Nota técnica – A técnica de Demanda Bioquímica de Oxigênio e o kit rápido da Macherey-Nagel NANOCOLOR® BOD5-TT Data 03/09/2013 Autor Gisseh Kovacs Bertolami Revisão 01 A técnica de Demanda Bioquímica de Oxigênio consiste na avaliação do oxigênio dissolvido consumido pelas bactérias presentes na água a ser analisada. Bactérias aeróbias ao realizarem seus processos de respiração, degradam a matéria orgânica (C,H,N) presente na água, consumindo o oxigênio dissolvido. Portanto quando se aumenta a quantidade de matéria orgânica na água, temos o aumento da população bacteriana e o consequente decréscimo do oxigênio dissolvido, chegando a casos extremos de "morte" do corpo d'água, atingindo níveis próximos de zero de oxigênio dissolvido. As principais referências para a metodologia clássica de DBO são: ABNT NBR 12614:1992 e SMEWW 5210 B. Experimentalmente é feita avaliação de consumo de oxigênio, medindo-se o oxigênio dissolvido no momento inicial da análise (OD1), então mantendo as amostras em frascos de Winkler, para que não haja troca de gases com a atmosfera, mantendo o oxigênio da amostra isolado. Estes frascos são levados a uma incubadora, que mantém todas as amostras a 20°C, durante 5 dias no escuro, para evitar que mais oxigênio se dissolva na amostra, devido a fotossíntese de microalgas. Ao final do período de 5 dias +- 6 horas o oxigênio dissolvido final é aferido (OD5). Figura 1 Frasco de Winkler Portanto com tem-se: DBO =OD1-OD5 ou tem–se que o valor de DBO é a diferença entre OD1 e OD5 (DBO =OD1-OD5). Entretanto temos duas limitações físicoquímicas nos oxigênios dissolvidos tanto do momento "1" quanto do momento "5". Vamos a eles. Como qualquer mistura, o oxigênio gasoso tem um limite de solubilidade na água líquida, que nas condições ambientais normais de 1 atm e 25°C, são determinados pela lei de Henry como 8,11 mg/L O2. Por isso nosso teor de OD1 em água é limitado em algo próximo deste valor de 8 mg/L O 2. Quando as bactérias "percebem" que resta pouco oxigênio dissolvido (OD < 1 mg/L O2), estas param de se reproduzir, e consequentemente o consumo da matéria orgânica cessa. Por isso devem ser tomados como resultados aceitáveis, apenas os que contiverem OD5 > 1 mg/L O2, garantindo que o oxigênio inicial da amostra foi suficiente para o consumo da matéria orgânica, sem que os micro-organismos tenham cessado a oxidação, ou seja o processo de respiração e degradação da matéria orgânica. Estas duas limitações tornam a faixa analítica do teste de DBO bastante limitada, a cerca de 7 mg/L O 2 nas melhores condições, o que equivale a dizer que podemos aferir diretamente resultados da ordem de unidades de OD e consequentemente de DBO. Podemos entretanto contornar esta condição com o uso de diluições sucessivas, até atingirmos condição de oxigênio e matéria orgânica suficientes para permitir que os micro-organismos realizem a degradação da matéria orgânica de maneira ideal. Estas diluições devem ser feitas com água especial para diluição de DBO, pois caso seja usada água deionizada, o gradiente iônico (diferença de concentração de sais, que pode causar osmólise) será fatal para as bactérias, anulando a validade do teste. Deve ser utilizada água com minerais, podendo se remineralizar água deionizada, ou até se usar água "natural" para testes simplificados. Outras interferências comuns nas análises de DBO, além da presença de agentes tóxicos, são os peróxidos, que podem fazer com que o OD final resulte em valor maior do que o OD inicial, além de problemas relacionados com contaminação de água de diluição, nutrientes, vidrarias etc. Para lidar com as interferências de peróxidos, uma vez identificadas, p.ex. com fitas de análise rápida (Macherey-Nagel), basta deixar a amostra sob agitação em ambiente claro até que todo o peróxido seja fotodegradado, ou seja, destruído pela luz ambiente. A respeito das vidrarias, recomenda-se limpeza prévia em banho de ácido clorídrico e sucessivos enxágues com água deionizada. Com relação aos nutrientes, estes podem ser comprados prontos ou preparados. Neste segundo caso, deve-se preparar o nutriente em frascaria limpa e autoclavada, tendo