Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Espaço Agrário – Professor: Tibério Mendonça
A QUESTÃO AGRÁRIA NOS ANOS SETENTA E AS NOVAS TÉCNICAS DE PRODUÇÃO
Determinadas maneiras de resolver a questão agrícola podem acabar agravando os problemas que
dizem respeito à questão agrária. E que isso foi exatamente o que aconteceu no nosso país: a rápida
industrialização da agricultura brasileira a partir dos anos sessenta agravou ainda mais a miséria de
expressivos contingentes da nossa população.
Mas ainda não especificamos as mudanças recentes ocorridas na agricultura brasileira, nem
explicamos por que elas implicaram num agravamento da questão agrária. Para isso selecionamos três
grandes modificações ocorridas que tenderão a marcar profundamente o comportamento da agricultura
brasileira no futuro próximo:
a) O fechamento de nossas fronteiras agrárias, envolvendo as questões de colonização da Amazônia e da
participação da grande empresa pecuária deslocando a pequena produção agrícola;
b) O Progresso acelerado de modernização da agricultura no Centro-Sul do país;
c) A crescente presença do capitalismo monopolista no campo, ou seja, de grandes empresas industriais que
passaram a atuar tanto diretamente na produção agropecuária propriamente dita, como fortaleceram sua
presença no setor de comercialização e de fornecimento de insumos para a agricultura.
Vamos detalhar as consequências de cada uma dessas transformações, para em seguida tentar uma
análise das suas principais interdependências.
O "fechamento" da fronteira agrícola:
O padrão de crescimento da nossa agricultura supôs sempre uma variável fundamental: a
incorporação de novas áreas à produção, ou seja, a existência de uma fronteira agrícola em expansão.
A fronteira não é necessariamente uma região distante, vazia no aspecto demográfico. Ela é fronteira
do ponto de vista do capital, entendido como relação social de produção. Não se deve pensar, pois, que a
fronteira é algo externo ao "modelo agrícola" brasileiro, se é que podemos nos expressar assim. Ao
contrário, a fronteira é simultaneamente condicionante e resultado do processo de desenvolvimento da
agricultura brasileira. Vale dizer, a existência de "terras – sem - dono" na fronteira funciona como um
regulador da intensificação de capital no campo, condicionando assim o seu desenvolvimento
extensivo/intensivo. Em sentido contrário, o custo da intensificação de capital na agricultura determina o
ritmo de incorporação produtiva das terras na fronteira.
A expansão da fronteira vinha desempenhando pelo menos três funções básicas no "modelo
agrícola" brasileiro.
A primeira, no plano econômico, é que a fronteira era um "armazém" de gêneros alimentícios
básicos, especialmente arroz e feijão. Quando a produção capitalista recuava por algum problema (seja de
preço, seja de alteração climática), havia um suprimento do mercado nacional através do escoamento dos
"excedentes" da pequena produção camponesa, funcionando como estabilizador dos preços. Quando,
entretanto, a fronteira se "fecha", esse efeito de amortecimento tem que ser buscado na importação de
produtos agrícolas e tabelamento dos preços.
A segunda, diríamos no plano social é que a fronteira representava uma orientação dos fluxos
migratórios, era o "locus" da recriação da pequena produção, ou seja, o destino das famílias camponesas
expropriadas e dos excedentes populacionais. Quando a fronteira se "fecha", passa a haver uma
multiplicação de pequenos fluxos migratórios e um grande contingente populacional passa a perambular
desordenadamente por todo o país.
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A terceira função, digamos, no plano político é que a fronteira era a "válvula de escape" de tensões
sociais no campo e projetos de colonização no Brasil sempre foram pensados politicamente como
alternativas a uma reforma agrária que mudasse a estrutura de propriedade da terra nas regiões Nordeste e
Centro-Sul. Na medida em que se aguçavam tensões sociais, conflitos potenciais, pressões políticas e
econômicas, a fronteira aparecia como o "novo Eldorado" para os pequenos produtores. E hoje o que se vê é
que a própria fronteira está se tornando uma região de conflitos sociais pela posse da terra.
Quando dizemos que a fronteira está se fechando rapidamente, não estamos pensando no conceito
clássico de que não há mais terras para serem incorporadas ao processo de produção. O "fechamento" não
tem o sentido de utilização produtiva do solo, mas sim de que não há mais espaços que possam ser ocupados
por pequenos produtores de subsistência (são esses espaços que estamos chamando de "terras – sem dono").
Na Amazônia o "fechamento" não se dá por uma ocupação no sentido clássico de expansão das áreas
exploradas a partir de regiões mais antigas, onde a produção capitalista substitui a produção de subsistência,
como se deu no Sudoeste do Paraná e no Sul de Mato Grosso. Pelo contrário, um "fechamento de fora para
dentro", onde a importância da terra como meio de produção passa a um plano secundário, frente às
funções de "reserva de valor" contra a corrosão inflacionária da moeda e de meio de acesso a outras formas
de riqueza a ela associadas, como as madeiras de lei, os minérios, o acesso ao crédito farto e barato e aos
benefícios fiscais.
Em termos de seus reflexos para o futuro, dado que as terras da Amazônia foram apropriadas
fundamentalmente como "reserva de valor", coloca-se então de como realizar esse valor; ou seja, como
converter novamente a mercadoria terra em dinheiro, então como ocupá-la produtivamente de modo a
obter um rendimento a partir da atividade agropecuárias.
E preciso não esquecer que a terra funcionou também na Amazônia como "contrapartida" dos
incentivos fiscais, num jogo contábil onde o imóvel foi supervalorizado, de modo a obter praticamente,
"doações financeiras" do governo para projetos cuja grande maioria não passa ainda hoje de verdadeiras
"vitrines", embora já tenha consumido a maior parte dos vultosos recursos previstos.
Assim, ou o governo mantém a atual política de incentivos fiscais, ou uma fração insignificante
desses projetos terá condições de chegar a bom termo. Por isso, existe atualmente uma tendência a se
"reavaliar" esses projetos, numa operação em que os empresários ficariam com as "vitrines" que construíram
com os incentivos fiscais e destinariam as áreas restantes para projetos de colonização.
Assim, poderiam realizar o preço da terra, numa conjuntura onde a valorização da mesma parece
estar perdendo o ímpeto inicial, além do que assegurariam mão-de-obra barata dos pequenos proprietários
vizinhos e melhoramentos de infraestrutura. Evidentemente, será preciso que o governo entre para "bancar"
o negócio, isto é, financie os investimentos de infraestrutura necessários. Isso pode ser muito atraente
quando se procuram novos projetos-impacto que permitam captar dividendos políticos e sociais, como se
pensava inicialmente lograr com a abertura da Transamazônica.
