FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA
Pró-reitoria de Ensino
1º semestre / 2013
Módulo 52
Quarto Eixo Temático
Organizadoras
Profª Me. Cristina Herold Constantino
Profª Me. Débora Azevedo Malentachi
Colaboradores
Professores Mediadores:
Aline Ferrari
Fabiana Sesmilo de Camargo Caetano
Adriana Pacheco do Amaral
Cristiane de Oliveira Alves
Carlos Soares Pagani
Direção Geral
Pró-reitor Prof. Me. Valdecir Antônio Simão
SUMÁRIO
Introdução ..................................................................................................................04
Ler não é tão importante............................................................................................05
Da leitura para a escrita.............................................................................................08
Textos selecionados..................................................................................................11
Filmes..........................................................................................................................45
Tiras.............................................................................................................................46
Músicas ......................................................................................................................47
Poesias.......................................................................................................................49
Imagens......................................................................................................................51
Esta Coletânea está relacionada à VIDA. A cada texto verbal e não verbal, bem como a
cada uma das propostas de vídeos, filmes e literatura, você poderá constatar que o
objetivo principal deste material é instigar reflexões pontuais sobre a VIDA do Meio
Ambiente. VIDA, ainda hoje, tão esquecida, maltratada, desperdiçada, lançada fora,
queimada, destruída, exterminada. Não se trata de um romance ou ficção que tem a
pretensão de simplesmente emocionar ou fazer um apelo aos leitores. Embora os
sentimentos sejam essenciais e o apelo, muitas vezes, necessário. Este conteúdo é,
sobretudo, real e racional, pois trata da VIDA como ela é, como está, o que fazemos
dela, o que já fizemos com ela. E, neste sentido, recorremos à razão e à ética capaz de
conscientizar e gerar em nós a transformação de mente necessária para a prática de
ações, pequenas e grandes, fundamentais para a sobrevivência da VIDA que move o
Meio, que nos move.
Quais passos você já deu rumo à transformação tão necessária para a manutenção da
VIDA? Neste momento, desafiamos você, prezado(a) aluno(a), a assumir conosco o
compromisso de avançar mais um passo. Faça deste material um objeto de análise e
pesquisa, leia os textos aqui apresentados com atitude crítica, questionadora e reflexiva.
Tal qual tem sido a nossa proposta nas Coletâneas anteriores, primeiramente, você
encontrará ideias relacionadas à leitura, interpretação e, nesta em especial,
considerações iniciais sobre o processo de construção da escrita, cujo objetivo principal
é auxiliar em sua formação. Posteriormente, apresentamos os mais variados assuntos
selecionados e relacionados ao Meio Ambiente: ética ambiental, sustentabilidade,
preservação da água e das matas, aquecimento global, o homem ecológico, dentre
outros. Por fim, esperamos que você se sinta enriquecido de conhecimentos e motivado
a honrar o seu compromisso com a preservação e manutenção da VIDA!
Uma ótima leitura!
Das organizadoras
Como assim?! É claro que ler é
importante... Esse título não procede!
Qual será, afinal, o propósito de uma
declaração desta natureza, tão
absurda??!
Parece contraditório, não é mesmo? Entretanto, a entrevista a seguir, com
Pierre Bayard, traz essa declaração como título e é bastante significativa na
medida em que esclarece uma tese valiosa: o mais importante não é a
quantidade, mas a QUALIDADE das leituras. É exatamente este o
caminho proposto pela Formação Sociocultural e Ética. Nas coletâneas
anteriores, apresentamos conteúdos basilares a respeito da leitura: conceitos,
etapas, níveis, estratégias, enfim, caminhos que possibilitam a prática
consciente da LEITURA QUALITATIVA e o desenvolvimento de habilidades
leitoras fundamentais para o bom desempenho na vida acadêmica,
profissional e pessoal de todo cidadão. Estamos certos de que as ideias e
argumentos do entrevistado servirão não apenas para sustentar esse ponto
de vista, mas também para trazer mais conhecimentos e ampliar horizontes.
A entrevista traz respostas intrigantes e excelentes para algumas reflexões
realmente importantes e pontuais! Vale a pena conferi-la na íntegra!
Entrevista com Pierre Bayard*
Por Rita Loiola
Pierre Bayard chega para a entrevista com o cabelo desarrumado,
uma pasta de couro atulhada de livros e, embaixo do braço, o
Libération, um jornal da esquerda francesa fundado pelo filósofo JeanPaul Sartre. Não parece nem um pouco o mesmo sujeito que vem
pedindo a seus colegas que confessem não ter lido todos os livros
que citam nas notas de rodapé dos estudos acadêmicos. Psicanalista
e professor de literatura na Universidade Paris 8, Bayard escreve
ensaios com títulos que parecem picaretagem, do tipo Comment
Améliorer les Oeuvres Ratées (“Como Melhorar as Obras
Fracassadas”, sem edição brasileira) ou Como Falar de Livros Que Não Lemos, que virou best seller nos
EUA, na Inglaterra e na França e acaba de ser lançado no Brasil. Apesar dos títulos, Bayard fala sério.
Para ele, o que nos afasta dos livros é justamente a exigência de ler e a culpa por não conseguir ler obras
inteiras. E é mais importante saber situar um livro num contexto que lê-lo inteiramente. No tradicional Café
Zimmer, em Paris, (que era frequentado pelos escritores Émile Zola e Proust, autores que ele apenas
percorreu), Bayard afirma que é errado tentar impor regras para a leitura. “Ler um livro da primeira à última
linha é uma entre mil formas de leitura que existem”, diz.
Quer dizer que é possível ser culto sem ler um único livro inteiro?
Sem ler uma obra da primeira à última linha? Sim, claro! Para uma pessoa realmente culta, o mais
importante não é ter lido várias obras por completo, e sim saber se orientar, situar o livro e o autor dentro
de um conjunto, para poder compará-los e relacioná-los com outros. É como um encarregado do tráfego
ferroviário: ele precisa estar mais atento ao conjunto de vagões e ao cruzamento dos trens do que ao
detalhe do interior de um vagão. Ter essa visão do conjunto é muito mais importante do que saber
detalhes do interior de um livro.
Quase todo mundo defende que uma pessoa precisa ler muito, mas nem todos leem? Por quê?
É justamente essa obrigação de ter que ler que nos impede de chegar aos livros. Sacralizamos tanto os
livros, o fato de ler e ter que guardar todas as informações e detalhes dos textos, que acabamos morrendo
de medo das palavras e, então,... não lemos. Prefiro evitar todo tipo de “dever” ou “obrigação” sobre esse
assunto. A leitura é um ato de liberdade. Não há como impor regras a ela.
Como assim?
Eu, por exemplo. Nunca li o Ulisses, de James Joyce, e nem pretendo. E nem por isso deixo de conhecêlo. Sei que a história se passa em apenas um dia, tem a ver com a Odisséia, de Homero, e sei de vários
detalhes que me permitem ter uma ótima conversa sobre o texto com quem quer que seja. E para isso não
preciso mergulhar em suas páginas. Quer ver outro ótimo exemplo? Todo mundo fala da Bíblia, mas são
raríssimas as pessoas que a leram do começo ao fim. E, no entanto, é um dos livros mais citados do
mundo. Há milhares de formas de abordar um livro e não somente sua leitura integral.
E um desses jeitos é justamente a não-leitura?
A relação com a leitura é complexa. Entre a leitura e a não-leitura há uma infinidade de graus. Não
podemos achar que a leitura da primeira à última linha é a única existente – até porque muitas vezes não
fazemos isso. Podemos simplesmente percorrer as páginas do livro, ou ler o título e a orelha, ou então
passar os olhos por um ensaio sobre a obra sem nunca tê-la entre as mãos. Um livro também pode entrar
na nossa vida e fazer parte dela quando ouvimos falar sobre ele. Ler ou ouvir o que os outros dizem são
atitudes que fazem com que tenhamos uma ideia e um julgamento sobre o seu conteúdo. E tudo isso já é
uma relação com suas páginas, é também uma forma de ler.
Não precisamos sentir culpa ou vergonha por não ter lido as grandes obras?
Não – é muito melhor ser sincero consigo mesmo. A obrigação de ler os clássicos ou de ler os livros do
começo ao fim é tão grande que faz muita gente mentir que leu, até mesmo professores universitários.
Instaura-se assim uma mentira coletiva da cultura sem lacunas, de que devemos nos angustiar por não
termos tanto quanto poderíamos. Mas não precisamos ter vergonha nem culpa. É melhor praticar a nãoleitura ativa, ou seja, admitirmos que não lemos tal obra e, mesmo assim, falar sobre ela.
Você fala sério quando sugere que a não-leitura seja ensinada nas escolas?
Eu prefiro não dar conselhos. A ideia do que escrevi é mostrar uma forma leve e divertida de tirar a culpa
do leitor por ele não ter lido essa ou aquela obra. Fazer com que as pessoas reflitam sobre a ação de ler,
percam o trauma e, mais aliviadas, possam ler mais e livremente. Depois que os livros saíram, dezenas de
pessoas vieram me confessar que ficaram mais calmas depois de perceber como ficam culpadas por não
ter lido as grandes obras.
Se não temos a obrigação de ler tudo, por que alguém deveria ler seu livro?
Não deveria. Eu escrevo pensando em pessoas que se interessam pelos livros e que gostam de refletir
sobre hábitos de leitura. Estudantes, professores, pessoas que estão na área das letras. Ninguém tem a
obrigação de ler o que escrevi. Não quero dar conselho algum, da mesma maneira que não concordo com
a ideia de que alguém “deve” ler Marcel Proust, “tem que” ler James Joyce.
Então podemos falar de livros que não lemos?
Sim, é até melhor que a gente fale sobre um livro sem tê-lo lido completamente. Um debate nunca se
limita a um livro: geralmente acaba na discussão sobre nossas noções de cultura e literatura. Se eu tiver
as mesmas ideias e referências idênticas às das pessoas com quem estou conversando, qual a graça? Aí
não existe uma boa discussão, não existe troca de ideias, não existe prazer. A boa discussão está em
nunca conhecer tudo.
Não há o perigo de incentivar a preguiça de ler?
Não quero de modo algum dizer que não precisamos dos livros. Eu adoro ler, leio muito e não escrevi um
tratado para que as pessoas parem de ler. A ideia é somente tirar o livro do pedestal do sagrado em que
ele está. Quem incentiva a preguiça é a exigência de ler. Na escola, os alunos são obrigados a decorar
detalhes do texto. Isso os afasta da leitura. Se o aluno não tem uma memória de elefante, pronto, vai mal
na prova. A temida ficha de leitura, por exemplo. Eu nunca consegui fazer uma ficha de leitura decente na
minha vida, porque tenho uma memória terrível. E meu filho, quando passou por essa tortura, me disse
que era esse trabalho de decorar personagens e o enredo que o desencorajava a ler. Foi aí que comecei a
pensar sobre esse trauma e sobre os milhares de caminhos que existem quando se trata de literatura.
Você fala que a “desleitura” é um desses caminhos. Dá para ler um livro se esquecendo dele?
Assim que terminamos um livro entramos em um movimento direto rumo ao esquecimento. Vamos
esquecendo as passagens, as palavras, e acabamos transformando a obra lida em algo completamente
diferente. Se li todo o Crime e Castigo e depois esqueci, isso quer dizer que eu li o livro ou não? E se não
me lembro de nada? Se apenas o folheei, isso quer dizer que não li? Se alguém tem uma péssima
memória – como eu –, acaba esquecendo inclusive se leu ou não o texto. Mas, cada vez que citamos a
obra, ela vai se tornando outra coisa, vai mudando. É isso que eu chamo de desleitura, esse movimento
pessoal rumo ao esquecimento.
Isso é bom ou ruim?
É bom. O filósofo Montaigne, por exemplo, era um esquecido célebre. Há passagens dos Ensaios em que
ele diz que as pessoas mencionavam seus escritos e ele não percebia. Imagino que minha memória seja
ruim como a dele. Já precisei reler meus livros porque os jornalistas começaram a solicitar entrevistas e eu
não tinha ideia do que estavam falando. Mas isso faz também com que possamos ter conversas
enriquecedoras sobre esses textos, porque nunca uma pessoa vai ter dentro de si o mesmo livro que
outra. Cada um adiciona coisas suas às obras que leu. Há diferenças culturais que fazem com o que um
livro possa ter infinitas leituras.
Em Como Falar de Livros Que Não Lemos, você dá conselhos e técnicas a quem quer ter essa
atitude. As dicas vieram de experiência própria?
Quem vive no mundo da literatura, como no caso de professores como eu, sabe, na verdade, que não é
preciso ler para falar de livros. Professores, críticos e jornalistas não têm tempo hábil de ler tudo o que
poderiam, e isso acontece desde sempre. Então por que não admitem isso? Não é preciso decorar pontos
e vírgulas para ter uma opinião sobre as obras. Para essas pessoas, criei algumas técnicas. Mas não vou
enumerar para você porque eu sei que tem muita gente que vai comprar o livro só por causa dessa parte.
Você está ciente que o livro pode ser vendido como um guia dos picaretas da leitura?
Mas claro! Essa é a brincadeira, mas é muito melhor
guardar segredo. Vai que o livro vira best seller também no
Brasil.
*Pierre Bayard tem 52 anos e dá aulas de literatura na Paris 8 –
a mesma universidade que acolheu intelectuais como Lacan e
Foucault. Nasceu em Amiens, uma cidadezinha do norte da
França cujos habitantes são conhecidos pelo bom humor e pela
ironia. Gosta de filmes americanos de aventura, como O Feitiço
do Tempo, e até os utiliza como exemplos em seus ensaios.
Mudou com os pais para Paris aos 11 anos e descobriu que
nasceu para o mundo das letras. Escrever é o seu passatempo
preferido desde os 14 anos.
Ufa! Estou aliviada! O ato de ler é muito
importante sim! Só precisamos cuidar da
qualidade das nossas leituras. Caso contrário,
ela poderá perder seu real valor!
Além de todas as considerações e reflexões feitas acerca da leitura, nesta e nas coletâneas anteriores,
matéria-prima e constituição de modelos para a escrita.
Ou seja, a leitura e a produção de textos estão intrinsecamente relacionadas. Para ser um bom
escritor, é preciso, primeiro, ser um bom leitor! Todavia, ser um bom leitor não é requisito
podemos pensá-la, também, como
único e suficiente para se produzir textos de qualidade, pois esse processo requer outras habilidades
específicas, é claro, da escrita.
Quais as suas principais dificuldades na produção escrita?
Como você se autoavalia enquanto produtor de textos?
Tudo aponta para a necessidade de
aprendermos a escrever a partir
daquilo que nós lemos. É este o
truque a ser explicado. (Frank Smith)
Para estimular suas considerações a respeito das perguntas
acima, faremos uso de um texto poético que conhecemos em uma de nossas visitas à internet, de Carla
Pereira, cujo propósito inicial é desmistificar a ideia de que apenas os textos escritos por autores
mundialmente conhecidos são dignos de leitura. Há muitos outros textos de qualidade e autoria pouco
conhecida que também merecem a nossa atenção.
A palavra não sabe o que diz!
A palavra não sabe o que diz
A palavra delira, a palavra diz qualquer coisa
A verdade é que a palavra, ela mesma, em si própria, não diz nada
Quem diz é o acordo estabelecido entre quem fala e quem ouve
Quando existe acordo, existe comunicação
Mas quando esse acordo se quebra
Ninguém diz mais nada
Mesmo usando as mesmas palavras
A palavra é uma roupa que a gente veste
Uns usam palavras curtas
Outros usam roupa em excesso
Existem os que jogam palavra fora
Pior os que usam e desalinham
Uns usam palavras caras
Poucos ostentam palavras raras
Tem quem nunca troca
Tem quem usa dos outros
A maioria não sabe o que veste
Alguns sabem, mas fingem que não
E tem quem nunca usa roupa certa pra ocasião
Tem os que se ajeitam bem com poucas peças
Outros se enrolam num vocabulário de muitas
Tem gente que estraga tudo que usa
E você, com quais palavras você se despe?
