URBANISMO UNITÁRIO: CONTRIBUIÇÃO DA INTERNACIONAL
SITUACIONISTA (I.S.) PARA COMPREENSÃO DO MEIO URBANO
Erahsto Felício de SOUSA[1]
[email protected]
Orientador: Luiz Henrique do Santos Blume[2]
[email protected]
A arquitetura é o meio mais simples de articular o tempo e o
espaço, de modular a realidade, de fazer sonhar. Não se trata
apenas de articulação e de modulação plástica, expressão
fugaz da beleza. Mas de modulação influencial, que se
inscreve na eterna curva dos desejos humanos e do progresso
na realização desses desejos. (IVAIN, 1958) [3]
O desejo de construir ambientes próprios e se libertar da alienação
natural (morte, fome, sede...) faz os humanos sonharem com a criação de
espaços próprios de si. A cidade após a Revolução Industrial, expressão social
máxima do capitalismo, vem se apresentando como o ambiente ícone da nova
civilização global. Estudar, questionar e reinventá-la tornou-se a aspiração não
apenas dos urbanistas e arquitetos, mas também de indivíduos que são
artistas, marginais de rua e “doutores em nada”.
A I.S., apesar de pouco conhecida pelos estudiosos de urbanismo e
ciências sociais, se aproxima muito de grandes momentos e idéias que hoje
discutimos. Os eventos de “Maio de 68” na França, que alguns historiadores
chamam de revolução dos estudantes, e as concepções das novas teorias com
respeito à vida cotidiana, como Michel de Certeau e Henri LeFebvre[4], são
dois bons exemplos das influências desse grupo que formou uma revista
européia de 1957 até 1972. Mas o que discutiremos aqui é a forma de
conceber a cidade, a crítica das teorias urbanas realizadas por eles e a certa
contribuição com a História.
O interesse pelo estudo das cidades cresceu com o “desenvolvimento” do
espaço urbano quando da Revolução Industrial. Os estudos das cidades
apresentaram sempre eixos diferentes: a religião, a política, a economia, a
literatura, etc. Por exemplo, Walter Benjamin em suas andanças por Paris
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(outros) trabalhadores e a cidade.
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soube ver a “Paris dos livros literários” e a “Paris das ruas”. Seus métodos,
mais do que devaneios, tornaram-se uma forma de análise que possibilitava
uma maior apropriação dos terrenos e das condições sociais. Em uma leitura
das cidades é possível observar espaços belos e feios, e estes podem nos
apontar o lugar das classes em uma cidade, mas há mais entre os bairros
belos e feios do que possa crer nossa vã urbana geografia.
Mas o que levaram marginais de rua, pessoas dispostas a não trabalhar e
não se submeterem à academia, a se interessar pela cidade? Constant nos
responde que
a necessidade de construir rapidamente, e em grande número,
cidades inteiras, necessidade provocada pela industrialização
dos países subdesenvolvidos e pela aguda crise habitacional
do pós-guerra, levou o urbanismo a uma posição de destaques
entre os atuais problemas da cultura. (CONSTANT, 1959)
Esse problema cultural se intensificava pelo monopólio da construção das
cidades por parte dos urbanistas, e pela idéia funcionalista de cidade. Essa
teoria urbana, o funcionalismo, apontava que o urbanismo poderia mudar toda
uma sociedade, e inclusive evitar a revolução. Bom exemplo disto é Le
Corbusier que escreve e Por uma arquitetura[5] que a arquitetura e o
urbanismo podem evitar a revolução, sinal de uma teoria urbana amplamente
utilizada nas reconstruções no pós-guerra pela economia capitalista.
Tanto o movimento surrealista quanto seu antecessor dadaísta tinham
preocupações com a noção vigente de arte. Seus herdeiros vão superar os
questionamentos artísticos e deslocá-los para a questão urbana e política,
como afirma o pintor dinamarquês Jorn na revista Potlatch de nº 15: “a
arquitetura é o ponto final na realização de qualquer esforço artístico, porque a
criação
arquitetônica
implica
na
construção
de
um
ambiente
e
o
estabelecimento de um modo de vida” (JORN, 1954).
É este misto de crítica ao funcionalismo, superação da arte, criação de
situações e revolução cotidiana que vai unir em 1957 na localidade de Cosio
d’Arrosca, os grupos Internacional Letrista, Associação Psicogeográfica de
Londres, MIBI (Movimento Internacional por uma Bauhaus Imaginista) –
movimento posterior ao Cobra (Copenhague, Bruxelas, Amsterdã) –, em um
movimento situacionista. “O termo situacionista, no sentido da Internacional
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Situacionista, é exatamente o contrário do que se chama agora em português
um ‘situacionista’, isto é, um partidário da situação existente” (IS, 1964). A idéia
era sair da passividade, não se submeter às situações vigentes e sim construir
situações mais do que necessárias, satisfatórias.
