Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Espaço Agrário – Professor: Tibério Mendonça A QUESTÃO AGRÁRIA NOS ANOS SETENTA E AS NOVAS TÉCNICAS DE PRODUÇÃO Determinadas maneiras de resolver a questão agrícola podem acabar agravando os problemas que dizem respeito à questão agrária. E que isso foi exatamente o que aconteceu no nosso país: a rápida industrialização da agricultura brasileira a partir dos anos sessenta agravou ainda mais a miséria de expressivos contingentes da nossa população. Mas ainda não especificamos as mudanças recentes ocorridas na agricultura brasileira, nem explicamos por que elas implicaram num agravamento da questão agrária. Para isso selecionamos três grandes modificações ocorridas que tenderão a marcar profundamente o comportamento da agricultura brasileira no futuro próximo: a) O fechamento de nossas fronteiras agrárias, envolvendo as questões de colonização da Amazônia e da participação da grande empresa pecuária deslocando a pequena produção agrícola; b) O Progresso acelerado de modernização da agricultura no Centro-Sul do país; c) A crescente presença do capitalismo monopolista no campo, ou seja, de grandes empresas industriais que passaram a atuar tanto diretamente na produção agropecuária propriamente dita, como fortaleceram sua presença no setor de comercialização e de fornecimento de insumos para a agricultura. Vamos detalhar as consequências de cada uma dessas transformações, para em seguida tentar uma análise das suas principais interdependências. O "fechamento" da fronteira agrícola: O padrão de crescimento da nossa agricultura supôs sempre uma variável fundamental: a incorporação de novas áreas à produção, ou seja, a existência de uma fronteira agrícola em expansão. A fronteira não é necessariamente uma região distante, vazia no aspecto demográfico. Ela é fronteira do ponto de vista do capital, entendido como relação social de produção. Não se deve pensar, pois, que a fronteira é algo externo ao "modelo agrícola" brasileiro, se é que podemos nos expressar assim. Ao contrário, a fronteira é simultaneamente condicionante e resultado do processo de desenvolvimento da agricultura brasileira. Vale dizer, a existência de "terras – sem - dono" na fronteira funciona como um regulador da intensificação de capital no campo, condicionando assim o seu desenvolvimento extensivo/intensivo. Em sentido contrário, o custo da intensificação de capital na agricultura determina o ritmo de incorporação produtiva das terras na fronteira. A expansão da fronteira vinha desempenhando pelo menos três funções básicas no "modelo agrícola" brasileiro. A primeira, no plano econômico, é que a fronteira era um "armazém" de gêneros alimentícios básicos, especialmente arroz e feijão. Quando a produção capitalista recuava por algum problema (seja de preço, seja de alteração climática), havia um suprimento do mercado nacional através do escoamento dos "excedentes" da pequena produção camponesa, funcionando como estabilizador dos preços. Quando, entretanto, a fronteira se "fecha", esse efeito de amortecimento tem que ser buscado na importação de produtos agrícolas e tabelamento dos preços. A segunda, diríamos no plano social é que a fronteira representava uma orientação dos fluxos migratórios, era o "locus" da recriação da pequena produção, ou seja, o destino das famílias camponesas expropriadas e dos excedentes populacionais. Quando a fronteira se "fecha", passa a haver uma multiplicação de pequenos fluxos migratórios e um grande contingente populacional passa a perambular desordenadamente por todo o país. www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 1 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Espaço Agrário – Professor: Tibério Mendonça A terceira função, digamos, no plano político é que a fronteira era a "válvula de escape" de tensões sociais no campo e projetos de colonização no Brasil sempre foram pensados politicamente como alternativas a uma reforma agrária que mudasse a estrutura de propriedade da terra nas regiões Nordeste e Centro-Sul. Na medida em que se aguçavam tensões sociais, conflitos potenciais, pressões políticas e econômicas, a fronteira aparecia como o "novo Eldorado" para os pequenos produtores. E hoje o que se vê é que a própria fronteira está se tornando uma região de conflitos sociais pela posse da terra. Quando dizemos que a fronteira está se fechando rapidamente, não estamos pensando no conceito clássico de que não há mais terras para serem incorporadas ao processo de produção. O "fechamento" não tem o sentido de utilização produtiva do solo, mas sim de que não há mais espaços que possam ser ocupados por pequenos produtores de subsistência (são esses espaços que estamos chamando de "terras – sem dono"). Na Amazônia o "fechamento" não se dá por uma ocupação no sentido clássico de expansão das áreas exploradas a partir de regiões mais antigas, onde a produção capitalista substitui a produção de subsistência, como se deu no Sudoeste do Paraná e no Sul de Mato Grosso. Pelo contrário, um "fechamento de fora para dentro", onde a importância da terra como meio de produção passa a um plano secundário, frente às funções de "reserva de valor" contra a corrosão inflacionária da moeda e de meio de acesso a outras formas de riqueza a ela associadas, como as madeiras de lei, os minérios, o acesso ao crédito farto e barato e aos benefícios fiscais. Em termos de seus reflexos para o futuro, dado que as terras da Amazônia foram apropriadas fundamentalmente como "reserva de valor", coloca-se então de como realizar esse valor; ou seja, como converter novamente a mercadoria terra em dinheiro, então como ocupá-la produtivamente de modo a obter um rendimento a partir da atividade agropecuárias. E preciso não esquecer que a terra funcionou também na Amazônia como "contrapartida" dos incentivos fiscais, num jogo contábil onde o imóvel foi supervalorizado, de modo a obter praticamente, "doações financeiras" do governo para projetos cuja grande maioria não passa ainda hoje de verdadeiras "vitrines", embora já tenha consumido a maior parte dos vultosos recursos previstos. Assim, ou o governo mantém a atual política de incentivos fiscais, ou uma fração insignificante desses projetos terá condições de chegar a bom termo. Por isso, existe atualmente uma tendência a se "reavaliar" esses projetos, numa operação em que os empresários ficariam com as "vitrines" que construíram com os incentivos fiscais e destinariam as áreas restantes para projetos de colonização. Assim, poderiam realizar o preço da terra, numa conjuntura onde a valorização da mesma parece estar perdendo o ímpeto inicial, além do que assegurariam mão-de-obra barata dos pequenos proprietários vizinhos e melhoramentos de infraestrutura. Evidentemente, será preciso que o governo entre para "bancar" o negócio, isto é, financie os investimentos de infraestrutura necessários. Isso pode ser muito atraente quando se procuram novos projetos-impacto que permitam captar dividendos políticos e sociais, como se pensava inicialmente lograr com a abertura da