Modernização do Centro-Sul
É fato inegável que a modernização da agricultura, em especial a do Centro-Sul do país, se acelerou
nos últimos anos. Mas é preciso destacar que esse processo não é completo, caracterizando o que se poderia
chamar de uma modernização parcial da agricultura, num duplo sentido.
De um porque essa modernização se restringe a alguns produtos e regiões. Não é necessário repetir
que em função disso o café, a cana-de-açúcar, a soja, o trigo, etc., são chamados de "culturas de rico",
ficando o feijão, o leite, a fava, grande parte do arroz e do milho conhecidos como "culturas de pobre".
Tampouco é necessário enfatizar que o Centro-Sul do país não é somente a região que concentra a produção
industrial, mas também a produção agrícola do país. São Paulo, por exemplo, conhecido por seu parque
industrial, é também um dos estados mais importantes na produção agrícola do país.
No outro sentido em que se poderia chamar a modernização da agricultura brasileira de parcial é
que, mesmo em relação aos produtos e áreas específicas em que se faz presente se restringe a alguns
produtos e regiões. Ela atingiu apenas algumas fases do ciclo produtivo. Por exemplo, as culturas tropicais
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como a cana, café, cacau e borracha não tinham a sua colheita mecanizada, seja por razões técnicas em
alguns casos, e econômicas em outros.
A modernização parcial da agricultura em especial do Centro-sul do país trás pelo menos três
grandes reflexos para seu desempenho no futuro.
O primeiro é que as disparidades regionais se acentuaram, não apenas entre as três macros regiões
do país – Nordeste, Norte e Centro-sul, mas também dentro destas regiões. Diga-se de passagem, por
exemplo, como ilustração das disparidades entre as regiões, que o Centro-Sul absorve hoje cerca de 80% das
máquinas e equipamentos agrícolas e dos fertilizantes e defensivos, participação essa que vem tendendo a
crescer com a incorporação das áreas de cerrados do planalto central.
O segundo reflexo importante dessa modernização parcial é o crescimento da sazonalidade do
trabalho agrícola. Isso porque a modernização não atingiu todas as fases do ciclo produtivo, especialmente a
fase da colheita, que é uma das mais exigentes em termos de mão-de-obra, e também porque o progresso
técnico se incrustou em determinadas áreas de monoculturas específicas, reforçando as oscilações sazonais
próprias do calendário agrícola. Isso não só acelerou violentamente o êxodo rural, como também
transformou as relações de trabalho nessas áreas.
Assim, em algumas regiões do país, em certas épocas do ano há uma escassez temporária de mãode-obra, enquanto que em outras épocas, naquelas mesmas regiões, há acentuados índices de subemprego
e de desemprego aberto. Em outros termos, a modernização parcial da agricultura tem significado não
apenas uma menor expansão (ou até mesmo uma redução) dos níveis de emprego, mas, sobretudo um
grande aumento do trabalho temporário no setor agrícola. Ressalte-se que esse aumento do trabalho
temporário, representado pelo aumento (pelo menos relativo) do contingente dos assalariados temporários
conhecidos como volantes, ou bóias-frias, tem significado uma redução no seu nível de renda familiar, dado
que geralmente encontram trabalho em apenas metade dos dias úteis do ano. Isso vem obrigar à
incorporação crescente de mulheres e crianças em idade escolar, especialmente por ocasião das atividades
da colheita.
O terceiro grande reflexo dessa modernização parcial da agricultura diz respeito ao que se poderia
chamar de uma tendência à unificação do mercado de mão-de-obra não qualificada nas regiões de
agricultura mais desenvolvida. Essa tendência pode ser traduzida no fato de os salários rurais passarem a
acompanhar as variações dos salários urbanos, especialmente da mão-de-obra empregada na construção
civil e nas demais atividades urbanas que exigem pouca qualificação.
Essa unificação, se de um lado permite evitar um crescimento maior dos salários nos momentos de
pico de demanda de mão-de-obra por parte das atividades agrícolas, de outro lado representa uma
dificuldade crescente para a ação do Estado no sentido de minorar o subemprego.
Nesse sentido, é importante salientar que a modernização, ainda que parcial da agricultura brasileira
só têm sido possível graças à fundamental ação do Estado, subsidiando a aquisição de insumos, máquinas e
equipamentos poupadores de mão-de-obra.
A crescente presença do capital monopolista no campo
A terceira importante modificação na agricultura brasileira, e que tende a refletir profundamente
sobre o seu comportamento no futuro próximo, é a crescente presença dos grandes capitais no campo. Essa
presença aumentou tanto do ponto de vista de sua participação na produção agropecuária propriamente
dita, como também do ponto de vista da sua participação controlando o processamento dos produtos
agrícolas e a venda dos insumos adquiridos pelos agricultores.
Podemos dizer que a renda do produtor rural, especialmente do pequeno, nas regiões de agricultura
mais desenvolvida, encontra-se duplamente prensada De um lado, pela compra de insumos agrícolas num
mercado oligopolista, isto é, onde existem alguns poucos grandes vendedores que controlam os preços de
venda, os quais vão ser os custos do agricultor. Do outro lado, pela venda de sua produção em mercados
onde há relativamente poucos compradores e/ou em que há uma tendência ao fortalecimento de apenas um
grande comprador.
Essa articulação entre vendedores de insumos, pequenos produtores e grandes compradores dos
produtos agrícolas ocorre sob as mais variadas formas. Por vezes é o caso das redes de supermercados que
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passam a comprar diretamente dos produtores ou das cooperativas, que desempenham também aí o papel
de vendedoras de insumos, como acontece nos hortifrutigranjeiros em geral. Outras vezes é o caso das
agroindústrias que estabelecem contratos diretamente com os pequenos produtores, como é o caso do
tomate, do fumo e de outras atividades de alto risco e que são bastante exigentes em termos de mão-deobra por ocasião dos tratos culturais.
Em outros ainda, o pequeno produtor se vê preso em sistemas de comercialização que foram
teoricamente criados para favorecê-lo e se converteram numa fórmula mais eficiente de espoliá-lo, como é o
caso dos CEASAs (que acabaram fortalecendo os grandes intermediários) e as cooperativas que acabaram
representando apenas interesses próprios ou de uma minoria de grandes cooperados.
Essa articulação entre o grande capital industrial e/ou comercial e a pequena produção modifica
fundamentalmente o papel que até então esta desempenhava na agricultura brasileira. De um lado, esses
pequenos produtores deixam de ser produtores de subsistência, no sentido de ofertarem o "excedente" e
passam a produzir fundamentalmente para o mercado. E agora, como pequenos produtores mercantis, não
se ligam necessariamente à produção de gêneros de subsistência, dedicando-se muitas vezes também às
chamadas "culturas de rico".