Podemos afirmar que poucos levaram acabo uma minuciosa crítica do
meio urbano como estes marginais à academia que lutavam contra o trabalho,
pesquisavam e escreviam a revista Internationale Situationniste. Essa crítica,
que Paola Jacques não chama de teoria urbana, mas de teoria urbana crítica
(INTERNACIONAL SITUACIONISTA, 2003), se configurou no Urbanismo
Unitário – “teoria do emprego conjunto de artes e técnicas que concorrem para
a construção integral de um ambiente em ligação dinâmica com experiências
de comportamento” (IS, 1958).
Contrários ao funcionalismo, estes grupo queria que a sociedade
desviasse o urbanismo e a arquitetura e os utilizassem para construir
situações, ou seja, provocar a revolução. A crítica categórica ia mais longe,
enquadrava a atividade do planejador como crime:
Se o planejador não pode conhecer as motivações
comportamentais daqueles a quem vai propiciar moradia nas
melhores condições de equilíbrio nervoso, mais vale integrar
desde já o urbanismo no centro das pesquisas criminológicas.
(VANEIGEM, 1961)
O mesmo autor que escreveu esses “Comentários Contra o Urbanismo”,
Raul Vaneigem, junto com Attilla Kotanyi vai igualar o urbanismo a uma
ideologia e denunciá-lo como ferramenta do capital contra a emancipação
humana:
O urbanismo não existe: não passa de uma "ideologia", no
sentido definido por Marx. A arquitetura existe realmente tanto
quanto a Coca-Cola: é uma produção envolta em ideologia,
mas real, satisfazendo falsamente uma necessidade forjada;
ao passo que o urbanismo é comparável ao alarido publicitário
em torno da coca-cola, pura ideologia espetacular. (KOTANYI
e VANEIGEM, 1961)
Já o Urbanismo Unitário é a luta contra o espetáculo (passividade), contra
a não apropriação da situação por parte dos sujeitos. O ambiente que é criado
com a força de trabalho dos proletários está disposto, pois, contra eles. A idéia
situacionista acrescenta a categoria espetáculo no discurso de Ronilk que
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considera a cidade uma construção humana, uma representação dos fazeres
individuais e coletivos de pessoas simples que buscaram na vida em sociedade
uma melhor forma de vida (RONILK, 1994).
Discutindo em “Outra cidade para outra Vida”, Constant nos diz que “um
estudo profundo dos meios de criação de ambiências e da influência
psicológica dessas ambiências é uma de nossas tarefas atuais” (CONSTANT,
1959).
Essa
influência
a
qual
Constant
se
refere
são
as
zonas
psicogeográficas, ou seja, zonas em que fatores psicológicos estão dispostos
na geografia urbana. A psicogeografia é o “estudo dos efeitos exatos do meio
geográfico, conscientemente planejado ou não, que agem diretamente sobre o
comportamento afetivo dos indivíduos” (IS, 1958). O funcionalismo ignora
totalmente a psicogeografia, sobretudo, por não reconhecer o valor da vivência
prática dos eternos transeuntes, os moradores e os marginais das ruas. A
marginalidade sabe deslocar cada lugar de sua história e colocá-los a serviço
de sua sobrevivência. Assim os espaços nunca obedecerão a sua finalidade
original, pois agora pertencem ao jogo de seduções da própria luta de classes.
O que se discute aqui não é apenas a construção de cidades, mas seu uso.
Uma zona psicogeográfica pode subscrever sentimentos totalmente
diferentes, a depender da motivação de sua construção. Tomemos dois
exemplos, o de uma favela e de um bairro industrial: o primeiro ambiente foi
construído pelos próprios habitantes, sem a construção ou planejamento dos
burgueses, assim o ambiente construído estará disposto conforme a
necessidade coletiva e poderá criar zonas de liberdade – vide tráfico de drogas,
associação de moradores, movimento hip-hop, quadras de samba, etc; já no
segundo caso o bairro foi construído ou pela indústria que explorará a força de
trabalho dos habitantes ou pelo Estado, e consistirá em criar um ambiente
propício para que os indivíduos tenham mais interesse e motivação para o
trabalho.