Transamazônica. Modernização do Centro-Sul É fato inegável que a modernização da agricultura, em especial a do Centro-Sul do país, se acelerou nos últimos anos. Mas é preciso destacar que esse processo não é completo, caracterizando o que se poderia chamar de uma modernização parcial da agricultura, num duplo sentido. De um porque essa modernização se restringe a alguns produtos e regiões. Não é necessário repetir que em função disso o café, a cana-de-açúcar, a soja, o trigo, etc., são chamados de "culturas de rico", ficando o feijão, o leite, a fava, grande parte do arroz e do milho conhecidos como "culturas de pobre". Tampouco é necessário enfatizar que o Centro-Sul do país não é somente a região que concentra a produção industrial, mas também a produção agrícola do país. São Paulo, por exemplo, conhecido por seu parque industrial, é também um dos estados mais importantes na produção agrícola do país. No outro sentido em que se poderia chamar a modernização da agricultura brasileira de parcial é que, mesmo em relação aos produtos e áreas específicas em que se faz presente se restringe a alguns produtos e regiões. Ela atingiu apenas algumas fases do ciclo produtivo. Por exemplo, as culturas tropicais www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 2 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Espaço Agrário – Professor: Tibério Mendonça como a cana, café, cacau e borracha não tinham a sua colheita mecanizada, seja por razões técnicas em alguns casos, e econômicas em outros. A modernização parcial da agricultura em especial do Centro-sul do país trás pelo menos três grandes reflexos para seu desempenho no futuro. O primeiro é que as disparidades regionais se acentuaram, não apenas entre as três macros regiões do país – Nordeste, Norte e Centro-sul, mas também dentro destas regiões. Diga-se de passagem, por exemplo, como ilustração das disparidades entre as regiões, que o Centro-Sul absorve hoje cerca de 80% das máquinas e equipamentos agrícolas e dos fertilizantes e defensivos, participação essa que vem tendendo a crescer com a incorporação das áreas de cerrados do planalto central. O segundo reflexo importante dessa modernização parcial é o crescimento da sazonalidade do trabalho agrícola. Isso porque a modernização não atingiu todas as fases do ciclo produtivo, especialmente a fase da colheita, que é uma das mais exigentes em termos de mão-de-obra, e também porque o progresso técnico se incrustou em determinadas áreas de monoculturas específicas, reforçando as oscilações sazonais próprias do calendário agrícola. Isso não só acelerou violentamente o êxodo rural, como também transformou as relações de trabalho nessas áreas. Assim, em algumas regiões do país, em certas épocas do ano há uma escassez temporária de mãode-obra, enquanto que em outras épocas, naquelas mesmas regiões, há acentuados índices de subemprego e de desemprego aberto. Em outros termos, a modernização parcial da agricultura tem significado não apenas uma menor expansão (ou até mesmo uma redução) dos níveis de emprego, mas, sobretudo um grande aumento do trabalho temporário no setor agrícola. Ressalte-se que esse aumento do trabalho temporário, representado pelo aumento (pelo menos relativo) do contingente dos assalariados temporários conhecidos como volantes, ou bóias-frias, tem significado uma redução no seu nível de renda familiar, dado que geralmente encontram trabalho em apenas metade dos dias úteis do ano. Isso vem obrigar à incorporação crescente de mulheres e crianças em idade escolar, especialmente por ocasião das atividades da colheita. O terceiro grande reflexo dessa modernização parcial da agricultura diz respeito ao que se poderia chamar de uma tendência à unificação do mercado de mão-de-obra não qualificada nas regiões de agricultura mais desenvolvida. Essa tendência pode ser traduzida no fato de os salários rurais passarem a acompanhar as variações dos salários urbanos, especialmente da mão-de-obra empregada na construção civil e nas demais atividades urbanas que exigem pouca qualificação. Essa unificação, se de um lado permite evitar um crescimento maior dos salários nos momentos de pico de demanda de mão-de-obra por parte das atividades agrícolas, de outro lado representa uma dificuldade crescente para a ação do Estado no sentido de minorar o subemprego. Nesse sentido, é importante salientar que a modernização, ainda que parcial da agricultura brasileira só têm sido possível graças à fundamental ação do Estado, subsidiando a aquisição de insumos, máquinas e equipamentos poupadores de mão-de-obra. A crescente presença do capital monopolista no campo A terceira importante modificação na agricultura brasileira, e que tende a refletir profundamente sobre o seu comportamento no futuro próximo, é a crescente presença dos grandes capitais no campo. Essa presença aumentou tanto do ponto de vista de sua participação na produção agropecuária propriamente dita, como também do ponto de vista da sua participação controlando o processamento dos produtos agrícolas e a venda dos insumos adquiridos pelos agricultores. Podemos dizer que a renda do produtor rural, especialmente do pequeno, nas regiões de agricultura mais desenvolvida, encontra-se duplamente prensada De um lado, pela compra de insumos agrícolas num mercado oligopolista, isto é, onde existem alguns poucos grandes vendedores que controlam os preços de venda, os quais vão ser os custos do agricultor. Do outro lado, pela venda de sua produção em mercados onde há relativamente poucos compradores e/ou em que há uma tendência ao fortalecimento de apenas um grande comprador. Essa articulação entre vendedores de insumos, pequenos produtores e grandes compradores dos produtos agrícolas ocorre sob as mais variadas formas. Por vezes é o caso das redes de supermercados que www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 3 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Espaço Agrário – Professor: Tibério Mendonça passam a comprar diretamente dos produtores ou das cooperativas, que desempenham também aí o papel de vendedoras de insumos, como acontece nos hortifrutigranjeiros em geral. Outras vezes é o caso das agroindústrias que estabelecem contratos diretamente com os pequenos produtores, como é o caso do tomate, do fumo e de outras atividades de alto risco e que são bastante exigentes em termos de mão-deobra por ocasião dos tratos culturais. Em outros ainda, o pequeno produtor se vê preso em sistemas de comercialização que foram teoricamente criados para favorecê-lo e se converteram numa fórmula mais eficiente de espoliá-lo, como é o caso dos CEASAs (que acabaram fortalecendo os grandes intermediários) e as cooperativas que acabaram representando apenas interesses próprios ou de uma minoria de grandes cooperados. Essa articulação entre o grande capital industrial e/ou comercial e a pequena produção modifica fundamentalmente o papel que até então esta desempenhava na agricultura brasileira. De um lado, esses pequenos produtores deixam de ser produtores de subsistência, no sentido de ofertarem o "excedente" e