Parece-nos evidente, portanto, que a "velha" agricultura, entendida como um "setor autônomo"
tende gradativamente a desaparecer. A agricultura do futuro, tal como já se esboça hoje em algumas regiões
do país, será apenas mais um ramo da indústria, com pequenas especificidades ligadas ao papel
desempenhado pela terra como meio de produção.
A Biotecnologia dos Transgênicos
A biotecnologia é o conjunto de técnicas e procedimentos para produzir alimentos, remédios,
cosméticos. Embora geralmente se fale apenas dos modernos produtos dos laboratórios, a
biotecnologia existe há muito tempo e só recentemente incorporou os transgênicos entre os produtos
que gera.
No início do século XX, a palavra biotecnologia teria sido usada pela primeira vez pelo engenheiro
Karl Erecky da Hungria. Entretanto, a aplicação de técnicas biotecnológicas já era conhecida desde 1800 a.C.,
para fabricação de vinho, pão, cerveja, queijo e outros produtos através da fermentação. Nos últimos 30
anos, a biotecnologia teve formidável avanço, abrindo novas oportunidades de crescimento para diversos
setores da economia, entre os quais se destaca a agricultura, e tem como maior desafio o uso sustentável de
nossa biodiversidade.
A biotecnologia é uma ferramenta tecnológica adicional para a agricultura. Ela impulsiona o
crescimento do agronegócio nos países onde já são produzidos alimentos através dessa técnica e têm
exercido um papel importante para aumentar a produtividade e atender a demanda por alimentos de uma
população em contínuo crescimento. Aliás, em qualquer setor da economia, o que alavanca a
competitividade das empresas é a tecnologia. É a tecnologia que reduz os custos, aumentando a qualidade e
a produtividade, e coloca os produtos ao alcance do gosto e do bolso do consumidor de dentro e de fora do
país.
Até 2050 a população mundial deverá alcançar 11 bilhões de pessoas, o que vai exigir que, no
mínimo, seja dobrada a produção de alimentos e, de preferência, sem aumentar drasticamente a área
plantada, minimizando assim o impacto sobre nossa biodiversidade. Não há outro caminho senão o uso de
tecnologias que permitam maior produtividade por unidade de área.
O Brasil será parte fundamental para suprir considerável parcela de alimentos que o mundo
demandará e terá que adotar ações sustentáveis para preservar nossos ecossistemas. A revolução verde
iniciada nos anos 1960 trouxe, para o mundo, aumento na produção de alimentos, mas o uso abusivo de
insumos também acarretou problemas como a contaminação ambiental e de saúde. No momento atual, a
biotecnologia tem a responsabilidade de também aumentar essa produção sem, no entanto, provocar
efeitos irreparáveis ao ambiente.
Os transgênicos, ou Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), são aqueles com
material genético alterado pelo homem através da transferência de um gene de uma espécie para
outra. Eles surgiram a bem pouco tempo, na década de 70, e rapidamente alcançaram o mundo,
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principalmente os alimentos. Apesar disso, ainda é grande a polêmica em tomo do assunto. Da
medicina, a biotecnologia passou para a agricultura, onde proliferou. A discussão sobre esses
alimentos está longe de alcançar consenso. Enquanto para alguns a nova tecnologia é uma certeza de
desenvolvimento, para outros ainda deve ser esclarecido sobre os reais impactos no meio ambiente,
na saúde, política, economia e bioética de cada país. No Brasil, os transgênicos chegaram de forma
clandestina e hoje tomaram-se uma realidade.
Proibir ou aceitar? Seria esse o dilema a ser resolvido. Cautela é a palavra que deve ser o
princípio desse processo, uma vez que não existe tecnologia sem riscos.
A busca incessante por uma vida melhor tem levado o homem a enveredar pelo campo do
conhecimento científico de forma ilimitada. A genética, após a descoberta de Mendel, passou por
transformações abruptas no decorrer das décadas. A engenharia genética vem ganhando um destaque
dentro do campo da ciência, na economia e política. Isso tem acontecido em decorrência do enorme
potencial de transformação nos mais diversos campos da humanidade.
Os Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), tem sido, nos últimos anos, palco de
muitas especulações, equívocos e acertos. Os transgênicos, que na verdade são OGMs, tem aparecido
com maior frequência na vida de muitas pessoas nos mais distantes países do globo terrestre. Isso tem
feito com que os pesquisadores se debrucem sobre os seus instrumentos de pesquisa para que possam
produzir um conhecimento mais seguro e assim, apresentarem uma melhor aceitação.
A necessidade de se analisar cada aspecto: econômico, social, ético, político e ambiental é algo
que precisa ocorrer de forma emergencial. A questão no momento não é ser a favor ou contra os
transgênicos, pois eles aí já o estão, seja na forma legal ou na clandestinidade.
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O homem e o processo de produção dos alimentos
O processo de transformação dos alimentos ocorreu no período Neolítico quando o homem
começou a dominar a agricultura. Há 12 mil anos, período em que as temperaturas médias da terra
estavam em elevação e a agricultura brotava numa faixa ao longo do Mediterrâneo oriental, alguns
grupos provavelmente discutiam a questão dos alimentos e a sua relação com Deus.
A ideia que os alimentos silvestres poderiam ter sido semeados por deuses e assim, cresciam
por toda a parte, começava a perdurar de forma substanciosa. Em contrapartida, aqueles alimentos
cultivados passaram a ser vistos como frutos do desejo humano e, essa forma, terminavam por
contrariar as leis da natureza.
A partir da domesticação da agricultura e com a insurgência do feudalismo, houve a
desenvolvimento do domínio sobre as plantas e os animais, elevando dessa forma a oferta de
alimentos. Esses dois fatores foram responsáveis pela elevação da expectativa de vida, resultando
num crescimento demográfico.
Com a descoberta da América no século XV, houve uma ampliação da oferta de novos
alimentos, especialmente milho e batata. A batata foi amplamente utilizada como alimento nos
primeiros anos da revolução industrial, posteriormente o milho alcança o mesmo status, sendo hoje
um dos alimentos mais consumidos em todo o mundo.
Hoje a Terra com uma população de cerca de 7 bilhões de pessoas só pode ser alimentada,
mesmo de forma insatisfatória, através de técnicas de produção agrícola, resultado de uma continua
pesquisa na área. Para tanto tivemos que arcar com o ônus dos impactos ambientais como
desmatamentos, queimadas, erosão e outros.
Assim, percebe-se que a transformação dos alimentos ao longo das gerações contribui de
forma decisiva para a instalação e permanência de muitas comunidades por todo o planeta, além de
promover mudanças significativas, levando a um enriquecimento do valor nutritivo de diversos
alimentos. De acordo com Capozzoli (2003, p.35).
