortes no estômago e intestino. 2.8.Corte sagital da carcaça Consiste na divisão da carcaça em duas meias carcaças, por secção longitudinal da ráquis, incluindo a cabeça nos suínos (Gil, 2000). As carcaças de suínos com mais de 4 semanas devem ser apresentadas à Inspeção seccionadas longitudinalmente ao longo da coluna vertebral formando meias carcaças (Reg. (CE) n.º 854/2004, Secção I, Capítulo II). Por motivos de ordem tecnológica ou hábitos de consumo local, a autoridade competente pode autorizar a apresentação das carcaças de suínos com mais de quatro semanas não seccionadas (Reg. (CE) n.º 854/2004, Secção I, Capítulo II). 2.9.Inspeção post mortem A metodologia do exame post mortem baseia-se nos seguintes princípios (Reg. (CE) n.º 854/2004): Todas as superfícies do animal devem ser examinadas; A manipulação (palpação e incisão) da carcaça e miudezas deve ser reduzida ao mínimo, a fim de evitar contaminação das carnes; A palpação e a incisão de carcaça e miudezas e testes laboratoriais (exames suplementares) devem ser efectuados sempre que for necessário chegar a diagnósticos definitivos e detetar doença do foro animal, resíduos de contaminantes, a não conformidade com padrões microbiológicos ou outros factores condicionantes da declaração da carne como imprópria para consumo ou com restrições à sua utilização. Na tabela 5 é apresentado o protocolo obrigatório de Inspeção post mortem dos suínos de acordo com o disposto no Reg. (CE) n.º 854/2004. - 13 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Revisão bibliográfica Tabela 5. Protocolo obrigatório de Inspeção post mortem dos suínos (adaptado do Manual de Inspeção Sanitária de Reses, Anexo I, Capítulo III, DGV, 2010) Suínos (3) Sistema ou Órgão Cabeça Respiratório Coração Serosas Digestivo Urogenital Gla. Mamária Carcaça Cabeça e garganta V GG submaxilares I GG retrofaríngeos - GG parotídeos - Masséteres internos e externos - Boca V Amígdalas Remoção Língua V Traqueia e ramos brônquicos I© Pulmões PeI© GG brônquicos e mediastínicos P Pericárdio V Miocárdio I Diafragma V Pleura e peritoneu V Esófago V Fígado P LN hepáticos P GG pancreáticos V Trato gastrointestinal V Mesentério V LN gástricos e mesentéricos P (I) Baço V Rins Genitais V (1) V Parênquima e GG supramamários V (4) Região umbilical (2) P Articulações (2) Visualização das superfícies externas P V Legenda: V – Inspeção ou exame visual; P – palpação; I – incisão ou corte; LN – linfonodos; GG – gânglios; © - se consumo humano; parênteses – apenas se necessário (1) – exceto pénis, se já removido; (2) – nos jovens; (3) – Inspeção pode resumir-se a exame visual; (4) – incisão de gânglios nas porcas; - 14 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Revisão bibliográfica 2.9.1.Avaliação do risco nos procedimentos de Inspeção post mortem de suínos Nos países industrializados, mais de 10% da população humana pode sofrer, anualmente, de zoonoses transmitidas pelos alimentos (Kaferstein & Abdussalam, 1999; Schlundt et al., 2004), definidas como doenças e/ou infecções que são indirectamente transmitidas entre animais e humanos através dos alimentos (Hugh-Jones et al., 1995). Para avaliar o impacto, na saúde humana, dos perigos biológicos transmitidos pelo consumo de alimentos contaminados, na abordagem da avaliação do risco, a incidência de casos clínicos em humanos deve ser balanceada pela ocorrência de perigos biológicos nos alimentos. No entanto, são poucos os dados disponíveis para identificar quais os alimentos que são veículos para os casos específicos de doença nos humanos (Batz et al., 2005). Além disso, a deteção dos perigos durante o controlo oficial da segurança dos alimentos também deve ser tida em conta. Este aspecto refere-se, principalmente, à carne. De facto, a Inspeção da carne é um dos meios mais antigos usado nos matadouros para protecção da saúde do consumidor. Esta baseia-se no exame clínico ante mortem e no exame post mortem macroscópico da carcaça, incluindo a incisão e palpação de gânglios linfáticos e órgãos de modo a detetar sinais clínicos ou lesões macroscópicas potencialmente correlacionadas com a presença de perigos (Thornton, 1957). Fosse e colaboradores (2008) desenvolveram um estudo para classificar os perigos biológicos transmitidos aos humanos pelo consumo de carne, nomeadamente de carne de porco, a principal fonte de carne na União Europeia (Devine, 2003). Assim, foram encontrados 35 perigos biológicos passíveis de serem transmitidos aos humanos pelo consumo de carne de porco: 12 perigos parasitários, 14 bacterianos e 9 virais. Entre estes, 12 foram definidos como perigos actualmente estabelecidos (ou seja, perigos que foram identificados na carne de porco ou que foram responsáveis por doença clínica em humanos) na Europa: 3 parasitários (Sarcocystis suihominis, Toxoplasma gondii e Trichinella spiralis) e 9 bacterianos (campilobactérias termófilas, Clostridium botulinum, Clostridium perfringens, Listeria monocytogenes, Mycobacterium spp., Salmonella enterica, Staphylococcus aureus, Escherichia coli produtora de shiga-toxina e Yersinia enterocolitica). Os procedimentos atuais da Inspeção post mortem são árduos e intensivos, com o objetivo de detetar alterações macroscópicas, as quais são avaliadas como uma fonte menor de perigos alimentares para os consumidores (Hathaway & Mckenzie, 1991; Berends et al., 1993). Os procedimentos tradicionais permanecem praticamente inalteráveis, apesar da sua validade científica e relação custo-eficácia serem fortemente contestadas ao longo dos anos (Anon, 1985; - 15 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Revisão bibliográfica McHanon et al., 1987; Hathaway et al., 1988; Harbers et al., 1992; Bettini et al., 1996; Mousing & Pointon, 1997; Edwards et al., 1997). A abordagem de avaliação do risco fornece uma base científica para uma óptima distribuição dos recursos de modo a maximizar a Segurança Alimentar (Pointon et al., 2000). Deste modo, devem ser incorporadas alterações na Inspeção post mortem no âmbito de um sistema de garantia de qualidade baseado nos princípios da análise de perigos e do controlo de pontos críticos (HACCP), que têm como alvo as principais fontes de perigos transmitidos pelos alimentos para a saúde humana (Pointon et al., 2000). Assim, permite quantificar a sensibilidade e a especificidade de cada procedimento e avalia a sua provável contribuição para a exposição dos consumidores aos perigos transmitidos pelos alimentos (Hathaway & Pullen, 1990; Harbers et al., 1992; Willeberg et al., 1997). Os resultados da avaliação de alguns aspetos da Inspeção sanitária tradicional de carnes reforçam a teoria, amplamente difundida, de que os procedimentos atuais não conseguem detetar fontes consideráveis de contaminação da carcaça (Anon, 1991; Hathaway, 1993; Mousing et al., 1997; Berends, 1998). Os procedimentos de Inspeção de rotina, que envolvem a palpação e/ou incisão, são susceptíveis de serem uma fonte de perigos adicionais. Vários estudos demonstram que estas actividades resultam na contaminação cruzada microbiológica (Willeberg et al., 1997; Berends, 1998). Dada a taxa relativamente elevada da contaminação dos gânglios linfáticos normais, estes procedimentos são claramente prováveis de aumentar, em vez de diminuir, a probabilidade de contaminação. No entanto, segundo Pointon e colaboradores (2000), a incisão dos gânglios linfáticos deve continuar a ser uma opção nos procedimentos de Inspeção da carne, desde que sejam posteriormente excisados da carcaça. Os resultados dos estudos realizados por Pointon e colaboradores (2000) fornecem forte apoio para a aprovação da abordagem da Inspeção inteiramente visual defendida para os suínos. Hamilton e colaboradores (2002) referem que os dados dos seus estudos confirmam que nenhum dos métodos de Inspeção é completamente efetivo na deteção de alterações, contudo, o sistema de avaliação baseado no risco apresenta um nível de eficácia idêntico ao dos métodos tradicionais. Adicionalmente, o método de Inspeção inteiramente visual apresenta a vantagem de minimizar a contaminação cruzada associada à incisão de gânglios linfáticos. Na Dinamarca, os matadouros implementaram medidas para prevenir a transferência de possíveis contaminantes presentes no esfíncter anal para a carcaça. Através da monitorização de Salmonella spp. na carne fresca e nas miudezas, é possível demonstrar que a prevalência de - 16 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Revisão bibliográfica Salmonella spp. é superior nas peças da região frontal da carcaça (membros anteriores, pescoço e ombros) e nas miudezas (fígado, coração e rins), quando comparada com a das peças da região traseira (Sorensen et al., 1997). A elevada prevalência de Salmonella spp. é causada pelo alto risco de transferência deste agente a partir do tracto gastrointestinal superior (boca e língua) durante a preparação, evisceração e Inspeção da carcaça (Sorensen & Petersen, 2012). Christensen & Luthje (1994) demonstraram que a remoção, o quanto antes, da cabeça inteira dos suínos (incluindo a língua) durante o processo de preparação contribui para a melhoria do estado microbiológico geral da carcaça, em comparação com o método tradicional, no qual a língua é removida com a colada e a cabeça é inspeccionada de acordo com a Directiva 64/433/CEE (Capítulo VIII). Assim sendo, os dados revelam que os procedimentos da Inspeção baseada no risco são claramente satisfatórios (Hamilton et al., 2002). 2.10.Lavagem final Esta operação, ainda que muito controversa, deve efectuar-se a fim de desembaraçar a carcaça de sujidades como o sangue, esquírolas ósseas, entre outras (Gil, 2000). 2.11.Arrefecimento A refrigeração deve efectuar-se o mais rápido possível, pois inibe o desenvolvimento de microrganismos mesófilos e retarda o desenvolvimento dos psicotrópicos. As carnes frescas devem ser arrefecidas após a Inspeção post mortem e mantidas, permanentemente, a uma temperatura que permita que o interior da carcaça e das vísceras apresente ≤ 7ºC e 3ºC, respetivamente (Reg. (CE) n.