UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM TREINAMENTO
ESPORTIVO
CRYSTIAN PHILIPPI CARDOSO
QUALIDADE DE VIDA DO PROFESSOR DA REDE PÚBLICA DE
ENSINO: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO
CRICIÚMA, JULHO 2008
1
CRYSTIAN PHILIPPI CARDOSO
QUALIDADE DE VIDA DO PROFESSOR DA REDE PÚBLICA DE
ENSINO: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO
Monografia apresentada ao Setor de Pós-graduação da
Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, para
a obtenção do título de especialista em Treinamento
Esportivo.
Orientadora: Profª. Dra. Bárbara Regina Alvarez
CRICIÚMA, JULHO 2008
2
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer a Professora Dra. Bárbara Regina Alvarez, pela orientação
durante a escrita deste trabalho, pela paciência e especial compreensão. Agradeço também os
meus familiares, minha irmã Laylla Donata Cardoso, mestre em Lingüística, meus pais José
Dimas Cardoso e Laurinda Philippi Cardoso, incansáveis trabalhadores e incentivadores para
a conclusão deste estudo. Sou especialmente grato a todos os professores da Universidade do
Extremo Sul Catarinense –UNESC, pois foram fontes de inspiração.
RESUMO
Qualidade de vida é um tema em voga nos dias atuais. Entretanto, tal conceito ainda se
apresenta revestido de relevantes dúvidas, principalmente no contexto sócio-educacional. O
presente estudo tem como objetivo geral realizar um levantamento bibliográfico sobre a
qualidade de vida do professor. O objetivo específico é evidenciar modelos conceituais e
fatores que influenciam na qualidade de vida do professor da rede pública de ensino. A razão
de sua elaboração é conhecer a qualidade de vida dos professores, para então sugerir
melhorias no seu o ambiente de trabalho e condição de vida. Com este objetivo em mente,
foram pesquisados livros, artigos científicos e demais referências bibliográficas acerca do
tema. Os resultados apontam uma situação preocupante, pois os professores têm se afastado
cada vez mais da sala de aula devido a problemas de saúde. O excesso de trabalho, muitas
vezes associado aos baixos salários, contribuem para o agravamento deste quadro. Em
conclusão, realizar um trabalho preventivo com os profissionais da educação, preparando-os
para o dia-a-dia escolar, bem como diminuir as situações geradoras de stress pode ser uma
alternativa para melhorar a qualidade de vida e saúde do professor.
Palavras-chave: Qualidade de vida; Saúde; Professor; Rede pública de ensino.
4
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 05
2 QUALIDADE DE VIDA ................................................................................................ 07
2.1 Modelos conceituais sobre qualidade de vida .......................................................................... 08
2.2 Fatores que influenciam na qualidade de vida.......................................................................... 09
2.3 Qualidade de vida e saúde ....................................................................................................... 10
3 QUALIDADE DE VIDA E O PROFESSOR.................................................................. 13
3.1 O papel social e educacional do professor ............................................................................... 13
3.2 Qualidade de vida do professor da rede pública de ensino........................................................ 14
3.2.1 Condições e jornada de trabalho dos professores.................................................................16
3.2.2 Causas do afastamento de professores............................................................................. 17
3.2.3 Promoção da saúde e qualidade de vida do professor ...................................................... 20
4 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 24
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 27
5
1 INTRODUÇÃO
Qualidade de vida é um tema bastante em voga nos dias atuais. Entretanto, tal
conceito ainda se apresenta revestido de relevantes dúvidas, principalmente no contexto sócioeducacional. O avanço nas pesquisas sobre a qualidade de vida começa a se expandir no
mundo, evidenciando uma busca pelo entendimento acerca do tema. Há literaturas indicando
que esse assunto é fonte de pesquisa de muitos anos (XAVIER & MORAIS, 2007).
A qualidade de vida está fortemente relacionada à saúde, de modo que ambas estão
presentes no cotidiano dos educadores. Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo
geral realizar um levantamento bibliográfico sobre a qualidade de vida do professor da rede
pública brasileira, seja ela estadual ou municipal. O objetivo específico é evidenciar modelos
conceituais e fatores que influenciam na qualidade de vida do professor da rede pública de
ensino fundamental e ensino médio. A razão de sua elaboração é conhecer a qualidade de vida
dos professores, para então sugerir melhorias no seu o ambiente de trabalho e condição de vida.
Com este objetivo em mente, serão pesquisados livros, artigos científicos e demais referências
bibliográficas acerca do tema.
A expectativa de uma mudança do nível de vida existente para um padrão de maior
qualidade é uma busca interminável e desgastante para a maioria das pessoas. Esta busca tem
sido objeto de estudo de várias áreas do conhecimento (Seixas, apud ALVAREZ, 1996).
Apesar dos estudos sobre a qualidade de vida no trabalho, poucos estudos têm
referenciado a saúde do trabalhador, no seu contexto geral. Além dos fatores ambientais, tais
como: poluição, ruído, vibração, temperatura e iluminação, que podem ser prejudiciais ao
homem, existem outros fatores que também devem ser considerados, tais como: o estilo de
vida, aspectos cognitivos, sociais e organizacionais, dentre outros (ALVAREZ, 1996).
6
Diante do objetivo de estudo proposto nesse trabalho, a metodologia utilizada será
compatível com a modalidade de pesquisa levantamento bibliográfico. Sendo assim, o
referenciado levantamento bibliográfico selecionará as publicações mais relevantes, por
conteúdo, autor, e, principalmente, por grau de detalhamento. Na escolha dos textos, três
critérios serão adotados:
• Preferência por estudos brasileiros, inclusive pela importância dos fatores sócioculturais na discussão do tema;
• Diversidade, isto é, procurar-se-á citar trabalhos que abordem o tema a partir de
diversos panoramas teóricos;
• Pertinência, ou seja, serão apontar textos relevantes na discussão sobre qualidade
de vida para o profissional da Educação.