Eis um poema riquíssimo em conteúdo! Ele nos ensina muito sobre a dinâmica da escrita, a escolha das
palavras, o estilo discursivo dos sujeitos, e faz tudo isso por meio da criação de uma metáfora perfeita:
palavras são as roupas com as quais nos vestimos e nos despimos .
as
Ao final, uma
pergunta que talvez incomode, mas não deixa de ser fundamental para a nossa, sua reflexão: “E você,
com quais palavras você se despe?”.
Além do conteúdo enriquecedor, a autora demonstra um estilo que lhe é próprio, de tal forma que quase
conseguimos vislumbrar sua face por trás das palavras. O mais fascinante nas produções textuais é o
quanto os autores, de modo consciente e criativo, exploram os recursos da linguagem, e o quanto se
deixam conhecer através de suas palavras. Igualmente fascinante é que
nem sempre a novidade
está no que é dito pelo autor, mas no modo
como diz!
Quer um exemplo bastante prático? Conheça a história do
cego e do publicitário em slide-show, disponível em
http://www.youtube.com/watch?v=oQXzXn1sDyQ.
[...] o novo não está no que é dito, mas no
acontecimento de seu retorno. (Foucault)
Quais as condições básicas para se produzir um texto?
Com respaldo em Geraldi (O texto na sala de aula, São Paulo, Ática, 2001), um dos estudiosos linguísticos
mais renomados do Brasil, a construção da escrita é resultado, consequência ou produto final de uma
série de atividades realizadas a partir de algumas condições que, na perspectiva do autor, são
fundamentais para a produção de um texto. São cinco elementos que formam essas condições. Vejamos
quais são e vamos retomar alguns versos do poema, “A palavra não sabe o que diz”, para compreendê-los
melhor:
a) “Ter o que dizer”
A palavra não sabe o que diz
A palavra delira, a palavra diz qualquer coisa
A verdade é que a palavra, ela mesma, em si própria, não diz nada
Quem se põe a escrever precisa ter o que dizer e saber como fazê-lo. Caso contrário, a palavra dirá tudo,
menos o que o autor pretendeu dizer. É mesmo verdade que a palavra, por si mesma, “diz qualquer coisa”
ou “não diz nada”. O locutor (quem escreve) precisa de conteúdo e, de posse desse conteúdo, precisa
manusear muito bem as palavras, empregar adequadamente os sinais de pontuação, formar frases
coesas, períodos claros, parágrafos coerentes, unir todas as partes formando uma só unidade. Se não
tiver o que dizer, não adianta disfarçar ou, como dizem, “encher linguiça”. Certamente preencherá as
linhas com ideias bastante vagas e previsíveis, cairá em redundâncias, fará seu texto circular em torno de
si mesmo, não apresentará expansão textual e, consequentemente, será avaliado como desinteressante
pelo interlocutor (quem lê).
b) “Ter uma razão para dizer o que se tem a dizer”
A maioria não sabe o que veste
Se não houver, ao menos, uma razão para a escrita, é grande a possibilidade de o autor encontrar
grandes dificuldades para decidir, afinal, com quais palavras vestirá seu texto. É preciso que haja uma
razão de fato motivadora para a escrita e que a intenção não seja simplesmente cumprir uma tarefa para
receber nota, mas, sim, atribuir ao seu texto uma função social, dizer para dizer-se, ou seja, mostrar-se ao
outro e, ao mesmo tempo, agir sobre ele.
c) “Ter para quem dizer o que se tem a dizer”
Quem diz é o acordo estabelecido entre quem fala e quem ouve
Quando existe acordo, existe comunicação
Ou seja, dizer-se para alguém, planejar a escrita de seu texto para interlocutores específicos, adequandoo de modo a atingir seu destinatário. Sempre que escrever, tenha em mente para quem você escreve! Seu
interlocutor é a razão de ser de sua escrita. Agora mesmo, por exemplo, ao produzir este material para seu
estudo, você está em nossa mente continuamente...
d) “Assumir sua responsabilidade enquanto locutor ou sujeito que diz o que diz para quem diz”
Tem quem usa dos outros
Nunca copiar o discurso alheio. Isso é fundamental, e também uma questão de ética! O sujeito que
reconhece o real valor de sua palavra, analisa as palavras dos outros, passando-as pelo crivo de seus
questionamentos e reflexões. Depois de um tempo, transforma velhos dizeres em palavras novas. Um
discurso peculiar, que traz a sua imagem refletida nas palavras que escreve. Assim, coloca-se como
sujeito responsável por aquilo que redige, constitui-se autor e demonstra sua autoria nos
textos que produz.
Mostre-se nos textos que você produz. Valorize a originalidade e sua autoria. Use os
bons escritores apenas como modelos e referenciais que o ajudarão a desenvolver seu
próprio estilo discursivo! Qualquer pessoa, desde que haja vontade e empenho, pode se
tornar um ótimo produtor de textos!
e) “Escolher as estratégias para realizar (a), (b), (c) e (d), estratégias discursivas, textuais,
linguísticas, tendo em mente o interlocutor e cuidando tanto do conteúdo quanto da forma do texto
produzido”
Tem gente que estraga tudo que usa
E você, com quais palavras você se despe?
A escrita é uma questão de tempo e, sobretudo, de escolhas. Quando você escreve, é você o autor. É
você quem escolhe como começar, desenvolver e concluir suas ideias; é você quem escolhe o que dizer,
como dizer e quais palavras usar. É você quem escolhe se enviará ao professor a versão rascunho ou a
versão final de seu texto após várias revisões e reescritas. Ninguém pode fazer essas escolhas por você.
A escrita requer, sobretudo, prática e persistência. Em suma, escrever de modo criativo, coeso e coerente
requer planejamento, muitos rascunhos, várias reescritas. Os melhores textos publicados e produzidos por
grandes escritores profissionais, e por bons escritores esporádicos e pouco conhecidos, passaram pelo
processo de reescritas.
A qualidade de um texto depende do modo como suas palavras se apresentam e se relacionam (forma).
Depende, também, do que dizem essas palavras (conteúdo) e da novidade que há nesse discurso.
Lembre-se: a novidade está no retorno das palavras, no modo como são construídos os discursos, na
maneira como esses discursos conseguem demonstrar o estilo de quem os produziu. Você compreende a
profundidade disso? A originalidade está no modo como escrevemos. Dizemos isso porque
queremos encorajá-lo: seja você mesmo, em sua totalidade, em tudo o que escrever. Dialogue consigo
diálogo interior no
processo de escrita e reescritas, mais o leitor ouvirá a sua voz nos textos que você produz!
mesmo no processo de construção da escrita. Quanto mais profundo o seu
Simples, aparentemente basilar, até mesmo primário, contudo, a intenção é exatamente esta:
começar pelo que parece óbvio, e por parecer tão óbvio corre o risco de ser facilmente ignorado...
O artigo que apresentamos inicialmente aponta-nos para pequenas, porém importantes ações
que permeiam a ética ambiental, as quais não dependem em primeira instância de governos e
projetos, antes da decisão e da atitude de cada um e de todos. São vários os questionamentos
propostos que merecem a nossa atenção.
TEXTO 1
Ética Ambiental
O conceito de ética, em geral, parece muito amplo,
abrangente. Desde Aristóteles (o primeiro a se ocupar
diretamente sobre este tema, vide Ética a Nicômaco),
os filósofos buscam a compreensão, o conhecimento,
do que poder ser entendido deste tema do
comportamento humano. Considere-se que a origem
etimológica da palavra ética (do grego ethos) remete a
algo associado a maneira de ser, caráter, lugar onde se
está, moradia. Na conceituação contemporânea ética
é a reflexão sobre o conteúdo da moral. Mas daí? O
que é moral? De novo buscando a raiz da palavra,
descobrimos que a sua origem é latina, donde mor,
moris, dizia respeito aos costumes, hábitos. Costumes
no sentido daquilo que era comum a todos, todos
observavam, realizavam. Então, moral são ações, atitudes, que fazem parte do que foi estabelecido como
norma geral, costume dado a determinada população, cultura, algo aceito pela maioria, senão por todos.
Partindo disso, situa-se moral como uma norma, uma regra, um costume geral e coletivo de atitude, ação,
procedimento. Já ética se diz da reflexão dos que tratam esses costumes, do seu aperfeiçoamento, da
sua essência ou, ainda, do que há de mais elevado na moral. De modo geral, referimo-nos a ética (atitude
ética) como algo que abrange tudo. O campo ético, então, envolve todo o universo da existência humana e
suas relações com este universo. Pode-se por este caminho chegar a uma ética ambiental. Ou seja,
como se dá e como deveria se dar a relação do homem com o ambiente natural, com o mundo onde vive,
com o mundo de onde ele tira a energia, o alimento que o mantém vivo.
Quando nos perguntamos sobre ética ambiental, estamos nos perguntando sobre a ocupação e o uso dos
meios naturais para a sobrevivência humana. Temos uma responsabilidade com o uso desses meios?
Como estamos agindo ao realizar este uso necessário para a manutenção da nossa vida? Os animais
irracionais e outros organismos, com exceção do vírus, utilizam os meios naturais disponíveis nos limites
das suas necessidades, sem transformar o ambiente de maneira radical. O homem é o único animal que embora provido de razão, portanto, racional - não apenas se adapta ao meio como adapta o meio a si. Ao
realizar isso altera e modifica, inclusive, os meios de sobrevivência de outras espécies, mesmo daquelas
úteis para si. Por exemplo, o desenvolvimento desordenado das cidades e com isso o aumento da
poluição acaba gerando a contaminação de rios e mares e, por esta conta, a morte, extinção de meios
importantes a sua sobrevivência e ao equilíbrio da natureza (a água, os peixes, animais marítimos etc.).
A questão exigida para uma reflexão sob o prisma da ética ambiental é: temos como usar dos meios
naturais, intervir no ambiente natural, de forma menos agressiva, que garanta a perenidade do planeta ou,
ao menos, não reduza a sua vida útil à própria existência humana sobre ele? Que pequenos e grandes
gestos são possíveis para realizar este "salvamento"? O que está sendo feito neste sentido é suficiente?
Numa sociedade pressionada pelo consumo, onde tudo se torna obsoleto no momento seguinte ao ser
adquirido, é possível uma consciência ética na nossa relação com o ambiente natural?
Observemos um ambiente natural mínimo e já modificado, o lugar onde está nossa casa ou onde está a
nossa escola, que ações poderiam ser realizadas para reduzir o impacto que já provocamos nestes
ambientes? Observando a sujeira dentro da sala de aula ou mesmo no pátio da escola, podemos dizer
que temos uma responsabilidade ambiental, uma ética? As alterações na estrutura urbana (novos
loteamentos, edifícios, indústrias) na nossa cidade, revelam um cuidado com o menor impacto possível no
ambiente natural? Leis que regulam o uso do solo, do espaço natural, existem, por que, então, temos
tantos problemas que só notamos quando observamos inundações, mau cheiro, valões a céu aberto,
esgoto não tratado, árvores cortadas etc.?
(http://meioambientetecnico.blogspot.com.br/2012/09/etica-ambiental.html)
Em relação às diversas facetas do ser humano, a capacidade de adaptação do indivíduo é
inegável, sendo considerada um dos fatores que nos mantém vivos, garantindo a nossa
sobrevivência ao longo dos tempos. O texto a seguir trata deste aspecto. Entretanto, importa
refletirmos, sobretudo, se somos fortes suficientes para resistirmos a nós mesmos...
TEXTO 2
A insustentável certeza do ser
Flavia Goldenberg* em Green Life
Há muitos anos consultores, líderes,
comunicadores batem incessantemente na
mesma tecla dizendo “a única coisa que
temos certeza é que a mudança faz parte
de nosso dia a dia”. Alguns vão mais além,
pregando e repetindo como um mantra a
máxima: não perca tempo resistindo às
mudanças, faça parte ativa deste processo
buscando na mudança oportunidades,
entre neste movimento.
Chego à conclusão ao analisar a questão
da sustentabilidade que sofremos de
miopia aguda por muitos anos.
Muito além da análise de nossas estruturas empresariais, do nosso jeito de fazer negócios, da maneira
como construímos carreiras ou lidamos com as questões culturais e sociais de nossa civilização, estão as
mudanças do nosso planeta.
Vamos aos fatos, há 300 milhões de anos
o continente americano iniciou seu
afastamento do continente africano, a
última era glacial se iniciou a mais de 12
mil anos e o degelo produziu ondas
catastróficas que mudaram vastas áreas
da Terra, transformando áreas costeiras
habitadas em cidades submersas; o
degelo é contínuo e avança dia a dia.
Soma-se a isto, os danos que nossa
civilização tem causado ao meio ambiente
acelerando alguns destes processos.
Eliminar estes fatores externos sem dúvida
nos daria mais tempo para reagir e
administrar as crises que mais ou menos hora, baterão à nossa porta.
Temos vivido inundações, furacões, terremotos… no Haiti, no Chile. Vulcões dão sinais de seu poderio
como aquele que derrete geleiras ao sul da Islândia.
Pergunto: será que ao invés de resistirmos a estas mudanças não deveríamos assumir que elas são parte
de nossas vidas, porque são naturais, e assim organizar nossa sociedade para conviver com as mudanças
do ambiente de nosso planeta?
Tenho acompanhado algumas destas
iniciativas, obras fantásticas da engenharia.
Edifícios resistentes ao vento e a tremores
na costa leste dos Estados Unidos, casas
flutuantes na Holanda, barragens e cinturões
que estão sendo estudados para proteger
patrimônios históricos como aqueles em
Veneza na Itália e outras mais.
Concentrar
nossa
capacidade
em
desenvolver tecnologias que visem à
preservação do homem em situações
extremas
me
parece
hoje
atitude
fundamental para a sobrevivência da
humanidade. Sonho com soluções para a
vida em mundos submersos ou flutuantes, no calor ou no frio extremo, aqui em solo ou no espaço aéreo,
acredito no homem e na sua habilidade para adaptar-se ao novo, para criar alternativas.
Ouso dizer que precisaremos rever nossos conceitos de propriedade, da terra, porque ela está em
constante movimento, sendo invadida pelas águas ou engolida pelas fendas nos terremotos. Como será
no futuro nossa relação de propriedade se vivermos no espaço? Será que teremos uma certidão de nosso
pedaço de céu?
Enfim, a única coisa da qual temos certeza é que desde que o mundo é mundo, ele está em constante
mudança e isto não podemos mudar… já diziam nossos consultores.
*Flávia é empresária, com ampla experiência nas áreas de comunicação e marketing promocional. É
consultora de Gestão em Sustentabilidade na Sob Medida e VP de comunicação na AMPRO. Segundo
ela: "O planeta vai muito bem, obrigada. Nós é que temos um problema."
(http://www.coletivoverde.com.br/a-insustentavel-certeza-do-ser/)
VÍDEO 1
“O vídeo anexo mostra muito bem o que pode acontecer quando não
respeitamos os limites do nosso planeta. Sem sombra de dúvida, o
resultado de ações inconsequentes pode um dia afetar a nós mesmos.
A preservação da qualidade de vida no nosso planeta depende da
nossa conscientização, do nosso compromisso, das nossas atitudes
do dia-a-dia.”
http://www.youtube.com/watch?v=i9P1oaPiTiw
O texto a seguir nos remete a uma pergunta clássica: Podemos agradar a gregos e troianos?
Queremos uma política sustentável, mas não abrimos mão de “tantas coisas”. Quais são os reais
interesses da sociedade em geral? Qual a possibilidade de transformação das ideias, da
aculturação política, da retomada de valores e da construção de outros? Qual, enfim, o papel da
educação neste processo?
TEXTO 3
Educação como caminho
Inês Castilho
A educação das juventudes – assim mesmo, no plural – é a tarefa mais urgente que temos pela frente,
pois delas dependerá a mudança para uma sociedade mais justa e sustentável. “A juventude perpassa
culturas, etnias, classes sociais, acesso a bens ou não. Como fazer, junto com as juventudes, a transição
para a sustentabilidade?” – pergunta a antropóloga Raquel Trajber nesta entrevista, ocorrida no âmbito da
pesquisa qualitativa Política Cidadã, que o instituto Ideafix produziu para o IDS (Instituto Democracia e
Sustentabilidade).