º 853/2004). - 17 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Revisão bibliográfica 3. Principais lesões músculo-esqueléticas em suínos abatidos para consumo A tecnificação da suinicultura melhorou a produtividade e, consequentemente, acarretou problemas ao aparelho locomotor dos animais. As enfermidades locomotoras causam importantes perdas económicas em Sistemas Intensivos de Produção de Suínos (SIPS) resultantes da sobrecarga de trabalho devido à manipulação física dos suínos, custos de tratamento médico e reduzida produtividade (Jensen et al., 2006). Kirk et al. (2005) observaram 72% de perdas por doenças relacionadas ao aparelho locomotor de suínos, justificando a realização de estudos etiológicos e patológicos dessa enfermidade, devido à escassez de dados na literatura. Essas lesões acarretam o aparecimento de locais dolorosos, com consequente claudicação, afectando, principalmente, as unhas, músculos, articulações e ossos (Lopez et al., 1997). O estudo dessas lesões deve incluir o exame e a monitorização clínica do efectivo para a caracterização e quantificação do problema locomotor em SIPS. Posteriormente, devem ser realizados exames laboratoriais para estabelecer o diagnóstico etiológico e as medidas de tratamento e/ou controlo (Sobestiansky & Barcellos, 2007). Existem muitos estados patológicos que comprometem negativamente os índices de produtividade e a rentabilidade das suiniculturas, os quais podem ser monitorizados em matadouro, através do exame periódico de um número de animais representativo do efetivo (Morés et al., 2003). Segundo Morés e colaboradores (2003), este sistema de monitorização assume uma importância relevante, uma vez que permite identificar a ocorrência de doenças subclínicas nos efectivos, estimar a prevalência e quantificar a gravidade de lesões que representam manifestações de doenças. Permite, ainda, avaliar os benefícios obtidos pela implementação de novas práticas de maneio, alterações no ambiente e esquemas terapêuticos e imunoprofilácticos, bem como definir prioridades de acções no serviço de assistência técnica e identificar factores de risco associados a doenças. Na tabela 6 são apresentadas algumas lesões músculo-esqueléticas que podem ser observadas em suínos abatidos para consumo humano. - 18 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Revisão bibliográfica Tabela 6. Lesões músculo-esqueléticas que podem ser observadas em suínos abatidos para consumo – Continua (Fontes: Thomson, 1990; MacMillan, 1992; Gracey et al., 1999; Herenda et al., 2000; Perestrelo-Vieira et al., 2000; Sobestiansky & Barcellos, 2007) Patologia Características Atrofia Muscular Diminuição do volume muscular, mantendo-se a forma, cor e consistência normais. Hipertrofia Muscular Aumento do volume muscular, mantendo-se a forma, cor e consistência normais. Colorações Anormais ALTERAÇÕES CELULARES ELEMENTARES MÚSCULO Estrutura Degenerescência Muscular Descoloração ou Albinismo Muscular Músculos apresentam uma cor pálida depreciativa. Melanose Muscular Presença de pigmentação negra ou negraacastanhada nos músculos. Eosinofilia Muscular Os músculos afectados apresentam‐se descorados ou ligeiramente esverdeados e de consistência aumentada. Atrofia Castanha Presença de pigmento castanho-escuro (lipofuscina) no músculo estriado e cardíaco. Coloração Medicamentosa Músculos apresentam uma coloração variada, dependendo da administração medicamentosa. Doença do Músculo Branco Observam-se alterações na cor dos músculos e coração, os quais apresentam cor branca ou cinzenta Carnes P.S.E. (Pale, Soft, Exsudative) As carnes P.S.E. têm uma coloração rosa claro ou cinza amarelado, são moles e apresentam líquido à superfície de corte. Os músculos do presunto e espádua são os mais afectados. Carnes D.F.D. (Dark, Firm, Dry) As carnes D.F.D. têm uma coloração escura, são firmes, a superfície é seca, mas têm uma grande capacidade de retenção de água. Geralmente sangram mal, o rigor mortis é fugaz ou ausente e o seu tempo de conservação diminuído. - 19 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Revisão bibliográfica Todos os músculos apresentam uma coloração pálida em consequência de hemorragia ou doença. Congestão Muscular Os músculos apresentam uma tonalidade vermelho escuro. Hemorragias Musculares Músculos apresentam uma coloração pálida. Miosites Bacterianas Anemia Generalizada Miosites Parasitárias ALTERAÇÕES DE CARÁCTER INFLAMATÓRIO MÚSCULO ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS Tabela 6. Lesões músculo-esqueléticas que podem ser observadas em suínos abatidos para consumo – Continuação Actinobacilose "Língua de Madeira" Surgem pequenas granulações amarelas na superfície de corte. Miosite gasogénica “Carbúnculo Sintomático” Observa‐se uma adenite congestivo hemorrágica, tecidos hemorrágicos e edematosos, o sangue escuro e odor butiroso. Cisticercose Presença de vesículas com líquido claro e escólex no interior no masséteres, língua, miocárdio, pilares do diafragma, intercostais, músculos da região lombar e quarto posterior. Triquinose Podem observar-se pequenos quistos calcificados no diafragma, masséteres, língua e músculos intercostais e abdominais. Sarcosporidiose - 20 - Presença de quistos (forma característica de “cigarro”), de cor branca, no interior e entre as fibras dos músculos dos pilares do diafragma, abdominais, cutâneos e parede esofágica. Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Revisão bibliográfica ALTERAÇÕES DO METABOLISMO COLORAÇÃO MINERAL ANORMAL ORIGEM INFLAMATÓRIA OSSO ORIGEM TRAUMÁTICA MÚSCULO Tabela 6. Lesões músculo-esqueléticas que podem ser observadas em suínos abatidos para consumo – Continuação Abcessos Presença de coleções circunscritas de pus, que se encontram separadas dos tecidos envolventes por uma cápsula fibrosa. Fracturas Observam‐se infiltrações serohemorrágicas na região adjacente à fractura. Melanose Óssea Os ossos adquirem uma coloração pintalgada, cinzenta escura ou negra sob o periósteo. Osteohematocromatose Os ossos apresentam uma coloração castanha ocre. Raquitismo Verifica‐se um amolecimento e curvatura dos ossos e uma tumefacção exuberante das articulações. Osteomalacia O periósteo destaca‐se facilmente e a medula tem consistência gelatinosa. Osteofluorose Caracteriza‐se por deterioração dos dentes, osteomalacia e presença de manchas de cor variável. Observa-se necrose, remoção do osso e sua substituição por tecido esponjoso de arquitectura irregular, podendo surgir a presença de pus. Osteíte/Osteomielite Entre as lesões músculo-esqueléticas frequentes nos suínos abatidos para consumo destaca-se a osteíte/osteomielite e os abcessos musculares. - 21 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Revisão bibliográfica 3.1.Osteíte/Osteomielite Osteíte é o termo utilizado para designar uma inflamação óssea. Pode denominar-se periosteíte ou osteomielite, dependendo se o processo inflamatório se inicia no periósteo ou na cavidade medular do osso, respetivamente (Palmer, 1993; Woodard, 1997; Doige & Weisbrode, 2001). As osteomielites são, frequentemente, processos crónicos deformantes e dolorosos, levando à debilidade do animal afetado (Doige & Weisbrode, 2001), e, geralmente, envolvem apenas um osso (Jones et al., 1997). A osteomielite vertebral tem sido descrita em todos os grandes animais domésticos (Mayhew, 1989). É frequentemente observada em neonatos e pensa-se estar relacionada com uma protecção imunológica inadequada (Healy et al., 1997). A osteomielite vertebral na região lombar tem sido relatada em porcos e cordeiros como consequência directa da mordedura e corte da cauda (Finley, 1975). Todavia, acredita-se que o umbigo seja a porta de entrada dos microrganismos, com posterior difusão hematógena até ao corpo vertebral (Dodd & Cordes, 1964; citados por Healy et al., 1997). A sequência usual de eventos na osteíte inicia-se pela necrose, com posterior reabsorção e produção compensatória de novo osso (Palmer, 1993). As osteítes são, geralmente, causadas por bactérias, no entanto, também podem estar envolvidos outros agentes, como vírus, fungos e protozoários. As bactérias piogénicas, como Arcanobacterium pyogenes, são causa comum de osteomielite supurativa nos animais de produção (Doige & Weisbrode, 2001). Por seu lado, as osteítes crónicas podem estar associadas a infeções, como Actinomicose, Coccidiodomicose, Tuberculose e Rinite Atrófica, as quais têm propensão para afectar o osso (Woodard, 1997; Gracey et al., 1999). Outra causa de osteíte em suínos pode estar associada a infecções por Brucella suis (Palmer, 1993; Radostits et al., 1994; Gracey et al., 1999). As bactérias podem alcançar o osso aquando de uma fractura exposta ou podem resultar de uma infecção dos tecidos adjacentes (por contiguidade), tais como sinusites, periodontites ou otites médias, e, mais frequentemente, a partir de artrites purulentas (Doige & Weisbrode, 2001). No caso da Rinite Necrótica dos suínos, causada pelo Fusobacterium necrophorum, o microrganismo penetra, principalmente, pela gengiva quando os caninos dos leitões são cortados (Palmer, 1993). A infecção do osso também pode surgir em consequência de infecções hematógenas não específicas, que podem estar associadas a onfaloflebites, traumatismos da cauda resultantes de mordedura e infecções da ferida de castração (Radostits et al., 1994). As - 22 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Revisão bibliográfica osteítes hematógenas são, geralmente, mais frequentes em animais jovens (Palmer, 1993; Woodard, 1997; Doige & Weisbrode, 2001). Nas vértebras afectadas observa-se necrose e formação de cavidades, o que conduz ao aparecimento de fracturas, deslocamentos do corpo vertebral e compressão ou laceração da medula espinhal. O exsudado pode originar a elevação do periósteo do canal vertebral, ocorrendo compressão da medula espinhal ou, então, o processo inflamatório estende-se para o exterior do canal medular, conduzindo ao aparecimento de abcessos paravertebrais (Doige & Weisbrode, 2001). Pode, ainda, surgir fleimão como consequência da drenagem de material purulento para o tecido subcutâneo (Radostits et al., 1994). As osteomielites vertebrais afectam, geralmente, um ou dois corpos vertebrais adjacentes (Palmer, 1993). Em processos de osteíte localizados poderá efectuar-se apenas a reprovação parcial da parte da carcaça afectada e aprovação da restante carcaça. Nos casos de osteomielite gangrenosa ou supurativa deve efectuar-se a reprovação total da carcaça e respetivas vísceras (Gracey et al., 1999). 