sua validade rigorosamente controlada para evitar contaminações, que quase Figura 2 Fita para peróxidos sempre se manifestará como altos valores de brancos. (referência 91319) (Efluentes e águas de rios podem ser incubados diretamente, apenas diluindo-os na proporção correta. Em outras matrizes, que apresentam uma quantidade de micro-organismos menores, se faz necessário o uso de semeadura. A semeadura é a técnica na qual se adiciona micro-organismos (semente) nas amostras, para que através da competição por nutrientes os micro-organismos presentes na amostra original oxidem a matéria orgânica. Claro que neste caso, a semente consome uma parte do oxigênio dissolvido da amostra, sendo necessário um branco especifico da semente, a ser descontado de todas as amostras e diluições. Observando que nossa faixa de trabalho OD1 - OD5 será menor, pois temos essa correção de semente que usualmente é de aproximadamente 1 mg/L O2.) Outra questão bastante discutida na literatura é sobre a inibição da nitrificação, que é a presença de bactérias que oxidam compostos nitrogenados. Isto é feito através da adição de um reagente especial às amostras, a ATU (aliltiouréia) cuja finalidade é inibir a oxidação de compostos nitrogenados, pelas bactérias nitrificantes. Desta forma o resultado será relacionado apenas à oxidação de compostos de carbono, sendo o resultado comumente chamado de DBO carbonácea. As exigências ambientais e normativas atuais se baseiam, em sua grande maioria, no resultado de DBO tradicional, sem inibidores de nitrificação, dado o avanço de outras técnicas como, por exemplo, de determinação de nitrogênio total e carbono total "TOC". Como DBO é uma medida indireta, não há um padrão exato para avaliação da metodologia, porém o mais utilizado na literatura atual é uma mistura de 150 mg/L de glicose e 150 mg/L de acido glutâmico, resultando em DBO teórica de 198 +- 30 mg/L O2, segundo referencia “SMEWW 5210”. Este deve, portanto, ser incubado como uma amostra comum e seu valor, em conjunto com a depleção de oxigênio (diminuição deste dentro dos cinco dias) dos brancos e a concordância entre diferentes diluições, usados como parâmetros de avaliação da qualidade dos resultados obtidos. Como as análises de DBO dependem de bactérias, que são micro-organismos muito sensíveis, temos um resultado indireto e único que não poderá ser bem reproduzido, uma vez que a característica da amostra utilizada era única no momento da incubação. Por isso não é aplicada nenhuma preservação química nas amostras coletadas para ensaio de DBO, exceto a coleta em garrafa de vidro âmbar (para evitar fotossíntese, processo de respiração das microalgas, que gera oxigênio na solução), sem bolhas (a fim de manter o oxigênio dissolvido original) e refrigeração a 4°C +- 2°C, por 24 horas, sendo aceitável a incubação até 48 horas, segundo SMEWW. Uma relação que é muito importante para determinação do nível de poluição de determinado corpo d´água, é a relação entre DQO e DBO. A Demanda Química de Oxigênio é uma simulação do consumo de oxigênio para degradação da matéria orgânica, mas ao invés de bactérias, temos o dicromato de potássio em meio ácido como agente oxidante, ou seja, agente que quebrará a matéria orgânica em formas mais simples como gás carbônico e água. Com isto temos resultados rápidos, em algumas horas, ao contrário do resultado de DBO que leva cerca de uma semana. A condição de oxidação no teste de DQO não é, portanto seletiva em relação ao tipo da matéria orgânica, oxidando todo tipo de material, ao contrário das bactérias (DBO) que têm preferência por determinadas moléculas, além da recusa por outras e até morte na presença de elementos tóxicos, como por exemplo, cianetos, cromo hexavalente, sulfetos etc. Dado este fato, é natural que os resultados de DQO por serem inespecíficos tendem a serem maiores que os de DBO, porém não existe relação teórica fixa entre os dois resultados. De maneira geral avalia-se a relação entre eles com as seguintes consequências: DQO:DBO ~ 1:1 = Matéria orgânica totalmente biodegradável. As bactérias foram capazes de oxidar virtualmente tudo que o ácido e o