Quanto à oferta de alimentos, mesmo na Amazônia a disponibilidade
de frutos silvestres foi influenciada pela presença humana. A pupunha,
uma das mais populares da região, há 10 mil anos não superava os 2
gramas de peso, contra os 200 gramas atuais. Foi a domesticação da
pupunha que possibilitou esse desenvolvimento, segundo
investigações feitas no Instituto nacional de Pesquisas da Amazônia
(lupa). E ainda hoje, toda uma diversidade de frutas da
floresta resulta de semeaduras feitas por populações indígenas. A
floresta não é o Éden que ocupa o imaginário urbano.
Na década de 1950 veio a "revolução verde" e com ela uma imensa quantidade de
modificações para a agricultura. A utilização do maquinário em larga escala juntamente com o uso de
insumos agrícolas e agrotóxicos levaram a uma produção industrial que alavancou todo o processo de
globalização dos alimentos.
O Surgimento dos Organismos geneticamente Modificados (OGMs)
Os OGMs surgiram em 1973 quando os cientistas Cohen e Boyer, que coordenavam um grupo
de pesquisas em Stanford e na University of Califórnia davam o passo inicial para o mundo da
transgenia. Eles conseguiram transferir um gene de rã para uma bactéria, o primeiro experimento
ocorrido com sucesso usando a técnica do DNA recombinante. Essa técnica posteriormente passou a ser
chamada de engenharia genética. De acordo com Furtado (2003, p. 28) "Essa conquista tem sido
comparada à domesticação do fogo e à descoberta da fissão nuclear, entre outros eventos de grande
impacto sobre o destino humano".
Não é de hoje que o homem vem manipulando a vida através da domesticação, melhoramento
e cruzamento de animais e plantas. Registros mostram que isso já ocorria a mais de dez mil anos,
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embora sempre existiram as barreiras, umas naturais (diferenças entre espécies) e as humanas (cultura,
ética, religião).
Na década de 70, ocorrem mudanças bruscas nesse contexto, com o desenvolvimento da
engenharia genética e a descoberta da tecnologia do DNA recombinante (Fragmento de DNA
incorporado artificialmente à molécula de DNA de um vetor de clonagem que pode ser amplificado em
um organismo diversas vezes. Desta forma, grande quantidade do DNA em questão pode ser obtida. O
DNA inserido no vetor de clonagem usualmente contém o gene de interesse) foi possível ultrapassar a
barreira das espécies. Essa tecnologia permite uma modificação direta do genoma de um ser vivo, seja
pela introdução de um novo gene de origem externa, ou mesmo, a inativação de um gene ora existente.
Uma vez realizado esse processo, o organismo modificado passará a produzir a substância de comando
do novo gene recebido, o que possibilita, de certa forma, mudanças na qualidade dos alimentos.
OGMs e Transgênicos: uma questão de semântica
Convencionalmente utilizam-se os termos OGMs e transgênicos como sinônimos. Porém Existe
uma diferença técnica entre ambos. Os OGMs, são organismos que foram modificados com a
introdução de um ou mais genes provenientes de um ser vivo da mesma espécie do organismo de alvo.
Um exemplo típico de OGM é o tomate Flavr savr, que foi modificado geneticamente para apresentar
um processo de maturação mais lento, de modo a permitir que os frutos possam ser colhidos maduros
ainda na planta. Isso faz com que a qualidade nutricional e de acondicionamento sejam melhores. Essa
técnica de modificação consiste em isolar uma determinada sequência de genes do próprio fruto e
depois inseri-Ia em sentido inverso, no próprio fruto. Assim, tem-se um OGM e não um transgênico.
O termo transgênico foi termo usado pela primeira vez em 1983, na Universidade da
Pensilvânia, quando dois cientistas inseriram genes humanos de hormônios de crescimento em
embriões de ratos, produzindo os chamados "super ratos". A palavra transgênico é utilizada para
designar um ser vivo que foi modificado geneticamente, recebendo um gene ou uma sequência gênica
de um ser vivo de espécie diferente. Para a execução de tal processo utiliza-se a tecnologia DNA
recombinante. Como exemplos de transgênicos temos uma imensa gama de alimentos consumidos
diariamente em diversos países sem que se tenha ciência dos processos de produção.
A Disseminação dos transgênicos pelo mundo
A biotecnologia é, hoje, um dos principais campos dentro do conhecimento da ciência. O
processo de globalização possibilitou o desenvolvimento do comércio de sementes entre as mais
diversas economias do planeta. No campo dos transgênicos, houve uma disseminação em larga escala
pelo planeta. De acordo com Guerrante (2003 p. 7).
As primeiras plantas geneticamente modificadas foram
desenvolvidas a partir de 1983, quando um gene codificante
para resistência a um antibiótico foi introduzido em plantas de
fumo. As primeiras autorizações para plantio experimental de
culturas GMs ocorreram na China, em 190, e se referiam ao
tabaco e ao tomate resistentes a vírus. Entre os países
desenvolvidos, no entanto, a primeira aprovação para uso
comercial de plantas geneticamente modificadas só ocorreu
em 1992, nos Estados Unidos, com o tomate Flavr savr e,
posteriormente, em 1994 com a soja Roundup ready.
As primeiras plantas geneticamente modificadas foram desenvolvidas a partir de 1983, quando
um gene codificante para resistência a um antibiótico foi introduzido em plantas de fumo. As primeiras
autorizações para plantio experimental de culturas GMs ocorreram na China, em 1990, e se referiam
ao tabaco e ao tomate resistentes a vírus. Entre os países desenvolvidos, no entanto, a primeira
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aprovação para uso comercial de plantas geneticamente modificadas só ocorreu em 1992, nos Estados
Unidos, com o tomate Flavr savr e, posteriormente, em 1994 com a soja Roundup ready.
Dai por diante, essa tecnologia adquiriu asas e alçou vôo para o planeta. "Em 1996, havia 1,6
hectares de transgênicos em todo o mundo; em 2002, o número pulou para 58,7 milhões de hectares"
CAMORIM, 2003, p.41). No Brasil, onde a produção de grãos cresceu 100%, enquanto a área plantada
cresceu 12%, esta proeza é o resultado da crescente utilização de tecnologias modernas, sobretudo as
associadas a programas de melhoramento de plantas, que vêm gerando variedades mais adaptadas de
acordo com as especificidades geoambientais. Somos o segundo maior produtor de soja do mundo,
ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Juntamente com a Argentina, somos responsáveis por 90%
da produção mundial. "De 2000 a 2003, verificou-se no país um aumento de 5% para 32% desses
componentes (OGMs) em grãos, sucos, sopas, salsichas, temperos, entre outros itens analisados"
(MARCELINO et al 2004, p. 34).