passam a produzir fundamentalmente para o mercado. E agora, como pequenos produtores mercantis, não se ligam necessariamente à produção de gêneros de subsistência, dedicando-se muitas vezes também às chamadas "culturas de rico". Parece-nos evidente, portanto, que a "velha" agricultura, entendida como um "setor autônomo" tende gradativamente a desaparecer. A agricultura do futuro, tal como já se esboça hoje em algumas regiões do país, será apenas mais um ramo da indústria, com pequenas especificidades ligadas ao papel desempenhado pela terra como meio de produção. A Biotecnologia dos Transgênicos A biotecnologia é o conjunto de técnicas e procedimentos para produzir alimentos, remédios, cosméticos. Embora geralmente se fale apenas dos modernos produtos dos laboratórios, a biotecnologia existe há muito tempo e só recentemente incorporou os transgênicos entre os produtos que gera. No início do século XX, a palavra biotecnologia teria sido usada pela primeira vez pelo engenheiro Karl Erecky da Hungria. Entretanto, a aplicação de técnicas biotecnológicas já era conhecida desde 1800 a.C., para fabricação de vinho, pão, cerveja, queijo e outros produtos através da fermentação. Nos últimos 30 anos, a biotecnologia teve formidável avanço, abrindo novas oportunidades de crescimento para diversos setores da economia, entre os quais se destaca a agricultura, e tem como maior desafio o uso sustentável de nossa biodiversidade. A biotecnologia é uma ferramenta tecnológica adicional para a agricultura. Ela impulsiona o crescimento do agronegócio nos países onde já são produzidos alimentos através dessa técnica e têm exercido um papel importante para aumentar a produtividade e atender a demanda por alimentos de uma população em contínuo crescimento. Aliás, em qualquer setor da economia, o que alavanca a competitividade das empresas é a tecnologia. É a tecnologia que reduz os custos, aumentando a qualidade e a produtividade, e coloca os produtos ao alcance do gosto e do bolso do consumidor de dentro e de fora do país. Até 2050 a população mundial deverá alcançar 11 bilhões de pessoas, o que vai exigir que, no mínimo, seja dobrada a produção de alimentos e, de preferência, sem aumentar drasticamente a área plantada, minimizando assim o impacto sobre nossa biodiversidade. Não há outro caminho senão o uso de tecnologias que permitam maior produtividade por unidade de área. O Brasil será parte fundamental para suprir considerável parcela de alimentos que o mundo demandará e terá que adotar ações sustentáveis para preservar nossos ecossistemas. A revolução verde iniciada nos anos 1960 trouxe, para o mundo, aumento na produção de alimentos, mas o uso abusivo de insumos também acarretou problemas como a contaminação ambiental e de saúde. No momento atual, a biotecnologia tem a responsabilidade de também aumentar essa produção sem, no entanto, provocar efeitos irreparáveis ao ambiente. Os transgênicos, ou Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), são aqueles com material genético alterado pelo homem através da transferência de um gene de uma espécie para outra. Eles surgiram a bem pouco tempo, na década de 70, e rapidamente alcançaram o mundo, www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 4 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Espaço Agrário – Professor: Tibério Mendonça principalmente os alimentos. Apesar disso, ainda é grande a polêmica em tomo do assunto. Da medicina, a biotecnologia passou para a agricultura, onde proliferou. A discussão sobre esses alimentos está longe de alcançar consenso. Enquanto para alguns a nova tecnologia é uma certeza de desenvolvimento, para outros ainda deve ser esclarecido sobre os reais impactos no meio ambiente, na saúde, política, economia e bioética de cada país. No Brasil, os transgênicos chegaram de forma clandestina e hoje tomaram-se uma realidade. Proibir ou aceitar? Seria esse o dilema a ser resolvido. Cautela é a palavra que deve ser o princípio desse processo, uma vez que não existe tecnologia sem riscos. A busca incessante por uma vida melhor tem levado o homem a enveredar pelo campo do conhecimento científico de forma ilimitada. A genética, após a descoberta de Mendel, passou por transformações abruptas no decorrer das décadas. A engenharia genética vem ganhando um destaque dentro do campo da ciência, na economia e política. Isso tem acontecido em decorrência do enorme potencial de transformação nos mais diversos campos da humanidade. Os Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), tem sido, nos últimos anos, palco de muitas especulações, equívocos e acertos. Os transgênicos, que na verdade são OGMs, tem aparecido com maior frequência na vida de muitas pessoas nos mais distantes países do globo terrestre. Isso tem feito com que os pesquisadores se debrucem sobre os seus instrumentos de pesquisa para que possam produzir um conhecimento mais seguro e assim, apresentarem uma melhor aceitação. A necessidade de se analisar cada aspecto: econômico, social, ético, político e ambiental é algo que precisa ocorrer de forma emergencial. A questão no momento não é ser a favor ou contra os transgênicos, pois eles aí já o estão, seja na forma legal ou na clandestinidade. www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 5 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Espaço Agrário – Professor: Tibério Mendonça O homem e o processo de produção dos alimentos O processo de transformação dos alimentos ocorreu no período Neolítico quando o homem começou a dominar a agricultura. Há 12 mil anos, período em que as temperaturas médias da terra estavam em elevação e a agricultura brotava numa faixa ao longo do Mediterrâneo oriental, alguns grupos provavelmente discutiam a questão dos alimentos e a sua relação com Deus. A ideia que os alimentos silvestres poderiam ter sido semeados por deuses e assim, cresciam por toda a parte, começava a perdurar de forma substanciosa. Em contrapartida, aqueles alimentos cultivados passaram a ser vistos como frutos do desejo humano e, essa forma, terminavam por contrariar as leis da natureza. A partir da domesticação da agricultura e com a insurgência do feudalismo, houve a desenvolvimento do domínio sobre as plantas e os animais, elevando dessa forma a oferta de alimentos. Esses dois fatores foram responsáveis pela elevação da expectativa de vida, resultando num crescimento demográfico. Com a descoberta da América no século XV, houve uma ampliação da oferta de novos alimentos, especialmente milho e batata. A batata foi amplamente utilizada como alimento nos primeiros anos da revolução industrial, posteriormente o milho alcança o mesmo status, sendo hoje um dos alimentos mais consumidos em todo o mundo. Hoje a Terra com uma população de cerca de 7 bilhões de pessoas só pode ser alimentada, mesmo de forma insatisfatória, através de técnicas de produção agrícola, resultado de uma continua pesquisa na área. Para tanto tivemos que arcar com o ônus dos impactos ambientais como desmatamentos, queimadas, erosão e outros. Assim, percebe-se que a transformação