Para estudar os fenômenos psicogeográficos é preciso utilizar o
procedimento conhecido como Deriva, que é o “modo de comportamento
experimental ligado às condições da sociedade urbana: técnicas da passagem
rápida por ambiências variadas” (IS, 1958). Apesar de parecer apenas um
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rumar sem direção, este modelo experimental é base para apreender cada
signo inscrito nas plásticas de uma cidade. E como estamos discutindo o meio
urbano, a deriva também passa a ser uma forma de estudar e usar este
(aproxima-se muito da idéia de Febvre sobre o direito à cidade[6]).
Uma ou várias pessoas que se dediquem à deriva estão
rejeitando (...) os motivos de se deslocar e agir que costumam
ter com amigos no trabalho e no lazer, para entregar-se às
solicitações do terreno e das pessoas que venham a encontrar.
(DEBORD, 1958)
A deriva não é apenas um método de estudo, mas é, sobretudo, um jogo
de realizações com as próprias ruas. Um procedimento que só pôde ser
constituído como base de um estudo do meio urbano graças a sua origem no
meio marginal. Debord, um dos fundadores da I.S. e autor de A Sociedade do
Espetáculo, sugere em seu livro “Panegírico” que se não fosse a convivência
com os guetos parisienses seria impossível realizar tantos procedimentos
experimentais (DEBORD, 2002). Neste caso o aprendizado é realizado com
ladrões, prostitutas, mendigos... No libelo “A Miséria do Meio Estudantil”
publicado em 1966, Mustapha Kayati ressalta que os estudantes hoje têm
menos a aprender com seus professores, do que com os marginais de rua,
“cuja lucidez é maior” (IS, 2002). Assim, o estudo urbano situacionista é
praticamente uma apologia a estes marginais que vivem do desvio dos
elementos urbanos.
Uma vez conhecendo os efeitos psicológicos em uma cidade é possível
construir uma crítica ao modelo urbano apresentado e conhecer a vivência
social dos habitantes em suas relações cotidianas. Trata-se de pensar na
deriva consciente como mais uma fonte no leque de uma nova história urbana.
Ressaltar que os elementos da psicogeografia muitas vezes podem dizer mais
sobre o comportamento das ruas e dos atores do que muitos documentos
tradicionais. Aqui sugerimos um desvio do conhecimento experimental
situacionista para a aventura numa história ainda a ser produzida. De modo
que as derivas situacionistas eram ao mesmo tempo um procedimento e uma
crítica da visão urbana. De um lado os urbanistas viam os habitantes apenas
como estatísticas; e de outro as ciências humanas acabavam por não dar
atenção aos indivíduos enquanto atores conscientes na cultura e na economia.
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A deriva consegue observar os indivíduos em suas relações cotidianas e em
suas relações com seu meio, assegurava não só o lócus urbano, mas os
signos desse na vida dos indivíduos. Essa preocupação aproxima-se muito do
pensamento de Lepetit em seu artigo “A História Leva os Atores a Sério?”,
onde se questiona a concepção da macroeconomia e das mentalidades com
respeito à formulação da História, pois na opinião do autor, ambas não
privilegiam os atores em suas relações conscientes no cotidiano (LEPETIT,
2001). Voltaremos a isto adiante.
Mas retornemos ao Urbanismo Unitário. O seu entendimento sobre o
desvio inconsciente por parte dos habitantes sugere que os figurantes mudam
seu ambiente mesmo que não apelem para uma completa remodelação do
espaço. Porém o que se busca não é, como afirma Certeau, as mudanças
diante da necessidade da construção cultural, mas um consciente desvio
(détournement) – “abreviação da expressão: desvio de elementos estéticos
pré-fabricados. Integração de produções artísticas (...) em uma construção
superior do ambiente” (IS, 1958) – conforme a satisfação coletiva. Pois
diferente dos urbanistas que consideram a cidade como o espaço funcional da
vida humana, a I.S. entende que a cidade deve ser o ambiente voltado para o
prazer e libertação do humano, no caso o jogo.
Era seguro que da mesma forma que as preocupações com a arte se
deslocaram para o urbanismo, as preocupações urbanísticas se deslocariam
para a esfera da revolução total da vida cotidiana. O fato da maior parte do
grupo se envolver com a vida dos guetos europeus e da sobrevivência feita de
desvio pelos marginais, deu a eles a peça fundamental para uma crítica segura
do capitalismo. Não se tratavam de acadêmicos falando do alto da
universidade para a baixa do submundo, mas de indivíduos que fugiam da
polícia francesa, vezes por “vandalismo”, que preferiam chamar de ação direta
na cultura – Debord dizia conhecer todas as polícias da Europa, na prática –,
vezes por ser, por exemplo, como Khatib, imigrante norte-africano proibidos em
setembro de 1958 de estar nas ruas francesas depois das 21h30min – o que
gerou a paralisação de várias pesquisas no âmbito da deriva noturna. Essa
condição de sujeitos das ruas promoveu uma das maiores críticas ao
capitalismo que é a sua forma espetacular mercantil. Se nas ruas os moradores
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assistem passivos à construção de suas moradias, na sociedade em geral os
indivíduos aceitam a construção de toda sua vida. O espetáculo se refere à
passividade no qual o espectador se relaciona com uma realização que não é
própria de si.