3.1.1. Expressão osteogénica local da ciclooxigenase-2 e resposta sistémica na osteomielite As lesões da osteomielite desenvolvem-se quando as bactérias presentes no sangue, especialmente Staphylococcus aureus, atingem a metáfise óssea. Uma vez colonizado o tecido ósseo, desenvolve-se uma resposta inflamatória que conduz a extensas alterações morfológicas. Diversos factores contribuem para estas alterações, no entanto, os mecanismos celulares e moleculares envolvidos na patogénese da osteomielite continuam desconhecidos (Lew e Waldvogel, 1997). Nos ossos existe um estado de equilíbrio entre a contínua formação de osso e a reabsorção óssea. As prostaglandinas desempenham um papel regulador nos mecanismos fisiológicos do osso, apresentando uma dupla função: estimulam a formação e a reabsorção óssea (Klein e Raisz, 1970; Chyun et al., 1984; citados por Johansen et al., 2012). As prostaglandinas são sintetizadas a partir de eicosanóides pela enzima ciclooxigenase (COX), existindo 2 isoformas distintas, nomeadamente, a COX-1 e a COX-2. A COX-1 é encontrada em níveis relativamente constantes em diversos tecidos, incluindo os ossos, e está ligada aos aspectos fisiológicos relativos à função das prostaglandinas. Por seu lado, a COX-2 encontra-se, geralmente, em níveis basais mínimos em vários tecidos, podendo, no entanto, ser induzido o seu incremento por múltiplos factores. Um dos factores mais potente e importante é a inflamação - 23 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Revisão bibliográfica (Blackwell et al., 2010). A prostaglandina E2 (PGE2) é a prostaglandina do osso mais estudada e, porque é um forte promotor da reabsorção óssea (Klein e Raisz, 1970; citados por Johansen et al., 2012), supõe-se que a COX-2 induz a PGE2 na progressiva perda óssea observada nas lesões de osteomielite (Lew e Waldvogel, 1997). Pouco se conhece da função das prostaglandinas endógenas na reabsorção óssea ou formação in vivo e, particularmente, sobre a patogénese da osteomielite, uma vez que a expressão da COX-2 nunca foi examinada numa lesão de osteomielite (Johansen et al., 2012). Todavia, através de técnicas não in situ, usando material ósseo proveniente de lesões de osteomielite espontânea e experimental, Corbet e colaboradores (1979) demonstraram que o aumento dos níveis de prostaglandinas está associado ao aumento da reabsorção óssea. Johansen e colaboradores (2012) estudaram a influência da COX-2 na regulação das alterações morfológicas no osso observadas nas lesões de osteomielite. Além disso, estudaram os efeitos da inflamação local na concentração sérica da fosfatase alcalina e haptoglobina. A fosfatase alcalina é uma enzima libertada pelos osteoblastos e um conhecido marcador sérico de doença óssea. A haptoglobina é uma proteína da fase aguda, cuja concentração aumenta drasticamente aquando de estímulos inflamatórios, como uma infeção (Sorensen et al., 2006). Neste estudo, Johansen e colaboradores (2012) utilizaram 23 porcas cruzadas de Yorkshire x Landrace, obtidas de uma herdade específica livre de patogéneos (Specific Pathogen Free – SPF), nas quais foram inoculadas (sistemicamente na veia auricular e localmente nas artérias bronquial e femoral) uma estirpe de Staphylococcus aureus (S54F9), recolhida de abcessos pulmonares porcinos. Estes autores concluíram que as lesões de osteomielite hematógena localizada resultam na perda óssea, com aumento da expressão da COX-2 pelos osteoblastos, associado ao aumento da haptoglobina (resposta a uma reacção sistémica aguda) e diminuição da fosfatase alcalina, acompanhada por extensa activação de osteoclastos e perda de osso trabecular. 3.2.Abcessos Um abcesso é uma coleção circunscrita de pus, que se encontra separada dos tecidos envolventes por uma cápsula fibrosa. O seu tamanho é variável, podendo ser microscópico ou apresentar grandes dimensões. O pus contém, geralmente, uma grande quantidade de bactérias e produtos tóxicos do seu metabolismo, pelo que constitui uma fonte de absorção de substâncias tóxicas e microrganismos para a circulação, podendo ser responsáveis pelo aparecimento de pioémia (Ringler, 1997). - 24 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Revisão bibliográfica Em muitos países, a presença de abcessos constitui um grande problema na Inspeção post mortem, sendo responsável por consideráveis perdas em todas as espécies abatidas para consumo humano. Gracey e colaboradores (1999) referem que os abcessos constituem a principal causa de reprovação de carcaças de suínos. Os abcessos localizam-se, preferencialmente, em áreas do corpo mais susceptíveis de sofrerem trauma, nomeadamente região escapular, pescoço, extremidades podais, orelhas ou locais de administração medicamentosa (Straw, 1992). Além dos traumatismos, a presença de isquemia ou hematomas favorece o desenvolvimento de abcessos (Radostits et al., 1994). Nos suínos, as úlceras da cauda, lesões nas unhas, feridas de castração, zonas de mordedura e locais onde se usam agulhas hipodérmicas de forma descuidada são, normalmente, os locais de formação de abcessos e onde, eventualmente, se inicia a pioémia. Huey (1996) realizou um estudo sobre a posição e incidência dos abcessos detetados durante a Inspeção post mortem de 75130 suínos e verificou que 2,87% (2156) das carcaças apresentavam abcessos únicos e 0,26% (195) abcessos múltiplos; destes (2351 suínos), 80% (1881) apresentavam abcessos na cauda, indicando a importância da mordedura de cauda na etiologia. Constatou, ainda, que se observava uma forte inter-relação estatística entre os abcessos encontrados e as combinações cauda/pulmões, cauda/vértebras, cauda/membros, cauda/costelas e cauda/peritoneu. As bactérias responsáveis pelo aparecimento de abcessos encontram-se, em geral, na pele dos animais e incluem Arcanobacterium pyogenes, Fusobacterium necrophorum, Staphylococcus spp., especialmente S. hyicus e S. epidermidis, e Streptococcus spp., principalmente S. zooepidemicus, S. equisimilis e S. suis (Straw, 1992; Radostits et al., 1994). Nos suínos é frequente a presença de abcessos a nível da cabeça. A maioria é causada por Streptococcus ß-hemolíticos do grupo E de Lancefield tipo IV, embora Pasteurella multocida e Arcanobacterium pyogenes também possam estar presentes (Straw, 1992; Radostits et al., 1994; Jones et al., 1997). A disseminação hematógena ocorre esporadicamente, causando abcessos noutras partes do corpo, endocardite ou meningite (Jones et al., 1997). Geralmente, observa-se hipertrofia dos gânglios linfáticos da região, especialmente dos submaxilares (Radostits et al., 1994). De acordo com o Regulamento (CE) n.º 854/2004 (Anexo I, Secção II, Capítulo V) deve ser sujeita a reprovação total a carne proveniente de animais afectados por doença generalizada, como pioémia, em que se podem observar abcessos múltiplos. Se o abcesso se encontra numa fase inicial do seu desenvolvimento, com a cápsula em formação e acompanhado de alterações sistémicas, deve, também, efectuar-se a reprovação da carcaça e das respetivas vísceras (Gracey - 25 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Revisão bibliográfica et al., 1999). No caso de se observar apenas um abcesso único, sem qualquer sinal de alteração sistémica, deve efectuar-se a reprovação da zona afectada e a aprovação da restante carcaça e vísceras. 3.3.Influência das lesões de caudofagia: factor interveniente na etiologia de abcessos e osteomielites A caudofagia ou canibalismo da cauda é um vício comportamental de origem multifactorial, representando um sério problema económico para a indústria suinícola. A síndrome determina custos substanciais aos produtores devido às infecções secundárias e perda da condição corporal dos animais afetados (Kritas & Morrison, 2007). As perdas financeiras devem-se à redução do ganho de peso, morte dos animais e reprovação de carcaças nos matadouros (Penny & Hill, 1974). Nos matadouros, o canibalismo da cauda tem sido associado a abcessos, lesões pulmonares e reprovação de carcaças (Kritas & Morrison, 2007). Num estudo realizado por Huey (1996), a caudofagia foi a causa das infecções presentes em 19,9% das carcaças com um único abcesso e em 61,7% das carcaças com mais de um abcesso. No estudo de Kritas & Morrison (2004), a prevalência das lesões de caudofagia foi de 16,3%. Embora vários estudos tenham sido realizados sobre este tema, as causas envolvidas no seu desencadeamento não estão completamente esclarecidas. Factores nutricionais e ambientais têm sido associados a este problema (Schroder-Petersen & Simonsen, 2011). A idade do desmame aparece como um importante factor associado ao canibalismo, pois a mamada é um comportamento essencial. O redireccionamento do comportamento de mamada em animais desmamados precocemente para mordidas em locais como a cauda tem sido observado com frequência (Sobestiansky & Zanella, 2007). Tem sido mencionado que o padrão sanitário, tanto do mordedor como do mordido, podem influenciar a ocorrência de caudofagia (Schroder-Petersen & Simonsen, 2001). Ecto e endoparasitas, infeções por Streptococcus spp. e anemia por deficiência de ferro, cobalto ou cobre, podem ter algum papel no desencadeamento do processo. Por outro lado, a necrose da cauda, comummente observada em leitões, pode