dos alimentos ao longo das gerações contribui de forma decisiva para a instalação e permanência de muitas comunidades por todo o planeta, além de promover mudanças significativas, levando a um enriquecimento do valor nutritivo de diversos alimentos. De acordo com Capozzoli (2003, p.35). Quanto à oferta de alimentos, mesmo na Amazônia a disponibilidade de frutos silvestres foi influenciada pela presença humana. A pupunha, uma das mais populares da região, há 10 mil anos não superava os 2 gramas de peso, contra os 200 gramas atuais. Foi a domesticação da pupunha que possibilitou esse desenvolvimento, segundo investigações feitas no Instituto nacional de Pesquisas da Amazônia (lupa). E ainda hoje, toda uma diversidade de frutas da floresta resulta de semeaduras feitas por populações indígenas. A floresta não é o Éden que ocupa o imaginário urbano. Na década de 1950 veio a "revolução verde" e com ela uma imensa quantidade de modificações para a agricultura. A utilização do maquinário em larga escala juntamente com o uso de insumos agrícolas e agrotóxicos levaram a uma produção industrial que alavancou todo o processo de globalização dos alimentos. O Surgimento dos Organismos geneticamente Modificados (OGMs) Os OGMs surgiram em 1973 quando os cientistas Cohen e Boyer, que coordenavam um grupo de pesquisas em Stanford e na University of Califórnia davam o passo inicial para o mundo da transgenia. Eles conseguiram transferir um gene de rã para uma bactéria, o primeiro experimento ocorrido com sucesso usando a técnica do DNA recombinante. Essa técnica posteriormente passou a ser chamada de engenharia genética. De acordo com Furtado (2003, p. 28) "Essa conquista tem sido comparada à domesticação do fogo e à descoberta da fissão nuclear, entre outros eventos de grande impacto sobre o destino humano". Não é de hoje que o homem vem manipulando a vida através da domesticação, melhoramento e cruzamento de animais e plantas. Registros mostram que isso já ocorria a mais de dez mil anos, www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 6 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Espaço Agrário – Professor: Tibério Mendonça embora sempre existiram as barreiras, umas naturais (diferenças entre espécies) e as humanas (cultura, ética, religião). Na década de 70, ocorrem mudanças bruscas nesse contexto, com o desenvolvimento da engenharia genética e a descoberta da tecnologia do DNA recombinante (Fragmento de DNA incorporado artificialmente à molécula de DNA de um vetor de clonagem que pode ser amplificado em um organismo diversas vezes. Desta forma, grande quantidade do DNA em questão pode ser obtida. O DNA inserido no vetor de clonagem usualmente contém o gene de interesse) foi possível ultrapassar a barreira das espécies. Essa tecnologia permite uma modificação direta do genoma de um ser vivo, seja pela introdução de um novo gene de origem externa, ou mesmo, a inativação de um gene ora existente. Uma vez realizado esse processo, o organismo modificado passará a produzir a substância de comando do novo gene recebido, o que possibilita, de certa forma, mudanças na qualidade dos alimentos. OGMs e Transgênicos: uma questão de semântica Convencionalmente utilizam-se os termos OGMs e transgênicos como sinônimos. Porém Existe uma diferença técnica entre ambos. Os OGMs, são organismos que foram modificados com a introdução de um ou mais genes provenientes de um ser vivo da mesma espécie do organismo de alvo. Um exemplo típico de OGM é o tomate Flavr savr, que foi modificado geneticamente para apresentar um processo de maturação mais lento, de modo a permitir que os frutos possam ser colhidos maduros ainda na planta. Isso faz com que a qualidade nutricional e de acondicionamento sejam melhores. Essa técnica de modificação consiste em isolar uma determinada sequência de genes do próprio fruto e depois inseri-Ia em sentido inverso, no próprio fruto. Assim, tem-se um OGM e não um transgênico. O termo transgênico foi termo usado pela primeira vez em 1983, na Universidade da Pensilvânia, quando dois cientistas inseriram genes humanos de hormônios de crescimento em embriões de ratos, produzindo os chamados "super ratos". A palavra transgênico é utilizada para designar um ser vivo que foi modificado geneticamente, recebendo um gene ou uma sequência gênica de um ser vivo de espécie diferente. Para a execução de tal processo utiliza-se a tecnologia DNA recombinante. Como exemplos de transgênicos temos uma imensa gama de alimentos consumidos diariamente em diversos países sem que se tenha ciência dos processos de produção. A Disseminação dos transgênicos pelo mundo A biotecnologia é, hoje, um dos principais campos dentro do conhecimento da ciência. O processo de globalização possibilitou o desenvolvimento do comércio de sementes entre as mais diversas economias do planeta. No campo dos transgênicos, houve uma disseminação em larga escala pelo planeta. De acordo com Guerrante (2003 p. 7). As primeiras plantas geneticamente modificadas foram desenvolvidas a partir de 1983, quando um gene codificante para resistência a um antibiótico foi introduzido em plantas de fumo. As primeiras autorizações para plantio experimental de culturas GMs ocorreram na China, em 190, e se referiam ao tabaco e ao tomate resistentes a vírus. Entre os países desenvolvidos, no entanto, a primeira aprovação para uso comercial de plantas geneticamente modificadas só ocorreu em 1992, nos Estados Unidos, com o tomate Flavr savr e, posteriormente, em 1994 com a soja Roundup ready. As primeiras plantas geneticamente modificadas foram desenvolvidas a partir de 1983, quando um gene codificante para resistência a um antibiótico foi introduzido em plantas de fumo. As primeiras autorizações para plantio experimental de culturas GMs ocorreram na China, em 1990, e se referiam ao tabaco e ao tomate resistentes a vírus. Entre os países desenvolvidos, no entanto, a primeira www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 7 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Espaço Agrário – Professor: Tibério Mendonça aprovação para uso comercial de plantas geneticamente modificadas só ocorreu em 1992, nos Estados Unidos, com o tomate Flavr savr e, posteriormente, em 1994 com a soja Roundup ready. Dai por diante, essa tecnologia adquiriu asas e alçou vôo para o planeta. "Em 1996, havia 1,6 hectares de transgênicos em todo o mundo; em 2002, o número pulou para 58,7 milhões de hectares" CAMORIM, 2003, p.41). No Brasil, onde a produção de grãos cresceu 100%, enquanto a área plantada cresceu 12%, esta proeza é o resultado da crescente utilização de tecnologias modernas, sobretudo as associadas a programas de melhoramento de plantas, que vêm gerando variedades mais adaptadas de acordo com as especificidades geoambientais. Somos o segundo maior produtor de soja do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Juntamente com a Argentina, somos responsáveis por 90% da produção mundial. "De 2000 a 2003, verificou-se no país um aumento de 5% para 32% desses componentes (OGMs) em