Desse modo, o presente estudo será estruturado em quatro capítulos. Neste capítulo
introdutório, foram apresentados o contexto, os objetivos da pesquisa e metodologia. No
segundo capítulo, serão revisadas as principais literaturas referentes ao tema qualidade de vida,
buscando elucidar modelos conceituais e fatores influenciadores na qualidade de vida e saúde
dos indivíduos. O capítulo terceiro explorará os conceitos de qualidade de vida aplicados à
realidade escolar e social vivenciada pelos professores do ensino público no Brasil. Além
disso, no terceiro capítulo ainda serão discutidos o papel do professor, jornada de trabalho e
condição de vida. No quarto capítulo, apresentar-se-á uma conclusão dos capítulos discutidos
anteriormente. Por fim, as referências bibliográficas completarão este trabalho.
7
2 QUALIDADE DE VIDA
Vários autores apresentam dificuldade para definir “qualidade de vida”, pois
diversos são os critérios que englobam sua dimensão. O conceito de qualidade de vida é
diferente de pessoa para pessoa e ao longo da vida de cada um, tende a mudar.
Na década de 90 o termo qualidade de vida invadiu todos os espaços, passando a
integrar o discurso acadêmico, a literatura relativa ao comportamento nas organizações, as
conversas informais e a mídia em geral. Dessa forma, o termo tem sido utilizado tanto para
avaliar as condições de vida urbana, incluindo transporte, saneamento básico, lazer e
segurança, quanto para se referir à saúde, conforto e bens materiais (BAHIA, 2002).
Segundo Nassar e Gonçalves (1999), a qualidade de vida pode ser compreendida
como uma percepção subjetiva do sujeito sobre o bem estar em sua vida agrupado em
algumas dimensões, como: o bem estar físico e material, as relações com outras pessoas, as
atividades sociais, comunitárias e cívicas, o desenvolvimento pessoal, as realizações e as
recreações.
Para Neto (apud BAHIA, 2002) a expressão “qualidade de vida” é de origem
recente. Surgiu nos últimos 30 anos oriunda de problemas ambientais decorrentes da
industrialização descontrolada. Considera-se que, avaliar a qualidade de vida implica na
adoção de múltiplos critérios de natureza biológica, psicológica e socioestrutural.
Apesar da proliferação de instrumentos e o crescimento rápido da literatura
voltada para medir a qualidade de vida, não existe uma concordância no seu significado. Os
autores salientam que a qualidade de vida é diretamente proporcional ao status funcional, que
é traduzido basicamente pela capacidade de desenvolver atividades diárias (ALVAREZ,
1996).
Setién (apud MARQUES, 2000), considera que a multidimensionalidade do
8
fenômeno qualidade de vida, tem sua base no termo “vida”, pois, há um consenso em
considerar que a vida compreende múltiplas facetas, referindo-se a um conjunto complexo
que obrigatoriamente leva em conta a hora de definir e medir a qualidade de vida.
A Organização Mundial de Saúde definiu a qualidade de vida englobando cinco
dimensões: saúde física; saúde psicológica; nível de independência; relações sociais e meio
ambiente.
Assim, a qualidade de vida diz respeito justamente à maneira pela qual o
indivíduo interage com o mundo externo, portanto a maneira como o sujeito é influenciado e
como influencia. Logo, o acesso a uma vida com qualidade é determinado por uma relação de
equilíbrio entre forças internas e externas (BAHIA, 2002).
2.1 Modelos conceituais sobre qualidade de vida
Rogerson (apud ROCHA, OKABE e MARTINS et al, 2000) desenvolveu dois
modelos conceituais sobre qualidade de vida: o primeiro relacionado à saúde e a sua
recuperação e o segundo relacionado às questões ambientais. O primeiro enfoque envolve o
processo de sobrevida ou pós-trauma dos indivíduos que recuperam sua saúde após um evento
de doença ou agravo, ou melhor, está diretamente associado aos sintomas, incapacidades ou
limitações ocasionadas pelas enfermidades. O segundo ponto relaciona-se ao meio ambiente
como reflexo da realidade de um determinado grupo social, ou seja, o ambiente incorpora
conceitos mais amplos resultante das questões socioeconômicas de uma realidade.
Ao analisar-se o termo qualidade de vida verificam-se dois aspectos relevantes: a
subjetividade e a multidimensionalidade (SILVA, JESUS & SANTOS, 2007). No que se
refere à subjetividade, considera-se a percepção da pessoa sobre o seu estado de saúde e sobre
os aspectos não-médicos do seu contexto de vida. A multidimensionalidade, além de se referir
9
as quatro dimensões do ser humano (física, psicológica, social e ambiental), pode também ser
analisada através do senso comum, do ponto de vista objetivo ou subjetivo, e em abordagens
individuais ou coletivas.
2.2 Fatores que influenciam na qualidade de vida
Atualmente, coloca-se a qualidade de vida como base de todas as outras
qualidades, uma vez que esta focaliza a saúde e a satisfação como condições necessárias para
que o ser humano se esforce e produza da melhor maneira possível, acreditando que o homem
vale mais do que o seu produto e que a qualidade de vida é medida pela saúde e pela
satisfação total de cada um (BAHIA, 2002).
A qualidade de vida das pessoas, conforme Nahas (2001), está diretamente
associada aos fatores do estilo de vida, como: nutrição, atividade física, comportamento
preventivo, relacionamentos e estresse.