predispor ao canibalismo da cauda (Sobestiansky & Zanella, 2007). - 26 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Revisão bibliográfica Patogenia e sinais clínicos A infecção a partir da cauda pode disseminar-se por 3 rotas. Primeiro, a cauda tem uma eficiente drenagem venosa, a qual permite a rápida disseminação da infecção, principalmente para os pulmões. Na parte ventral da cauda, os plexos venosos longitudinais drenam a veia cutânea colateral, que entra no canal vertebral, usualmente entre a 2ª e 3ª vértebra sacrais. Consequentemente, uma lesão na cauda pode permitir que a infecção se espalhe por todo o organismo (Getty & Ghoshal, 1967). Segundo, uma lesão na cauda, frequentemente, não envolve somente a pele mas também os músculos e vértebras da cauda, podendo resultar em abcessos nos tecidos adjacentes e osteomielite nas vértebras caudais. A infecção pode espalhar-se via gânglios linfáticos sacrais laterais, que drenam as vértebras da cauda, e via gânglios linfáticos ano-rectais, que drenam os músculos da cauda. Na maioria dos casos, estes gânglios linfáticos são pouco desenvolvidos ou não existem e, neste caso, a drenagem linfática da cauda tem somente pequenos gânglios linfáticos hipogástricos como barreira para a cadeia lombar e, eventualmente, para a veia cava caudal (Dyce et al., 1988). Uma terceira rota para a disseminação da infecção é a via fluido cefalorraquidiano (Huey, 1996). No entanto, esta rota pode ser mais especulativa do que as outras duas, pois a medula espinhal nos suínos termina nas vertebras sacrais (SchroderPetersen & Simonsen, 2001). Neste caso, a infecção teria que partir da ponta da cauda até às vértebras sacrais e de lá para as vértebras torácicas, onde a osteomielite é comummente observada (Huey, 1996). Quando ocorre na forma aguda, o canibalismo pode gerar incapacidade de locomoção e morte. Neste caso, o curso é rápido e severo. Na forma crónica, os animais têm dor e, frequentemente, manifestam relutância em permanecer de pé no comedouro, evitando serem novamente atacados. Uma vez que as vértebras caudais estão frequentemente envolvidas, lesões nesta área que fiquem contaminadas e evoluam podem resultar em abcessos na coluna vertebral, nas regiões lombar e/ou torácica, pulmões e, menos comum, nos rins e outros locais, como resultado de pioémia (Sobestiansky & Zanella, 2007). - 27 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total III. Objectivos OBJECTIVOS Este trabalho foi delineado com os seguintes objectivos: Acompanhar a actividade médico-veterinária na área da Inspeção sanitária de carnes de ungulados domésticos num matadouro Acompanhar a Inspeção sanitária de suínos Avaliar as causas de reprovação total Determinar os problemas músculo-esqueléticos que estão na origem de reprovações totais Avaliar as causas de reprovação parcial - 28 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total IV. Material e métodos MATERIAL E MÉTODOS 1. Introdução A presente dissertação de Mestrado, subordinada ao tema “Inspeção sanitária de suínos. Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total”, foi desenvolvida sob orientação da Professora Doutora Maria Madalena Vieira-Pinto. A componente prática deste trabalho teve como objectivo principal acompanhar de perto a actividade médico-veterinária na defesa da saúde pública, mais concretamente na área da Inspeção sanitária de carnes de ungulados domésticos (bovinos, equinos, suínos e pequenos ruminantes) no matadouro PEC Nordeste-Carnagri, situado em Penafiel, sob a orientação de diversos Veterinários Oficiais, entre o dia 12 de Setembro de 2011 e o dia 13 de Janeiro de 2012. Durante este período, foi efectuado o registo das causas de reprovação total na espécie suína. Adicionalmente, durante o período de Outubro a Dezembro, efectuou-se o registo das causas de reprovação parcial em 3955 suínos. 2. Acompanhamento dos Actos de Inspeção Sanitária 2.1.Inspeção ante mortem Antes da Inspeção ante mortem, procedeu-se à verificação da documentação que acompanhava os animais: a Guia de Trânsito e a informação relativa à cadeia alimentar (IRCA). Todos os animais foram sujeitos, antes do abate, a uma Inspeção ante mortem. No decurso desta actividade procedeu-se à avaliação da identificação dos animais, do bem-estar animal, bem como de indícios que poderiam ter repercussões negativas para a saúde humana ou animal, como por exemplo, alterações do comportamento, atitudes e alterações da pele e do estado de carnes e gordura. Sempre que necessário, foi efectuado um exame especial individual (Gil, 2000). Após o término da verificação da documentação e da Inspeção ante mortem, o MVO procedeu à autorização de início do abate. Quando um animal apresentava suspeita de doença, era abatido no final do abate. Teve-se em consideração o abate dos animais mais limpos em primeiro lugar, com posterior abate dos mais conspurcados. - 29 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Material e métodos 2.2.Inspeção post mortem A Inspeção post mortem iniciou-se com um exame visual das carcaças e respectivos órgãos. Seguiu-se a palpação e incisão dos gânglios e outros órgãos de acordo com a legislação em vigor no Regulamento (CE) n.º 854/2004 e indicações do Codex Alimentarius. Sempre que necessário, efectuaram-se outras incisões, não obrigatórias, com a finalidade de promover uma correcta decisão sanitária. Na carcaça de suínos, foi avaliada a conformação da carcaça, a presença de alterações dos gânglios linfáticos, aderências, evidência de inoculações, alterações articulares, presença de abcessos, entre outras alterações. Nas vísceras destes animais, avaliouse, entre outras lesões, a existência de pericardite, pneumonias, abcessos ou parasitas. 3. Análise Percentual dos Resultados Por último, foi efectuada a análise percentual dos resultados obtidos durante o período da realização da componente prática. - 30 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total V. Resultados e discussão RESULTADOS E DISCUSSÃO 1. Registo dos animais apresentados para abate 1.1.Total de animais apresentados para abate Na tabela 7 é indicado o total de animais apresentados para abate, no período compreendido entre 12 de Setembro de 2011 e 13 de Janeiro de 2012, no matadouro PEC Nordeste-Carnagri. Tabela 7. Total de animais apresentados para abate Espécie Suínos Ovinos Caprinos Bovinos Categoria Mês Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro TOTAL Leitões 1022 1324 1398 1537 370 5651 7484 Engorda 1170 1987 1724 1800 803 Reprodutores 7 6 8 4 9 34 Subtotal 2199 3317 3130 3341 1182 13169 < 18 meses 1611 2340 2497 11505 882 18835 > 18 meses 72 118 93 86 25 394 Subtotal 1683 2458 2590 11591 907 19229 < 18 meses 320 254 360 1924 43 2901 > 18 meses 4 13 8 9 1 35 Subtotal 324 267 368 1933 44 2936 ≤ 24 meses 1212 1833 1589 1953 684 7271 > 24 meses 131 169 209 117 74 700 Subtotal 1343 2002 1798 2070 758 7971 5549 8044 7886 18935 2891 43305 TOTAL Os valores referentes aos bovinos englobam os animais abatidos tanto no abate normal como no abate sanitário. De facto, no decurso da componente prática foram abatidos 218 bovinos provenientes da campanha sanitária: 49 (Setembro), 52 (Outubro), 63 (Novembro), 19 (Dezembro) e 35 (Janeiro). Pela análise da tabela anterior, verifica-se que o volume de abate, nomeadamente o dos pequenos ruminantes jovens (< 18 meses), é consideravelmente superior no mês de Dezembro. Este facto deve-se ao aumento do consumo de borrego e cabrito na época natalícia. - 31 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Resultados e discussão O volume de abate dos suínos é superior no mês de Dezembro, provavelmente, devido ao aumento do consumo de carne na época natalícia. Adicionalmente, dentro da espécie suína, os suínos de engorda apresentam um maior número de animais abatidos. Contudo, verifica-se um número elevado de abates de leitões, apesar de ser uma especialidade gastronómica de custo elevado, tendo em conta a crise económico-financeira, especialmente na região Norte. 1.2.Reprovações totais ante mortem Na tabela 8 é apresentado o total de reprovações ante mortem e a percentagem relativa de reprovações totais para cada espécie animal e a percentagem absoluta de reprovação sobre os animais apresentados para abate e sobre os animais reprovados, registadas durante os 4 meses de estágio. Tabela 8. Reprovações totais ante mortem Esp N.º de N.º de animais Categ reprovações apresentados totais am para abate Leit 5651 7 53,85 0,12 % absol de reprov sobre os animais apresentados para abate 0,02 % relat de reprov % relat de reprov sobre os animais sobre os animais reprovados por esp por categ % absol de reprov sobre os animais reprovados 9,09 Eng 7484 6 46,15 0,08 0,01 7,79 Rep 34 0 0,00 0,00 0,00 0,00 Subtot 13169 13 100,00 0,20 0,03 16,88 < 18 m 18835 39 92,86 0,21 0,09 50,65 > 18 m 394 3 7,14 0,76 0,01 3,90 Subtot 19229 42 100,00 0,97 0,10 54,55 < 18 m 2901 10 83,33 0,34 0,02 12,99 35 2 16,67 5,71 0,005 2,60 Subtot 2936 12 100,00 6,06 0,03 15,58 ≤ 24 m 7271 8 80,00 0,11 0,02 10,39 Bov > 24 m 700 2 20,00 0,29 0,005 2,60 Subtot 7971 10 100,00 0,40 0,03 12,99 43305 77 - 7,63 0,18 100,00 Suí Ov Cap > 18 m TOTAL Legenda: Esp – Espécie; Suí – Suínos; Ov – Ovinos; Cap – Caprinos; Bov – Bovinos; Categ – Categoria; Subtot – Subtotal; Leit – Leitões; Eng – Engorda; Rep – Reprodutores; m – meses; reprov – reprovação; am – ante mortem; relat – relativa; absol – absoluta - 32 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Resultados e discussão As reprovações totais ante mortem devem-se, quase na sua totalidade, a animais mortos no transporte ou na abegoaria, tendo-se registado apenas um caso distinto, nomeadamente, um bovino reprovado ante mortem por apresentar-se hipotérmico e em estado agónico. Pode-se observar, pela análise da tabela anterior, que os leitões, dentro da espécie suína, foram os animais com maior registo de mortes no transporte ou na abegoaria (0,12%), provavelmente