As principais culturas geneticamente modificadas mais comercializadas no mundo inteiro são:
"soja (63%), milho (19%), algodão (12%), canola (5%), mamão, batata e abóbora (1%)... os países
maiores produtores de transgênicos por percentual são: Estados Unidos (64%), Brasil (21,4%),
Argentina (21,3%), Canadá (8,2%), China (3,7%).
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Aplicação dos transgênicos nos seres vivos
O surgimento dos transgênicos possibilitou avanços significativos nos mais diversos ramos das
ciências biomédicas. Eles oferecem subsídios para aprofundamento nas pesquisas em citologia,
expressão gênica e a genética molecular. No campo da medicina influenciou e tem influenciado os
trabalhos no campo das doenças hereditárias e na oncologia. Na biotecnologia os organismos
geneticamente modificados (bactérias, fungos, plantas e muitos animais) podem funcionar como
biorreatores para a produção de proteínas. De acordo com Guerrante (op, cit., p. 10)
A tecnologia do DNA recombinante trouxe a possibilidade de produzir plantas geneticamente
modificadas para expressarem determinadas características de interesse. Nos vegetais, a modificação
genética se dá por meio da inserção de um ou mais genes no genoma das sementes, de modo a fazer
com que estas passem a produzir determinadas proteínas, responsáveis pela expressão de
características do interesse do vegetal.
Os vegetais transgênicos podem ser classificados em três gerações, segundo a ordem
cronológica de aparecimento das culturas e a característica apresentada por cada geração como
mostra Guerrante (op. Cit, p.10).
1ª Geração - Estão reunidas as plantas geneticamente modificadas com características
agronômicas resistentes a herbicida, a pestes e a vírus. Formam o primeiro grupo de plantas
modificadas. Foram disseminadas nos campos na década de 80 e até hoje compõem o grupo de
sementes GMs mais comercializadas no mundo.
2a Geração - Nesse grupo estão incluídas as plantas cujas características nutricionais foram
melhoradas tanto quantitativamente como qualitativamente. Compreende um grupo de plantas
pouco difundido no mundo, porém, os campos experimentais já são significativos.
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3ª Geração - Representado por um grupo de plantas destinadas à síntese de produtos especiais, como
vacinas, hormônios, anticorpos e plásticos. Estes vegetais estão em fase de experimentação e
brevemente estarão no mercado.
Principais riscos e benefícios dos OGMs
A – Benefícios - como exemplos dos principais benefícios advindos da utilização dos transgênicos, temse:
Aumento da produtividade das colheitas - algo ainda bastante discutido pelas mais diversas camadas
dos cientistas. Porém a análise de alguns casos mostra que os OGMs produzem mais que os
convencionais. Um caso interessante a ser destacado é o trabalho desenvolvido pela Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), em que foi introduzido no feijão um gene do vírus
responsável pelas viroses que prejudicavam a lavoura levando a uma redução de 40% a 60% da
produção. Dessa forma, pode-se obter até 100% da produção, dependendo do período do
cultivo em que ocorre a infestação.
Tolerância das plantas a condições adversas de solo e clima - O estresse provocado por déficit hídrico,
alta concentração salina nos solos e baixas temperaturas vem sendo alvo de diversos estudos.
Determinados genes foram introduzidos em plantas de soja e de trigo com a finalidade de obter maior
tolerância ao déficit hídrico. Isto pode constituir uma alternativa para o desenvolvimento da região
Nordeste do Brasil.
Aumenta a produção de fármacos - A produção de fármacos em plantas e animais geneticamente
modificados desponta como um campo imenso de fertilidade. Nos Estados Unidos, existem no
mercado ou em fase final de teste mais de 300 fármacos produzidos com o uso da engenharia
genética. A grande maioria tem sido produzido em bactérias, leveduras ou células animais.
Aumento do potencial nutricional dos alimentos - A engenharia genética tem se preocupado com a
questão da desnutrição no planeta. Dessa forma, tem modificado plantas para produzirem uma maior
concentração de vitaminas (A, C e E) e aminoácidos essenciais.
Redução do uso de agrotóxicos - O Brasil está entre os três maiores consumidores de agrotóxicos do
mundo. A medida que se produz plantas mais resistentes a ação de pragas como insetos, formigas,
fungos e vírus, ocorre uma redução natural na utilização de agrotóxicos para fazer a defesa da
lavoura.
Síntese de plásticos e outros materiais - Já se discute a possibilidade de se produzir plásticos
biodegradáveis a partir de polímeros de soja e fibra de cana-de-açúcar, tendo a participação de
bactérias geneticamente modificadas.
B - Malefícios - dentre os principais riscos mais contundentes promovidos pelos OGMs destacam-se:
A geração de novas pragas e plantas daninhas - a modificação das plantas poderá levar ao
surgimento de novas pragas uma vez que a nova planta passará a produzir substâncias nutritivas
diferentes que levarão ao aparecimento de novos parasitas antes não existentes. Do mesmo modo,
determinados genes podem passar através do pólen de uma transgênica para uma
filogeneticamente relacionada, resultado numa espécie nociva ao meio ambiente. Um caso já
conhecido ocorreu em 1996, quando os escoceses constataram que o pólen da uma variedade de
canola transgênica poderia ser achado em um raio de dois quilômetros. A canola (Brasica napus) é
parente de uma erva daninha, a Brasica campestris, e as duas espécies cruzam com certa facilidade.
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Danos a espécies não-alvos - através do transporte do pólen pelo vento, água, insetos, aves, poderá
ocorrer a contaminação de plantações não transgênicas (nativas) com os genes das modificadas,
levando a uma chamada poluição genética. No México, DNAs do milho transgênico foi encontrado
nas plantações, mesmo com a proibição desses produtos no país de origem desse cereal.
Alteração da dinâmica dos ecossistemas - a introdução de uma nova espécie em um meio e as
monoculturas podem levar ao desaparecimento de outras espécies da cadeia alimentar que
utilizavam o meio natural para a alimentação e reprodução.
Produção de substâncias tóxicas - isto pode ocorrer após a degradação incompleta de produtos
químicos perigosos codificados pelos genes modificados.
Perda da biodiversidade - a manipulação de genes poderá propiciar o aparecimento de novas
espécies melhores adaptadas ao meio ambiente. Isto poderá levar ao desaparecimento de espécies
mais frágeis em relação à adaptação ao meio ambiente, através de uma seleção "natural".