grãos, sucos, sopas, salsichas, temperos, entre outros itens analisados" (MARCELINO et al 2004, p. 34). As principais culturas geneticamente modificadas mais comercializadas no mundo inteiro são: "soja (63%), milho (19%), algodão (12%), canola (5%), mamão, batata e abóbora (1%)... os países maiores produtores de transgênicos por percentual são: Estados Unidos (64%), Brasil (21,4%), Argentina (21,3%), Canadá (8,2%), China (3,7%). www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 8 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Espaço Agrário – Professor: Tibério Mendonça Aplicação dos transgênicos nos seres vivos O surgimento dos transgênicos possibilitou avanços significativos nos mais diversos ramos das ciências biomédicas. Eles oferecem subsídios para aprofundamento nas pesquisas em citologia, expressão gênica e a genética molecular. No campo da medicina influenciou e tem influenciado os trabalhos no campo das doenças hereditárias e na oncologia. Na biotecnologia os organismos geneticamente modificados (bactérias, fungos, plantas e muitos animais) podem funcionar como biorreatores para a produção de proteínas. De acordo com Guerrante (op, cit., p. 10) A tecnologia do DNA recombinante trouxe a possibilidade de produzir plantas geneticamente modificadas para expressarem determinadas características de interesse. Nos vegetais, a modificação genética se dá por meio da inserção de um ou mais genes no genoma das sementes, de modo a fazer com que estas passem a produzir determinadas proteínas, responsáveis pela expressão de características do interesse do vegetal. Os vegetais transgênicos podem ser classificados em três gerações, segundo a ordem cronológica de aparecimento das culturas e a característica apresentada por cada geração como mostra Guerrante (op. Cit, p.10). 1ª Geração - Estão reunidas as plantas geneticamente modificadas com características agronômicas resistentes a herbicida, a pestes e a vírus. Formam o primeiro grupo de plantas modificadas. Foram disseminadas nos campos na década de 80 e até hoje compõem o grupo de sementes GMs mais comercializadas no mundo. 2a Geração - Nesse grupo estão incluídas as plantas cujas características nutricionais foram melhoradas tanto quantitativamente como qualitativamente. Compreende um grupo de plantas pouco difundido no mundo, porém, os campos experimentais já são significativos. www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 9 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Espaço Agrário – Professor: Tibério Mendonça 3ª Geração - Representado por um grupo de plantas destinadas à síntese de produtos especiais, como vacinas, hormônios, anticorpos e plásticos. Estes vegetais estão em fase de experimentação e brevemente estarão no mercado. Principais riscos e benefícios dos OGMs A – Benefícios - como exemplos dos principais benefícios advindos da utilização dos transgênicos, temse: Aumento da produtividade das colheitas - algo ainda bastante discutido pelas mais diversas camadas dos cientistas. Porém a análise de alguns casos mostra que os OGMs produzem mais que os convencionais. Um caso interessante a ser destacado é o trabalho desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), em que foi introduzido no feijão um gene do vírus responsável pelas viroses que prejudicavam a lavoura levando a uma redução de 40% a 60% da produção. Dessa forma, pode-se obter até 100% da produção, dependendo do período do cultivo em que ocorre a infestação. Tolerância das plantas a condições adversas de solo e clima - O estresse provocado por déficit hídrico, alta concentração salina nos solos e baixas temperaturas vem sendo alvo de diversos estudos. Determinados genes foram introduzidos em plantas de soja e de trigo com a finalidade de obter maior tolerância ao déficit hídrico. Isto pode constituir uma alternativa para o desenvolvimento da região Nordeste do Brasil. Aumenta a produção de fármacos - A produção de fármacos em plantas e animais geneticamente modificados desponta como um campo imenso de fertilidade. Nos Estados Unidos, existem no mercado ou em fase final de teste mais de 300 fármacos produzidos com o uso da engenharia genética. A grande maioria tem sido produzido em bactérias, leveduras ou células animais. Aumento do potencial nutricional dos alimentos - A engenharia genética tem se preocupado com a questão da desnutrição no planeta. Dessa forma, tem modificado plantas para produzirem uma maior concentração de vitaminas (A, C e E) e aminoácidos essenciais. Redução do uso de agrotóxicos - O Brasil está entre os três maiores consumidores de agrotóxicos do mundo. A medida que se produz plantas mais resistentes a ação de pragas como insetos, formigas, fungos e vírus, ocorre uma redução natural na utilização de agrotóxicos para fazer a defesa da lavoura. Síntese de plásticos e outros materiais - Já se discute a possibilidade de se produzir plásticos biodegradáveis a partir de polímeros de soja e fibra de cana-de-açúcar, tendo a participação de bactérias geneticamente modificadas. B - Malefícios - dentre os principais riscos mais contundentes promovidos pelos OGMs destacam-se: A geração de novas pragas e plantas daninhas - a modificação das plantas poderá levar ao surgimento de novas pragas uma vez que a nova planta passará a produzir substâncias nutritivas diferentes que levarão ao aparecimento de novos parasitas antes não existentes. Do mesmo modo, determinados genes podem passar através do pólen de uma transgênica para uma filogeneticamente relacionada, resultado numa espécie nociva ao meio ambiente. Um caso já conhecido ocorreu em 1996, quando os escoceses constataram que o pólen da uma variedade de canola transgênica poderia ser achado em um raio de dois quilômetros. A canola (Brasica napus) é parente de uma erva daninha, a Brasica campestris, e as duas espécies cruzam com certa facilidade. www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 10 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Espaço Agrário – Professor: Tibério Mendonça Danos a espécies não-alvos - através do transporte do pólen pelo vento, água, insetos, aves, poderá ocorrer a contaminação de plantações não transgênicas (nativas) com os genes das modificadas, levando a uma chamada poluição genética. No México, DNAs do milho transgênico foi encontrado nas plantações, mesmo com a proibição desses produtos no país de origem desse cereal. Alteração da dinâmica dos ecossistemas - a introdução de uma nova espécie em um meio e as monoculturas podem levar ao desaparecimento de outras espécies da cadeia alimentar que utilizavam o meio natural para a alimentação e reprodução. Produção de substâncias tóxicas - isto pode ocorrer após a degradação incompleta de produtos químicos perigosos codificados pelos genes modificados. Perda da biodiversidade - a manipulação de genes poderá propiciar o aparecimento de novas espécies melhores adaptadas ao meio ambiente. Isto poderá levar ao desaparecimento de espécies mais frágeis em relação à adaptação ao meio ambiente, através de uma seleção "natural". Oligopolização internacional do mercado