devido à sua maior susceptibilidade ao stresse provocado pelo transporte e mudança de habitat. Relativamente aos pequenos ruminantes, os animais adultos (> 18 meses) apresentaram maior taxa de reprovação (relativa) ante mortem (ovinos – 0,76%; caprinos – 5,71%), facto explicado pela sua elevada idade e desgaste provocado pela pressão produtiva a que foram sujeitos ao longo da vida. Dentro da espécie bovina, os animais adultos (> 24 meses) foram os que registaram maior taxa relativa de reprovação total ante mortem (0,29%). Por outro lado, no total de animais apresentados para abate, os caprinos adultos (> 18 meses) foram os que apresentaram maior taxa relativa de reprovação ante mortem, tendo-se registado 2 casos em 35 animais apresentados (5,71%). No total de animais reprovados no decurso da componente prática deste trabalho, os animais mais jovens, dentro de cada espécie animal, evidenciaram uma maior taxa de reprovação (absoluta) ante mortem. Dentro destes, os ovinos jovens (< 18 meses) foram notavelmente mais sensíveis que os restantes animais, apresentando uma maior percentagem absoluta de reprovação, tendo-se registado 39 casos de reprovação total ante mortem (50,65%), facto explicado pela sua tenra idade. Adicionalmente, também se pode concluir que, do total de animais apresentados para abate (das quatro espécies animais analisadas), os ovinos foram a espécie que apresentou uma maior percentagem absoluta de reprovação total ante mortem, com 42 casos registados (54,55%). No entanto, para cada categoria (espécie) analisada, verificámos que a espécie caprina foi a que evidenciou uma maior taxa de reprovação ante mortem (6,06%) relativamente aos animais apresentados, seguida pelas espécies ovina, bovina e suína. 2. Registo dos animais admitidos para abate 2.1.Reprovações totais post mortem Na tabela 9 apresenta-se o número de animais admitidos para abate, o número de reprovações totais post mortem, a percentagem relativa de reprovações totais para cada espécie - 33 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Resultados e discussão animal e a percentagem absoluta de reprovação sobre os animais apresentados para abate e sobre os animais reprovados, registadas durante os 4 meses de estágio. Tabela 9. Reprovações totais post mortem Esp Categ Leit N.º de N.º de animais reprovações admitidos totais pm para abate 5644 17 % relat de reprovação sobre os animais reprovados por esp 42,50 % relat de reprovação sobre os animais por categ 0,30 % absol de % absol de reprovação sobre os reprovação animais admitidos sobre os animais para abate reprovados 0,04 9,50 Eng 7478 21 52,50 0,28 0,05 11,73 Rep 34 2 5,00 5,88 0,005 1,12 Subtot 13156 40 100,00 6,46 0,10 22,35 < 18 m 18796 57 87,69 0,30 0,13 31,84 > 18 m 391 8 12,31 2,05 0,02 4,47 Subtot 19187 65 100,00 2,35 0,15 36,31 < 18 m 2891 4 66,67 0,14 0,01 2,23 33 2 33,33 6,06 0,005 1,12 Subtot 2924 6 100,00 6,20 0,02 3,35 ≤ 24 m 7263 49 72,06 0,67 0,11 27,37 Bov > 24 m 698 19 27,94 2,72 0,04 10,61 Subtot 7961 68 100,00 3,40 0,15 37,99 43228 179 - 18,41 0,42 100,00 Suí Ov Cap > 18 m TOTAL Legenda: Esp – Espécie; Suí – Suínos; Ov – Ovinos; Cap – Caprinos; Bov – Bovinos; Categ – Categoria; Subtot – Subtotal; Leit – Leitões; Eng – Engorda; Rep – Reprodutores; m – meses; pm – post mortem; relat – relativa; absol – absoluta Pela análise da tabela anterior, constata-se que os animais adultos apresentam maior taxa relativa de reprovação total post mortem, facto que pode ser explicado pela pressão produtiva a que os animais são sujeitos ao longo da vida. Destes, os caprinos adultos (> 18 meses) foram os animais com maior percentagem relativa de reprovação total post mortem, tendo-se registado 2 casos em 33 animais abatidos (6,06%). Do total de animais reprovados (179) no decurso da componente prática deste trabalho, os bovinos foram a espécie com maior percentagem absoluta de reprovação total post mortem, tendo-se registado 68 casos (37,99%). Contudo, este valor corresponde aos animais abatidos tanto no abate normal como no abate sanitário (os animais apresentados para abate sanitário serão abordados posteriormente). Deste modo, podemos afirmar que os ovinos são, de facto, a espécie que apresenta maior percentagem absoluta de reprovação total post mortem, com 65 - 34 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Resultados e discussão casos registados (36,31%). Dentro destes, os animais jovens (< 18 meses) foram os mais sujeitos a reprovação, apresentando a maior taxa absoluta de reprovação total post mortem (31,84%). 3. Causas de reprovação total post mortem nos suínos Na tabela 10 encontra-se o registo das diferentes causas de reprovação total post mortem nos animais da espécie suína submetidos a abate durante a componente prática deste trabalho. Tabela 10. Causas de reprovação total post mortem nos suínos Categoria ENGORDA (n= 7478 inspeccionados) REPRODUTORES (n= 34 inspeccionados) LEITÕES (n= 5644 inspeccionados) Abcessos Múltiplos (Fig. 18, 19) 3 14,29 % absoluta sobre o total categoria 0,04 Broncopneumonia Purulenta (Fig. 1) 1 4,76 0,01 0,01 Carnes Repugnantes 1 4,76 0,01 0,01 Enterite Séptica (Fig. 2) 1 4,76 0,01 0,01 Linfadenite Generalizada (Fig. 3) 1 4,76 0,01 0,01 Nefrite Purulenta (Fig. 4) 1 4,76 0,01 0,01 Osteomielite Purulenta (Fig. 10, 11, 12, 14, 15, 16) 13 61,90 0,17 0,10 Subtotal 21 100,00 0,28 0,16 Carnes Pouco Nutritivas 1 50,00 2,94 0,01 Carnes Repugnantes 1 50,00 2,94 0,01 Subtotal 2 100,00 5,88 0,02 Artrite Aguda (Fibrinopurulenta) (Fig. 5) 2 11,76 0,04 0,02 Abcessos Múltiplos 1 5,88 0,02 0,01 Carnes Repugnantes (Fig. 6) 3 17,65 0,05 0,02 Mau Estado Geral/Caquexia 1 5,88 0,02 0,01 Osteomielite Purulenta (Fig. 13, 17) 2 11,76 0,04 0,02 Pericardite Necropurulenta (Fig. 7) 2 11,76 0,04 0,02 Reacção Orgânica Geral 1 5,88 0,02 0,01 Lesões Melanocíticas Múltiplas (Fig. 8, 9) 5 29,41 0,09 0,04 Subtotal 17 100,00 0,30 0,13 40 - 6,46 0,30 Causa n % relativa TOTAL (n= 13156 inspeccionados) % absoluta sobre o total espécie 0,02 Pela análise da tabela anterior observa-se que a osteomielite purulenta foi a principal causa de reprovação total post mortem nos suínos de engorda, apresentando a maior taxa relativa (61,90%), seguido dos abcessos múltiplos (14,29%). Estes resultados estão de acordo com os obtidos previamente por Martins e colaboradores (2010), num matadouro da região Centro do - 35 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Resultados e Discussão país, no qual os autores verificaram que a osteomielite purulenta foi a causa de reprovação total de 17,86% dos animais abatidos em 2009 (28349). Adicionalmente, constata-se que a osteomielite purulenta representa a maior percentagem absoluta de reprovação total post mortem de todos os suínos abatidos (0,10%). Relativamente aos leitões, a causa mais frequente de reprovação total foi a presença de lesões melanocíticas múltiplas (29,41%). Este valor revelou-se superior ao encontrado por Stannard e Pulley (1978) (3-5 %). No entanto, estes autores descreveram a presença de lesões em suínos abatidos e não apenas em leitões. As lesões melanocíticas incluem a melanose e as neoplasias melanocíticas (melanoma e melanocitoma). A melanose é uma alteração em que ocorre um armazenamento anormal de melanina, com acumulação exagerada deste pigmento fisiológico, podendo ser encontrada em diversos órgãos (ex. pulmão, na glândula mamária, no timo e nos gânglios linfáticos) (Lanteri et al., 2009). Caracteriza-se pela presença de pigmentação negra ou negra-acastanhada nos órgãos ou tecidos. De acordo com Sobestiansky e colaboradores (1999), a cor do pigmento, por si só, não permite afirmar que se trata de melanina, podendo discorrer de outros pigmentos endógenos, como a lipofuscina e a hemossiderina, sendo necessário, por vezes, efectuar outros exames para atribuir um diagnóstico definitivo. Os melanomas e melanocitomas são tumores melanocíticos que aparecem como formações nodulares ou discóides, elevadas em relação à superfície da pele constituídos por melanócitos com características neoplásicas e produtores de melanina (Sobestiansky e colaboradores, 1999). Os leitões reprovados totalmente por apresentarem neoplasias melanocíticas possuíam, maioritariamente, pelagem escura. De acordo com Straw (1992), Sobestiansky e colaboradores (1999) e Scott (2007), os tumores melanocíticos desenvolvem-se em suínos jovens e nas raças de pelo escuro (especialmente Duroc) e podem estar presentes ao nascimento. As lesões melanocíticas encontradas neste estudo apresentavam uma forma variada. Nas lesões (pele e órgãos) observadas em 2 dos casos (Fig. 8) não se verificou alteração estrutural nem de organização do tecido de cor escura, contrariamente a 3 dos casos (Fig. 9), os quais evidenciaram lesões com alteração estrutural mais elevadas relativamente à superfície, podendo sugerir a presença de lesão de natureza neoplásica. No entanto como não se se procedeu à sua avaliação histopatológica não é possível afirmar a natureza destas lesões. - 36 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Resultados e Discussão Na presença de alterações pigmentares em suínos ao abate, é necessário distinguir a melanose (pigmentação não neoplásica) dos tumores melanocíticos e, no caso se tratar de um tumor, se é benigno ou maligno. O Regulamento (CE) n.