“Não precisamos começar tudo de novo, mas potencializar o que tem de transformador na humanidade, os
valores que promovem a vida”, diz ela, lembrando não haver um modelo único, mas “várias buscas e
experiências de sociedades sustentáveis”. Coordenadora de educação ambiental do ministério da
Educação durante sete anos, Raquel está desde 2011 trabalhando com educação informal voltada para
jovens no Imas (Instituto Marina Silva), em Brasília.
a sustentabilidade – entendida em suas dimensões econômica, social,
política, cultural – é incompatível com o capitalismo. “A economia verde é a mesma mulher
Para ela,
gorda do neoliberalismo, vestida com outra roupa, de outra cor” – afirma. Raquel lembra que a transição
para sociedades sustentáveis não pode ser apenas individual: “Não é aquela história do beija-flor que fica
apagando o fogo, fazendo a sua parte. A mudança precisa ser coletiva e, para ser coletiva, precisa mudar
a visão de mundo das pessoas”.
A necessária governança global está difícil
de ser alcançada, diz ela. “Meio ambiente
não tem fronteiras nacionais, e precisa com
urgência ser percebido como nossa única
biosfera, uma fina camada que mantém a
vida no planeta.” Mas ainda temos, no
Brasil, reservas que podem nos ajudar a
conduzir essa passagem para um futuro:
“As culturas populares e as dos povos
originários – não a cultura de massa – e a
ciência engajada na sustentabilidade
podem nos ajudar na transição.” A seguir,
a entrevista.
Qual é a sua percepção sobre
participação política dos brasileiros?
a
Precisamos ativar o educador existente em cada um de nós, para viabilizar a
transição à sustentabilidade, diz a ambientalista Raquel Trajber
As pessoas no Brasil se manifestam em eventos religiosos e se mobilizam por atividades de dança,
música, muito mais do que por ações políticas. Foram organizadas manifestações contra a corrupção, mas
nem todos participaram presencialmente. No entanto, muita gente assinou a petição da Ficha Limpa.
Então, resta estudar o tipo de manifestação política que os brasileiros estão dispostos a fazer, e a forma
como isso se dá.
Comparados com as manifestações que pipocaram pelo mundo, como a Primavera Árabe, temos um
interesse menor. Foram movimentos diferentes entre si, mas que aconteceram em muitos lugares do
mundo. As manifestações na Europa e dos jovens chilenos pela educação pública estão ligadas ao livro
“Indignai-vos”, do Stéphane Hessel. Quem se manifesta, em geral são os jovens – e os jovens aqui no
Brasil estão pensando em outras políticas.
É difícil de falar de uma juventude só delimitada por faixa etária. A juventude perpassa cultura, etnias,
Como fazer, junto com as
juventudes, a transição para a sustentabilidade? Como se constroem os caminhos
para sociedades sustentáveis a partir das várias falas, discursos e formas de
comunicação?
classes sociais, interesses múltiplos, acesso a bens ou não, tudo isso.
Que temas você considera capazes de mobilizar a sociedade?
Uma das minhas preocupações é a questão das florestas. Não parece um tema que mobiliza as pessoas,
porque é aparentemente distante do cotidiano – ao contrário da Ficha Limpa, pois políticos corruptos
provocam muita raiva. Todo
mundo é a favor das florestas, mas só se envolvem mesmo
algumas ONGs e entidades, estudantes. Do outro lado atuam poderosos lobbies do
agronegócio, aqueles que têm interesse pessoal no uso da terra. Esses caras atuam na política por
interesses privados, pela concentração privada de renda. Essa é a forma como as elites brasileiras fazem
política: concentração de poder e de recursos.
Um tema que acho que vai pegar já já é a profunda desigualdade existente no Brasil. Esta é uma
A maioria não vê possibilidade
de entrar no consumo e fazer parte da concentração de renda indecente que existe
aqui e em quase todos os países, com raras exceções, como Japão,
Escandinávia…
sociedade perversa, que promete um grande consumo a poucos.
Que canais o cidadão comum, o jovem
em
particular,
tem
para
atuar
politicamente no Brasil?
Essa tendência de uso das redes de
comunicação – twitter, facebook – é uma
forma de ativismo vinculada à juventude.
Agora, resta ver se aqui no Brasil vai ser
usada para questões políticas. As outras
formas, como o voto, são muito frágeis e
incipientes. A democracia representativa no
Brasil tem ainda o agravante de ter o voto obrigatório – uma coisa que parece estar fazendo água. A
juventude não acredita mais nisso, é muito pouco.
A gente precisa encontrar novas formas de atuação política de fato, o que não é tão trivial, porque a
comunicação pelas redes sociais corre o risco de ser extremamente superficial, apenas fogos de artifício.
Como é que se encontra densidade nesses fogos de artifício? Pode ser o desafio para a educação, uma
educação para a cidadania da contemporaneidade, e não a do século 20.
O que marca a diferença entre a cidadania de hoje e a do século passado?
Outro fator é a estranha
relação entre cidadania e consumo dada pelo capitalismo: quem tem acesso ao
consumo é mais cidadão, tem mais cidadania. Porque existe essa confusão entre o que você
consome e a sua identidade como cidadão – e não é assim, é bem ao contrário. Há tantos políticos,
empresários, traficantes de drogas, de animais silvestres que, embora sejam
totalmente não cidadãos, são considerados cidadãos porque têm acesso ao
consumo. Uma política decente deveria atuar nessa dimensão e acabar com a desigualdade.
Parece haver a não aceitação de um forte poder autocrático central.
Desconstruir essa identidade baseada no consumo: isso é compatível com o capitalismo?
É totalmente incompatível com o capitalismo. É insustentável, na acepção mais ampla do termo.
Insustentável socialmente, economicamente, ambientalmente, politicamente. Insustentável para a
dignidade humana e a vida no planeta. Aponta para uma transformação sistêmica e radical do sistema
socioeconômico, político.
Como você vê a vida nas próximas gerações?
Gostaria de enxergar um mundo justo e bom para as próximas gerações, até porque sou avó. Mas, pelo
andar da carruagem, não estou conseguindo enxergar as mudanças profundas que precisam acontecer,
razoavelmente orquestradas, com certa governança global. A gente tem de caminhar para isso, mas está
muito difícil negociar. Tenho comparado o desenvolvimento sustentável e a tal economia verde à mesma
mulher gorda do neoliberalismo, mas vestida com outra roupa, de outra cor. Há uma enorme dificuldade de
os Estados-nações promoverem uma governança que pense, planeje e seja executada em termos
planetários. Porque meio ambiente não tem fronteiras nacionais, e precisa com urgência ser percebido
como a nossa única biosfera, uma fina camada que mantém a vida no planeta.
Mas não quero restringir meio ambiente a preocupações com a ecologia – uma área das ciências
Os seres humanos nem sabem mais o que é natureza, o
meio ambiente foi reordenado pela vida sociocultural humana e nada mais pode ser
chamado de apenas natural ou social. A natureza se transformou em áreas de ação nas quais
biológicas – ou com a natureza.
precisamos tomar decisões políticas, práticas e éticas. Natureza e cultura já não são tão distintas…
Está tudo tão imbricado, que não se pode falar mais de uma governança ambiental – devemos pensar em
função da sustentabilidade. Mas os governos não conseguem vislumbrar uma nova ordem mundial,
porque estão amarrados à visão de mundo do século 20, 19, de soberania nacional.
Até por ironia, nem no capitalismo de mercado, no qual as multinacionais ocupam
um espaço enorme, parece existir a possibilidade de soberania. Você acha que os
Estados nacionais enfrentam as grandes corporações multinacionais? Não. E todo esse crescimento
econômico que a gente observa nos últimos anos, apesar das crises americana e europeia, é financiado
pelo meio ambiente!
Meio ambiente é entendido como as bases de sustentação da vida no planeta – e
todas as contradições estão aparecendo aí, nessas bases de sustentação da vida.
Temos graves problemas climáticos, gerados por tecnologias que, como escreveu
Hans Jonas, têm efeitos colaterais que a gente não consegue dominar, pois vêm
sem manual de instruções. Usamos tecnologias que causam tanto impacto na atmosfera, na água,
na terra que nos alimenta, que colocam a nossa vida em risco.
É preciso deixar marcado que essa transição para sociedades sustentáveis não pode ser apenas
individual. Não é simplesmente cada um ou cada uma fazendo a sua parte, aquela história do beija-flor
que fica apagando o fogo, A mudança precisa ser coletiva e, para ser coletiva, é necessário mudar a visão
de mundo das pessoas.
Os valores da espiritualidade ajudariam a sustentar essa transição?
Os valores de espiritualidade são bem-vindos. A própria igreja católica vem mudando sua atuação ao
longo do tempo e está cada vez mais voltada a questões ambientais. O budismo, todas essas religiões
estão vivendo na contemporaneidade, com formas mais profundas de perceber a vida e o cosmos. Esses
valores religiosos, que são sobretudo éticos e morais, contribuem para a mudança.
A educação é outra forma de sustentar a transição, contanto que seja integral,
integrada, íntegra, com percepção muito mais ampla do que a da escola. Precisamos
mobilizar o educador e a educadora existentes em cada pessoa para uma educação ambiental – o
ambiental é estruturante porque demarca um campo político de promoção da ética e da cidadania da
sustentabilidade. A escola também precisa mudar. Temos ainda bases culturais, como as culturas
populares e as dos povos originários – não a cultura de massa – e a ciência engajada na sustentabilidade,
que podem nos ajudar na transição.
Os valores dos anos 60 e 70 ainda estão vivos ou se perderam?
Não consigo deixar de olhar a historicidade e a memória – não só do Brasil, pois essas tendências são
globais. Os movimentos dos anos 60 na Europa se refletiram no Brasil mais nos anos 70, por causa da
ditadura militar. A juventude brasileira se voltou para essa coisa mais hippie, da contracultura; ou para a
ação política, de combate à repressão e à ditadura – que estava longe de ser uma ação de massa, mas
teve ações corajosas e cheias de idealismo.
Tudo isso perdeu sua força transformadora por causa do capitalismo global, para o qual o Brasil se abriu
por decisão política – e também porque não tinha condições de ficar de fora. Não existe o fora do sistema,
isso é uma ilusão. É impossível, cada vez mais impossível romper com um sistema perverso que só gera
desigualdade. E desigualdade gera o quê? Violência, problemas de saúde pública, menos acesso à
educação de qualidade – que foram crescendo de forma incontrolável.
Mas podemos nos apoiar em outros valores – na ciência que considera a dimensão da sustentabilidade,
nas religiões, na educação – para pensarmos na possibilidade de construir uma transição para a
sustentabilidade. Não temos que começar tudo de novo: a gente precisa potencializar o que tem de
transformador na humanidade, os valores que promovem a vida. E começar a repensar a sociedade em
direções múltiplas de possibilidades, de sociedades sustentáveis, assim no plural. Não tem um modelo
pronto e hegemônico.
Em que outros valores devemos nos apoiar?
O primeiro é a percepção do bem comum, e não voltada ao interesse individualista. A partir daí surgem
outros: igualdade, solidariedade, justiça social e ambiental.
A injustiça ambiental está diretamente ligada à desigualdade. As populações mais
pobres são empurradas pelo sistema para os piores lugares de se viver, os mais
vulneráveis, com mais riscos – em especial em tempos de mudanças climáticas.
Essas pessoas têm menos acesso a água limpa, alimentos de qualidade, segurança, saúde preventiva.
Até a obesidade, que está aumentando no Brasil, atinge principalmente os mais pobres – do mesmo modo
que a subnutrição. Decorre de uma dieta com base em alimentos industrializados, que já vêm prontos e
são mais baratos, mas não têm os nutrientes de que precisamos.
Um parênteses: você tomou conhecimento da pesquisa que detectou a contaminação de leite
materno por agrotóxicos?
Pois é, vira e mexe essas pesquisas vêm à tona, mas nada muda devido aos interesses da agroindústria.
Isso é injustiça ambiental.
Pensando nas considerações que fez até aqui, você imagina novas formas de fazer política, um
novo sistema político?
Acho que a democracia teria de ser participativa direta e baseada em núcleos de poder difuso – local, não
centralizada, garantindo que realmente não haja um poder central, só nas mãos da mesma minoria que
atua na política partidária com foco no poder hegemônico.
Mas essas ideias só podem ser elaboradas no coletivo, dialogando com as pessoas, pensando junto.
Em primeiro lugar, deveríamos pensar
globalmente – não no formato fragmentado do sistema capitalista globalizado, mas
Porque o desafio é que não existe um modelo.
como seres que fazem parte do Planeta Terra. E respeitar as diferenças culturais e ambientais das várias
sociedades, de modo que essas diferenças não se tornem sinônimo de melhor ou pior. É o que uma nova
política precisaria propiciar.
Andei conversando com pessoas que se sentem atraídas pela densidade ética da Marina Silva, e muitas
vêm dizendo: “Nunca quis me meter com política, mas de um movimento diferente eu quero fazer parte;
não quero é entrar num partido”. Precisamos encontrar formas de construir uma teia – mais que uma rede,
uma teia de construção dessa nova política, que seja uma transição para a sustentabilidade.
(http://www.outraspalavras.net/2013/02/22/a-educacao-como-caminho/. Grifos das organizadoras.)
Ainda nesta direção de mudança na mente, eis que surge o homem ecológico! Na verdade, quem
é ele? Ou qual a proposta que está por trás deste “ser ecológico”? Novamente, a questão
ressurge: É isto que queremos para nós, para a nossa geração e gerações futuras? Talvez, as
perguntas que devêssemos nos fazer são estas: Quem nós queremos ser? Em que(m)
acreditamos? O texto propõe mais uma dessas reflexões interessantes acerca de nós mesmos e
do Mundo / do Meio em que vivemos.
TEXTO 4
“O Homem-ecológico”
Entrevista com Fernando Soneghet Pacheco, autor do livro “O Homem-ecológico: a falência do modelo social e o
despertar de uma nova consciência”
A turbulência por que passa o mundo pós-moderno não é o fim dos tempos como
temem alguns, é apenas o fim de uma era, de um modelo, de um jeito de fazer as
coisas: é o fim da era hegemônica do homem-social. O homem-social é este que
somos, que caminha em direção ao futuro e tudo faz pela ótica do aperfeiçoamento
social. Seu objetivo máximo é conquistar a cidadania; e muito embora seja uma boa
e nobre meta, não é o suficiente. Em nome da conquista de uma igualdade social e
de um maior bem-estar o homem desse tempo agride o meio ambiente de maneira
que torna sua grande morada cada dia menos sustentável. “Estamos à beira de uma
ruptura”, afirma o autor, “da falência de um modelo de vida coletiva que atingiu seu
limite máximo de elasticidade e não consegue mais responder às enormes
demandas de um homem que se acha cada vez mais merecedor de mais bens,
energia e conforto”.
Quem é o homem-ecológico?
É necessário se voltar uns 150 mil anos atrás e verificar que já fomos homens-físicos quando nos
movíamos pelos nossos instintos, já fomos homens-emocionais quando incorporamos o subjetivo à nossa
rotina e já fomos homens-racionais quando descobrimos a razão e a lógica. Hoje somos homens-sociais;
vivemos para aperfeiçoar as relações humanas. Isto, entretanto, não é o suficiente se quisermos que
nossos netos possam beber um copo de água pura daqui a 50 anos. O homem-ecológico será aquele que
conseguir, sem sacrifício, agir no cotidiano sentindo-se parte e não gestor de seu habitat. Ele
reconhecerá em todas as manifestações vitais - ar, água, animais, e plantas - os mesmos direitos que
hoje atribui apenas aos seres humanos.
E o que isso significará na prática?
Significará uma mudança muito radical em nossa rotina; e isso não será fácil. Nossa espécie lutou muito
para conquistar o grau de conforto que hoje tem e não abrirá mão facilmente disso. Dominar a natureza e
tirar dela tudo que nos desse bem-estar foi a única preocupação das 4.000 gerações que nos
antecederam. Não se muda uma tradição sem um “bom argumento”.
E o que pode ser esse “bom argumento” ?
Uma ruptura, uma boa sacudida, um susto, algo que nos mostre de maneira dramática, clara e definitiva
que o caminho que estamos seguindo chegou a seu fim e não tem volta nem correção de rumo. O que
precisa mudar é o jeito de fazer as coisas, o contexto não o conteúdo. Não se pode prever o que será,
mas terá ecológico como adjetivo, e ficará claro para todos que, ou mudamos de conduta ou feneceremos
todos. Muitos estudos sérios já anunciam uma reação enérgica da natureza contra as agressões que vem
sofrendo. A natureza não reage, se vinga!