Vários são os elementos apontados como determinantes ou indicadores de bemestar, como por exemplo: longevidade, saúde biológica, saúde mental, satisfação, controle
cognitivo, competência social, produtividade, status social, renda, continuidade de papéis
familiares e ocupacionais (BAHIA, 2002).
NAHAS (2003, p.14), define a qualidade de vida como: “condição humana
resultante de um conjunto de parâmetros individuais e sócio-ambientais, modificáveis ou não,
que caracterizam as condições em que vive o ser humano”.
Neste contexto, os parâmetros sócio-ambientais são: moradia, transporte,
segurança; assistência médica; Condições de trabalho e remuneração; Educação; Opções de
lazer; Meio-ambiente. Os parâmetros individuais são: Hereditariedade; Estilo de Vida;
Hábitos alimentares; Controle do Stress; Atividade Física habitual; Relacionamento;
Comportamento preventivo. (NAHAS, 2003, p. 14).
10
Dessa forma, observa-se que alguns parâmetros podem ser modificáveis
principalmente os referentes ao estilo de vida que conseqüentemente influenciam a saúde e
bem-estar (SILVA, JESUS & SANTOS, 2007). Por outro lado, se enfatiza a importância do
estilo de vida do indivíduo na promoção da saúde como também na redução da mortalidade
por todas as causas. De acordo com Nahas (2001), os parâmetros individuais que afetam
diretamente na qualidade de vida, principalmente os componentes do estilo de vida,
influenciam na saúde e bem-estar. Destaca o autor, que estudos recentes evoluem para uma
valorização de fatores como satisfação, realização pessoal, qualidade dos relacionamentos,
opções de lazer, acesso a eventos culturais, percepção de bem-estar geral, entre outros. Em
qualquer caso, considera-se como pré-requisito, ou componente fundamental sobre o qual se
pode edificar uma vida com qualidade, o atendimento das necessidades humanas básicas: o
alimento, a moradia, a educação e o trabalho.
2.3 Qualidade de vida e saúde
A relação entre qualidade de vida e saúde existe desde o nascimento da medicina
social nos séculos XVIII e XIX (MINAYO, et al 2000).
Saúde é um direito fundamental do homem, reconhecido como o maior e o melhor
recurso para o desenvolvimento social, econômico e pessoal, como também uma das mais
importantes dimensões da qualidade de vida (BUSS, 2003).
Neste sentido, a saúde não pode ser reduzida a uma relação biológica de causa e
efeito, pois o homem é um ser histórico e como tal, sofre influência do meio social e cultural
(ASSUMPÇÃO, MORAIS e FONTOURA, 2002).
Assim, faz pouco sentido centrar a idéia de saúde na dimensão estritamente
orgânica. “Saúde” não é um conceito universal, ao contrário, varia sob distintas condições
11
sociais. Ela é o resultado de um conjunto de fatores sociais, econômicos, políticos, culturais,
coletivos e individuais, que se combinam, de forma particular, em cada sociedade resultando
em comunidades mais ou menos saudáveis (BUSS, 2003).
A saúde pode ser analisada sob diferentes perspectivas, ela pode ser vista tanto
como ausência de doenças, como completo bem-estar físico-psíquico-social, como a
capacidade de superação de dificuldades físicas, psíquicas, sociais, culturais e simbólicas
(ASSUMPÇÃO, MORAIS e FONTOURA, 2002).
Sob o ponto de vista da saúde, pode-se pensar em duas maneiras de olhar a
qualidade de vida: a individual e a coletiva. A primeira refere-se à avaliação da capacidade
funcional e da conseqüência da doença, da natureza física, biológica e social (Forattini, apud
XAVIER & MORAIS, 2007).
Forattini (apud XAVIER & MORAIS, 2007) ainda informa que indicadores da
qualidade de vida em nível coletivo, quando mostram a necessidade de intervenção para sua
melhoria, compreendem ações estruturadas social e politicamente. Porém, quando a qualidade
de vida é entendida como satisfação de viver, quando se liga a um conceito tão sutil como a
felicidade, exige intervenções em outra dimensão, a individual.
Para BUSS (2003), a promoção da saúde pode ser entendida como dirigida à
transformação do comportamento dos indivíduos, focalizando a educação para mudanças no
estilo de vida. Essa visão abrange indivíduos, família e meio ambiente e as ações
transformadoras dependem do indivíduo.
Em resumo, pode-se dizer que a saúde não é apenas um processo de intervenção
na doença, mas um processo para que o indivíduo e a coletividade disponham de meios para a
manutenção ou recuperação do seu estado de saúde. Diante disso, enfatiza-se a idéia de
promoção da saúde, que se apresenta como uma forma moderna e eficaz de enfrentar os
desafios referentes à saúde e qualidade de vida, oferecendo condições e instrumentos para
12
uma ação integrada e multidisciplinar que inclui as diferentes dimensões da experiência
humana que pode ser expressa pelos diferentes campos do conhecimento (SECRETARIA DE
POLÍTICAS DE SAÚDE, 2001).
13
3 QUALIDADE DE VIDA E O PROFESSOR
Considerando que o professor é um mediador do processo educativo, ele tem um
importante papel para a valorização e adoção de uma concepção mais crítica e humana de
qualidade de vida, não só pelo seu discurso, mas também por seu comportamento (SANTOS,
2006). Segundo Libâneo (1991), a educação é um processo complexo de influências e interrelações que colaboram para a formação do caráter humano, e conseqüentemente, para a
concepção de valores, atitudes e comportamentos que, se orientados para o bem maior da
sociedade, podem conduzi-la a um estágio de desenvolvimento sustentável cujas
desigualdades sociais sejam amenas (MONTIBELLER FILHO, 2004).