Podemos ir mais longe. Todos os estudos situacionistas eram práticas
políticas. Não se pesquisava a cidade por outro motivo que não modificá-la,
usá-la. Admirador de Charles Fourier, o então estudante belga Raul Vaneigem
ignorou os médios e longos prazos dos projetos de ambientação de urbanistas
clássicos. Era preciso pensar prioritariamente em realizar imediatamente
nossas satisfações através da construção de ambiência. A cidade como
ambiente coletivo não poderia ser planejada por qualquer indivíduo – daí o
afastamento do holandês Constant do grupo, por sua insistência em criar a
Nova Babilônia. Eram as ações conscientes, coletivas e ininterruptas que
deveria construir as cidades. Em a “Arte de Viver Para as Novas Gerações”
Vaneigem vai dialogar diretamente com a questão dos atores. Para ele não é
possível pensar em uma nova geração situacionista quando os atores ainda
são intermediados por invenções capitalistas (VANEIGEM, 2002). Não se
tratava apenas – como sugere Lepetit – de privilegiar a ação consciente dos
indivíduos, e sim de ser um desses indivíduos criando situações.
A ação consciente na cultura, a pesquisa pragmática, e a realização das
satisfações nunca desmereceram as considerações de Marx sobre a economia,
ou os projetos de realizações imediatas dos guetos sobre a cultura. A cultura é
vista como
reflexo e prefiguração, em cada momento histórico, das
possibilidades de organização da vida cotidiana; complexo da
estética, dos sentimentos e dos costumes, pelo qual uma
coletividade reage sobre a vida que lhe é objetivamente dada
pela economia. (IS, 1958)
Considerando o termo possibilidades é que a pesquisa urbana tem um
sentido de ação direta na cultura. Alguns exemplos elucidam melhor a questão:
1) O movimento Provos em Amsterdã contra a remodelação do centro da
cidade para ambientá-la para os carros, no qual Constant e outros
situacionistas participaram, levou em consideração tanto a discussão sobre
psicogeografia, como a crítica ao trânsito como um motor da economia
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capitalista; 2) o movimento de Maio de 68 ligado diretamente ao libelo “A
Miséria do Meio Estudantil”, moveu toda periferia parisiense que já se
envolvera em estudos psicogeográficos como o de Les Halles; 3) a adoção da
deriva experimental por outros movimentos pelo mundo como os tropicalistas
no Brasil (Jacques 2003). O estudo urbano situacionista nunca objetivou virar
livro acadêmico, mas contribuir com a transformação contra-cultural das
ambiências.
Estudar a vida cotidiana seria uma tarefa ridícula, e condenada
a nada apreender de seu objeto, se tal proposta não fosse
explicitamente a de estudar a vida cotidiana para transformá-la.
(DEBORD, 1961)
Neste trecho, parte de uma palestra feita por meio de um gravador para
o grupo de estudos da vida cotidiana do CNRS reunidos por LeFebvre, Debord
insere a discussão sobre o devir da pesquisa situacionista. Esse devir irá
resultar em uma contribuição banal e necessária para História. Os mapas
psicogeográficos situacionistas nos dão uma noção de cidade muito diferente
da habitual. Os lugares se aproximam conforme suas zonas climáticas e não
conforme sua proximidade espacial. A cidade não apresenta um limite bem
definido, mas um vago limite que depende mais da relação dos sujeitos com o
ambiente do que propriamente as construções. As derivas traziam sempre
novos elementos às descrições da cidade, e se diferenciavam das descrições
geográficas da cidade justamente por se preocupar com a influência da
plástica. Podiam ser descritas em derivas ambiências propícias para o tráfico
de drogas, as prostituições, o lazer infantil, a feira livre, o jogo nas praças. Mas
os questionamentos da deriva constroem uma via de mão dupla: como estas
ambiências influenciam os sujeitos e como os sujeitos influenciam as
ambiências? Ler estas descrições é ir além do simples jogo das métricas e das
ações coletivas, mas é ver o próprio sujeito desviando a ambiência ou sendo
“desviado” por ela.