Mas, e se “todos” fizermos um esforço coletivo...?
Isto não é possível. Quase todas as nossas atitudes são governadas, na verdade, por um acordo tácito e
não declarado entre estes importantes representantes do homem-social que chamo de comerciadores: um
ser que surgiu com o advento da moeda e que se especializou em obtê-la e armazená-la. Não há nada no
mundo social que lhes fuja ao controle. Se algum esforço coletivo for tentado terá que ser em direção aos
preceitos por eles ditados ou permitidos. Não há a menor possibilidade de se fazer um esforço coletivo em
direção a uma vida de verdadeiro respeito à natureza pois qualquer ação neste sentido sempre fere um ou
mais interesse desses comerciadores.
Por exemplo...!
O homem-social é manipulado por estes comerciadores pela hipersensibilização de seus sentidos. A cada
instante de nossas vidas, especialmente nos últimos 100 anos, somos bombardeados com informações
que nos tentam convencer de que algo é muito bom de se ver, de se cheirar, de se tocar, de se ouvir ou de
se comer. Isto movimenta as indústrias químicas, do turismo, do lazer, dos vestuários, dos cosméticos, da
eletrônica, das bebidas e dos alimentos que respondem talvez por 90% do comércio em todo o mundo. A
agressão ao meio ambiente é subproduto de todas elas.
Mas isto é desenvolvimento. Não é possível se desenvolver sem agredir o ambiente?
Uma série de atividades chamadas modernamente de sustentáveis já acenam para esta possibilidade,
mas esta não é a questão. A questão é que 90% disso que chamamos de desenvolvimento trazem como
consequência um consumo de energia – aqui com sentido amplo -, que se perde na tentativa de trazer um
bem-estar efêmero. Os prazeres físicos, “da carne” são passageiros. Um espetáculo musical assistido,
uma refeição saborosa, uma maquiagem embelezadora ou um novo brinquedo têm durabilidade muito
pequena e um agravante: precisam ser repetidos porque viciam. A natureza não está aguentando e a
reciclagem (que gasta muita energia também) é a única solução criativa que o homem-social conseguiu
imaginar. Reeducação, nem pensar. Os comerciadores não deixariam.
Mas como será o mundo sem esses valores sociais?
O homem-ecológico terá que descobri-lo a medida que o for construindo. Povos do passado foram
dizimados porque não souberam preservar seus recursos naturais ao não abrirem mão de práticas sociais
ou religiosas que os agrediam. Algum estranho mecanismo de preservação ao contrário parece que nos
impõe certa cegueira coletiva. Os nativos da conhecida ilha de Páscoa, no Pacífico, construíram enormes
estátuas de pedra - os moais - consumindo toda a floresta de seu pequeno país e tenho certeza de que
em dado momento, antes do fim de sua civilização, pressentiram que isto ia acontecer e que iriam morrer
todos. Nem por isso mudaram de rumo. Que estranhas estátuas construímos nós, hoje, que serão motivo
de espanto ou deboche de paleontólogos no futuro.
Então, estamos fadados a sucumbir?
Claro que não. Acho que uma ruptura será inevitável. Mas não será o fim; só um susto. Penso que já
dispomos de todo o conhecimento e de todos os instrumentos para construir uma nova civilização. Só não
sabemos o que fazer com as instituições sociais que construímos, diga-se de passagem, há pouquíssimo
tempo: com a escola que não educa, com a penitenciária que não corrige, com os tribunais que se
alimentam dos litígios, com os hospitais e os hospícios que não curam, com os políticos que legislam em
causa própria, com a previdência social que é uma afronta à matemática. Estas instituições não precisam
existir - ou podem ser muito diferentes -, nós sabemos disso. Mas quem ou o quê tem força para mudálas? Só mudando o contexto em que estarão inseridas: o grande teatro social.
E depois do susto?
Nossa espécie em pouco mais de 100 mil anos saiu da barbárie para as viagens espaciais. Isto não foi por
acaso. A nossa capacidade de adaptação é nossa mais importante característica. Quando não houver
mais as amarras sociais que nos impedem de fazer o óbvio saberemos o que fazer. Vejo com muito
otimismo esta reconstrução. Serão momentos de tensão muito mais estimulantes.
Na sua opinião, como será, na prática, esta reconstrução?
Inúmeras iniciativas ao longo do mundo já acenam com soluções possíveis para se reconstruir um mundo
sustentável. A permacultura, criada pelo australiano Bill Mollison, é um destes interessantes instrumentos.
Alguns institutos no Brasil já a difundem. O nosso, aqui na região serrana do ES, onde moro com minha
mulher, é um protótipo do que achamos ser um dos caminhos possíveis. Plantamos grande parte de nosso
alimento, captamos da chuva nossa água, tratamos nosso esgoto com plantas, reciclamos nosso lixo,
usamos a energia solar para aquecer água e gerar energia elétrica, usamos materiais de construção de
baixo impacto para as nossas construções e valorizamos a cultura local. Cremos que através de ações
educativas: cursos, trabalhos com empresas, escolas e comunidades carentes, contribuiremos para a
formação dos arquitetos desse novo tempo. Será deles a responsabilidade de construir um jeito ecológico
de se viver... e eu acredito que isto seja possível!
E depois de homens-ecológicos, o que seremos? A evolução continua?
É claro. Quando as viagens espaciais forem rotina teremos certamente que lidar com valores, grandezas e
verdades que hoje nem consideramos. Como será a vida no cosmos? Um homem-cósmico talvez tenha
que assumir o papel de acomodar os anseios e as demanda desse tempo que há de vir. Olharemos então
para este nosso planetinha e acharemos graça da ingenuidade de termos sido apenas ecológicos um dia.
Um homem-transcendental, espiritualizado talvez encerre este ciclo, mas isto está muito distante.
Cuidemos por ora do nosso planeta, que agoniza, que já será tarefa por demais suficiente... pelo menos
por enquanto.
Um pouco mais sobre o livro: "O Homem-ecológico"
Um texto leve e acessível onde história, sociologia e ecologia se intercalam em uma
leitura repleta de observações e afirmações tanto polêmicas quanto intrigantes. Partindo
de uma abordagem antropológica da evolução da espécie humana, o autor evidencia a
falência do modelo social atual, apresentando questões que estimulam o leitor a
compreender o tempo em que vivemos e o encoraja a se tornar arquiteto de um novo jeito
fazer as coisas - um jeito ecológico e não apenas social. O autor identifica personagens
como ecólatras, comerciadores e ambientistas, e mostra como o despertar de uma
consciência ecológica, já latente, transformará a rotina das pessoas muito mais do que
ousamos imaginar. Um tema atual, apresentado num contexto realista, mas de otimismo.
(http://www.ecoterrabrasil.com.br/home/index.php?pg=ecoentrevistas&tipo=temas&cd=1387)
VÍDEO 2
História das Coisas é um documentário de 20 minutos, direto, passo a
passo, baseado nos subterrâneos de nossos padrões de consumo.
História das Coisas revela as conexões entre diversos problemas
ambientais e sociais, e é um alerta pela urgência em criarmos um
mundo mais sustentável e justo. História das Coisas nos ensina muita
coisa, nos faz rir, e pode mudar para sempre a forma como vemos os
produtos que consumimos em nossas vidas.
http://www.youtube.com/watch?v=7qFiGMSnNjw
Parecem retóricas as expressões: “a água pode acabar”, “precisamos poupar água”... Mas será
que temos a real dimensão do que isto significa? Na verdade, sem a intenção de fazer apologia
ao medo, a água tem sido motivo para lutas, conflitos, mortes e, consequentemente, sinônimo de
poder...a matéria que segue desafia-nos a “encararmos de frente “ este medo.
TEXTO 5
O medo da sede
De todos os efeitos das atividades humanas sobre o meio ambiente, o comprometimento das fontes de água é um dos que mais
preocupam
ÁGUA PESA MUITO - Mulheres rolam tambores plásticos com água, em Wajir, no Quênia,
um dos países que mais sofrem com as secas na África
Em seu livro Famílias, Amo Vocês, o filósofo francês Luc Ferry destaca o sentimento de medo como uma
marca da sociedade do início do século XXI. Somos levados a temer muitas coisas, desde as mais
concretas até as mais distantes e abstratas: o conservadorismo religioso, a perda de direitos na
globalização, o aquecimento global, a crise econômica internacional, a violência nas grandes cidades, a
gordura trans, a clonagem, os alimentos transgênicos etc. Mas, de todos esses temores, o receio de ficar
sem água parece ser um dos mais cabíveis e cotidianos, porque para muita gente já falta água – e talvez
falte mais.
O esgotamento das reservas hídricas do planeta não é mera suposição. A crescente ameaça de escassez
hídrica já afeta grande parte da população mundial – mais de 1 bilhão de pessoas vivem sem acesso à
quantidade mínima de água de que necessitam diariamente. E essa escassez pode se agravar.
Em março de 2012, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou seu quarto relatório sobre água e
desenvolvimento, com projeções que mostram a relação direta entre água, saúde e bem-estar da
população e atividades econômicas básicas. São números preocupantes, alguns já conhecidos, e outros
novos:
-70% da água potável do planeta é destinada a plantações, criações e produção de alimentos;
-As projeções indicam que a população poderá aumentar dos 7 bilhões atuais para 9 bilhões ou 10 bilhões
nos próximos 40 anos.
-Esse crescimento demográfico, somado ao desenvolvimento das economias emergentes, deverá elevar
em 70% a demanda por alimentos – o que exigirá muito mais água. Essas projeções afetam o mundo todo
– uma crise de água é um problema democrático. O acesso à água potável já é difícil para, pelo menos,1
bilhão de pessoas. Segundo a ONU, essa população de sedentos poderá praticamente dobrar até 2025. E
as principais causas dessa ameaça são as mudanças climáticas – que alteram o regime de chuvas e
ventos –, o crescimento demográfico, a acelerada urbanização e o mau gerenciamento da água.
Desigualdades
A democracia da água pode ser perversa: quem mais sofre com a escassez são as populações das
regiões mais áridas e das nações menos desenvolvidas. A natureza distribui a água de maneira desigual
pelo planeta. Enquanto algumas regiões detêm mananciais superabundantes, outras carecem do mínimo.
Na Islândia, o cidadão dispõe de 500 milhões de litros a cada ano. Já os habitantes do Oriente Médio e do
norte da África, que vivem em territórios desérticos, precisam caminhar quilômetros para obter água. São
situações semelhantes à do semi-árido no Nordeste do Brasil.
Em termos financeiros, a população pobre de países em desenvolvimento leva a pior: por não ter acesso
às redes de água e esgoto, chega a ter de comprar a água de particulares. O reflexo se dá diretamente na
saúde das populações mais pobres do planeta, no alto índice de mortalidade infantil e de incidência de
doenças infecciosas, como diarreia e cólera.
Renovável, mas limitada
Em média, cada um dos 7 bilhões de habitantes do planeta precisa de, ao menos, 50 litros de água por dia
para satisfazer as necessidades básicas. Em um ano, então, só para matar a sede, cozinhar e fazer a
higiene, a população mundial depende de 126 trilhões de litros (ou 126 km3). O planeta tem muito mais
água do que isso: cerca de 1,4 bilhão de km3 (um m3 contém 1 mil litros). Mas somente 35 milhões de
km3 são de água doce. E a água de fácil acesso, na superfície, soma apenas 105 mil km3.
Parece muito para a demanda mundial. Mas a simplicidade dessa aritmética esconde uma variável
importante na relação oferta versus consumo: toda água do planeta depende de um ciclo que se repete há
bilhões de anos – evaporação, chuva, absorção pelo solo e retorno para os rios, lagos e pântanos, e deles
aos mares, onde o ciclo recomeça. Com as alterações climáticas provocadas pelo aquecimento global em
curso, esse ciclo está sendo modificado. Além disso, a humanidade interfere diretamente, ao captar a
água líquida, devolvê-la suja aos rios, mudar seu curso e também construir represas.
Ação humana
A interferência humana afeta o ritmo do ciclo da água. Como o consumo cresce num ritmo rápido demais,
a natureza não tem tempo de reciclar esse recurso natural. Como consequência, o volume de água de que
o planeta dispõe é o mesmo de bilhões de anos atrás. Mas a água de que a humanidade necessita –
potável, de fácil acesso e em boa quantidade –, algum dia não estará mais tão facilmente acessível. Ou
seja, a água potável é um recurso renovável, mas não inesgotável. Entre as soluções estão retirar mais
água de lençóis freáticos e dessalinizar a água de solos áridos e do mar.
O crescimento demográfico também pesa na contabilidade da água. Nas últimas seis décadas, a
população mundial dobrou de tamanho, mas o consumo de água aumentou sete vezes. Não se trata
apenas da água consumida em casa, mas, principalmente, da necessária para gerar mais energia e
aumentar a produção do campo e das fábricas. E boa parte desse aumento desproporcional vem das
grandes cidades, que crescem de maneira desordenada. A construção de imóveis e vias públicas à beira
dos mananciais ameaça as fontes com a
poluição por esgoto e lixo. Com isso,
menos fontes estão disponíveis.
O crescimento desordenado das cidades
traz outro efeito perverso: as enchentes.
Além disso, a concentração de vias
pavimentadas e edifícios de concreto
aquece a atmosfera, criando as ilhas de
calor. A diferença de temperatura atrai
nuvens pesadas, causadoras de grandes
tempestades. O solo impermeabilizado
(coberto pelo asfalto ou por construções)
não permite que a água das chuvas
penetre até os lençóis freáticos. Como
resultado da combinação de todos esses
fatores, ocorrem terríveis enchentes.
CARROS ATRACADOS - Inundação isola veículos no norte de Bangoc,
na Tailândia, no fim de 2011: o problema é crônico em muitas cidades.
Peso econômico
O mínimo de 50 litros diários necessários para cada pessoa disfarça o real consumo de água no planeta.
Mas a água que é usada em casa, que sai de torneiras e chuveiros, representa uma pequena parcela de
tudo o que cada cidadão utiliza em média – no total, apenas 10% do consumo mundial. A agricultura e a
indústria têm peso muito maior na queda do nível de rios e aquíferos. Do total de água consumida pelo
mundo, a agropecuária é responsável por 70% e a indústria, pelos 20% restantes. Se na conta de cada
indivíduo for incluída apenas a água empregada na produção de alimentos para ele, cada cidadão precisa
de 3 mil litros diários.
Quanto mais rica é uma nação, maior é o consumo por habitante. Explica-se: quem pode pagar mais
compra mais alimentos e bens industrializados, que levam água em sua produção (veja Água virtual, a
seguir). No entanto, a ONU tem previsões pessimistas também para essas nações ricas: regiões da Itália,
da França e dos Estados Unidos, que já vivem em estresse hídrico (com menos de 1,7 milhão de litros
disponíveis por pessoa, a cada ano), devem passar à escassez hídrica a partir de 2015.
Água virtual
Todos os produtos e serviços que a sociedade consome – de alimentos e computadores a eletricidade e
transporte público – dependem da água, como matéria-prima ou como insumo, para ser fabricado ou
executado. A quantidade de água utilizada em cada produto ou serviço chama-se água virtual. O total de
água consumida direta ou indiretamente por um indivíduo ou toda uma população no decorrer de
determinado período recebe o nome de pegada hídrica. Ela leva em conta não apenas a água agregada
aos produtos, mas também o volume poluído na cadeia produtiva. Com esses conceitos – água virtual e
pegada hídrica –, fica fácil entender que, quanto mais desenvolvida e industrializada é uma nação, maior é
sua demanda por água. E esse é um conceito fundamental para o desenvolvimento sustentável – aquele
que garante o crescimento econômico e o desenvolvimento social no presente sem comprometer o bemestar das gerações futuras. É interessante pensar a água virtual dentro do comércio internacional.
Nem todas as nações deixam uma pegada hídrica equivalente à disponibilidade de água em seu território.