º 854/2004 refere que, sempre que ocorram alterações fisiopatológicas, as carnes devem ser declaradas impróprias para consumo e, segundo recomendações do Codex Alimentarius (1994), carcaças que mostrem uma melanose generalizada, devem ser reprovadas totalmente. Se esta alteração se encontra localizada, apenas parte da carcaça ou do órgão deve ser reprovada (Herenda et al., 2000; FAO, 2004; Gil, 2005). De acordo com recomendações do Codex Alimentarius (1994), as carcaças com tumores benignos, únicos e circunscritos, devem ser aprovadas, procedendo-se apenas a uma reprovação parcial das zonas afectadas. A existência de tumores múltiplos ou malignos leva à reprovação total da carcaça. Por apresentarem características macroscópicas semelhantes, sendo impossível a sua distinção aquando da Inspeção post mortem tradicional, os Médicos Veterinários Oficiais optaram por proceder à reprovação total das carcaças e das respectivas vísceras que apresentaram lesões melanocíticas. Apresentam-se, de seguida, algumas imagens das causas de reprovação total post mortem nos suínos (engorda e leitões). - 37 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Figura 1. Broncopneumonia purulenta em pulmão de suíno Figura 2. Enterite séptica em intestino de suíno - 38 - Resultados e discussão Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Figura 3. Linfadenite generalizada em carcaça de suíno Figura 4. Nefrite intersticial purulenta em rim de suíno - 39 - Resultados e discussão Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Resultados e discussão Figura 5. Artrite aguda em membro de leitão Figura 6. Leitão com aspecto repugnante devido a numerosas lesões cutâneas - 40 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Resultados e discussão Figura 7. Pericardite necropurulenta em carcaça de leitão Figura 8. Lesões melanocíticas em carcaça e pulmões de leitão - 41 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Resultados e discussão Figura 9. Lesão melanocítica em carcaça de leitão 3.1.Lesões músculo-esqueléticas responsáveis por reprovação total nos suínos 3.1.1. Lesões vertebrais de osteomielite purulenta Na tabela 11 apresentam-se os dados relativos à presença de lesões vertebrais de osteomielite purulenta que causaram reprovação total nos suínos no decurso da componente prática do trabalho. Tabela 11. Topografia das lesões vertebrais de osteomielite purulenta que causaram reprovação total nos suínos Localização Osteomielite Purulenta Região cervical 1 Região torácica 4 Região lombar 5 Região sacral 3 Total 13 - 42 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Resultados e discussão Da análise da tabela anterior constata-se que a região lombar foi a área mais afectada por lesões vertebrais de osteomielite purulenta, tendo-se registado 5 casos. Segundo Finley (1975), a osteomielite vertebral nos suínos é mais frequente na região lombar. De acordo com Doige & Weisbrode (2001), as bactérias podem alcançar o osso aquando de uma fractura exposta ou podem resultar de uma infecção dos tecidos adjacentes (por contiguidade), tais como sinusites, periodontites ou otites médias, e, mais frequentemente, a partir de artrites purulentas. Deste modo, as lesões vertebrais observadas neste estudo na região cervical poderão ser consequência de sinusites, periodontites ou, com maior frequência, de otites médias. Por seu lado, as lesões vertebrais de osteomielite purulenta identificadas na região torácica poderão ser originadas por contiguidade a partir de artrites purulentas localizadas nas articulações dos membros anteriores. De acordo com Finley (1975), a osteomielite vertebral na região lombar em suínos tem sido relatada em porcos como consequência directa da mordedura e corte da cauda. Todavia, Dodd & Cordes (1964), citados por Healy e colaboradores (1997), acreditam que o umbigo seja a porta de entrada dos microrganismos, com posterior difusão hematógena até ao corpo vertebral. Verificou-se que os suínos reprovados por apresentarem lesões vertebrais apresentavam uma ou duas vértebras afectadas, o que está de acordo com o estudo de Palmer (1993), o qual refere que as osteomielites vertebrais afectam, geralmente, um ou dois corpos vertebrais adjacentes. Observou-se a presença de necrose nas vértebras afectadas por osteomielite purulenta. Segundo Radostits e colaboradores (1994), nas vértebras afectadas por lesões de osteomielite purulenta observa-se necrose e formação de cavidades, o que conduz ao aparecimento de fracturas, deslocamentos do corpo vertebral e compressão ou laceração da medula espinhal. Pode, ainda, surgir fleimão como consequência da drenagem de material purulento para o tecido subcutâneo. No decurso da componente prática do trabalho verificamos que os Veterinários Oficiais revelam ambiguidade na classificação das lesões vertebrais. De facto, existem Inspectores Sanitários que entendem que toda a lesão inflamatória vertebral deve ser classificada como osteomielite, enquanto outros defendem que o termo correcto para a classificação é osteíte. Osteíte é o termo utilizado para designar uma inflamação óssea. Pode denominar-se periosteíte ou osteomielite, dependendo se o processo inflamatório se inicia no periósteo ou na cavidade medular do osso, respetivamente (Palmer, 1993; Woodard, 1997; Doige & Weisbrode, 2001). Estes autores referem que a classificação da lesão inflamatória óssea depende do local (periósteo ou cavidade medular) onde se inicia o processo inflamatório, todavia, a Inspeção post mortem - 43 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Resultados e Discussão tradicional não permite a identificação do local de início do processo inflamatório. Por outro lado, a classificação da lesão inflamatória vertebral não apresenta relevância na decisão do resultado da Inspeção (aprovado ou reprovado), uma vez que ambas as classificações (osteíte purulenta ou osteomielite purulenta) são justificação para a reprovação total do animal. Adicionalmente, e como pode ser observado nas imagens apresentadas em seguida das carcaças reprovadas totalmente, estes dois processos não apresentam diferenças anátomo-patológicas significativas, pelo que a sua distinção é quase impossível. De facto, todo o Veterinário Oficial procede à reprovação total do animal quando este apresenta lesões vertebrais purulentas. Gracey e colaboradores (1999) referem que nos processos de osteíte localizados poderá efectuar-se apenas a reprovação parcial da parte da carcaça afectada e aprovação da restante carcaça. Nos casos de osteomielite gangrenosa ou purulenta deve efectuar-se a reprovação total da carcaça e respectivas vísceras. Assim sendo, a deteção em matadouro, e posterior reprovação total da carcaça, das lesões vertebrais de osteomielite purulenta reveste-se de extrema importância, uma vez que pode contribuir para o impedimento da transmissão de agentes potencialmente patogénicos para o consumidor, pois estas lesões podem estar associadas a septicemia. Este procedimento está de acordo com a actual legislação que refere que a carne deve ser declarada imprópria para consumo se for proveniente de animais afectados por uma doença generalizada, como septicemia, pioémia, toxemia ou viremia (Reg. (CE) n.º 854/2004, Anexo I, Secção II, Capítulo V, 1. f). Apresentam-se, de seguida, algumas imagens de lesões de osteomielite purulenta em suínos (engorda e leitões). - 44 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Figura 10. Osteomielite purulenta em carcaça de suíno Figura 11. Osteomielite purulenta em carcaça de suíno - 45 - Resultados e discussão Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Resultados e discussão Figura 12. Osteomielite purulenta em carcaça de suíno Figura 13. Osteomielite purulenta em membro anterior de leitão - 46 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Figura 14. Osteomielite purulenta em carcaça de suíno Figura 15. Osteomielite purulenta em carcaça de suíno - 47 - Resultados e discussão Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Figura 16. Osteomielite purulenta em carcaça de suíno Figura 17. Leitão com osteomielite purulenta - 48 - Resultados e discussão Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Resultados e discussão 3.1.2. Abcessos musculares múltiplos A presença de abcessos musculares constitui um grande problema na Inspeção post mortem de suínos, sendo responsável por consideráveis perdas económicas, devido a reprovações parciais de partes nobres ou reprovação total da carcaça. Dos 7478 suínos de engorda inspeccionados durante a componente prática, apenas 21 (0,28%) animais foram reprovados totalmente e, destes (21), 3 (14,29%) apresentavam abcessos múltiplos, como pode ser observado nas imagens seguintes de 2 carcaças de suíno reprovadas totalmente. Assim, a presença de abcessos múltiplos na carcaça revelou-se a segunda causa mais frequente de reprovação total nos suínos de engorda (a principal causa de reprovação total foi a presença de lesões vertebrais de osteomielite purulenta). Gracey e colaboradores (1999) referem que os abcessos constituem a principal causa de reprovação de carcaças de suínos. Huey (1996) realizou um estudo sobre a posição e incidência dos abcessos detetados durante a Inspeção post mortem de 75130 suínos e verificou que 2,87% (2156) das carcaças apresentavam abcessos únicos e 0,26% (195) abcessos múltiplos. Os abcessos encontrados localizavam-se, principalmente, nos membros e extremidades podais, tendo-se registado, também, a presença de abcessos na região escapular e costal. A prevalência de abcessos nos membros e extremidades podais deve-se, provavelmente, a eventuais traumas, hematomas e lesões nas unhas frequentes nestas regiões. Por seu lado, a ocorrência de abcessos na região escapular e costal poder-se-á dever a descuidadas administrações medicamentosas e a mordeduras. Segundo Straw (1992), os abcessos nos suínos localizam-se, preferencialmente, em áreas do corpo mais susceptíveis de sofrerem trauma, nomeadamente região escapular, pescoço, extremidades podais, orelhas ou locais de administração medicamentosa. Adicionalmente, Radostits e colaboradores (1994) referem que, além dos traumatismos, a presença de isquemia ou hematomas favorece o desenvolvimento de abcessos. De acordo com o Regulamento (CE) n.