de sementes - trata-se de um risco econômico decorrente desse tipo de tecnologia. Hoje existem cinco empresas atuantes no setor de sementes GMs: Monsanto, Syngenta, DuPont, Bayer Cropscience e Dow AgroSciences. Essas empresas estabeleceram uma relação entre os transgênicos e a produção de fármacos. Dessa forma, vinculam a venda dessas sementes à venda do agroquímico específico para a sua proteção, vendidos sob a forma de um pacote pela empresa. Além disso, essas grandes empresas detentoras da patente das sementes, podem passar a cobrar royalties das outras empresas que fizerem uso das sementes. Isso tudo traria com consequência posterior, a provável exclusão dos pequenos agricultores. Um outro aspecto interessante a ser abordado em relação aos transgênicos, é a questão a segurança alimentar. Nesse enfoque, destacam-se dois pontos importantes: a toxidade e alergia. Alguns alimentos como leite, ovos, pescados, crustáceos, trigo, nozes, soja e amendoim, possuem um potencial alergênico natural. Dessa forma, a Organização Mundial de Saúde (OMS) desaconselha a utilização de genes desses alimentos para experimentos com transgenia. Até hoje, os experimentos mostraram que apenas 1% das pessoas que se alimentaram de OGMs apresentaram alguma reação negativa em relação aos mesmos (FURTADO, 2003). Em face disso, a questão principal que envolve os transgênicos não é necessariamente uma precaução em relação à saúde, mas os aspectos políticos, econômicos, éticos e ambientais. O processo de evolução e seleção natural tem sido responsável ao logo dos tempos pelas modificações naturais dos seres vivos através de processos genéticos como mutações, interações gênicas e outros. Na atualidade a biotecnologia tem exercido esse papel de uma forma que requer reflexões e ponderações. Precisamos ter consciência que não existe tecnologia sem risco. Os transgênicos, fruto da tecnologia, já são uma realidade inevitável a primeira vista. No Brasil os alimentos transgênicos chegaram de forma ilegal e agora estão, passando por um processo de legalização. Ainda é muito forte o movimento em oposição a esses alimentos. Isso é uma consequência natural da falta de informações verídicas sobre os seus efeitos benéficos e maléficos. Existem aspectos positivos que fazem com que os transgênicos sejam objeto de intensa especulação por parte dos cientistas, empresários e políticos, porém, como foi visto, estamos ainda diante de um processo de consolidação de uma nova tecnologia que pode produzir efeitos adversos. Poucas pessoas sabem que, se bem utilizada, a engenharia genética tem um enorme potencial para dar mais qualidade de vida às populações. No mundo em que vivemos, com uma população desse porte, é impossível saciar a fome apenas através da coleta de alimentos. Não se trata de tentar acabar com a fome através dos transgênicos, mas, ver neles um elemento a mais nessa luta pela sustentabilidade na tão complicada rede de relações da sociedade humana. www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 11 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Espaço Agrário – Professor: Tibério Mendonça Atividade Agrícola Brasileira na Atualidade Um dos pilares da economia brasileira desde os tempos coloniais, a agropecuária ostenta números grandiosos no país, e o setor continua a crescer. O Brasil é o maior produtor mundial de vários itens da pauta agrícola, como suco de laranja, açúcar, café e feijão e, na pecuária, é também o maior exportador de carne bovina e de frango. O país é grande produtor e exportador de carne suína, de milho e de soja e seus derivados. Nos últimos dez anos, a participação da agropecuária no total de exportações subiu de 2,82% para 14,17% e colocou o Brasil entre os cinco principais exportadores de alimentos do planeta. Mesmo a crise econômica mundial iniciada em 2008, afetou pouco esse setor. O faturamento das exportações agropecuárias em 2009 caiu apenas 9,8%, enquanto o dos demais produtos exportados pelo Brasil, como minérios, teve forte queda de 30%. O volume exportado pelo campo caiu somente 0,4%, o que mostra que os produtos foram vendidos por preços menores. O Brasil é o segundo maior produtor de soja e de seus derivados (grão, óleo, farelo, o complexo soja), e o grão manteve a liderança do ranking da agropecuária. A soja representou 26% do volume de exportações em 2009, seguida pelas carnes, com 18%, e pelo complexo sucroalcooleiro, com 15%. O país é também o maior exportador de carne bovina - os Estados Unidos são o maior produtor, mas exportam menos. Entre 2003 e 2008, a receita com exportações no setor cresceu de 1 bilhão de dólares para mais de 5 bilhões. O país é ainda o terceiro maior produtor e o maior exportador de carnes de aves e o quarto em exportação de carne suína. Apesar dos bons resultados apresentados nos últimos anos, a agropecuária brasileira terá de enfrentar sérios desafios para manter a escalada produtiva. Internamente, há falta de silos para armazenar os grãos após a colheita, além das dificuldades de transporte (estradas ruins) e da falta de portos secos, locais para armazenar produtos antes do embarque ao exterior. A ampliação das plantações de soja e cana também sofre limitações para preservar as matas nativas. No mercado externo, o Brasil tenta emplacar o etanol como commodity, ou seja, torná-lo uma mercadoria negociada nas bolsas internacionais, com regras padronizadas, o que poderia ampliar as exportações. A principal característica da ocupação do território brasileiro, desde a colonização, tem sido a distribuição desigual da terra e dos recursos naturais. O último Censo Agropecuário decenal do IBGE, realizado em 2006 e divulgado no fim de 2009, mostrou uma tímida diminuição do índice de Gini, utilizado pelo instituto para medir a concentração de terra. Em uma década, ele passou de 0,856 para 0,854 - quanto mais próximo de 1, maior é a concentração. Os lotes de menos de 10 hectares representam apenas 2,7% da área total das propriedades, e as que possuem mais de mil hectares concentram 43%. O censo revelou que o país tem quase 5,2 milhões de imóveis rurais. A agricultura familiar representa 84,4% das propriedades agrárias brasileiras e ocupam uma área 24,3%. Já estabelecimentos não familiares são 15,6% e ocupam 75,7%. A agropecuária familiar, apesar da pouca área, garante a produção dos alimentos para o mercado interno, com a produção de 87% da mandioca, 70% do feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz e 58% do leite consumidos no país, segundo o IBGE. A pecuária é a principal atividade de 44% das propriedades rurais e está presente em todas as regiões. As áreas de lavouras aumentaram, com destaque para Centro Oeste (63,9%) e Norte (37,3%). Observe que as duas regiões são justamente onde se expande a fronteira agrícola, ou seja, onde novas terras são incorporadas à agropecuária. Estamos falando das franjas da Amazônia: esses números retratam a expansão agrícola que provoca o desmatamento. O agronegócio é responsável por cerca de um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) e tem grande participação