Os países pobres de água importam alimentos ou produtos industriais e, com eles, na forma de água
virtual, os recursos hídricos de outras regiões do globo. É por esse mecanismo que os chineses, cuja
economia cresce rapidamente, afetam indiretamente as bacias hidrográficas brasileiras quando compram
nosso frango. No sentido inverso, os brasileiros consomem parte da água das bacias chinesas em cada
eletroeletrônico made in China. Uma vez que a agricultura produz o alimento para o frango, e ela consome
muito mais água do que a indústria, o Brasil gasta mais de suas reservas hídricas do que a China. Porém,
utiliza sua água como importante insumo de produção e de exportação para obter receitas.
Disputa e conflitos
Desde 2010, a ONU considera a água um recurso natural a que toda a humanidade tem direito. Mais
recentemente, as nações reunidas na Rio+20 reiteraram a importância da água para o desenvolvimento
sustentável. O documento final reafirma o compromisso assumido em convenções anteriores de reduzir as
diferenças regionais e sociais de acesso a esse recurso natural. Mas as políticas públicas internacionais
voltadas para a garantia desse direito têm de lidar com uma nova realidade: a água ganha cada vez mais
status de bem econômico – ou seja, passa a ter um valor de mercado.
A globalização, que aproxima os mercados de vários continentes, reforça o comércio internacional de água
virtual. Com isso, a água se transforma de bem natural, a que todos têm direito, numa commodity (matériaprima com o preço definido em bolsas de valores). E, como qualquer commodity, sua oferta e seu preço
estão sujeitos a interesses particulares, como grandes consórcios de abastecimento. É a chamada
privatização da água, que provoca polêmica em congressos internacionais e impede que muitos
compromissos assumidos sejam mantidos e executados.
ONDE FALTA ÁGUA
Conflitos internacionais
O crescimento demográfico e as pressões econômicas da globalização acirram as tensões em torno do
domínio sobre recursos naturais. Os mananciais são focos potenciais de disputas, guerras, revoltas e
atentados terroristas, principalmente em áreas áridas e de escassez hídrica e também em regiões de
fronteiras. Existe a perspectiva de que, no século XXI, a água se torne um dos principais pontos para a
deflagração de guerras entre países. Nem sempre a água aparece claramente como pomo da discórdia
em conflitos armados. Mas o Instituto Pacífico, especializado no tema, contabiliza mais de 50 episódios de
confronto militar, revolta popular ou ataque terrorista relacionados às questões de acesso à água, entre
2000 e 2010.
Existem mais de 270 depósitos subterrâneos de água (aquíferos) localizados em zonas de fronteira. E
mais de 163 bacias hidrográficas transnacionais, que abrangem mais de 140 países e 40% da população
mundial. O acesso a essas fontes é fundamental para a sobrevivência dos habitantes do Oriente Médio, da
Ásia Central e da África. Os especialistas estimam que, se a distribuição desses recursos não for bem
negociada entre as nações dessas regiões, pode-se criar um contingente de 100 milhões de migrantes nas
próximas duas décadas.
Um dos casos mais persistentes de disputa pela água envolve, há décadas, israelenses, palestinos, sírios
e jordanianos. O governo de Israel e as lideranças palestinas disputam o controle sobre os lençóis da
Cisjordânia. Israel também ocupou as colinas de Golã, na Síria, onde nasce o rio Jordão. Exaurido pela
mineração e pela irrigação de culturas em pleno deserto, o rio Jordão está minguando. Apenas um terço
de seu volume original chega atualmente ao mar Morto. Na África, outro foco de tensão envolve nove
países que utilizam a água do rio Nilo. O Egito e o Sudão monopolizam direitos de acesso à água, por
meio de uma resolução de 1959. Mas, desde 2010, Etiópia, Uganda, Tanzânia, Ruanda e Burundi fizeram
um acordo de partilha da água, à revelia do Egito, Sudão e da República Democrática do Congo.
ONU divulga relatório sobre recursos hídricos em Fórum Mundial da Água
A Organização das Nações Unidas apresentou nesta segunda-feira a 4ª edição de seu relatório sobre o
desenvolvimento dos recursos hídricos no mundo, divulgado de três em três anos (...)
Segundo o relatório da ONU, nenhuma região do mundo está livre das pressões sobre os recursos
hídricos. Na Europa, por exemplo, 120 milhões de cidadãos não têm acesso à água potável. Em certas
partes do continente, os cursos de água podem chegar a perder até 80% de seu volume no verão. Já na
África – que carrega uma taxa média de aumento da população de 2,6% por ano, enquanto a média
mundial é de apenas 1,2% –, a demanda de água acelera a deterioração de seus recursos hídricos. A Ásia
e o Pacífico abrigam 60% da população do mundo, mas apenas 36% dos recursos hídricos. De acordo
com o relatório, cerca de 480 milhões de pessoas não tinham acesso, em 2008, a uma fonte de água de
qualidade, e 1,9 bilhão não tinha infraestrutura sanitária adequada (...)
Cerca de 80% das águas residuais [do mundo] não são recolhidas nem tratadas, mas vão direto a outros
corpos d'água ou se infiltram no subsolo, o que acaba causando problemas de saúde na população e a
deterioração do meio ambiente (...).
ÁGUA REPRESADA NO MUNDO
Água para dar e vender - Se toda a água guardada
em represas e açudes no Brasil fosse distribuída
igualmente entre todos os brasileiros, cada um teria
direito a mais de 3.600m² - bem acima da média na
América Latina e dez vezes mais que na Ásia.
Parte desse total é destinada à geração de
eletricidade, e não ao consumo.
(https://almanaque.abril.com.br/materia/o-medo-dasede#!lightbox/1/)
A matéria a seguir é uma extensão da anterior, na medida em que nos abre o leque para
compreendermos ainda melhor o porquê de 2013 ser intitulado pela Unesco de o ano
internacional de cooperação pela água. Em que medida projeções e projetos poderão
sensibilizar e impactar a população em geral a partir da promoção de discussões e trocas de
experiências interculturais.O próximo texto trata desta questão. Informe-se!
TEXTO 6
Lançamento na UNESCO do Ano Internacional de Cooperação pela Água
A importância da cooperação para o manejo de recursos hídricos
limitados em um mundo em que a demanda está em rápido
crescimento não pode ser subestimada: 145 países compartilham
uma grande bacia hidrográfica com pelo menos mais uma nação.
A boa nova é que, ao contrário do que se acredita, a cooperação é
mais frequente do que o conflito pela água. Isso é bem ilustrado
por programas como o Projeto de Compartilhamento de Benefícios
Socioeconômicos da Iniciativa da Bacia do Nilo (Nile Basin
Initiative’s Socio-Economic Benefits Sharing Project), o acordo
entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai pela conservação e
proteção ambiental do Aquífero Guarani, o programa de manejo
da bacia do rio Mekong ou o tratado recente entre a Moldávia e a
Ucrânia para a conservação e o desenvolvimento sustentável da bacia do Dniester.
O evento de lançamento será uma ocasião para conscientização sobre as múltiplas dimensões da
cooperação pela água tais como desenvolvimento sustentável e econômico, mudanças climáticas,
segurança alimentar e gênero.
O evento, que será aberto pela diretora-geral da UNESCO, Irina Bokova, junto ao presidente da ONUÁgua Michel Jarraud, ao ministro das Relações Exteriores do Tajiquistão Hamrokhon Zartifi e ao ministro
delegado para o Desenvolvimento da França Pascal Canfin, reunirá representantes de organizações nãogovernamentais, ONGs, cientistas e tomadores de decisão do mundo todo. Eles conduzirão discussões
sobre temas tais como mecanismos existentes para cooperação pela água e cooperação regional,
nacional e local sobre bacias hidrográficas.
Os jovens terão um papel significativo nas celebrações. Estudantes de Fukushima (Japão) viajarão à
França para encontrar seus congêneres de escolas francesas e do Instituto para Educação sobre a Água
(UNESCO-IHE – UNESCO Institute for Water Education, na Holanda), no Pavillon de l’eau (Pavilhão da
Água), que a Prefeitura de Paris disponibilizou para a ocasião. Eles trocarão experiências relacionadas à
água e prepararão uma declaração da juventude sobre a cooperação pela água para ser apresentada aos
outros participantes.
Uma exposição chamada Água no Coração da Ciência também será inaugurada na ocasião. Preparada
para o Ano, a exposição foi coproduzida com o Institut de recherche pour le développement (IRD) da
França e o Centre de Culture scientifique at technique de la region Centre. Apresentada primeiramente na
UNESCO, ela será exibida ao longo de 2013 na rede de estabelecimentos culturais da França em todo o
mundo.
Questões de cooperação pela água também serão tema para o Dia Mundial da Água em 22 de março.
Neste ano, a ONU-Água organizou o evento principal em Haia (Holanda). A diretora-geral e o Sr. Jarraud
abrirão as celebrações do dia, que irão mostrar exemplos bem-sucedidos de manejo compartilhado da
água e, a partir desses estudos de caso, buscar maneiras de melhorar a cooperação política e
governamental na área.
Outros grandes eventos que marcarão o Ano incluem a Semana Mundial da Água, em Estocolmo (Suécia)
de 1 a 6 de setembro, uma conferência sobre cooperação pela água em Dushanbe (Tajiquistão), também
em setembro, e a Cúpula da Água, que ocorrerá em Budapeste (Hungria) nos dias 10 e 11 de outubro.
A Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou 2013 o Ano Internacional de Cooperação pela Água
em 2010, a partir de uma proposta do Tajiquistão. A pedido da ONU-Água, a UNESCO ficou responsável
por conduzir os eventos do Ano em cooperação com a Comissão Econômica das Nações Unidas para a
Europa (UNECE) e com o apoio do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas
(UNDESA).
(http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/singleview/news/launch_at_unesco_of_the_international_year_for_water_cooperation-1/)
VÍDEO 3
Entrevista com Vicente Andreu, diretor-presidente da Agência Nacional
de Águas (ANA).
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=aWMIAyM
XHsE#!
Sem água não há vida, não há desenvolvimento. Por isso mesmo, a chamada é envolvimento. E
não é por acaso esse trocadilho. O envolvimento com a causa do outro pode levar a humanidade
a pensar o seu desenvolvimento e, quem sabe, fazer deste um bem para todos. Nesta direção, o
próximo texto nos desafia à reflexão e à revisão de valores e de práticas governamentais,
políticas, econômicas e sociais.
TEXTO 7
"Água para o desenvolvimento"
Recentemente, a ONU divulgou que o mundo atingiria, até 2015, o Objetivo de Desenvolvimento do
Milênio (ODM) de reduzir pela metade a proporção de pessoas sem acesso à água potável. No entanto, o
planeta enfrenta enormes desequilíbrios entre regiões e países no que diz respeito ao acesso à água de
qualidade, e dificilmente atingirá a meta global de saneamento. Quase 40 milhões de pessoas ainda
carecem de acesso à água de qualidade, e 120 milhões não têm instalações sanitárias apropriadas, sendo
a maior parte delas pobres de zonas rurais em países menos desenvolvidos.
A dificuldade de acesso à água potável e a escassez
de recursos hídricos em muitas partes do mundo - no
Brasil, a recente seca do Nordeste foi a pior das
últimas décadas - tendem a se agravar. Com o
crescimento previsto da população urbana, o aumento
da demanda mundial por alimentos, na ordem de 70%
até 2050, e a expansão da atividade industrial e da
produção de energia, aliados à intensificação das
mudanças climáticas, será cada vez maior a pressão
sobre as fontes de água doce.
Diante desse cenário, o Ano Internacional de
Cooperação pela Água, coordenado pela UNESCO, chama a atenção para os benefícios da cooperação
no gerenciamento da água, um bem fundamental que, se for bem utilizado e compartilhado, pode fomentar
a confiança entre diferentes grupos, comunidades, regiões e Estados, além de promover a paz. Entretanto,
se se tornar mais escasso ou concentrado nas mãos de poucos, pode intensificar tensões e conflitos e,
até, em situações extremas, provocar guerras entre países.
A cooperação pela água é, portanto, essencial para a segurança e a convivência pacífica mundial. A água
não está confinada a fronteiras nacionais. Existem, na atualidade, 148 países que compartilham bacias
hidrográficas transfronteiriças. O Brasil, país que detém 12% da água doce corrente do planeta, tem no
Aquífero Guarani um bom exemplo de cooperação com a Argentina, o Paraguai e o Uruguai. Em agosto
de 2010, os presidentes dos quatro países assinaram um acordo de cooperação para a ampliação do
conhecimento sobre o aquífero e a identificação de áreas críticas. Os países comprometeram-se a
conservar e proteger o aquífero para garantir o uso igualitário de seus recursos hídricos.
Em um momento de crise global - de ordem econômica, financeira, política e ambiental -, os governos e a
sociedade devem estar atentos ao papel central da cooperação pela água para o desenvolvimento da
economia e do bem-estar social das nações. Isso, sobretudo, após o Relatório Mundial das Nações Unidas
sobre o Desenvolvimento dos recursos hídricos (WWDR4) ter previsto, em 2012, a intensificação das
disparidades econômicas entre países e entre setores econômicos ou regiões dentro dos países, por conta
da demanda crescente pelos recursos hídricos, tendo como principais vítimas as pessoas mais pobres. O
relatório mostra ainda a necessidade de se realizar uma ação concertada, por meio de uma abordagem
coletiva dos setores que fazem uso intensivo da água, para garantir que os benefícios sejam distribuídos
equitativamente.
(http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single-view/news/water_for_development_op_ed/_)
Uma data para marcar a luta pelo meio ambiente, pela mãe natureza, pela VIDA... Uma boa ideia
para, talvez, despertar os que dormem, para relembrar que “quando ameaçamos o planeta,
minamos nossa própria casa.” Se palavras nem sempre conseguem sensibilizar e inspirar ações
ecologicamente corretas, talvez as imagens possam dizer e sensibilizar mais que as palavras. A
seguir, o texto nos traz informações sobre a origem do Dia Internacional da Mãe Terra, com bons
exemplos de pessoas que, unidas, lutam pela preservação da VIDA, e nos brinda com uma
seleção de imagens belíssimas... Vale a pena você conferir muitas outras igualmente fascinantes
no site referenciado.
TEXTO 8
No Dia da Terra 2013, nosso planeta em forma de arte
O Dia da Terra 2013 - ou, oficialmente, Dia Internacional da Mãe Terra - é uma data criada pela
Organização das Nações Unidas (ONU) em 2009 para marcar a responsabilidade coletiva para promover
a harmonia com a natureza e a Terra e alcançar um balanço entre economia, sociedade e ambiente.
"O Dia Internacional da Mãe Terra é uma chance de reafirmar nossa responsabilidade coletiva para
promover a harmonia com a natureza em um tempo em que nosso planeta está sob ameaça da mudança
climática, exploração insustentável dos recursos naturais e outros problemas causados pelo homem.
Quando nós ameaçamos nosso planeta, minamos nossa própria casa - e nossa sobrevivência no futuro",
diz mensagem do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
Esta foto foi feita durante uma expedição para mapear pela primeira vez cavernas de gelo em uma região da Suíça.
Contudo, a história dessa comemoração é
bem mais antiga.
O primeiro Dia Nacional da Terra ocorreu em
meio ao movimento hippie americano, em
1970. Se por um lado a música e os jovens
eram engajados, de outro os americanos
viviam com seus carros com motor V8 e a
indústria despejando produtos poluidores com
pouco medo de represálias legais.
A ideia de uma data para marcar a luta pelo
ambiente veio do senador Gaylord Nelson,
após este ver a destruição causada por um
grande vazamento de óleo na Califórnia, em
1969. Ele recebeu o apoio do congressista
republicano conservador Pete McCloskey e
recrutou o estudante de Harvard Denis Hayes
como coordenador da campanha. No dia 22 de
abril, 20 milhões de pessoas nos Estados
O fotógrafo americano Octavio Aburto levou três anos para conseguir
fazer esta imagem, na qual um cardume parece posar para uma foto
Foto: The Grosby Group.
Unidos saíram às ruas para protestar em favor
de um planeta mais saudável e sustentável.
Milhares
de
escolas
e
universidades
organizaram
manifestações
contra
a
deterioração do ambiente e engrossaram os
grupos ambientalistas. Foi um raro momento
que juntou até mesmo democratas e
republicanos.