dicromato. DQO:DBO ~ 3:1 = Relação comumente encontrada em corpos d'água naturais, sem grande contaminação DQO:DBO ~ 10:1 = Provável presença de elementos tóxicos, nocivos às bactérias que não foram capazes de sobreviver ao meio e degradar a matéria orgânica. Em suma, a técnica de DBO é bastante trabalhosa, lenta e depende das etapas de preparo, tendo um resultado indireto sujeito a interpretação. Este é o motivo de se realizar o monitoramento de estações de tratamento de efluentes, por exemplo, por meio de DQO (quantidade de matéria orgânica), utilizando a análise de DBO como um complemento para se avaliar a qualidade da matéria orgânica deste efluente. Focada em aplicações industriais e de estações de tratamento de efluentes, a Macherey-Nagel desenvolveu um kit rápido para determinação de DBO de maneira simplificada, análogo às normas DIN EN 1899-1-H51 e DIN EN 25813-G21. Trata-se do kit NANOCOLOR BOD-TT. Procedimento: Neste kit miniaturizado, realizamos o procedimento em 4 passos: Figura 3 NANOCOLOR® DBO5-TT (985925) e a direita, kit acessórios (916925) 1º passo: Preparação da água de diluição - Em frasco próprio, que não permite a passagem de luz (fornecido no kit acessórios de DBO), completar com água potável: pode ser utilizada água mineral ou da torneira, com níveis de cloro total e cobre abaixo de 0,01 mg/L e pH entre 6 e 8. - Aerar a água de diluição com a bomba de ar elétrica (fornecida no kit acessórios de DBO) por 1 hora mantendo a água a 20 °C. 2º passo: Controle da água de diluição - No frasco de diluição (frasco de 40 mL com tampa fornecido no kit acessórios de DBO), adicionar 20 mL da água de diluição. - Agitar vigorosamente por 30 segundos. - Abrir um tubo teste de DQO retirando seu septo de borracha e completar seu volume com a água de diluição até o gargalo, sem permitir a formação de bolhas. - Fechar o tubo cuidadosamente para que não haja formação de bolhas, utilizando a tampa plástica. - Repetir o procedimento para as amostras e diluições preparadas. 3º passo: Incubação - Manter as amostras incubadas em banho maria ou incubadora, a 20 +- 1 °C por 5 dias +- 6 horas. 4° passo: Determinação do oxigênio inicial e residual e avaliação dos resultados - Após o período de incubação, abrir os tubos teste e adicionar 2 gotas do reagente R1 e 2 gotas do reagente R2. - Fechar os tubos novamente sem permitir a formação de bolhas e agitá-los brandamente por 2 minutos. - Abrir os tubos e adicionar 5 gotas do reagente R3. - Fechar os tubos e agitá-los até que o reagente R3 se dissolva. - Avaliar os resultados em fotômetro, utilizando o controle de água de diluição como zero / branco de leitura, e lendo as amostras subsequentemente. O teste é avaliado nos equipamentos da Macherey-Nagel em comprimento de onda de 436 nm, com fator de calibração de 7,0, ou seja, Concentração [mg/L O2] = A436 nm * 7,0. Abaixo se encontra tabela guia para realização de diluições diretamente nos frascos de diluição, baseada no valor estimado de DBO. Estas diluições devem ser feitas preferencialmente com micropipetas de volume variável. Para amostras desconhecidas, o valor de DBO deve ser estimado com base na relação esperada com o valor de DQO. Por se tratar de estimativa, é recomendável se trabalhar com três diluições diferentes, a fim de cobrir a faixa mais ampla possível, além da realização de duplicatas, se possível. DBO estimada [mg/L O2] <5 4 – 12 10 – 30 20 – 60 40 – 120 100 – 300 200 – 600 400 – 1200 800 – 2400 1000 – 3000 Diluição Exemplo típica 1+0 1+1 1+4 1+9 1 + 19 1 + 49 1 + 99 1 + 199 1 + 399 1 + 499 A A, B A, B B C C, D C, D D, E E E Volume de amostra [mL] 20 10 4 2 1 0,4 0,2 0,1 0,05 0,04 Volume de água de diluição [mL] 0 10 16 18 19 19,6 19,8 19,9 19,95 19,96 A: Água de rio B: Biomassa biologicamente adequada por estação de tratamento C: Biomassa clarificada por estação de tratamento ou água moderadamente poluída D: Esgoto sanitário doméstico E: Efluente industrial altamente poluído A equipe técnica da Carvalhaes fica a disposição para qualquer dúvida ou esclarecimento. Gisseh Kovacs Bertolami gerente de produto Tel: (11) 3868 4548 | Cel: (11) 98303 1472 e-mail: [email protected]