3.1 O papel social e educacional do professor
Para SANTOS (2006), é através da conscientização que o professor assume seu
compromisso social de lutar por uma sociedade melhor para todos. A conscientização ocorre
quando há um contexto favorável de comunicação transformadora, e quando há percepção do
aprendizado (como vai aprender e o para quê). Nesse sentido, a educação formal une a teoria
e a prática para a condução do ato educativo numa direção libertadora (FREIRE, 1976;
GADOTTI, 1991).
O papel do professor contemporâneo é conscientizar a sociedade para um modelo
crítico e contextual de educação formal, que representa a superação da alienação produzida
culturalmente em relação aos valores ligados à qualidade de vida (SANTOS, 2006).
Para RUIZ (2003), o papel do profissional da educação precisa ser repensado.
Segundo Gadotti (apud RUIZ, 2003), faz-se mister que o professor se assuma enquanto um
profissional do humano, social e político, tomando partido e não sendo omisso, neutro, mas
14
sim definindo para si de qual lado está, pois se apoiando nos ideais freireanos, ou se está a
favor dos oprimidos ou contra eles. Posicionando-se então, este profissional não mais neutro
pode ascender à sociedade usando a educação como instrumento de luta, levando a população
a uma consciência crítica que supere o senso comum, todavia não o desconsiderando.
Nesse contexto, RUIZ (2003) coloca que os educadores precisam engajar-se social
e politicamente, percebendo as possibilidades da ação social e cultural na luta pela
transformação das estruturas opressivas da sociedade classista. Para isso, antes de tudo
necessitam conhecer a sociedade em que atuam, o nível social, econômico e cultural de seus
alunos.
Em resumo, o professor tem um papel, sobretudo político e precisa problematizar
a educação, buscando o porquê e o para quê do ato educativo; mais que isso, sua tarefa é a de
quem incomoda, de quem evidencia e trabalha o conflito, não o conflito pelo conflito, mas o
conflito para sua superação dialética (RUIZ, 2003).
3.2 Qualidade de vida do professor da rede pública de ensino
Estudos realizados em todo o mundo apontam que os educadores correm o risco de
sofrerem esgotamento físico e mental, levando-se em consideração as dificuldades materiais e
psicológicas associadas ao exercício da docência (GOMES & AMÉDIS, 2006). No ambiente
de trabalho, os processos de desgaste do corpo são determinados quase sempre pelo tipo de
trabalho e pela forma como o mesmo está organizado (Delcor et al. 2004).
Os problemas de saúde dos docentes têm sido estudados a partir dos anos 1960, na
Europa e no Brasil, a partir da década de 1970. Na década de 1980, vários autores centraram
suas reflexões sobre a educação chamando a atenção para a figura do docente e buscaram
15
decifrar os efeitos que podiam estar sofrendo pela racionalização de seus trabalhos
(MARTINEZ et al, 2004).
Um estudo sobre a qualidade de vida dos professores da rede pública de ensino da
cidade de
Aracaju-Sergipe, foi conduzido em quatro escolas estaduais no ano de 2007
(Xavier & Morais, 2007). Neste estudo, avaliou-se a qualidade de vida de 80 professores
divididos em dois grupos: 1ª à 4ª séries do ensino fundamental e 5ª à 8ª séries do ensino
fundamental. A estratégia utilizada para coleta de dados foi a aplicação de um questionário
onde quatro domínios foram investigados: domínio físico; domínio psicológico; relações
sociais e meio ambiente. O estudo concluiu que, com base nos dados coletados e tendo em
vista que supostamente alguns professores não possuem casa própria, bons salários, segurança
em suas vidas e encontram péssimas condições de trabalho, esses indivíduos possuem uma
razoável qualidade de vida. Os professores de 1ª à 4ª séries apresentaram uma qualidade de
vida pior que os professores de 5ª à 8ª séries, principalmente no que tange o domínio meio
ambiente. Segundo a pesquisa, o domínio meio ambiente foi o único a diferenciar-se dentre os
analisados.
ROCHA & FERNANDES (2008) avaliaram a qualidade de vida dos professores
do ensino fundamental do município de Jequié na Bahia. A pesquisa foi realizada com uma
amostra aleatória constituída por 91 professores que responderam o questionário genérico de
avaliação da qualidade de vida (SF-36). O questionário considerou oito domínios relativos à
qualidade de vida: capacidade funcional; aspectos físicos; dor; estado geral de saúde;
vitalidade; aspectos sociais; aspectos emocionais; e saúde mental . Os dados foram analisados
por meio da estatística descritiva, com determinação de médias, freqüências e desvio-padrão.
Todos os domínios apresentaram-se prejudicados com destaque para vitalidade e dor, como os
de menor escore, e capacidade funcional e limitação por aspectos emocionais, como os de
16
maior escore. O estudo concluiu que a qualidade de vida da população investigada encontrase comprometida, o que pode repercutir no estado de saúde de tais indivíduos.
Nas seções seguintes, serão discutidos os principais elementos que afetam a
qualidade de vida dos professores da rede pública de ensino no Brasil, tais como: condição de
trabalho; jornada de trabalho; causas do afastamento de professores e ações voltadas para a
saúde do professor.
3.2.1 Condições e jornada de trabalho dos professores
A educação é uma área que possui características particulares geradoras de stress e
de alterações do comportamento dos que nela trabalham devido à tensão do próprio ambiente
escolar, e às relações que se operam nele, dentre elas as relações competitivas, relações de
poder, relação com a comunidade e relação com o conhecimento (GOMES & AMÉDIS,
2006).