Lurie Belegurschi fotografou a aurora boreal na península
Reykjanes, na Islândia. Segundo a agência Grosby, o fenômeno
lembra o rosto de um alienígena.
O resultado prático foi a criação da Agência de
Proteção Ambiental dos Estados Unidos e dos
atos do Ar Limpo, Água Limpa e das Espécies
Ameaçadas. "Foi uma aposta", lembra o
senador,
"mas
funcionou."Eventos
são
realizados em todo o mundo para demonstrar
apoio à proteção ambiental. Em 2013 esses
eventos chamam a atenção para as mudanças
climáticas, buscando inspirar os líderes
mundiais a agir e conscientizar os habitantes
de nosso planeta que devem redobrar seus
esforços na luta contra a mudança climática.
Para comemorar este Dia da Terra, ((o)) eco
separou este ano mais algumas imagens feitas
pela NASA, imagens cujo único propósito é
celebrar a beleza de nosso planeta, sem
nenhuma pretensão de serem interpretadas de
maneira científica. Estas fotos fazem parte do
livro "Earth As Art", e você pode pegar aqui
uma cópia gratuitamente.
Javier Parrilla Perez flagrou um momento em que uma ave exagerou
na gula e quase não conseguiu engolir a presa.
Os registros foram feitos na geleira Gorner.
(http://noticias.terra.com.br/ciencia/sustentabilidade/dia-da-terra-2013-entenda-como-surgiu-a-data-e-seusignificado,6274627e5bf2e310VgnVCM4000009bcceb0aRCRD.html)
Quando contemplamos imagens como as do texto anterior, é quase impossível não pensar no
Criador e nas criaturas “racionais” responsáveis por todos os seres viventes que habitam a Terra.
Essa responsabilidade é quase tão questionável quanto as informações que a mídia
frequentemente nos transmite acerca do aquecimento global. Somos ou não responsáveis pelo
aquecimento global? É verdade tudo o que ouvimos sobre esse fenômeno? Para motivar suas
reflexões acerca desse assunto, leia o texto a seguir e confira também o vídeo sugerido.
TEXTO 9
Estudo: Terra passa por período mais quente dos últimos 1,4 mil anos
Mudanças climáticas provocam uma das maiores ondas de calor
da história
Alimentado pelas emissões de gases industriais, o clima da Terra
esquentou mais entre 1971 e 2000 do que em qualquer outro
intervalo de três décadas nos últimos 1,4 mil anos, apontam
reconstruções regionais de temperaturas feitas em todos os
continentes. Esse período de aquecimento global causado pelo
homem - que continua até hoje - reverte uma tendência de
resfriamento natural que durou várias centenas de anos, de
acordo com um estudo publicado na revista científica Nature
Geoscience por mais de 80 cientistas de 24 países que
analisaram as mudanças climáticas a partir de diversas
formações geológicas do planeta.
"Essa pesquisa nos mostra o que já sabíamos, mas de uma
maneira melhor, mais compreensiva", afirmou o coautor Edward
Cook, do Observatório Terrestre Lamont-Doherty, nos Estados
Unidos, que coordenou a reconstrução do clima asiático.
O estudo também revelou que a onda de calor e seca que atingiu
a Europa em 2003, causando a morte de aproximadamente 70 mil pessoas, aconteceu durante o verão
mais quente registrado no continente nos últimos 2 mil anos. "As temperaturas do verão foram intensas
naquele ano e acompanhadas por uma escassez de chuvas e solo muito seco por grande parte da
Europa", disse Jason Smerdon, coautor e um dos responsáveis pela reconstrução do clima europeu.
Essa é a mais recente pesquisa a mostrar que o período de aquecimento medieval - entre 950 e 1250 pode não ter sido global, e pode não ter acontecido ao mesmo tempo em lugares que ficaram mais
quentes. Enquanto partes da Europa e da América do Norte estavam bastante quentes nesse período, a
América do Sul permaneceu relativamente gelada, apontam os cientistas.
Algumas pessoas argumentaram que o aquecimento natural que
ocorreu durante a Idade Média está acontecendo novamente Durante a onda de calor na Europa em 2003,
na França em julho foram até
hoje, e que os humanos não são responsáveis pelo aquecimento as temperaturas
18°F mais altas do que em 2001.
global atual. Os cientistas, porém, são quase unânimes em
Foto: Nasa / Divulgação
discordar.
(http://noticias.terra.com.br/ciencia/sustentabilidade/estudo-terra-passa-por-periodo-mais-quente-dosultimos-14-mil-anos)
VÍDEO 4
Um ponto de vista pouco comum sobre o tema “aquecimento global”.
Ricardo Augusto Felício, professor de climatologia na USP, afirma com
todas as letras que "o aquecimento global é uma mentira".
http://www.youtube.com/watch?v=WQrEFj56Xfw
Pelo menos dois terços das reservas de petróleo, carvão e gás precisam permanecer sob o solo.
O que essa afirmação quer dizer? Quais os riscos por trás dos altos investimentos em
combustíveis fósseis? Qual o significado da expressão “bolha de carbono”? O que os países têm
feito ou farão para frear as mudanças climáticas? Vamos ler e pensar...
TEXTO 10
Bolha de carbono pode jogar mundo em nova crise financeira
Exploração de areia betuminosas (Tar Sands), de onde se retira petróleo, em Alberta, Canadá. Foto: Michael Kalus/Flickr.
O mundo pode estar caminhando para uma grande crise econômica na medida em que os mercados de
ações inflam uma bolha de investimento em combustíveis fósseis da ordem de trilhões de dólares, de
acordo com economistas de destaque. "A crise financeira mostrou o que acontece quando os riscos se
acumulam despercebidos", disse Nicholas Stern, professor da London School of Economics. Ele considera
que o risco é "muito grande de fato", e que quase todos os investidores e reguladores não estão
conseguindo tratá-lo.
"bolha de carbono" é o resultado de um excesso de valorização das reservas
de petróleo, carvão e gás nas mãos de empresas de combustíveis fósseis. De acordo
A chamada
com um relatório publicado na sexta-feira, pelo menos dois terços dessas reservas terá que permanecer
sob o solo se o mundo quiser alcançar as metas existentes, acordadas internacionalmente, para evitar o
limiar de mudanças climáticas “perigosas”. Se os acordos se mantiverem, essas reservas, de fato, não
os
mercados de ações estão apostando na inação dos países em relação às
mudanças climáticas.
poderão ser queimadas e serão inúteis - levando a perdas financeiras maciças. Entretanto,
O duro relatório foi feito por Stern e o centro Carbon Tracker. Suas advertências são apoiadas por
organizações como HSBC, Citi, Standard and Poors e a Agência Internacional de Energia. Á medida que
as nações combatam o aquecimento global, o Banco da Inglaterra também reconheceu que um colapso do
valor dos ativos de petróleo, gás e carvão é um potencial risco sistêmico para a economia, com o sistema
financeiro de Londres particularmente sob risco devido às suas enormes posições em carvão.
Longe de reduzir os esforços para desenvolver combustíveis fósseis, disse Stern, as 200 maiores
empresas gastaram 674 bilhões de dólares em 2012 para encontrar e explorar ainda mais novos recursos,
um montante equivalente a 1% do PIB global, que pode acabar como ativos “encalhados" ou sem valor. O
relatório seminal de Stern, de 2006, sobre o impacto econômico das mudanças climáticas - encomendado
pelo então ministro das finanças, Gordon Brown - concluiu que gastar 1% do PIB pagaria por uma
transição para uma economia limpa e sustentável.
Os governos do mundo concordaram em limitar o aumento da temperatura global a 2 graus Celsius, além
os
investidores claramente não acreditam que ações para frear as mudanças
climáticas serão tomadas. "Eles não podem acreditar nisso e ao mesmo tempo acreditar que os
do qual os impactos climáticos podem se tornar graves e imprevisíveis. Mas Stern disse que
mercados estão, agora, valorizados demais".
"Eles só acreditarão na regulação ambiental quando puderem vê-la", disse James Leaton, da Carbon
Tracker, e ex-consultor da Price Waterhouse Coopers. Ele considera a visão centrada no curto prazo dos
mercados financeiros a outra fonte importante da bolha de carbono. "Analistas dizem que você deve ficar
no trem até pouco antes dele cair do penhasco. Cada um pensa que é inteligente o suficiente para escapar
a tempo, mas nem todos poderão passar pela porta ao mesmo tempo. Essa é a causa de bolhas e
colapsos".
Paul Spedding, analista de petróleo e gás do HSBC, disse: "A escala de carbono não utilizável revelada
neste relatório é espantosa. Este relatório deixa claro que “business as usual”, ou seja, continuar nesse
curso, não é uma opção viável para a indústria de combustíveis fósseis no longo prazo. [O mercado] está
assumindo que vai ver o sinal vermelho primeiro, mas a minha preocupação é a frequência com que as
coisas repentinas acontecem no setor de petróleo e gás".
O HSBC alertou que 40-60% da capitalização de mercado das empresas de petróleo e gás estão por
conta da bolha de carbono, com as 200 maiores empresas de combustíveis fósseis sozinhas atingindo,
hoje, um valor de 4 trilhões de dólares, e acumulando uma dívida de 1,5 trilhão de dólares.
Lorde McFall, que presidiu o comitê de finanças da Câmara dos Comuns por uma década, disse: "Apesar
de sua escala devastadora, a crise bancária era no fundo uma crise evitável. A ameaça de uma perda de
valor contábil do setor de carbono tem as características inconfundíveis dos mesmos problemas".
O relatório calcula que as reservas mundiais de combustíveis fósseis equivalem a 2,86 bilhões de
toneladas de dióxido de carbono, mas que apenas 31% poderiam ser queimadas para manter uma chance
de 80% do aumento da temperatura terrestre não exceder 2 graus Celsius. Para essa chance ficar em
50%, apenas 38% das reservas de combustível fóssil podem ser queimadas.
Captura de carbono e tecnologia de armazenamento que enterra as emissões no solo pode desempenhar
um papel no futuro, mas até mesmo em um cenário otimista - que antevê 3.800 projetos comerciais de
captura de carbono em todo o mundo - permitiria que fosse utilizada uma quantidade extra de apenas 4%
das reservas de combustíveis fósseis. Ocorre que, hoje, não há projetos comerciais de captura em
funcionamento. A conservadora Agência Internacional de Energia também concluiu que a maior parte das
reservas de combustíveis fósseis não pode ser utilizada.
O Citi alertou os investidores da vasta indústria de carvão da Austrália que pouco pode ser feito para evitar
a queda futura de valor na indústria em face às ações necessárias para controlar as mudanças climáticas.
"Se o cenário de baixo carbono ocorrer, é difícil ver como o valor das reservas de combustíveis fósseis
pode ser mantido, por isso vemos poucas opções para a mitigação de riscos."
As agências de risco já expressaram suas preocupações. A Standard and Poor concluiu que o risco
poderia levar ao rebaixamento dos ratings de crédito de empresas de petróleo em poucos anos.
"Cabe a nós, como investidores e como
sociedade, saber o verdadeiro custo de um caminho para que políticas inteligentes
e construtivas, além de decisões de investimento, possam ser tomadas. Com
frequência excessiva, os verdadeiros custos são tratados como não quantificáveis
ou mesmo ignorados".
Steven Oman, vice-presidente sênior da Moody, disse:
Administrador de 5 bilhões de dólares para Mirova, parte dos 300 bilhões de dólares dos ativos geridos
pela Natixis, Jens Peers, disse: "É chocante ver os números do relatório, pois eles são piores do que as
pessoas percebem. O risco é enorme, mas muitos gestores de ativos acham que eles têm tempo de sobra
o momento-chave virá em 2015, data
em que os governos do mundo se comprometeram a chegar a um acordo global
para limitar as emissões de carbono. Porém, disse, os gestores de fundos precisam se mover
agora. Se esperarem até 2015 “será tarde demais para agir”.
à frente. Acho que eles estão errados ". Segundo Peers,
Os fundos de pensão também estão preocupados. “Cada gestor de fundo de pensão precisa perguntar a si
mesmo se nós incorporamos as mudanças climáticas e o risco de carbono em nossa estratégia de
investimento? Se a resposta é não, eles precisam começar agora", disse Howard Pearce, chefe de gestão
de fundos de pensão da Agência Meio Ambiente, que detém 3 bilhões de dólares em ativos.
Ambos Stern e Leaton apontam para a China como evidência de que os cortes de carbono tendem a
acontecer. Os líderes da China disseram que o pico do uso de carvão no país deverá ocorrer nos próximos
5 anos, disse Leaton, mas isso ainda não foi precificado. "Eu não sei por que o mercado não acredita na
China", disse. “Quando a China diz que vai fazer algo, normalmente faz”. Ele disse que os EUA e a
Austrália estavam apostando na venda de carvão para a China, mas que essa “conta não fecha".
Jeremy Grantham, um gestor de fundos bilionário que supervisiona o investimento de 106 bilhões de
dólares de ativos, disse que sua empresa estava à beira de sair completamente de ativos em carvão e
combustíveis fósseis não convencionais, tais como óleo de areias betuminosas. "A probabilidade de o
setor ter problemas é muito alta para eu correr esse risco como investidor". E continuou: "Estamos fritos se
quisermos queimar todo o carvão e qualquer quantidade razoável de areias betuminosas ou outras formas
não convencionais de óleo e gás. [Haverá] terríveis consequências que iremos lançar à porta de nossos
netos".
*Esse texto foi publicado originalmente no Guardian através da parceria de ((o)) eco com a Guardian
Environment Network. Tradução de Eduardo Pegurier.
(http://www.oeco.org.br/guardian-environment-network/27098-bolha-de-carbono-pode-jogar-mundo-emnova-crise-financeira. Grifos das organizadoras.)
O Brasil detém uma biodiversidade ímpar, mas ainda assim as notícias com relação ao Meio
Ambiente não são boas. Observe a seguir como o autor faz uso da ironia para construir seus
argumentos e defender seu ponto de vista sobre a inversão de valores tão presente no universo
político brasileiro. Circunstância que denuncia, dentre outros fatores, o quanto tem sido pequena
a atenção dada pelos políticos ao Meio Ambiente.
TEXTO 11
Brasil, o país sequestrado pela inversão de valores
Às vezes a ironia é o único recurso que resta. Por isso, gostaria de manifestar meu completo e irrestrito
apoio ao Congresso Nacional. Não sei por que a sociedade brasileira se queixa tanto. Acredito que todas
as indicações feitas pelos partidos para as presidências das comissões do legislativo são muito bem
pensadas. Tomemos por exemplo a presidência da Comissão Permanente de Meio Ambiente, Defesa do
Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) do Senado Federal. Duvido que exista outro Senador mais
adequado para ocupar a presidência desta comissão que o ilustre Sr. Blairo Maggi (ok, talvez a Senadora
Kátia Abreu também pudesse ocupar esta vaga). Se o tema a ser discutido é Meio Ambiente – mesmo
imprensado no meio da Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle - nada melhor que contar com
alguém que realmente entende de desmatamento. Na prática. Nada como contar com a sabedoria de uma
pessoa agraciada, pela sua ilustre atuação, com o prêmio mais importante na área, o Motosserra de Ouro.
A sociedade brasileira reclama demais. O Congresso Brasileiro sempre me surpreende com sua
capacidade de mostrar objetividade e coerência.
O Senador Blairo Maggi é considerado um membro moderado da chamada bancada ruralista do
Congresso Nacional. Acredito que o Senador Blairo é o Ronaldo Caiado que deu certo. E por razões muito
simples. É mais inteligente que a média da bancada ruralista e ocupa uma posição política confortável no
cenário nacional. Para ele, o silêncio é ouro. Além disso, percebeu que meio ambiente não é uma piada,
como acreditam muitos dos seus companheiros de bunker político, e aparentemente trata o meio ambiente
como uma demanda legítima e séria de grande parcela da sociedade brasileira. Sugerem isso suas ações
mais recentes no Estado do Mato Grosso, onde promoveu a regularização dos imóveis rurais do estado.