Neste caso essa via de mão dupla é o ponto comum que Lepetit em seu
artigo A Cidade Moderna na França. Ensaio de História Imediata: “a relação
indissociável entre grupos sociais e configuração material da cidade”
(LEPETIT, 2001). Perfeita preocupação na construção de uma história urbana
que precisa de novos elementos para ser pensada enquanto categoria
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pluridisciplinar. Pois não é suficiente apenas dispormos de uma história que
organize elementos para construir seus métodos, mas que crie novos métodos
para suas novas demandas. Porém é preciso que fique claro o valor do criar:
“criar não é arrumar objetos e formas, mas é inventar novas leis a respeito
desse arranjo” (DEBORD, 1957). Assim os relatórios psicogeográficos de
derivas se dispõem como uma nova fonte para a elaboração de uma Nova
História
Urbana
do
Tempo
Presente,
na
qual
não
se
rejeita
a
pluridisciplinaridade que abraça os horizontes da psicogeografia e que utiliza
elementos de um desvio não apenas para escrever, principalmente porque a
cidade não é só para estudar, e sim para modificar. O Urbanismo Unitário
oferece a História não apenas novos elementos para um estudo, mas novas
motivações para que a História seja também uma vivenciadora – construtora de
situações – e uma idéia contra o espetáculo.
Apesar de não ultrapassar os 70 membros, e de nunca ter mais de 12
membros ao mesmo tempo, a I.S. publicou 12 números de sua revista e tem
até hoje contribuído com as discussões e intervenções coletivas urbanas.
Mesmo que pouco conhecida, ainda é muito atual, e a necessidade de discutíla vem da certeza que os problemas urbanos não findaram e continuam a criar
novos vitimados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENJAMIN, Walter. Magia e tecnica, arte e politica: ensaios sobre literatura e
historia da cultura / Obras escolhidas ; volume 1. São Paulo: Brasiliense, 1996.
CERTEAU, Michel. A Invenção do Cotidiano I. Petrópolis (RJ): Vozes, 1997.
CORBUSIER, Le. Por uma arquitetura. São Paulo: Perspectiva, 2004.
DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto,
1997.
LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo: Documentos, 1969.
JACQUES, Paola (org.). Apologia da deriva: escritos situacionistas sobre a
cidade / INTERNACIONAL SITUACIONISTA. Rio de Janeiro: Casa da Palavra,
2003.
LEPETIT, Bernard. Por uma Nova História Urbana/ SALGUEIRO, Heliana
Angotti (org). São Paulo: EDUSP, 2001.
INTERNACIONAL SITUACIONISTA. Situacionista:
revolução. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2002.
teoria
e
prática
da
VANEIGEM, Raul. A Arte de Viver para as Novas Gerações. São Paulo:
ANAIS do III Encontro Estadual de História: Poder, Cultura e Diversidade – ST 08: Dobrando esquinas:
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Conrad Editora do Brasil, 2002.
NOTAS:
[1] Discente do curso de licenciatura em História da UESC.
[2] Mestre em História Social pela PUC/SP e professor do Departamento de
Filosofia e Ciências Humanas da UESC.
[3] O livro Apologia da deriva organizado por Paola Jacques contém vários
artigos de números da revista Internacional Situacionista sobre cidade, muitas
das citações deste ensaio estão encontram-se neste livro. Para orientar sobre a
autoria do texto citado a referência às citações das décadas de 1950 e 1960
obedece ao autor e ano de publicação nas revistas contidas neste livro.
[4] LeFebvre chegou a pesquisar com a IS, e contribuído com sua teoria dos
momentos na construção das idéias sobre situações, mas logo virou alvo da
crítica da IS, por fazer uma “ficção científica da revolução”. Já Michel de
Certeau escrevia em jornal em pleno Maior de 68, onde circularam textos e
membros da IS de forma corriqueira, em seu livro A Invenção do Cotidiano I ele
chega a fazer referência ao livro A Sociedade do Espetáculo de Debord, que
juntamente com outros materiais situacionistas certamente contribuíram para
compreensão de território e da relação sujeito/cidade.
[5] Le Corbusier foi um dos importantes influenciadores da arquitetura
moderna, participante dos CIAM’s (Congresso Internacional de Arquitetura
Moderna) até se tornar parte da crítica de um grupo de arquiteto antes do CIAM
X que discutiu uma arquitetura crítica e voltada ao social.
[6] A idéia do direito à cidade foi sistematicamente discutida pelos
situacionistas ainda antes de 1968 quando LeFebvre lança o livro O Direito à
Cidade, no Brasil publicado pela editora Documentos um ano após a sua
publicação original.
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