Segundo Amorim et al (2006), os professores representam cerca de dois milhões
de trabalhadores no Brasil, sendo uma categoria predominantemente feminina na educação
básica, devido a fatores históricos. Essa categoria profissional tem sido acometida por
patologias que afetam a qualidade de seu trabalho e conseqüentemente sua qualidade de vida.
Segundo dados do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São
Paulo (APEOESP, 2006), no Brasil observa-se um grande número de professores readaptados
(afastados temporária ou permanentemente para as atividades administrativas), sendo afetados
por uma ou algumas doenças da área da psiquiatria, neurologia, otorrinolaringologia,
reumatologia ou mesmo professores que se mantém em sucessivas licenças de saúde por
razões diversas. Estes afastamentos dos docentes de suas atividades podem estar associados às
17
condições das quais se submetem (muito tempo em pé, ou em assentos não-ergonômicos,
número de alunos excessivos em sala, jornada de trabalho excessiva, baixos salários, dentre
outros).
No Brasil, as jornadas de trabalho são de aproximadamente 40 horas semanais,
sendo raros os casos em que parte deste tempo (em geral 10% ou 20%) é dedicada ao trabalho
extraclasse (GOMES & AMÉDIS, 2006). Com isso, muitas destas atividades inerentes ao
ensino são realizadas no período extraclasse pelos docentes em casa em seu horário de
descanso.
A sobrecarga de horas extraordinárias e pouco remuneradas tem efeitos
particularmente nocivos sobre as condições de trabalho e de saúde dos educadores, uma vez
que torna mais acentuadas as condições já estressantes do trabalho realizado.
Estes trabalhos excessivos, que representam uma sobrecarga de trabalho inclusive
nas férias e finais de semana, retiram do professor a oportunidade de estar com seus
familiares, amigos ou mesmo realizar outros tipos de atividades físicas, culturais e sociais,
comprometendo então sua qualidade de vida. (GOMES & AMÉDIS, 2006).
3.2.2 Causas do afastamento de professores
O cotidiano e as condições de trabalho são citados como os grandes causadores de
afastamento dos professores da sala de aula. O ritmo intenso de trabalho, as longas jornadas, a
tensão do ambiente escolar, o acúmulo de atividades do professor, bem como a indisciplina
dos alunos e sua dificuldade de aprendizagem têm sido apontadas como uma das fontes
geradoras de doenças para os docentes (GOMES & AMÉDIS, 2006).
Segundo GOMES & AMÉDIS (2006), os principais causadores do afastamento de
professores por problemas respiratórios são: a exposição constante ao pó de giz; o contato
18
diário com várias crianças em sala de aula muitas vezes com ventilação precária; as mudanças
climáticas, e a poluição das cidades.
Os problemas osteomusculares, outro grande causador de afastamento do
professor, pode ter suas causas relacionadas aos assentos não-ergonômicos, o uso constante
do quadro negro, assim como os livros e materiais pesados carregados diariamente (GOMES
& AMÉDIS, 2006).
Zaragoza (1999) realizou um estudo sobre a evolução da saúde dos professores de
1982 a 1989, contabilizando as licenças médicas oficiais dos professores no período de sete
anos e pôde constatar que os diagnósticos mais freqüentes foram: distensões; laringites e
depressões.
Discutindo sobre distúrbios mentais de professores, Viera (2003) destaca as
doenças psiquiátricas e os calos nas cordas vocais como as principais enfermidades às quais
os educadores são mais vulneráveis por conta da sua condição de trabalho.
A disfonia tem se tornado causa de afastamento do trabalho, com efeitos negativos
na vida do professor, tanto no nível profissional quanto no social e no econômico (Penteado &
Pereira, 1999).
No Brasil, os afastamentos por adoecimento vocal causam um prejuízo estimado
em mais de 200 milhões de reais ao ano. Apesar de vultoso, o valor referido pode ainda estar
subestimado, pois estudos assinalam afastamentos, licenças e readaptações por disfonia na
ordem de 2% dos professores ativos (3º Consenso Nacional sobre Voz Profissional, 2004).
O processo de readaptação funcional por disfonia é um indicativo de que, segundo
Melnyk et al. (2003), o problema de voz dos professores pode se tornar uma doença com
incapacidade específica no trabalho, parcial ou total, transitória ou permanente. O exercício da
docência solicita uma voz de qualidade moderada e de alta intensidade. A disfonia pode
resultar de grande demanda vocal no desempenho do trabalho. Ela se desenvolve
19
gradativamente e, ao atingir o estágio crônico, torna-se intratável e incapacitante (Vilkman,
2000; 2004).
De forma geral, o trabalho influencia a voz do docente em razão das características
do ambiente físico e dos aspectos da atividade profissional implicados na interação entre o
professor e o aluno (Scalco et al., 1996; Fabron & Omote, 2000; Silvany-Neto et al., 2000;
Araújo & Paranhos, 2003).
A investigação de Codo et al. (1998) sobre a saúde mental dos professores de 1º e
2º graus em todo o país, abrangendo 1440 escolas e 30.000 professores, revelou que 26% dos
professores da amostra estudada apresentavam exaustão emocional (cerca de um professor a
cada quatro estudados). Essa proporção variou de 17% em Minas Gerais e Ceará a 39% no
Rio Grande do Sul. A desvalorização profissional, baixa auto-estima e ausência de resultados
percebidos no trabalho desenvolvido foram fatores importantes para o quadro encontrado.
Volkoff (1993) adverte no sentido que a modernização das técnicas e da
organização do trabalho, não necessariamente, é acompanhada de uma redução das
imposições eventualmente nocivas para a saúde; a evolução das imposições de horário e ritmo
é igualmente portadora de conseqüências patogênicas eventuais.