Oligopolização internacional do mercado de sementes - trata-se de um risco econômico decorrente
desse tipo de tecnologia. Hoje existem cinco empresas atuantes no setor de sementes GMs:
Monsanto, Syngenta, DuPont, Bayer Cropscience e Dow AgroSciences. Essas empresas
estabeleceram uma relação entre os transgênicos e a produção de fármacos. Dessa forma, vinculam
a venda dessas sementes à venda do agroquímico específico para a sua proteção, vendidos sob a
forma de um pacote pela empresa. Além disso, essas grandes empresas detentoras da patente das
sementes, podem passar a cobrar royalties das outras empresas que fizerem uso das sementes. Isso
tudo traria com consequência posterior, a provável exclusão dos pequenos agricultores.
Um outro aspecto interessante a ser abordado em relação aos transgênicos, é a questão a
segurança alimentar. Nesse enfoque, destacam-se dois pontos importantes: a toxidade e alergia.
Alguns alimentos como leite, ovos, pescados, crustáceos, trigo, nozes, soja e amendoim, possuem
um potencial alergênico natural. Dessa forma, a Organização Mundial de Saúde (OMS) desaconselha
a utilização de genes desses alimentos para experimentos com transgenia. Até hoje, os experimentos
mostraram que apenas 1% das pessoas que se alimentaram de OGMs apresentaram alguma reação
negativa em relação aos mesmos (FURTADO, 2003). Em face disso, a questão principal que envolve
os transgênicos não é necessariamente uma precaução em relação à saúde, mas os aspectos
políticos, econômicos, éticos e ambientais.
O processo de evolução e seleção natural tem sido responsável ao logo dos tempos pelas
modificações naturais dos seres vivos através de processos genéticos como mutações, interações
gênicas e outros. Na atualidade a biotecnologia tem exercido esse papel de uma forma que requer
reflexões e ponderações. Precisamos ter consciência que não existe tecnologia sem risco. Os
transgênicos, fruto da tecnologia, já são uma realidade inevitável a primeira vista.
No Brasil os alimentos transgênicos chegaram de forma ilegal e agora estão, passando por um
processo de legalização. Ainda é muito forte o movimento em oposição a esses alimentos. Isso é uma
consequência natural da falta de informações verídicas sobre os seus efeitos benéficos e maléficos.
Existem aspectos positivos que fazem com que os transgênicos sejam objeto de intensa especulação
por parte dos cientistas, empresários e políticos, porém, como foi visto, estamos ainda diante de um
processo de consolidação de uma nova tecnologia que pode produzir efeitos adversos. Poucas
pessoas sabem que, se bem utilizada, a engenharia genética tem um enorme potencial para dar mais
qualidade de vida às populações. No mundo em que vivemos, com uma população desse porte, é
impossível saciar a fome apenas através da coleta de alimentos. Não se trata de tentar acabar com a
fome através dos transgênicos, mas, ver neles um elemento a mais nessa luta pela sustentabilidade
na tão complicada rede de relações da sociedade humana.
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Atividade Agrícola Brasileira na Atualidade
Um dos pilares da economia brasileira desde os tempos coloniais, a agropecuária ostenta números
grandiosos no país, e o setor continua a crescer. O Brasil é o maior produtor mundial de vários itens da pauta
agrícola, como suco de laranja, açúcar, café e feijão e, na pecuária, é também o maior exportador de carne
bovina e de frango. O país é grande produtor e exportador de carne suína, de milho e de soja e seus
derivados. Nos últimos dez anos, a participação da agropecuária no total de exportações subiu de 2,82% para
14,17% e colocou o Brasil entre os cinco principais exportadores de alimentos do planeta.
Mesmo a crise econômica mundial iniciada em 2008, afetou pouco esse setor. O faturamento das
exportações agropecuárias em 2009 caiu apenas 9,8%, enquanto o dos demais produtos exportados pelo
Brasil, como minérios, teve forte queda de 30%. O volume exportado pelo campo caiu somente 0,4%, o que
mostra que os produtos foram vendidos por preços menores.
O Brasil é o segundo maior produtor de soja e de seus derivados (grão, óleo, farelo, o complexo soja),
e o grão manteve a liderança do ranking da agropecuária. A soja representou 26% do volume de exportações
em 2009, seguida pelas carnes, com 18%, e pelo complexo sucroalcooleiro, com 15%.
O país é também o maior exportador de carne bovina - os Estados Unidos são o maior produtor, mas
exportam menos. Entre 2003 e 2008, a receita com exportações no setor cresceu de 1 bilhão de dólares para
mais de 5 bilhões. O país é ainda o terceiro maior produtor e o maior exportador de carnes de aves e o
quarto em exportação de carne suína.
Apesar dos bons resultados apresentados nos últimos anos, a agropecuária brasileira terá de
enfrentar sérios desafios para manter a escalada produtiva. Internamente, há falta de silos para armazenar
os grãos após a colheita, além das dificuldades de transporte (estradas ruins) e da falta de portos secos,
locais para armazenar produtos antes do embarque ao exterior. A ampliação das plantações de soja e cana
também sofre limitações para preservar as matas nativas. No mercado externo, o Brasil tenta emplacar o
etanol como commodity, ou seja, torná-lo uma mercadoria negociada nas bolsas internacionais, com regras
padronizadas, o que poderia ampliar as exportações.
A principal característica da ocupação do território brasileiro, desde a colonização, tem sido a
distribuição desigual da terra e dos recursos naturais. O último Censo Agropecuário decenal do IBGE,
realizado em 2006 e divulgado no fim de 2009, mostrou uma tímida diminuição do índice de Gini, utilizado
pelo instituto para medir a concentração de terra. Em uma década, ele passou de 0,856 para 0,854 - quanto
mais próximo de 1, maior é a concentração. Os lotes de menos de 10 hectares representam apenas 2,7% da
área total das propriedades, e as que possuem mais de mil hectares concentram 43%.
O censo revelou que o país tem quase 5,2 milhões de imóveis rurais. A agricultura familiar representa
84,4% das propriedades agrárias brasileiras e ocupam uma área 24,3%. Já estabelecimentos não familiares
são 15,6% e ocupam 75,7%. A agropecuária familiar, apesar da pouca área, garante a produção dos
alimentos para o mercado interno, com a produção de 87% da mandioca, 70% do feijão, 46% do milho, 38%
do café, 34% do arroz e 58% do leite consumidos no país, segundo o IBGE.
A pecuária é a principal atividade de 44% das propriedades rurais e está presente em todas as
regiões. As áreas de lavouras aumentaram, com destaque para Centro Oeste (63,9%) e Norte (37,3%).
Observe que as duas regiões são justamente onde se expande a fronteira agrícola, ou seja, onde novas terras
são incorporadas à agropecuária. Estamos falando das franjas da Amazônia: esses números retratam a
expansão agrícola que provoca o desmatamento.