nos seguidos superávits da balança comercial. O agronegócio abrange a cadeia produtiva de indústria e serviços ligada aos produtos da agropecuária: produção de equipamentos e serviços para o campo e a transformação dos produtos, como as indústrias de alimentos e os frigoríficos. A cadeia do agronegócio começa nas fábricas de tratores, de adubos e de ração animal. Em seguida, estão a plantação ou a criação de animais, que são o centro da atividade. Depois, vêm às indústrias como as de café em pó, que compram os grãos e os industrializam, ou as usinas de açúcar que transformam a cana em açúcar ou álcool etc. No fim, há a logística da distribuição - do transporte à conservação das frutas, com embalagens refrigeração, até chegar ao consumidor. www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 12 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Espaço Agrário – Professor: Tibério Mendonça Setor estratégico para o país e para o mundo, o agronegócio tem como grande entrave a insuficiência da lnfraestrutura, o grande "gargalo" da produção. Em vez de explorar de forma equilibrada rodovias, hidrovias e ferrovias, o Brasil transporta mais da metade de suas cargas pelas estradas, e essas, de maneira geral, se encontram em condições precárias. Os produtores arcam com alto custo de transporte, o que acaba encarecendo os produtos brasileiros. Diferenças regionais e o êxodo rural Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná têm a estrutura fundiária mais bem distribuída do país, resultado da colonização por imigrantes europeus, que reproduziram o padrão agrário familiar do país de origem. A Região Sul sobressai em razão de uma produção diversificada, com destaque para grãos, a agroindústria de uvas, de aves e de suínos. A Região Nordeste mantém patamares semelhantes ou superiores ao índice nacional de concentração de terras, graças à história da economia escravista, às grandes propriedades pastoris do sertão e às monoculturas de açúcar e algodão. São destaques as produções de cana-de-açúcar, tabaco, cacau, além da soja e do algodão herbáceo. A expansão da agricultura de grãos em grande escala - sobretudo soja e milho - e do algodão pelo cerrado da Região Centro-Oeste reforçou a concentração de terras que já marcava a região pela pecuária ultraextensiva. Na Região Norte, a presença de grandes propriedades de soja, milho e pastagens, como no Pará, contrasta com as pequenas áreas de posseiros e de ribeirinhos. Esses, com pesca e produção familiar, basicamente de mandioca, utilizam os recursos dos rios e dos solos de várzea, fertilizados pelas cheias sazonais. Na Região Sudeste, há uma complexa rede de áreas de forte, média e pequena desigualdade na concentração de terras. A produção é diversificada, e destacam-se a cana e a laranja no interior paulista e o café e a agropecuária em Minas Gerais. O aumento da mecanização no campo há décadas tem empurrado a população do campo para as cidades. Desde 2003, a produção e a comercialização de tratores e outros tipos de maquinário não param de crescer. A venda de máquinas agrícolas no país é um termômetro não só do crescimento da área plantada como da diminuição do emprego de mão-de-obra. Em 1970, segundo os dados do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pela primeira vez se registrou na história do país mais pessoas nas cidades do que no campo. A migração do trabalhador do campo para as cidades, chamada de êxodo rural, é um fenômeno presente na sociedade brasileira nas últimas décadas e está ligado ao histórico de má distribuição das terras e à modernização das técnicas de produção. Em 1950, a população rural somava 64% do total do país; em 1970, o número caiu para 44%; em 1996, apenas 22%. O Censo de 2000 indicou que mais de 80% dos brasileiros viviam em áreas urbanas. Em 2010, 85% dos brasileiros vivem nas cidades. O êxodo rural ocorre quando o lavrador não consegue mais viver bem no campo e enxerga a cidade como a maneira de melhorar de vida. O IBGE apurou que a emigração de trabalhadores do campo está caindo: foi maior de 1985 a 1995 (queda de 23%) do que no período mais recente, de 1996 a 2006 (queda de 7%). Uma dificuldade para o pequeno produtor é a falta de orientação técnica. Ela beneficia os cultivos e as criações em metade das terras, porém alcança só um quinto das propriedades, ou seja, existe sobretudo para as propriedades maiores. O problema é grave, pois, do total de produtores agrários, quatro em cada cinco cursaram o ensino fundamental. Proprietários e arrendatários têm níveis educacionais melhores, enquanto assentados, parceiros, meeiros, ocupantes e produtores sem-terra são menos escolarizados. A dificuldade para produzir acaba colaborando para o abandono da terra. Biocombustíveis Com o aumento das emissões de carbono, o consumo acelerado de petróleo e as altas em seu preço, as nações desenvolvidas passaram a acelerar ações para substituir os combustíveis derivados de petróleo, www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 13 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Espaço Agrário – Professor: Tibério Mendonça como a gasolina, o querosene e óleo diesel, por biocombustíveis, como etanol de cana-de-açúcar ou de milho e biodiesel. O Brasil tem muito a ganhar com isso, já que é o maior produtor de etanol feito com canade-açúcar, a um custo mais baixo que o etanol norte-americano, preparado à base de milho. O país também é líder mundial na produção de biodiesel, combustível obtido de plantas oleaginosas - como mamona, dendê, girassol, babaçu, soja e algodão. Em 2009, um fator afetou diretamente esse segmento: o aumento do consumo mundial de açúcar e a valorização de preço de 80% em relação a 2008. Como o Brasil é o maior produtor mundial de açúcar e exporta 65% do que produz, o aumento levou as usinas a priorizar a produção de açúcar e a reduzir a de etanol. As exportações do combustível diminuíram 1,5 bilhão de litros em relação à safra anterior, quando haviam sido exportados quase 5 bilhões de litros. No mercado interno, a redução da produção e o crescimento do consumo levaram ao aumento do preço do etanol nos postos de combustíveis. A produção de cana-de-açúcar tem crescido nos últimos anos, impulsionada pelo interesse mundial por etanol e pelo crescimento do consumo interno ocasionado pela fabricação de veículos com motores flexfuel (combustível flexível). Em 2008, a safra foi recorde, com 571 milhões de toneladas de cana-de-açúcar colhidas. Em 2009, houve um novo recorde, com 612,2 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O etanol, porém, ainda não conseguiu o status de commodity internacional, o que deve favorecer as exportações brasileiras. Um dos motivos é que a maioria das denúncias de trabalho escravo está no setor sucroalcooleiro. Em 2008, dos 5.244 trabalhadores resgatados de trabalho escravo no país, 49% estavam no setor sucroalcooleiro. A decisão de ampliar a produção brasileira de etanol também envolve outros pontos importantes, entre eles avaliar as implicações ambientais e sociais do plantio extensivo de um único vegetal. A