O fim da era Maggi
Entretanto, é ingenuidade dizer que o Sr. Blairo mudou sua postura política. A bancada ruralista armou
uma grande estrutura política dentro do Congresso, contando com a estoicidade quase cúmplice do Poder
Executivo. Um político da envergadura e capacidade do Sr. Blairo precisa se blindar e blindar o grupo que
representa. O que fica claro é que a preocupação do Governo Brasileiro com o meio ambiente é patética,
permitindo ao Sr. Blairo (e a toda a bancada ruralista) diminuir o volume da voz e atuarem sossegados
dentro dos meandros políticos.
A precoce campanha política visando a recondução da Presidente(a) Dilma ao segundo mandato mostrou
a debilidade das ações moralizadoras da máquina pública apresentadas pela Presidenta(e) na primeira
metade de seu atual mandato. Como é mais importante garantir apoio de partidos e aumentar o horário
eleitoral na TV, não me admira que certos políticos sejam conduzidos a posições tão adequadas ao seu
perfil como o seria o hábito arborícola a um jabuti.
Congresso liberado
Um exemplo ilustra a luta pelo apoio de diferentes partidos: ocupa a presidência da Comissão Permanente
de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados o ilustre Deputado Federal Pastor
Feliciano. Novamente, não entendo a razão de tantas manifestações contrárias ao Sr. Feliciano. Se um
dos principais objetivos da comissão é propor políticas que diminuam as diferenças sociais e o preconceito
contra as minorias da sociedade, nada melhor do que contar
com um político que realmente entende de intolerância e
Com raríssimas exceções, a política é
preconceito, ora bolas.
composta por criaturas de olhos espertos, olfato
aguçado, dentes apurados e apetite voraz,
Em minha opinião, o Sr. Feliciano é um bufão. Uma pessoa capazes de roerem milhões e milhões de reais
que não merece um milésimo da atenção que vêm
antes que a sociedade perceba.
recebendo. O melhor para pessoas com o nível de
humanidade e relevância do referido falastrão é o completo e
total desprezo. Quanto mais espaço se dá para criaturas assim, mais bobagem se houve. No entanto, a
única coisa coerente que o ouvi dizer foi apontar mais outra contradição do nosso fabuloso Congresso
Nacional: dois condenados pelo Supremo Tribunal Federal no escândalo do Mensalão são membros
titulares da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Alguma coisa errada com isso? Claro que
não! A Presidência do Senado Federal ocupada por um político que paga a pensão alimentícia do filho
nascido em aventura extraconjugal com dinheiro de empreiteira? O que há de mal nisso? Nada é proibido
dentro do Congresso.
Ô povo chato, esses desocupados que saem pelas ruas carregando faixas e exigindo respeito. Por que
simplesmente não ficam felizes com as obras da Copa e com a próxima edição do BBB? Chega de abaixo
assinados. Ninguém vai dar a mínima mesmo. Lei da Ficha Limpa? Já estão trabalhando para modificá-la.
Com raríssimas exceções, a política é composta por criaturas de olhos espertos, olfato aguçado, dentes
apurados e apetite voraz, capazes de roerem milhões e milhões de reais antes que a sociedade perceba.
Tais criaturas são oportunistas. Sabem que, neste momento, o Brasil possui recursos. Sabem que essa é
a hora de encherem suas panças e disseminarem suas sementes podres, por que a situação pode mudar.
Se ainda existem recursos naturais que podem ser transformados em dividendos, vamos consumi-los
agora, rápido! E da maneira mais porca possível.
Esse é o Brasil, o país da reversão de valores. Onde ética, respeito, coerência e honestidade são tratados
como lixo. Detentor da biodiversidade mais vibrante do planeta, reduzido à monotonia das más notícias...
(http://www.oeco.org.br/reuber-brandao/27085-brasil-o-pais-sequestrado-pela-inversao-de-valores)
E como vai o Meio Ambiente? A Amazônia Legal parece ser refém do próprio Meio. Como salvála de nós mesmos? Até quando e quanto o homem e a máquina farão mais vítimas? Certezas à
parte, a esperança tem de nos mover. Confira, nos textos 12 e 13, os altos e baixos do
desmatamento.
TEXTO 12
Amazônia: desmatamento em março aumenta 50%
Operação da PF apreende madeiras nativas retiradas ilegalmente da Reserva Biológica do Gurupi, no Maranhão.
Foto: Nelson Feitosa/Ascom Ibama/PA.
Após uma queda em fevereiro, o desmatamento voltou a subir em março, com um aumento de 50% em
relação ao mesmo período do ano passado. A área desmatada no mês de março de 2013 foi de 80
quilômetros quadrados (km²) contra 53 km² em março de 2012. Desde agosto, quando o desmatamento
começa a ser medido, se passaram 8 meses. Destes, em 6 meses a área desmatada aumentou. Os dados
são do Boletim de Desmatamento (SAD) do Imazon, que faz o monitoramento independente do
desmatamento na Amazônia Legal.
O período de chuvas na Amazônia continua, e com ele, as nuvens, que atrapalham a visualização de toda
a floresta pelo satélite. Em março, 60% do território não pode ser monitorado. No mesmo mês em 2012, a
cobertura de nuvens atingiu 74% da Amazônia Legal.
Os estados mais prejudicados pela cobertura de nuvens foram Amapá (92%), Rondônia (82%) e Pará
(81%), áreas onde há pressão de desmatamento: “Os dados do mês de março ainda podem estar
subestimados. Áreas onde o desmatamento vem avançando tiveram uma alta cobertura de nuvens, como
por exemplo, o oeste do Pará, no eixo da BR-163. Onde houve melhor visibilidade, como o Mato Grosso,
tivemos uma alta detecção. É preocupante pois já passamos da metade do calendário de monitoramento e
as altas perduram”, explica Heron Martins, pesquisador do Imazon.
Mais da metade do desmatamento que foi detectado em março ocorreu no Mato Grosso (56%), seguido
por Rondônia (28%), Pará (9%), Roraima (3%), Acre (2%) e Amazonas (2%).
Para Martins, o aumento em março segue a tendência dos últimos meses. No acumulado do ano do
desmatamento (que começa em agosto e vai até julho do ano seguinte), foram desmatados 1.430
quilômetros quadrados de floresta, um aumento de 88% em relação ao período anterior (agosto/2011 a
março2012), quando foram desmatados 760 quilômetros quadrados. Em 8 meses, a Amazônia Legal
perdeu uma área um pouco maior que o equivalente a duas cidades de Salvador (693,276 km²).
(http://www.oeco.org.br/noticias/27084-amazonia-desmatamento-em-marco-aumenta-50)
TEXTO 13
Após 5 meses de aumento, desmatamento recua na Amazônia
Após 5 meses consecutivos de aumento na taxa de desmatamento, a área desmatada caiu 58% em
fevereiro em comparação com o mesmo mês do ano passado. De acordo com a ONG Imazon, que faz o
monitoramento independente do desmatamento na Amazônia Legal, desde agosto não havia queda no
número mensal.
No mês passado, desmatou-se 45 quilômetros
quadrados na Amazônia Legal, contra 107
quilômetros quadrados registrados em fevereiro de
2012. A cobertura de nuvens na região foi de 72% da
área florestal na Amazônia Legal, número semelhante
a fevereiro de 2012, quando atingiu 76%. Entender a
extensão da cobertura de nuvens é importante
quando se fala em desmatamento, porque ela impede
que a área monitorada seja visualizada como um
todo. Quando o período de chuvas acabar e as
nuvens se dissiparem, a taxa de desmatamento pode
disparar. Isso não será reflexo de um mês, mas do período de chuvas em que o satélite não pode detectar
corretamente essa atividade.
Os dados mensais são considerados sistemas de alertas, usados para subsidiar políticas de repressão ao
desmatamento, mas não são definitivos. Períodos longos são mais confiáveis, pois o erro de um mês pode
ser compensado adiante.
O ano-calendário que mede o desmatamento na Amazônia começa em agosto. Assim, é alarmante que no
acumulado em 7 meses desmatou-se 1.351 quilômetros quadrados, área superior a do município do Rio
de Janeiro (1.182 km2). Esse total representa um aumento de 91% (ou 708 quilômetros quadrados) em
relação ao mesmo período anterior, de agosto de 2011 a fevereiro de 2012.
Evolução do desmatamento entre os Estados da Amazônia Legal de agosto de 2011 a fevereiro de 2012 e de agosto
de 2012 a fevereiro de 2013 (Fonte: Imazon/SAD).
Desmatamento de agosto de 2011 a fevereiro de 2012 na Amazônia Legal (Fonte: Imazon/SAD).
"Temos informações que os altos valores de desmatamento detectados na primeira parte do calendário
[que começa em agosto] serviram para ações estratégicas de combate ao desmatamento", diz Heron
Martins, engenheiro ambiental e um dos pesquisadores responsáveis pelo SAD, o boletim do
Desmatamento produzido pelo Imazon. "A esperança é que se reverta a tendência de aumento dos últimos
meses”.
Em fevereiro de 2013, a maior parte (78%) do desmatamento ocorreu no Mato Grosso, seguido pelo Pará
(9%), Tocantins (7%), Rondônia (4%) e Amazonas (2%). Os maiores percentuais de cobertura de nuvens
ocorreram no Amapá (91%) e Roraima (90%). Nesses estados não se detectou perda florestal.
(http://www.oeco.org.br/noticias/26980-apos-5-meses-de-aumento-desmatamento-recua-na-amazonia)
Parece que toda história tem o seu lado bom. Felizmente. Sabemos, por exemplo, da importância
que o Novo Código Florestal tem para desacelerar a devastação das florestas. Ao menos, é este
o principal objetivo das novas regras impostas aos proprietários rurais e municípios. Entretanto,
cabe ao governo investir na fiscalização, para que de fato a lei seja respeitada. O texto 14
apresenta alguns aspectos que norteiam as regras desse projeto político, e aponta para algumas
divergências ocorridas no seu processo de elaboração e aprovação. O texto 15 nos surpreende
com uma nova regra também criada com o intuito de amenizar os crimes cometidos contra o Meio
Ambiente. A que ponto chegamos? Alguém poderia pensar em medidas deste gênero?
TEXTO 14
Pp’Novas regras para as matas do Brasil
Depois de idas e vindas, o governo finaliza o novo Código Florestal. As mudanças estão em vigor, mas ainda causam desagrados
O Brasil conta com um novo Código Florestal, em vigor desde outubro de 2012, quando o governo federal
publicou um decreto-lei com medidas de regulamentação que encerrou o vaivém de aprovações, emendas
e vetos entre a Câmara dos Deputados, o Senado e a Presidência da República. A atual legislação
substitui o antigo código, de 1965, e define novas regras para ocupar e explorar a terra e preservar o meio
ambiente, tendo em vista duas realidades:
a) o atual modelo agropecuário nacional, importante para a economia do país, e
b) a preocupação com a preservação ambiental, pois o desmatamento, além de ir na contramão de
esforços internacionais, ameaça fontes de água, contribui para a extinção de espécies vegetais e animais
e compromete o futuro da própria atividade agrícola.
Dois conceitos importantes estão na base das polêmicas que marcaram os debates sobre a nova lei. Eles
já estavam definidos na legislação anterior:
- RESERVA LEGAL (RL) Porcentagem de matas nativas de cada propriedade rural que deve ser mantida
para preservar o ambiente, a flora e a fauna. Ela pode ser explorada, desde que isso seja feito por meio de
um manejo que a preserve.
- ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTES (APPs) Áreas que devem ser protegidas. Trata-se de
locais estratégicos e de importância ambiental e estrutural. São as matas ciliares (às margens de riachos e
rios, que evitam a erosão e o desmoronamento de terra no leito aquático) e os reservatórios de água, as
nascentes, as encostas, os topos de morros e as restingas.
Quando o Código Florestal anterior foi aprovado, há cerca de meio século, grande parte das propriedades
se concentrava no Sul e Sudeste e a vegetação nativa dessas regiões já havia sido muito alterada. Porém,
nas décadas seguintes, a agricultura e a pecuária avançaram para o Centro-Oeste, ocupando áreas de
cerrado e na Amazônia. A falta de fiscalização levou a um amplo desrespeito à lei, com crescimento
acelerado do desmatamento. Decretos e medidas provisórias não alteraram esse cenário. O impasse
levou o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) a fixar o mês de julho de 2008 como datalimite para que todos se adaptassem à lei. A partir disso, os desmatadores deveriam ser punidos. Esse
prazo foi prorrogado duas vezes e chegou ao governo de Dilma Rousseff.
Estava claro que os proprietários rurais que haviam desmatado ilegalmente até julho de 2008 estavam
sujeitos a multas e ao bloqueio do crédito dos bancos públicos. Por isso, eles passaram a exigir um novo
código, menos rígido na proteção ao ambiente. As discussões, votações, alterações, idas e vindas se
arrastaram, com pressão de ruralistas e de ambientalistas.
A presidente impôs 12 vetos à lei e outros nove à última medida provisória aprovada, encerrando o trâmite
com um decreto. O governo argumenta que fez graduações de exigências conforme o tamanho das
propriedades, para garantir o trabalho dos pequenos produtores. A lei também permite agora que sejam
somadas as áreas de APPs na conta da porcentagem exigida de RL. Além disso, estipula que quem
desmatou além do permitido no passado possa reflorestar essas áreas e, assim, não pagar multas. Para
isso, deve obedecer a regras ambientais que serão detalhadas pelo governo de seu estado, e não da
União. As duas medidas desagradaram aos ambientalistas, pois dificultam o restabelecimento da mata
original.
Ruralistas visam à regulamentação do Código Florestal
Uma semana depois da sanção com vetos da Medida Provisória (MP) do Código Florestal e da publicação
de decreto com regras elaboradas pelo Executivo, ruralistas se organizam para influenciar em pontos da
regulamentação da nova legislação que estão sendo gestados no Ministério do Meio Ambiente (MMA). A
primeira garantia foi dada pela ministra Izabella Teixeira à presidente da Confederação da Agricultura e
Pecuária do Brasil (CNA), Katia Abreu, em reunião nesta semana: a de que o Conselho Nacional do Meio
Ambiente (Conama) – órgão considerado pelos produtores como “reduto” de ambientalistas e
organizações não governamentais – não será o responsável pela regulamentação de itens do novo
Código. (...) Os ambientalistas já se movimentam também. Pedem a criação de um grupo “com
participação da sociedade civil”, tentando impedir uma reviravolta.
Resumo
O que é: Lei Federal que regulamenta a ocupação da terra definindo critérios e áreas que devem ser
preservadas. O novo Código Florestal brasileiro é a Lei 12.651/12, aprovada pelo Congresso no ano
passado, após muitos debates e alterações. Ela foi sancionada em maio pela presidente Dilma Rousseff e
passou a valer em outubro, após a promulgação de um decreto-lei presidencial com regulamentações.
Principais conceitos ambientais: Há a Reserva Legal (RL, porcentual de área de vegetação nativa que
deve ser preservada ou explorada com manejo) e as Áreas de Proteção Permanente (APPs, que devem
ser mantidas intactas, como margens de rios, encostas, nascentes, topos de morros e restingas).
Anistia: Os produtores que desmataram acima do permitido até julho de 2008 não serão punidos desde
que regularizem sua situação, ou seja, recuperem as áreas desmatadas conforme leis definidas por seu
estado.
Pontos polêmicos: No Congresso Nacional, as discussões do novo código sofriam pressões de dois
lados. Os representantes dos produtores rurais (os ruralistas) queriam uma lei mais flexível, defendendo a
necessidade de aumentar a atividade agropecuária. Os ambientalistas argumentavam que é possível
aumentar a produção com mais tecnologia e menos desmatamento.
(https://almanaque.abril.com.br/materia/novas-regras-para-as-matas-do-brasil)
TEXTO 15
Supermercados vão barrar carne advinda de área desmatada
Cerimônia de assinatura do acordo, realizada ontem em Brasília. Foto: Leonardo Prado - Secom/MPF.
A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) assinou um acordo com o Ministério Público Federal
para informar a origem da carne que vende. Na prática, os supermercados irão orientar as empresas do
setor sobre como evitar a compra de fornecedores que praticam crimes ambientais, fundiários ou
trabalhistas. Segundo estudo do Imazon, em 2009, 75% da área de floresta desmatada na Amazônia
Legal era ocupada pela pecuária.
O documento foi assinado na manhã dessa segunda-feira (25), em Brasília. Fernando Yamada,
presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), apresentou a primeira versão do plano de
ação da associação. Entretanto, o termo de cooperação técnica não tem prazo para implementação.