O agronegócio é responsável por cerca de um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) e tem grande
participação nos seguidos superávits da balança comercial. O agronegócio abrange a cadeia produtiva de
indústria e serviços ligada aos produtos da agropecuária: produção de equipamentos e serviços para o
campo e a transformação dos produtos, como as indústrias de alimentos e os frigoríficos.
A cadeia do agronegócio começa nas fábricas de tratores, de adubos e de ração animal. Em seguida,
estão a plantação ou a criação de animais, que são o centro da atividade. Depois, vêm às indústrias como as
de café em pó, que compram os grãos e os industrializam, ou as usinas de açúcar que transformam a cana
em açúcar ou álcool etc. No fim, há a logística da distribuição - do transporte à conservação das frutas, com
embalagens refrigeração, até chegar ao consumidor.
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Setor estratégico para o país e para o mundo, o agronegócio tem como grande entrave a
insuficiência da lnfraestrutura, o grande "gargalo" da produção. Em vez de explorar de forma equilibrada
rodovias, hidrovias e ferrovias, o Brasil transporta mais da metade de suas cargas pelas estradas, e essas, de
maneira geral, se encontram em condições precárias. Os produtores arcam com alto custo de transporte, o
que acaba encarecendo os produtos brasileiros.
Diferenças regionais e o êxodo rural
Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná têm a estrutura fundiária mais bem distribuída do país,
resultado da colonização por imigrantes europeus, que reproduziram o padrão agrário familiar do país de
origem. A Região Sul sobressai em razão de uma produção diversificada, com destaque para grãos, a
agroindústria de uvas, de aves e de suínos.
A Região Nordeste mantém patamares semelhantes ou superiores ao índice nacional de
concentração de terras, graças à história da economia escravista, às grandes propriedades pastoris do sertão
e às monoculturas de açúcar e algodão. São destaques as produções de cana-de-açúcar, tabaco, cacau, além
da soja e do algodão herbáceo.
A expansão da agricultura de grãos em grande escala - sobretudo soja e milho - e do algodão pelo
cerrado da Região Centro-Oeste reforçou a concentração de terras que já marcava a região pela pecuária
ultraextensiva.
Na Região Norte, a presença de grandes propriedades de soja, milho e pastagens, como no Pará,
contrasta com as pequenas áreas de posseiros e de ribeirinhos. Esses, com pesca e produção familiar,
basicamente de mandioca, utilizam os recursos dos rios e dos solos de várzea, fertilizados pelas cheias
sazonais.
Na Região Sudeste, há uma complexa rede de áreas de forte, média e pequena desigualdade na
concentração de terras. A produção é diversificada, e destacam-se a cana e a laranja no interior paulista e o
café e a agropecuária em Minas Gerais.
O aumento da mecanização no campo há décadas tem empurrado a população do campo para as
cidades. Desde 2003, a produção e a comercialização de tratores e outros tipos de maquinário não param de
crescer. A venda de máquinas agrícolas no país é um termômetro não só do crescimento da área plantada
como da diminuição do emprego de mão-de-obra. Em 1970, segundo os dados do censo do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pela primeira vez se registrou na história do país mais pessoas nas
cidades do que no campo.
A migração do trabalhador do campo para as cidades, chamada de êxodo rural, é um fenômeno
presente na sociedade brasileira nas últimas décadas e está ligado ao histórico de má distribuição das terras
e à modernização das técnicas de produção. Em 1950, a população rural somava 64% do total do país; em
1970, o número caiu para 44%; em 1996, apenas 22%. O Censo de 2000 indicou que mais de 80% dos
brasileiros viviam em áreas urbanas. Em 2010, 85% dos brasileiros vivem nas cidades.
O êxodo rural ocorre quando o lavrador não consegue mais viver bem no campo e enxerga a cidade
como a maneira de melhorar de vida. O IBGE apurou que a emigração de trabalhadores do campo está
caindo: foi maior de 1985 a 1995 (queda de 23%) do que no período mais recente, de 1996 a 2006 (queda de
7%).
Uma dificuldade para o pequeno produtor é a falta de orientação técnica. Ela beneficia os cultivos e
as criações em metade das terras, porém alcança só um quinto das propriedades, ou seja, existe sobretudo
para as propriedades maiores. O problema é grave, pois, do total de produtores agrários, quatro em cada
cinco cursaram o ensino fundamental. Proprietários e arrendatários têm níveis educacionais melhores,
enquanto assentados, parceiros, meeiros, ocupantes e produtores sem-terra são menos escolarizados. A
dificuldade para produzir acaba colaborando para o abandono da terra.
Biocombustíveis
Com o aumento das emissões de carbono, o consumo acelerado de petróleo e as altas em seu preço,
as nações desenvolvidas passaram a acelerar ações para substituir os combustíveis derivados de petróleo,
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como a gasolina, o querosene e óleo diesel, por biocombustíveis, como etanol de cana-de-açúcar ou de
milho e biodiesel. O Brasil tem muito a ganhar com isso, já que é o maior produtor de etanol feito com canade-açúcar, a um custo mais baixo que o etanol norte-americano, preparado à base de milho. O país também
é líder mundial na produção de biodiesel, combustível obtido de plantas oleaginosas - como mamona, dendê,
girassol, babaçu, soja e algodão.
Em 2009, um fator afetou diretamente esse segmento: o aumento do consumo mundial de açúcar e
a valorização de preço de 80% em relação a 2008. Como o Brasil é o maior produtor mundial de açúcar e
exporta 65% do que produz, o aumento levou as usinas a priorizar a produção de açúcar e a reduzir a de
etanol. As exportações do combustível diminuíram 1,5 bilhão de litros em relação à safra anterior, quando
haviam sido exportados quase 5 bilhões de litros. No mercado interno, a redução da produção e o
crescimento do consumo levaram ao aumento do preço do etanol nos postos de combustíveis.
A produção de cana-de-açúcar tem crescido nos últimos anos, impulsionada pelo interesse mundial
por etanol e pelo crescimento do consumo interno ocasionado pela fabricação de veículos com motores
flexfuel (combustível flexível). Em 2008, a safra foi recorde, com 571 milhões de toneladas de cana-de-açúcar
colhidas. Em 2009, houve um novo recorde, com 612,2 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional
de Abastecimento (Conab).
O etanol, porém, ainda não conseguiu o status de commodity internacional, o que deve favorecer as
exportações brasileiras. Um dos motivos é que a maioria das denúncias de trabalho escravo está
no setor sucroalcooleiro. Em 2008, dos 5.244 trabalhadores resgatados de trabalho escravo no país, 49%
estavam no setor sucroalcooleiro.