O excesso de trabalho muitas vezes associado à péssima qualidade de vida dos
profissionais da educação é apontado como um fator agravante no quadro de afastamento dos
professores
(GOMES & AMEDIS, 2006). Melhorar a qualidade de vida e realizar um
trabalho preventivo com estes profissionais preparando-os para o dia-a-dia escolar bem como
diminuir as situações geradoras de stress podem ser alternativas que diminuam os índices.
20
3.2.3 Promoção da saúde e qualidade de vida do professor
Existem evidências científicas abundantes que mostram a contribuição da saúde
para a qualidade de vida de indivíduos ou populações. Da mesma forma, é sabido que muitos
componentes da vida social que contribuem para uma vida com qualidade são também
fundamentais para que indivíduos e populações alcancem um perfil elevado de saúde (BUSS,
2000).
A promoção da saúde vem sendo interpretada, de um lado, como reação à
acentuada medicalização da vida social e, de outro, como uma resposta setorial articuladora
de diversos recursos técnicos e posições ideológicas (BUSS, 2000). Embora o termo tenha
sido usado a princípio para caracterizar um nível de atenção da medicina preventiva (Leavell
& Clark, apud BUSS, 2000), seu significado foi mudando, passando a representar, mais
recentemente, um enfoque político e técnico em torno do processo saúde-doença-cuidado.
Sigerist (1946, apud BUSS 2000) foi um dos primeiros autores a mencionar a
promoção da saúde, quando definiu as quatro tarefas essenciais da medicina: a promoção da
saúde, a prevenção das doenças, a recuperação dos enfermos e a reabilitação, e afirmou que a
saúde se promove proporcionando condições de vida decentes, boas condições de trabalho,
educação, cultura física e formas de lazer e descanso, para o que pediu o esforço coordenado
de políticos, setores sindicais e empresariais, educadores e médicos. A estes, como
especialistas em saúde, caberia definir normas e fixar padrões.
As diversas conceituações disponíveis para a promoção da saúde podem ser
reunidas em dois grandes grupos (Sutherland & Fulton, apud BUSS, 2000). No primeiro
deles, a promoção da saúde consiste nas atividades dirigidas à transformação dos
comportamentos dos indivíduos, focando nos seus estilos de vida e localizando-os no seio das
famílias e, no máximo, no ambiente das culturas da comunidade em que se encontram. Neste
21
caso, os programas ou atividades de promoção da saúde tendem a concentrar-se em
componentes educativos, primariamente relacionados com riscos comportamentais passíveis
de mudanças, que estariam, pelo menos em parte, sob o controle dos próprios indivíduos. Por
exemplo, o hábito de fumar, a dieta, as atividades físicas, a direção perigosa no trânsito. Nessa
abordagem, fugiriam do âmbito da promoção da saúde todos os fatores que estivessem fora do
controle dos indivíduos.
O que, entretanto, vem caracterizar a promoção da saúde, modernamente, é a
constatação do papel protagonista dos determinantes gerais sobre as condições de saúde, em
torno da qual se reúnem os conceitos do segundo grupo. Este se sustenta no entendimento que
a saúde é produto de um amplo espectro de fatores relacionados com a qualidade de vida,
incluindo um padrão adequado de alimentação e nutrição, e de habitação e saneamento; boas
condições de trabalho; oportunidades de educação ao longo de toda a vida; ambiente físico
limpo; apoio social para famílias e indivíduos; estilo de vida responsável; e um espectro
adequado de cuidados de saúde (BUSS, 2000). Suas atividades estariam, então, voltadas ao
coletivo de indivíduos e ao ambiente, compreendido num sentido amplo, de ambiente físico,
social, político, econômico e cultural, através de políticas públicas e de condições favoráveis
ao desenvolvimento da saúde (as escolhas saudáveis serão as mais fáceis) e do reforço da
capacidade dos indivíduos e das comunidades.
A Carta de Ottawa define promoção da saúde como “o processo de capacitação da
comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior
participação no controle deste processo” (WHO, 1986 apud BUSS, 2000). Inscreve-se, desta
forma, no grupo de conceitos mais amplos, reforçando a responsabilidade e os direitos dos
indivíduos e da comunidade pela sua própria saúde.
Para Gutierrez (1994, apud Gutierrez, M. et al., 1997), promoção da saúde é o
conjunto de atividades, processos e recursos, de ordens institucionais, governamentais ou da
22
cidadania, orientados a propiciar a melhoria das condições de bem-estar e acesso a bens e
serviços sociais, que favoreçam o desenvolvimento de conhecimentos, atitudes e
comportamentos favoráveis ao cuidado da saúde e o desenvolvimento de estratégias que
permitam à população maior controle sobre sua saúde e suas condições de vida, a níveis
individual e coletivo. Neste conceito, mais apropriado à realidade atual, agrega-se ao papel da
comunidade a responsabilidade indelegável do Estado na promoção da saúde de indivíduos e
populações.
A Carta de Ottawa propõe cinco campos centrais de ação:
• Elaboração e implementação de políticas públicas saudáveis;
• Criação de ambientes favoráveis à saúde;
• Reforço da ação comunitária;
• Desenvolvimento de habilidades pessoais;
• Reorientação do sistema de saúde.
Para promover a saúde e melhor qualidade de vida, segundo Buss (2000), é
necessário mais do que o acesso a serviços médico-assistenciais de qualidade, é preciso
enfrentar os determinantes da saúde em toda a sua amplitude, o que requer políticas públicas
saudáveis, uma efetiva articulação intersetorial do poder público e a mobilização da
população.
Nesse sentido, a área da educação pode agir como forte aliado à saúde nas
políticas de promoção da saúde e qualidade de vida. No entanto, a educação e a saúde, como
campos de conhecimentos e de práticas, têm sido consideradas a partir de suas
especificidades, em que a educação está associada à escola e aos processos de aprendizagem e
a saúde é identificada com os serviços de saúde e processos de adoecimento.