º 854/2004 (Anexo I, Secção II, Capítulo V) deve ser sujeita a reprovação total a carne proveniente de animais afectados por doença generalizada, como pioémia, em que se podem observar abcessos múltiplos. No caso de se observar apenas um abcesso único, sem qualquer sinal de alteração sistémica, deve efectuar-se a reprovação da zona afectada e a aprovação da restante carcaça e vísceras. De facto, procedeu-se à reprovação total das carcaças, e respectivas vísceras, que apresentavam abcessos múltiplos, pois podem constituir um perigo para a saúde do consumidor, uma vez que o pus presente no abcesso pode conter inúmeras bactérias, responsáveis por pioémia. - 49 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Resultados e discussão Figura 18. Abcessos múltiplos em carcaça de suíno, principalmente nos membros, com presença de uma lesão necrótica na proximidade do abcesso, potenciando a entrada de bactérias Figura 19. Abcessos múltiplos em carcaça de suíno - 50 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Resultados e discussão 4. Reprovações parciais nos suínos e causas Durante a componente prática deste trabalho, procedeu-se ao registo das reprovações parciais das diferentes vísceras, cabeças, línguas e orelhas de 3955 suínos abatidos. Nesta análise não foram contabilizadas as vísceras, as cabeças, as línguas e as orelhas de animais reprovados totalmente. O matadouro PEC Nordeste-Carnagri utiliza o escaldão horizontal, pelo que todos os pulmões eram reprovados para consumo humano. No entanto, para o presente estudo, contabilizou-se os pulmões que apresentavam alterações ou lesões sugestivas da presença de um processo patológico. Tabela 12. Reprovações parciais das diferentes vísceras, cabeças, línguas e orelhas nos 3955 suínos analisados Cabeças Línguas Orelhas Membros Corações Pulmões Diafragmas Fígados Rins Baços Intestinos Pâncreas Testículos Total 38 38 18 4 203 2895 105 581 633 2 7 4 3 % 0,96 0,96 0,46 0,10 5,13 73,20 2,66 14,70 16,01 0,05 0,18 0,10 0,08 O total de cada víscera ou parte reprovada corresponde ao número de animais nos quais se procedeu à sua reprovação, pelo que o total das vísceras pares reprovadas é, na realidade, o dobro do valor apresentado na tabela 13 (ex.: foram reprovados os rins de 633 animais, ou seja, 1266 rins reprovados). Pela análise da tabela anterior, verifica-se que os pulmões (73,2%), os rins (16,01%) e o fígado (14, 7%) foram as vísceras mais reprovadas. Como foi referido anteriormente, o matadouro onde se efectuou a componente prática utiliza o método de escaldão horizontal, o que incumbe a reprovação dos pulmões de todos os animais. No entanto, verificaram-se alterações ou lesões sugestivas da presença de um processo patológico nos pulmões em 2895 animais (73,2%), o que representaria, caso fosse utilizado o escaldão vertical, uma enorme perda económica. Por outro lado, registou-se a reprovação de 581 fígados (14,7%). Este facto representa uma perda económica relevante, uma vez que o fígado de porco é a víscera mais apreciada e consumida a nível nacional. Deste modo, as reprovações parciais assumem uma importante perda económica, tanto para a produção suinícola como para a indústria transformadora. - 51 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Resultados e discussão Na tabela 13 apresentam-se as causas de reprovação parcial em 3955 suínos analisados. Tabela 13. Causas de reprovação parcial em 3955 suínos analisados – Continua Parte reprovada Fígado Rim Intestino Pulmão Cabeça Língua Orelha Membro 44,41 % absoluta sobre os rejeitados 5,69 % absoluta sobre os inspeccionados 6,52 1 0,17 0,02 0,03 Abcessos (Fig. 21) 9 1,55 0,20 0,23 Fibrose (Fig. 22) 171 29,43 3,77 4,32 Esteatose (Fig. 23) 18 3,10 0,40 0,46 Friável (Fig. 24) 19 3,27 0,42 0,48 Aderências (Fig. 25) 105 18,07 2,32 2,65 Causas de rejeição n % relativa “Milk Spots” (Fig. 20) 258 Cisticercose Total Fígado 581 100,00 12,82 14,69 Nefrite (Fig. 26) 210 33,18 4,63 5,31 Hidronefrose (Fig. 27) 75 11,85 1,66 1,90 Nefrose 2 0,32 0,04 0,05 Quistos (Fig. 28) 95 15,01 2,10 2,40 Congestão (Fig. 29) 225 35,55 4,97 5,69 Hipoplasia (Fig. 30) 26 4,11 0,57 0,66 Total Rim 633 100,00 13,97 16,01 Linfadenite granulomatosa (Fig. 31) 3 42,86 0,07 0,08 Enterite 3 42,86 0,07 0,08 Hemorragia 1 14,29 0,02 0,03 Total Intestino 7 100,00 0,15 0,18 Pleurisia (Fig. 32) 286 9,88 6,31 7,23 Consolidação craneo-ventral (Fig. 33) 1339 46,25 29,55 33,86 Aderências (Fig. 34) 59 2,04 1,30 1,49 Aspiração agónica de sangue (Fig. 35) 1065 36,79 23,50 26,93 Enfisema (Fig. 36) 146 5,04 3,22 3,69 Total Pulmão 2895 100,00 63,89 73,20 Linfadenite granulomatosa (Fig. 37) 38 100,00 0,84 0,96 Total Cabeça Linfadenite granulomatosa 38 100,00 0,84 0,96 38 100,00 0,84 0,96 Total Língua 38 100,00 0,84 0,96 Otohematomas 18 100,00 0,40 0,46 Total Orelha 18 100,00 0,40 0,46 Fracturas (Fig. 38) 4 100,00 0,09 0,10 Total Membro 4 100,00 0,09 0,10 - 52 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Resultados e discussão Tabela 14. Causas de reprovação parcial em 3955 suínos analisados (Continuação) Parte reprovada Coração Diafragma Baço Pâncreas Aparelho reprodutor Causas de rejeição n % relativa % absoluta sobre os rejeitados % absoluta sobre os inspeccionados Pericardite (Fig. 39) 203 100,00 4,48 5,13 Total Coração 203 100,00 4,48 5,13 Aderências 105 100,00 2,32 2,65 Total Diafragma 105 100,00 2,32 2,65 Esplenite e aderências 2 100,00 0,04 0,05 Total Baço 2 100,00 0,04 0,05 Pancreatite 4 100,00 0,09 0,10 Total Pâncreas 4 100,00 0,09 0,10 Orquite 3 100,00 0,07 0,08 Total Testículo 3 100,00 0,07 0,08 4531 - 100,01 114,56 TOTAL A causa mais frequente de reprovação do fígado foi a presença de “milk spots” ou manchas leitosas (Fig. 20), causadas pela fase larvar do parasita Ascaris suum, tendo-se registado 258 casos (44,41%). Martins e colaboradores (2010) detetaram, num matadouro da região Centro de Portugal, a presença de ascaridiose em 34,06% dos fígados (2007), 41,32% (2008) e 66,42% (2009). A deteção desta lesão permite averiguar se o plano de desparasitação das explorações é executado correctamente. De facto, a presença de parasitas foi registada em 44,41% dos fígados reprovados, o que representa uma causa bastante significativa de reprovação deste órgão, além de poder condicionar o ganho de peso diário dos animais parasitados. A ocorrência de congestão e as nefrites no rim foram as principais causas de reprovação neste órgão (35,55% e 33,18%, respectivamente). Os rins congestivos apresentavam uma forma normal, mas uma hipertrofia bem marcada, consistência diminuída e coloração violácea (Fig. 29). A congestão passiva pode resultar de um processo (local) obstrutivo da circulação venosa renal (ex.: tumores) – o processo congestivo pode não se encontrar uniformemente distribuído no rim; é normalmente unilateral – ou de uma causa central, como é o caso da Insuficiência Cardíaca (IC) – esta lesão, bilateral, é acompanhada por um quadro lesional de IC, o qual pode levar à reprovação total da carcaça (Thomson, 1990; Jones et al., 1997; Gil, 2005). - 53 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Resultados e discussão Em termos de Inspeção sanitária, torna-se difícil classificar com precisão as nefrites. Por vezes, é apenas possível definir se é: crónica – associada a uma atrofia do rim, adesão capsular, aumento da consistência do parênquima e alteração da arquitectura do parênquima; aguda – rim facilmente descapsulável, hipertrofiado, brilhante e húmido, superfície lisa, moles; difusa ou focal e purulenta ou não (Thomson, 1990; Jones et al., 1997). As lesões compatíveis com nefrites intersticiais foram os processos inflamatórios renais mais frequentemente observados durante a componente prática do trabalho. Geralmente não provocam sintomatologia clínica. Resultam da disseminação de agentes víricos ou bacterianos, os quais, a nível intersticial, vão promover uma reacção inflamatória macroscopicamente evidente (Jones et al., 1997). As nefrites intersticiais podem ser agudas ou crónicas, sépticas ou não, focais ou generalizadas. A sua distribuição era, geralmente, multifocal e caracterizada pela presença de pequenas áreas branco-acinzentadas (Fig. 26). Relativamente ao intestino, as causas mais comuns de reprovação foram a presença de linfadenite granulamatosa, eventualmente causadas por Mycobacterium avium, e a enterite (ambas com 42,86%). Por seu lado, a lesão mais frequentemente encontrada nos pulmões foi a consolidação craneo-ventral, a qual é sugestiva de pneumonia enzoótica, causada por Mycoplasma hyopneumoniae, observada em 1339 animais (46,25%), e a aspiração agónica de sangue (AAS), com uma taxa de 36,79% (1065 animais). De acordo com Herenda e colaboradores (2000) e Gil (2005), as lesões pulmonares mais frequentemente encontradas aquando da Inspeção post mortem de suínos em matadouro são as pneumonias (associadas ou não às pleurisias) e as tecnopatias de abate (aspiração agónica de sangue e presença de água do escaldão). As patologias respiratórias estão entre os problemas de maior relevância económica na suinicultura intensiva actual, sendo responsáveis por importantes perdas a nível da produção e do matadouro (rejeições das carcaças e peso inferior das carcaças). As causas das pneumonias em suínos são, na sua maioria, de natureza multifactorial e podem estar associadas a infecções por vírus ou bactérias, a parasitas, a fungos ou a agentes físicos ou químicos. Dos agentes referidos, os mais frequentemente descritos como responsáveis por pneumonias em suínos ao abate são Mycoplasma hyopneumoniae, responsável pela pneumonia enzoótica, e Actinobacillus pleuropneumoniae, que causa a pleuropneumonia (Thomson, 1990). - 54 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Resultados e discussão A via de infecção é predominantemente aerógena, mas infecções hematógenas (septicemias) também podem ser observadas em suínos de abate. As lesões produzidas por agentes veiculados por via aerógena localizam-se, predominantemente, na região craneo-ventral dos pulmões, com a importante excepção das lesões causadas pelo Actinobacillus pleuropneumoniae, que afetam principalmente os lobos caudais (Jones et al., 1997). Em Inspeção sanitária, baseada na avaliação macroscópica, não é possível efectuar a identificação do (s) agente (s) etiológico (s) envolvido (s) nas lesões pulmonares observadas no decurso da Inspeção post mortem. Para além do que, segundo diversos autores, não existem lesões patognomónicas para nenhuma doença e os mesmos agentes patogénicos podem produzir lesões diferentes de acordo com a sua virulência, via de infecção e grau de evolução do quadro no momento do abate (Alberton & Mores, 2008). No entanto, consideramos que é possível identificar determinados quadros lesionais que podem ser indicadores (sugestivos) da presença de determinado processo patológico. Assim sendo, a presença exclusiva de zonas de consolidação (hepatização) craneo-ventral, de cor vermelho-acinzentada são sugestivas de Pneumonia enzoótica (Fig. 33), causada por Mycoplasma hyopneumoniae. Este agente etiológico produz uma broncopneumonia catarral, a qual envolve, geralmente, os lobos apicais, cardíacos, intermediário e a região antero-ventral dos diafragmáticos. As áreas afectadas encontram-se consolidadas e bem delimitadas do tecido normal. As lesões agudas são de cor vermelho-púrpura e de consistência semelhante a músculo. As lesões cronicas são de cor cinza e deprimidas (Mores, 2006; Alberton & Mores, 2008). As lesões pulmonares de suínos resultantes de uma falha no processo tecnológico de abate que ocorrem com maior frequência em matadouro são as lesões de aspiração agónica de sangue. Estas são causadas, como o próprio nome indica, pela aspiração de sangue durante o processo de sangria devido ao corte acidental da traqueia ou dos grandes brônquios (Mores et al., 2000). Esta falha pode dever-se, indirectamente, a uma má insensibilização dos animais, os quais, nestes casos, apresentam-se intranquilos e irrequietos no momento da sangria, dificultando a secção da veia cava cranial, favorecendo o corte desnecessário da traqueia. Nestes casos, o sangue pode chegar até aos brônquios mais pequenos durante o período em que o animal efectua movimentos respiratórios. As lesões observadas, as quais apresentam uma coloração avermelhada violácea (Fig. 35), podem afectar diversas extensões e áreas pulmonares, variando entre pequenas hemorragias punctiformes a extensas manchas hemorrágicas difusas A consistência normal destas lesões permite distingui-las das lesões de pneumonia, as quais apresentam, invariavelmente, uma alteração da consistência do parênquima. As lesões de - 55 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Resultados e discussão aspiração agónica de sangue devem distinguir-se das hemorragias pulmonares punctiformes provocadas pelo choque eléctrico utilizado para insensibilizar os animais antes da sangria. A evidência repetida de lesões de aspiração agónica de sangue no pulmão no momento da Inspeção sanitária post mortem, deve alertar o Médico Veterinário Oficial para a possibilidade de estar a ocorrer alguma falha indirecta no processo de insensibilização e, consequentemente, no bem-estar dos animais. As línguas reprovadas correspondem aos animais em que foram reprovadas as cabeças devido à presença de lesões de linfadenite granulomatosa nos gânglios linfáticos mandibulares, eventualmente causadas por Mycobacterium avium. As lesões que mais frequentemente se observaram no coração de suínos no decurso da Inspeção sanitária post mortem foram as pericardites (Fig. 39), tendo-se registado uma taxa absoluta sobre os animais inspeccionados (3955) de 5,13% (203). Em 2001, um estudo desenvolvido por Gonçalves, demonstrou que, de um total de 270 corações de suínos analisados, 56 (20,7%) evidenciavam lesões de pericardite, não tendo sido encontradas outras lesões. Destes 56 corações com pericardite, 40 estavam associados a lesões concomitantes de pleuropneumonia e 12 a lesões compatíveis com PE. Neste estudo, a pericardite nunca surgiu como um processo isolado. Um outro estudo, desenvolvido por Fontes (2001), que se baseou na análise de registos referentes às causas de reprovação de 181052 corações de suínos, revela-nos que dos 1479 (1%) corações que foram reprovados, 1475 (99,7%) apresentavam pericardites. Posteriormente, em 2010, Miranda, ao analisar 6403 suínos ao abate, regista uma taxa de reprovação de corações de 4,8% (308); destes, cerca de 80% (304) tinham como motivo de reprovação a pericardite. A pericardite consiste numa inflamação do folheto parietal e visceral do pericárdio, em que o exsudado formado se acumula no saco pericárdico (Jones et al., 1997). Esta inflamação pode resultar da disseminação hematógena de agentes infecciosos, da extensão directa de processos inflamatórios de tecidos adjacentes (pneumonias, pleurisias) ou, mais raramente, da perfuração do saco pericárdico por um corpo estranho. Os processos agudos são geralmente do tipo sero-fibrinoso e caracterizam-se pela presença de um líquido mais ou menos abundante e material fibrinoso amarelado. Os processos crónicos caracterizam-se pela presença de aderências entre o pericárdio e o coração e, por vezes, com a completa fusão do saco pericárdico, sendo esta situação responsável pelo aparecimento eventual de falha cardíaca (Jones et al., 1997). Nestes casos, também podem ser observadas aderências entre o pericárdio, os pulmões e a pleura. - 56 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Resultados e discussão Em suínos, a pericardite fibrinosa encontra-se, sobretudo, associada à doença de Glasser (associada à inflamação de outras serosas), à Pasteurelose, à Pleuropneumonia, a infecções secundárias da Pneumonia Enzoótica e à infecção por Streptococcus spp. (Sobestiansky & Barcellos, 2007). Apresentam-se, de seguida, algumas imagens das causas de reprovação parcial nos suínos. Fígado Figura 20. “Milk Spots” Figura 21. Abcessos Figura 22. L.c.c. Fibrose Figura 23. L.c.c. Esteatose - 57 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Figura 24. Fígado com aspecto friável Resultados e discussão Figura 25. Aderências hepáticas Rim Figura 26. L.c.c. Nefrite intersticial Figura 27. L.c.c. Hidronefrose Figura 29. Congestão Figura 28. Quistos Figura 30. Hipoplasia (esquerdo) - 58 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Resultados e discussão Intestino Figura 31. Linfadenite granulomatosa Pulmão Figura 32. Pleurisia Figura 33. Consolidação craneo-ventral - 59 - Figura 34. Aderências Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Figura 35. AAS Resultados e discussão Figura 36. Enfisema Cabeça Figura 37. Linfadenite granulomatosa - 60 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Membros Resultados e discussão Coração Figura 38. Fractura Figura 39. Pericardite - 61 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total VI. Considerações finais CONSIDERAÇÕES FINAIS No matadouro, ao acompanhar e colaborar com o veterinário oficial nas suas actividades diárias, aprofundei e consolidei os conhecimentos adquiridos na disciplina de Inspeção Sanitária I; a actividade desenvolvida permitiu-me adquirir não só método de trabalho e destreza mas também experiência e capacidade técnica; apercebi-me do papel relevante do Veterinário Oficial na salvaguarda da saúde humana e animal; tomei consciência da quantidade de legislação e da burocracia que está por detrás de toda a actividade; ganhei destreza na execução dos procedimentos obrigatórios durante a Inspeção post mortem; e aprendi como lidar com todos os que directa ou indirectamente têm intervenção no abate dos animais. A actividade do veterinário oficial no matadouro obriga a uma actualização permanente em matéria de legislação e de implementação de medidas de higiene; a uma adaptação constante aos processos patológicos que com mais frequência vão aparecendo nas diferentes espécies animais, na medida em que variam de acordo com o maneio senso latu a que os animais são submetidos. Esta parte do meu trabalho de fim de curso veio confirmar o sentido da minha vocação profissional. A Inspeção Sanitária tem por objectivo a protecção do Homem e dos animais contra os perigos que directa ou indirectamente podem ser veiculados pelos alimentos. As rejeições totais e parciais resultantes da Inspeção Sanitária assumem uma importante perda económica tanto para a produção suinícola como para a indústria transformadora, que deverão ser conhecidas e evitadas. Identificaram-se as várias causas de rejeição total e parcial dos suínos, o que alerta para a importância e necessidade de implementação de medidas de biossegurança nas explorações pecuárias, no sentido de minimizar as perdas económicas ocorridas sistematicamente e evitar a entrada de carnes de inferior qualidade, as quais colocam em risco a saúde pública. A atual Inspeção sanitária praticada pelos Médicos Veterinários Oficiais nos matadouros, regida pela legislação vigente, permite conhecer as principais causas de reprovação total ou parcial das carcaças e suas vísceras. No entanto, apenas transparece a ocorrência das lesões e/ou patologias mais evidentes, carecendo estas de uma classificação (grau de lesão) objectiva (quantitativa e qualitativa). Perante tais factos deveria existir uma conjugação de esforços entre o MVO e o responsável pela exploração, os quais, em colaboração no matadouro, possam utilizar a Inspeção sanitária como uma - 62 - fonte de dados mais Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total Considerações finais objetivos e precisos relativamente às lesões e estados patológicos encontrados, factor importante para monitorizar o estado sanitário das explorações, caminhando assim para o que se entende por Inspeção integrada. - 63 - Inspeção sanitária de suínos Contribuição para o estudo de lesões músculo-esqueléticas como causa de reprovação total VII. Referências bibliográficas REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alberton, G. C. & Mores, M. A. Z. (2008). Interpretação de lesões no abate como ferramenta de diagnóstico das doenças respiratórias dos suínos. Acta Scientiae Veterinariae. 36, 95-99. Anon (1985). 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