A decisão de ampliar a produção brasileira de etanol também envolve outros pontos importantes,
entre eles avaliar as implicações ambientais e sociais do plantio extensivo de um único vegetal. A
monocultura pode exaurir o solo com o tempo e reduzir a biodiversidade. A prática da queimada das folhas
da planta antes da colheita, além de poluir o ar, também causa sérios danos ao solo. A vinhaça (ou vinhoto),
resíduo das destilarias de álcool, pode contaminar os lençóis freáticos. Há ainda a preocupação de que áreas
destinadas à produção de alimentos sejam ocupadas pela cana, provocando redução na oferta de alimentos
e aumento dos preços. Também preocupa o avanço das plantações sobre áreas do cerrado e da Amazônia.
A supremacia da soja
No fim da década de 1960, dois fatores internos fizeram o Brasil investir na soja como um produto
comercial e se tornar, atualmente, um dos principais produtores no mercado mundial desse grão. Na época,
o trigo era o principal produto agrícola no sul do país, e, como é um cultivo de inverno, a soja havia surgido
como uma opção de cultura rotativa de verão nas mesmas fazendas. A produção de suínos e aves também
gerava demanda por farelo de soja como ração. O aumento do preço da soja no mercado mundial, em
meados de 1970, despertou ainda mais o interesse dos agricultores e do próprio governo brasileiro pelo
cultivo do grão. Assim, em vez de usar apenas sementes e técnicas importadas dos Estados Unidos,
começou-se a desenvolver a pesquisa para expandir a soja em nosso solo e clima. A última década ficou
marcada pela afirmação da cultura no Brasil, que passou a ser o segundo maior produtor mundial (atrás
apenas dos EUA), e a soja e seus derivados se tornaram o principal produto agrícola na pauta das
exportações brasileiras.
A produção do país em 2008/2009 foi de 57 milhões de toneladas em quase 22 milhões de hectares,
o que torna a soja a cultura que mais se expandiu na última década. O estado que mais produz é Mato
Grosso, com 18 milhões de toneladas, seguido do Paraná, com 9,5 milhões de toneladas, de acordo com a
Companhia Nacional do Abastecimento (Conab).
Segundo o Censo Agropecuário, para reduzir os custos de produção, quase metade dos produtores
optou pelo cultivo da soja transgênica no Brasil. Em 97% da área, a colheita foi realizada de forma totalmente
mecanizada. Na grande maioria das áreas plantadas foram usados adubação química (90%) e defensivos
químicos (inseticidas e pesticidas, 95%).
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Preservação ambiental
Um dos grandes desafios da agropecuária é diminuir seu impacto sobre o meio ambiente, evitando a
derrubada de matas e preservando as florestas nativas. De acordo com o Censo Agropecuário, houve
redução na área total das propriedades agrícolas em 23,6 bilhões de hectares no decênio medido (19962006), mas, dentro delas, as áreas com matas e florestas diminuíram 11%. Os estados onde isso mais
aconteceu foram Pará e Rondônia, na Região Norte, responsáveis por metade do desmatamento. No mesmo
período, 26,6% das pastagens naturais do país deram espaço à agricultura. Esse movimento de expansão
ocorre sobretudo nas regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte.
O Ministério do Meio Ambiente vem tentando ordenar a atividade dos produtores rurais,
especialmente dos pecuaristas, os principais acusados de derrubar florestas para vender a madeira e ampliar
as pastagens ou queimá-las para plantar soja. A mineração também tem sido uma das vilãs da devastação
ambiental. Quando realizado por queimadas, desmatamento lança gases que agravam efeito estufa.
Atualmente, as pastagens estendem-se como uma frente pecuarista para o interior do Pará, como
São Félix do Xingu contabilizando um dos maiores rebanhos do país, e provocam graves disputas ambientais
em Rondônia, no Acre e no Amazonas. Especialistas defendem a ideia de que utilizar melhor a terra já em
uso é uma das soluções de preservação, por exemplo, com a pecuária intensiva em lugar da extensiva e o
emprego de técnicas mais modernas para aumentar a produtividade.
Enquanto a Amazônia perdeu 735 mil quilômetros quadrados nos últimos sete anos, o cerrado
perdeu 835 mil quilômetros quadrados. A diferença, de 100 mil quilômetros quadrados, equivale a uma área
do tamanho de Santa Catarina, de acordo com estudo da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Apesar de os números indicarem a desaceleração do desmatamento nos dois biomas (no caso do
cerrado a redução chega a 60%), mais da metade da área do cerrado já foi destruída ou muito alterada pela
ação humana nos últimos 40 anos. Se antes a fronteira agrícola estava na Região Centro-Oeste, agora o
desmatamento ruma para o norte - chegando ao oeste da Bahia, sul do Piauí e Maranhão, leste do Tocantins,
norte de Mato Grosso e leste e sul do Pará.
Mato Grosso desmatou 11 mil quilômetros quadrados entre 2003 e 2009, o equivalente à metade da
área de Sergipe. A paisagem natural mais alterada é a de São Paulo: restam apenas 13% dos 80 mil
quilômetros quadrados do cerrado nativo que originalmente cobria um terço do estado. Além de guardar
uma diversidade biológica, o cerrado abriga oito das 12 bacias hidrográficas do Brasil. Sua localização central
elevada e a alta concentração de nascentes fazem com que cerca de 94% da água que corre na bacia do rio
São Francisco em direção ao Nordeste brote no cerrado - apesar de apenas 47% da bacia estar dentro do
bioma, segundo cálculos da Embrapa.
Além da poluição do ar e dos prejuízos à fauna e à flora, outros possíveis danos ambientais
acarretados pela agropecuária são a degradação do solo e a contaminação dos recursos hídricos. O Brasil é o
maior consumidor mundial de agrotóxicos. Conforme o Censo Agropecuário, mais de 1,5 milhão de
propriedades rurais usam agrotóxicos. Mais da metade (56%) dos que utilizam produtos químicos na
agricultura não segue orientação técnica e mais de 20% aplicam o veneno sem proteção.
O emprego excessivo de agrotóxicos e fertilizantes químicos afeta a qualidade dos alimentos para o
consumidor. Nos últimos anos, vê-se uma procura maior pelos produtos orgânicos, cultivados sem
agrotóxico. Nas metrópoles, a venda de verduras e legumes orgânicos tem destaque. Acontece que os
orgânicos são mais caros para o consumidor.
O país exporta produtos orgânicos para mais de 30 países, e os principais compradores são o Japão,
os Estados Unidos e a União Europeia. Entre os orgânicos exportados, destacam-se produtos in natura e
processados de soja, açúcar, arroz, café e cacau e os provenientes da pecuária e da criação de pequenos
animais (carnes, leite e derivados e mel) e do extrativismo (principalmente palmito).
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