Vista de forma ampliada, a relação entre saúde e educação pode estabelecer a
intersecção para a integração dos saberes acumulados por tais campos, uma vez que os
23
processos educativos e os de saúde e doença incluem tanto conscientização e autonomia
quanto a necessidade de ações coletivas e de fomento à participação.
Em artigo à Revista de Saúde Pública (2002), o Ministério da Saúde sugere que na
concepção de saúde individual, seria necessário refletir sobre a saúde dos professores, seja
individual ou coletivamente. O estresse diário dos docentes, o esforço repetitivo que o
cotidiano exige, o enfrentamento de situações dramáticas não faz parte do cotidiano escolar.
Uma escola promotora de saúde inclui essa idéia de saúde, de estar saudável incluindo o bemestar docente.
Ainda de acordo com o artigo do Ministério da Saúde, para se promover saúde
não é suficiente informar. É necessária uma relação dialogal, uma comunicação
emancipadora, em que os sujeitos sejam envolvidos na ação educativa, formativa e criativa,
levando em conta a reconstrução do saber da escola e a formação continuada dos docentes.
Promover saúde implica e requer ter paz, educação, alimentação, renda, ecossistema saudável,
recursos sustentáveis, justiça e eqüidade e desenvolver ações de promoção da saúde. No
contexto escolar, tem a ver com respeito às possibilidades e aos limites do corpo, do intelecto
e das emoções, da participação social e do estabelecimento de alianças.
Em resumo, o professor é um elemento de fundamental importância no processo
de promoção da saúde. Para tanto, se torna necessário que o mesmo esteja com sua saúde em
perfeitas condições para que possa contribuir no processo de ensino-aprendizagem, e também
possa colaborar no processo de construção de uma melhor qualidade de vida para si e as
pessoas com as quais se relaciona.
24
4 CONCLUSÃO
O presente levantamento bibliográfico buscou discutir e refletir sobre a qualidade
de vida do professor da rede pública de ensino. Para tal, inicialmente refletiu-se sobre a
qualidade de vida, evidenciando modelos conceituais e fatores influenciadores. Em seguida,
traçou-se um paralelo entre qualidade de vida e saúde, onde o papel social e educacional do
professor serviu de centro para essa discussão.
Com o objetivo de provocar novas pesquisas e análises acerca das questões neste
trabalho levantadas, é possível ressaltar alguns itens de grande relevância reflexiva:
•
A educação é uma área que possui características particulares geradoras de
stress e de alterações do comportamento dos que nela trabalham devido à
tensão do próprio ambiente escolar, e às relações que se operam nele,
dentre elas as relações competitivas, relações de poder, relação com a
comunidade e relação com o conhecimento (GOMES & AMÉDIS, 2006).
•
Estudos realizados em todo o mundo apontam que os educadores correm o
risco de sofrerem esgotamento físico e mental, levando-se em consideração
as dificuldades materiais e psicológicas associadas ao exercício da
docência (GOMES & AMÉDIS, 2006). No ambiente de trabalho, os
processos de desgaste do corpo são determinados quase sempre pelo tipo
de trabalho e pela forma como o mesmo está organizado (Delcor et al.
2004).
•
O estado em que se encontra o trabalho na escola, e em particular, o
trabalho dos professores, tem chamado a atenção devido ao aumento de
adoecimento e afastamento desses profissionais;
•
A tensão provocada pela cobrança da qualidade e ritmo acelerado; a fadiga
mental expressa pelos sintomas de sensação de esgotamento físico
permanente; jornadas de trabalho extenuantes; os problemas de humor,
irritação e ansiedade são os principais fatores que interferem negativamente
na qualidade de vida e saúde dos professores;
•
A qualidade de vida está fortemente relacionada á saúde, de modo que
ambas estão presentes no cotidiano dos educadores.
•
A assistência à saúde dos professores não deveria estar relacionada apenas
aos exames admissionais, mudanças de cargos ou mesmo rescisórios ou
quando o docente é obrigado a afastar-se de suas atividades por doenças
adquiridas em seu ambiente de trabalho ou não ou mesmo por falta de um
25
trabalho preventivo com os mesmos. Seria interessante que fossem
desenvolvidas ações educativas visando sempre à promoção da saúde e
prevenção de doenças, iniciando no processo de formação dos professores
e durante todo o processo de trabalho nas reais condições em que é
realizado. Para isso, os servidores de saúde por meio das políticas vigentes,
devem redimensionar e reestruturar a atenção à saúde do professor, visando
interpretar mais precocemente os possíveis sinais de adoecimento dos
professores, sendo necessário também traçar linhas de ações que
consolidem uma política de valorização do trabalhador em educação, afim
de que se possa minimizar estes afastamentos do trabalho.
•
Dessa forma, observa-se que alguns parâmetros podem ser modificáveis
principalmente os referentes ao estilo de vida que conseqüentemente
influenciam a saúde e bem-estar (SILVA, JESUS & SANTOS, 2007). Por
outro lado, se enfatiza a importância do estilo de vida do indivíduo na
promoção da saúde como também na redução da mortalidade por todas as
causas. De acordo com Nahas (2001), os parâmetros individuais que
afetam diretamente na qualidade de vida, principalmente os componentes
do estilo de vida, influenciam na saúde e bem-estar. Destaca o autor, que
estudos recentes evoluem para uma valorização de fatores como satisfação,
realização pessoal, qualidade dos relacionamentos, opções de lazer, acesso
a eventos culturais, percepção de bem-estar geral, entre outros. Em
qualquer caso, considera-se como pré-requisito, ou componente
fundamental sobre o qual se pode edificar uma vida com qualidade, o
atendimento das necessidades humanas básicas: o alimento, a moradia, a
educação e o trabalho.