monocultura pode exaurir o solo com o tempo e reduzir a biodiversidade. A prática da queimada das folhas da planta antes da colheita, além de poluir o ar, também causa sérios danos ao solo. A vinhaça (ou vinhoto), resíduo das destilarias de álcool, pode contaminar os lençóis freáticos. Há ainda a preocupação de que áreas destinadas à produção de alimentos sejam ocupadas pela cana, provocando redução na oferta de alimentos e aumento dos preços. Também preocupa o avanço das plantações sobre áreas do cerrado e da Amazônia. A supremacia da soja No fim da década de 1960, dois fatores internos fizeram o Brasil investir na soja como um produto comercial e se tornar, atualmente, um dos principais produtores no mercado mundial desse grão. Na época, o trigo era o principal produto agrícola no sul do país, e, como é um cultivo de inverno, a soja havia surgido como uma opção de cultura rotativa de verão nas mesmas fazendas. A produção de suínos e aves também gerava demanda por farelo de soja como ração. O aumento do preço da soja no mercado mundial, em meados de 1970, despertou ainda mais o interesse dos agricultores e do próprio governo brasileiro pelo cultivo do grão. Assim, em vez de usar apenas sementes e técnicas importadas dos Estados Unidos, começou-se a desenvolver a pesquisa para expandir a soja em nosso solo e clima. A última década ficou marcada pela afirmação da cultura no Brasil, que passou a ser o segundo maior produtor mundial (atrás apenas dos EUA), e a soja e seus derivados se tornaram o principal produto agrícola na pauta das exportações brasileiras. A produção do país em 2008/2009 foi de 57 milhões de toneladas em quase 22 milhões de hectares, o que torna a soja a cultura que mais se expandiu na última década. O estado que mais produz é Mato Grosso, com 18 milhões de toneladas, seguido do Paraná, com 9,5 milhões de toneladas, de acordo com a Companhia Nacional do Abastecimento (Conab). Segundo o Censo Agropecuário, para reduzir os custos de produção, quase metade dos produtores optou pelo cultivo da soja transgênica no Brasil. Em 97% da área, a colheita foi realizada de forma totalmente mecanizada. Na grande maioria das áreas plantadas foram usados adubação química (90%) e defensivos químicos (inseticidas e pesticidas, 95%). www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 14 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Espaço Agrário – Professor: Tibério Mendonça Preservação ambiental Um dos grandes desafios da agropecuária é diminuir seu impacto sobre o meio ambiente, evitando a derrubada de matas e preservando as florestas nativas. De acordo com o Censo Agropecuário, houve redução na área total das propriedades agrícolas em 23,6 bilhões de hectares no decênio medido (19962006), mas, dentro delas, as áreas com matas e florestas diminuíram 11%. Os estados onde isso mais aconteceu foram Pará e Rondônia, na Região Norte, responsáveis por metade do desmatamento. No mesmo período, 26,6% das pastagens naturais do país deram espaço à agricultura. Esse movimento de expansão ocorre sobretudo nas regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte. O Ministério do Meio Ambiente vem tentando ordenar a atividade dos produtores rurais, especialmente dos pecuaristas, os principais acusados de derrubar florestas para vender a madeira e ampliar as pastagens ou queimá-las para plantar soja. A mineração também tem sido uma das vilãs da devastação ambiental. Quando realizado por queimadas, desmatamento lança gases que agravam efeito estufa. Atualmente, as pastagens estendem-se como uma frente pecuarista para o interior do Pará, como São Félix do Xingu contabilizando um dos maiores rebanhos do país, e provocam graves disputas ambientais em Rondônia, no Acre e no Amazonas. Especialistas defendem a ideia de que utilizar melhor a terra já em uso é uma das soluções de preservação, por exemplo, com a pecuária intensiva em lugar da extensiva e o emprego de técnicas mais modernas para aumentar a produtividade. Enquanto a Amazônia perdeu 735 mil quilômetros quadrados nos últimos sete anos, o cerrado perdeu 835 mil quilômetros quadrados. A diferença, de 100 mil quilômetros quadrados, equivale a uma área do tamanho de Santa Catarina, de acordo com estudo da Universidade Federal de Goiás (UFG). Apesar de os números indicarem a desaceleração do desmatamento nos dois biomas (no caso do cerrado a redução chega a 60%), mais da metade da área do cerrado já foi destruída ou muito alterada pela ação humana nos últimos 40 anos. Se antes a fronteira agrícola estava na Região Centro-Oeste, agora o desmatamento ruma para o norte - chegando ao oeste da Bahia, sul do Piauí e Maranhão, leste do Tocantins, norte de Mato Grosso e leste e sul do Pará. Mato Grosso desmatou 11 mil quilômetros quadrados entre 2003 e 2009, o equivalente à metade da área de Sergipe. A paisagem natural mais alterada é a de São Paulo: restam apenas 13% dos 80 mil quilômetros quadrados do cerrado nativo que originalmente cobria um terço do estado. Além de guardar uma diversidade biológica, o cerrado abriga oito das 12 bacias hidrográficas do Brasil. Sua localização central elevada e a alta concentração de nascentes fazem com que cerca de 94% da água que corre na bacia do rio São Francisco em direção ao Nordeste brote no cerrado - apesar de apenas 47% da bacia estar dentro do bioma, segundo cálculos da Embrapa. Além da poluição do ar e dos prejuízos à fauna e à flora, outros possíveis danos ambientais acarretados pela agropecuária são a degradação do solo e a contaminação dos recursos hídricos. O Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos. Conforme o Censo Agropecuário, mais de 1,5 milhão de propriedades rurais usam agrotóxicos. Mais da metade (56%) dos que utilizam produtos químicos na agricultura não segue orientação técnica e mais de 20% aplicam o veneno sem proteção. O emprego excessivo de agrotóxicos e fertilizantes químicos afeta a qualidade dos alimentos para o consumidor. Nos últimos anos, vê-se uma procura maior pelos produtos orgânicos, cultivados sem agrotóxico. Nas metrópoles, a venda de verduras e legumes orgânicos tem destaque. Acontece que os orgânicos são mais caros para o consumidor. O país exporta produtos orgânicos para mais de 30 países, e os principais compradores são o Japão, os Estados Unidos e a União Europeia. Entre os orgânicos exportados, destacam-se produtos in natura e processados de soja, açúcar, arroz, café e cacau e os provenientes da pecuária e da criação de pequenos animais (carnes, leite e derivados e mel) e do extrativismo (principalmente palmito). www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 15 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Espaço Agrário – Professor: Tibério Mendonça REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA AMORIM, CRISTINA. Transgênicos: os dois lados da moeda. Revista Galileu. n. 148, Novembro de 2003. ARAGÃO, FRANCISCO J. L. Melhoramento de plantas: o panorama nacional. Revista Ciência Hoje. v.34, n. 203. Abril, 2004. CONWAY, G. 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