Por exemplo, o plano incentiva os supermercados a divulgarem no ponto de venda a origem da carne.
O portal da Abras divulgará a relação de produtores que já são parceiros do Ministério Público Federal e
os nomes das 92 cidades que participam do programa Municípios Verdes. O portal também publicará a
lista de embargos do Ibama.
“Por um lado, isso aumenta o controle e, por outro, fortalece o compromisso das lojas de banir das
prateleiras itens de produtores que estejam descumprindo a legislação”, disse o procurador da República
Daniel César Azeredo Avelino, coordenador do grupo de trabalho Amazônia Legal.
Segundo o Ministério Público Federal, o acordo amplia os resultados do Programa Municípios Verdes,
lançado há dois anos, que reúne um pacote de incentivos aos proprietários rurais e aos municípios que se
comprometerem a atuar pela regularização fundiária e ambiental no campo.
Agentes do Ibama apreendem gados em área desmatada ilegalmente no município de Redenção, no Pará. Foto:
Nelson Feitosa/Ibama.
Esforço antigo
As primeiras iniciativas em rastrear o boi que chegava às prateleiras vieram da exigência do próprio
mercado, principalmente o Europeu. Em 2009, o Ministério Público Federal começou a cobrar dos
frigoríficos de vários estados que deixassem de comercializar carne oriunda de propriedades envolvidas
com desmatamento ilegal.
Em 2010, o pedido chegou aos consumidores através da campanha “Carne Legal”, que pedia para as
pessoas não comprarem carne de origem desconhecida.
(http://www.oeco.org.br/noticias/27027-supermercados-vao-barrar-carne-advinda-de-area-desmatada)
O que consumimos realmente requer a nossa atenção, especialmente quando o produto que
almejamos comprar se diz ecologicamente correto. Você conhece a expressão greenwaschin, ou
seja, “maquiagem verde”? É isso mesmo! O que é para ser levado a sério virou moda, também,
no universo publicitário. Tanta criatividade pode nos iludir, fazendo-nos acreditar que
“consumindo determinado produto estamos contribuindo para a preservação da Mãe Natureza”.
Será?! Até que ponto isso é verdade? O texto a seguir ficará apenas como uma dica e, por que
não, um alerta.
TEXTO 16
Os sete pecados da propaganda “verde” enganosa
Em 2011 começaram a valer as novas regras do Conar para apelos relacionados à sustentabilidade nas
propagandas. A ideia é evitar o greenwashing (ou “maquiagem verde”) e alertar o consumidor para
possíveis enganos na hora de escolher o que comprar. O Ideias Verdes retoma o assunto e mostra
algumas formas para reconhecer o que é verdade e o que é mentira nos produtos “verdes”.
Como não se deixar enganar
A verdade é que a fabricação de
qualquer produto deixa rastros no meio
ambiente. O importante é saber como o
fabricante utiliza os recursos naturais
(buscar formas menos agressivas é um
diferencial) e como são as condições de
trabalho de quem participa do processo
de fabricação dos produtos – do começo
ao fim (por exemplo: quando um produto
tem, em alguma parte da sua cadeia de
produção, condições de trabalho
análogas à escrava, é contraditório que
se autointitule “sustentável”).
Portanto, não se deixar levar por promessas milagrosas de “zero” impacto é o primeiro passo. Outra
coisa é exigir que o produto que você está escolhendo na prateleira do supermercado seja claro. De nada
adianta um selo na embalagem, se não há meios de entender o que ele quer dizer.
Segundo o Dossiê Verde do site Ideia Sustentável, a tendência “verde” traz muitas oportunidades para o
mercado. O problema é quando as empresas não têm “critérios claros a respaldar suas pretensões
ambientais” e utilizam “símbolos e apelos visuais que podem induzir o consumidor a conclusões erradas
sobre o produto ou serviço que deseja comprar.”
O relatório The Sins of Greenwashing, da consultoria TerraChoice Environmental Inc., classifica o
greenwashing em sete pecados. Segundo o estudo de 2010, em um ano o número de produtos que se
dizem verdes subiu 73%. Veja como reconhecer um pecador:
1. Pecado do Custo Ambiental Camuflado
Rótulo destaca uma qualidade “verde” do produto e esconde outras características que podem representar
uma perda ambiental maior. Ou seja, ao pesar na balança, o malefício não-anunciado é maior que o
benefício anunciado. Pergunte-se: o apelo ecológico está se referindo a apenas uma questão ambiental
restrita?
2. Pecado da Falta de Prova
Faltam dados que provem que o produto é correto ambientalmente e as informações não são acessíveis
(nem no local de compra, nem na internet). Por exemplo: eletrodomésticos que dizem ser eficientes,
porém não têm certificação confiável. Se um produto diz que é uma coisa, deve comprovar.
Pergunte-se: o apelo fornece mais informações sobre sua proveniência?
3. Pecado da Incerteza
Quando o consumidor não entende a informação passada e confunde significados. Alguns exemplos estão
nas expressões “natural” (arsênio, urânio e mercúrio são naturais, mas venenosos) e “amigo do meio
ambiente ou ecologicamente correto” (pedem uma explicação complementar – afinal, ecologicamente
correto, por si só, não quer dizer muita coisa). Segundo a pesquisa, é o pecado mais comum entre os
produtos brasileiros – representa 46% de todos cometidos por aqui. Pergunte-se: o apelo ambiental é
autoexplicativo? Se não, apresenta alguma explicação sobre seu significado?
4. Pecado do Culto a Falsos Rótulos
O produto transmite a impressão errada quando parece que tem um selo confiável e não tem – tipo
desenhos de uma arvorezinha ou de um planeta fofo que estão ali só para “encher linguiça” e podem
confundir o consumidor. Pergunte-se: o certificado apresentado pelo produto é realmente endossado por
terceiros?
5. Pecado da Irrelevância
Quando é dado destaque para informações que não são importantes ou úteis na busca do consumidor. Ou
seja, o rótulo distrai e pode fazer com que a pessoa deixe de procurar opções melhores. Um exemplo
citado no estudo é quando uma embalagem traz a mensagem “não contém CFC” como se fosse um
diferencial (a substância foi banida por lei há anos). Pergunte-se: poderiam todos os produtos desta
categoria apresentar o mesmo apelo?
6. Pecado do “Menos Pior” O benefício ambiental do produto pode até ser verdadeiro, mas esconde o
impacto da sua indústria como um todo. Por exemplo, pesticidas que se apresentam como ecologicamente
corretos. No Brasil, a pesquisa não encontrou produtos que comentem este pecado – e no resto do mundo
a incidência também foi pequena. Pergunte-se: o apelo tenta fazer o consumidor se sentir mais “verde” em
relação à categoria de um produto que tem seu benefício ambiental questionado?
7. Pecado da Mentira Como o nome diz, a informação passada é falsa. O segmento de cosméticos e
higiene pessoal foi o que mais apresentou apelos mentirosos no estudo. Brasil e Canadá foram os mais
pecadores nesse quesito. Pergunte-se: quando checo o apelo feito, ele é verdadeiro?
A escolha é sua
No site do Conar, é possível denunciar um anúncio ou empresa (o
formulário está na parte inferior página inicial). Além disso:
- questione-se sobre os produtos que você compra;
- pesquise. Na dúvida, busque outras opções de marca;
- use a internet para polemizar, debater, perguntar, expor dúvidas e
compartilhar informações com outros consumidores.
Enfim, faça a sua parte como consumidor para que o verde não seja só
“fachada”.
(http://super.abril.com.br/blogs/ideias-verdes/os-sete-pecados-da-propaganda-verde-enganosa/)
“Seja a mudança que você quer ver no mundo...” É esta a mensagem final do vídeo a seguir, e
com ela concluímos essa parte da Coletânea... Em seguida, deleite-se com as músicas, as
poesias, as dicas de filmes, as tiras e imagens.
VÍDEO 5
Uma mensagem breve sobre o ser humano, seu atos e seu potencial de
transformação no meio em que vivemos.
http://www.youtube.com/watch?v=ZocGUFfbrYM
FILMES
Lixo Extraordinário
Filmado ao longo de dois anos (agosto de 2007 a maio de 2009), Lixo
Extraordinário acompanha o trabalho do artista plástico Vik Muniz em um
dos maiores aterros sanitários do mundo: o Jardim Gramacho, na periferia
do Rio de Janeiro. Lá, ele fotografa um grupo de catadores de materiais
recicláveis, com o objetivo inicial de retratá-los. No entanto, o trabalho com
esses personagens revela a dignidade e o desespero que enfrentam quando
sugeridos a reimaginar suas vidas fora daquele ambiente. A equipe tem
acesso a todo o processo e, no final, revela o poder transformador da arte e
da alquimia do espírito humano.
(http://www.lixoextraordinario.net/filme-sinopse.php)
Filme completo:
http://www.youtube.com/watch?v=FGjEk3SiXkE
Saneamento Básico, o Filme
Em uma pequena vila de descendentes de colonos italianos na serra gaúcha,
a construção de uma fossa para o tratamento do esgoto é uma emergência
antiga e sempre ignorada pelas autoridades. Uma comissão resolve pleitear a
obra através dos recursos da subprefeitura. No entanto, são informados de
que não há verba para saneamento básico mas que sobra para a produção
de um vídeo. O grupo resolve então fazer um vídeo sobre o saneamento
básico. Mas o que ninguém esperava é que o grupo amador se envolveria
tanto nessa produção que ganha até prêmio na cidade, e que a obra... bem,
viraria ator coadjuvante.
(http://globofilmes.globo.com/SaneamentoBasicoOFilme/)
Filme completo: (http://www.youtube.com/watch?v=CKOsCD6BItc)
TIRAS
ÀS VEZES EU ACHO QUE O INDÍCIO
MAIS ÓBVIO DE QUE EXISTEM FORMAS
DE VIDA INTELIGENTE FORA DA TERRA
É QUE NENHUMA DELAS TENTOU
ENTRAR EM CONTATO CONOSCO.
(http://somosambientalistas.blogspot.com.br/2011/07/charges-sobre-o-meio-ambiente.html)
(http://fificomenta.wordpress.com/category/uncategorized/page/7/)
MÚSICAS
Borzeguim
Tom Jobim
Borzeguim, deixa as fraldas ao vento
E vem dançar
E vem dançar
Hoje é sexta-feira de manhã
Hoje é sexta-feira
Deixa o mato crescer em paz
Deixa o mato crescer
Deixa o mato
Não quero fogo, quero água
(deixa o mato crescer em paz)
Não quero fogo, quero água
(deixa o mato crescer)
Hoje é sexta-feira da paixão sexta-feira santa
Todo dia é dia de perdão
Todo dia é dia santo
Todo santo dia
Ah, e vem João e vem Maria
Todo dia é dia de folia
Ah, e vem João e vem Maria
Todo dia é dia
O chão no chão
O pé na pedra
O pé no céu
Deixa o tatu-bola no lugar
Deixa a capivara atravessar
Deixa a anta cruzar o ribeirão
Deixa o índio vivo no sertão
Deixa o índio vivo nu
Deixa o índio vivo
Deixa o índio
Deixa, deixa
Escuta o mato crescendo em paz
Escuta o mato crescendo
Escuta o mato
Escuta
Escuta o vento cantando no arvoredo
Passarim passarão no passaredo
Deixa a índia criar seu curumim
Vá embora daqui coisa ruim
Some logo
Vá embora
Em nome de Deus é fruta do mato
Borzeguim deixa as fraldas ao vento
E vem dançar
E vem dançar
O jacu já tá velho na fruteira
O lagarto teiú tá na soleira
Uirassu foi rever a cordilheira
Gavião grande é bicho sem fronteira
Cutucurim
Gavião-zão
Gavião-ão
Caapora do mato é capitão
Ele é dono da mata e do sertão
Caapora do mato é guardião
É vigia da mata e do sertão
(Yauaretê, Jaguaretê)
Deixa a onça viva na floresta
Deixa o peixe n'água que é uma festa
Deixa o índio vivo
Deixa o índio
Deixa
Deixa
Dizem que o sertão vai virar mar
Diz que o mar vai virar sertão
Deixa o índio
Dizem que o mar vai virar sertão
Diz que o sertão vai virar mar
Deixa o índio
Deixa
Deixa
http://letras.mus.br/tom-jobim/86158/
Planeta Morto
Titãs
Era um planeta fértil
Tinha as maiores frutas
Cheio de homens fortes
Preparados para as lutas
Era um planeta
Tinha sol e lua
Ninguém tinha medo de nadar na rua
Morto
Morto
Morto
Planeta morto
Morto
Morto
Morto
Planeta morto
Agora esse planeta está em paz
As bombas não explodem mais
É tarde pra voltar atrás
Tarde pra voltar atrás
(http://letras.mus.br/titas/290633/)
A mancha
Lenine
Morto
Morto
Morto
Planeta morto
Morto
Morto
Morto
Planeta morto
Um dia dividiram o planeta em estados
Inventaram os pecados
Os velhos não eram repeitados
Os nenês nasciam preocupados
Era um planeta
Tinha noite e dia
Ninguém mais chorava quando alguém morria
Morto
Morto
Morto
Planeta morto
Morto
Morto
Morto
Planeta morto
Agora esse planeta está em paz
As bombas não explodem mais
É tarde pra voltar atrás
Tarde pra voltar atrás
A mancha vem comendo pela beira
O óleo já tomou a cabeceira do rio
E avança
A mancha que vazou do casco do navio
Colando as asas da ave praieira
A mancha vem vindo
Vem mais rápido que lancha
Afogando peixe, encalhando prancha
A mancha que mancha,
Que mancha de óleo e vergonha
Que mancha a jangada, que mancha a areia
Negra praia brasileira
Onde a morena gestante
Filha do pescador
Derrama lágrimas negras
Vigiando o horizonte
Esperando o seu amor
(http://letras.mus.br/lenine/1338098/)
POESIAS
Eu Etiqueta
Carlos Drummond de Andrade
Em minha calça está grudado um nome
Que não é meu de batismo ou de cartório
Um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
Que jamais pus na boca, nessa vida,
Em minha camiseta, a marca de cigarro
Que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produtos
Que nunca experimentei
Mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
De alguma coisa não provada
Por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
Minha gravata e cinto e escova e pente,
Meu copo, minha xícara,
Minha toalha de banho e sabonete,
Meu isso, meu aquilo.
Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens,
Letras falantes,
Gritos visuais,
Ordens de uso, abuso, reincidências.
Costume, hábito, permência,
Indispensabilidade,
E fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É duro andar na moda, ainda que a moda
Seja negar minha identidade,
Trocá-la por mil, açambarcando
Todas as marcas registradas,
Todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
Eu que antes era e me sabia
Tão diverso de outros, tão mim mesmo,
Ser pensante sentinte e solitário
Com outros seres diversos e conscientes
De sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio
Ora vulgar ora bizarro.
Em língua nacional ou em qualquer língua
(Qualquer principalmente.)
E nisto me comparo, tiro glória
De minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
Para anunciar, para vender
Em bares festas praias pérgulas piscinas,
E bem à vista exibo esta etiqueta
Global no corpo que desiste
De ser veste e sandália de uma essência
Tão viva, independente,
Que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
Meu gosto e capacidade de escolher,
Minhas idiossincrasias tão pessoais,
Tão minhas que no rosto se espelhavam
E cada gesto, cada olhar
Cada vinco da roupa
Sou gravado de forma universal,
Saio da estamparia, não de casa,
Da vitrine me tiram, recolocam,
Objeto pulsante mas objeto
Que se oferece como signo dos outros
Objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente.
(http://pensador.uol.com.br/frase/MjAyODM0/)
O bicho
Manuel Bandeira
VI ONTEM um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
(http://pensador.uol.com.br/frase/MzcyNjI5/)
LIXO
Augusto de Campos
(parabolicafashion.wordpress.com)
IMAGENS
(http://www.amda.org.br/?string=interna-charges&cod=6)
(http://obviousmag.org/sphere/archives/uploads/2013/04/satirical-art-pawelkuczynski-19.jpg)
(http://obviousmag.org/sphere/archives/uploads/2013/04/sa
tirical-art-pawel-kuczynski-24.jpg)
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