O mais importante papel da educação nesse contexto é o de formar cidadãos
capazes de visualizar o bem estar coletivo como critério indispensável para o bem estar
individual, ou seja, incutir valores e crenças que tenham maior potencial levar a sociedade a
um desenvolvimento equilibrado. E que, além disso, tenham conhecimento, mesmo que
básico, para identificar e analisar suas opções, bem como predizer as conseqüências de suas
escolhas para o seu futuro e o da sociedade (SANTOS, 2006).
Conforme exposto anteriormente, o objetivo do presente estudo foi fazer um
levantamento bibliográfico acerca da qualidade de vida do professor. Está além do escopo
aqui delimitado, analisar dados quantitativos, discutir resultados e propor mudanças. Sendo
assim, fica registrado como sugestão para pesquisas futuras demonstrar quantitativamente, por
meio de análise de dados, que a qualidade e condições de vida afeta a saúde e que esta
26
influencia fortemente na qualidade de vida do professor do ensino público no Brasil.
Ainda restam muitas questões a serem resolvidas e respondidas neste campo de
investigação, inclusive no que diz respeito às intervenções que, a partir do setor da saúde,
possam, mais eficazmente, influenciar de forma favorável à qualidade de vida do professor.
Ser professor é uma profissão louvável que merece respeito e consideração pela nobre
missão, de quem a exerce, de transmitir seus conhecimentos aos alunos, mas, infelizmente,
ocorreu uma deterioração das condições de formação e da prática profissional do professorado
no Brasil, atualmente tão desvalorizado no próprio universo acadêmico, na mídia e na
sociedade em geral. Conseqüentemente, de acordo com Gatti (2002) ser professor do ensino
básico tem se mostrado cada vez menos atraente, tanto pelas condições de formação
oferecidas, pelos cursos em si, quanto pelas condições em que seu exercício se dá, pelas
condições salariais e baixa qualidade de vida.
27
REFERÊNCIAS
ALVAREZ, B.R. Qualidade de vida relacionada à saúde de trabalhadores. 1996.
Dissertação. (Mestrado em Engenharia da Produção) – Programa de Pós-graduação em
Engenharia da Produção, UFSC. Florianópolis.
AMORIM, S., N., M., C. et al. Implicações do trabalho na saúde de professoras de ensino
fundamental. Goiânia. I Seminário Nacional de Trabalho e Gênero. Sessão Temática:
Trabalho, Gênero e Educação. p.1-14, 2006.
APEOESP- Associação dos Professores do estado de São Paulo. Disponível em:
www.apeoesp.gov.br.
ARAÚJO, T. M.; PARANHOS, I. S. Interface entre trabalho docente e saúde de uma instituição
de ensino superior. In: OLIVEIRA, D. A. (Org.). Reformas educacionais na América Latina e
os trabalhadores docentes. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. p.103-124.
ASSUMPÇÃO, L.O.T.; MORAIS, P.P; FONTOURA, H. Relação entre atividade física, saúde e
qualidade de vida. Notas Introdutórias. Lecturas: EF y Deportes. Buenos Aires. Ano 8 n.52,
2002.
BAHIA, Patrícia Harder do Nascimento. O estresse como indicador de qualidade de vida em
professores do curso de fisioterapia. 2002. Dissertação (Mestrado em Engenharia de
Produção). Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. UFSC, Florianópolis.
BUSS, P. M. Promoção da saúde e qualidade de vida. Revista Ciência e saúde
coletiva. vol.5 no.1, Rio de Janeiro, 2000.
BUSS, P. M. Uma introdução ao conceito de promoção da saúde. In: CZERESNIA, D.;
FREITAS, C. M. (Org.). Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro:
Editora FIOCRUZ, 2003. p.15-38.
CODO, W., et al. Indivíduo, trabalho e sofrimento. Petrópolis: Vozes, 1998.
DELCOR, N., S., et al. Condições de trabalho e saúde dos professores da rede particular de
ensino de Vitória da Conquista. Bahia. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v.20, n.1,
p.187-196. Jan-fev.2004.
FABRON, E. M. G.; OMOTE, S. Queixas vocais entre professores e outros profissionais. In:
FERREIRA, L. P.; COSTA, H. O. Voz ativa: falando sobre o profissional da voz. São Paulo:
Roca, 2000. p. 91 - 102.
FREIRE, P. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Paz e Terra, São Paulo, 1976.
GADOTTI, M. Convite à leitura de Paulo Freire. Ed: Scipione, São Paulo, 1991.
28
GATTI, B.A. Formação de professores e carreira: problemas e movimentos de
renovação. 2 ed. Campinas: Autores Associados, 2000. (Coleção Formação de Professores).
GOMES, P.C. & AMÉDIS, G. Afastamento dos professores de 5ª à 8ª séries na rede
municipal
de
Ipatinga
da
sala
de
aula.
Disponível
em:
http://bibliotecadigital.unec.edu.br/ojs/index.php/unec03/article/view/289/365.
Gutierrez M et al. Perfil descriptivo-situacional del sector de la promoción y educación en salud:
Colombia. In Aroyo HV e Cerqueira MT (eds.). La Promoción de la Salud y la Educación
para la Salud en America Latina: un Analisis Sectorial. Editorial de la Universidad de Puerto
Rico, 1996.
LIBÂNEO, J.C. Didática. Cortez: São Paulo, 1991.
MARQUES, A.C. Qualidade de vida de pessoas com Síndrome de Down, maiores de 40
anos no estado de Santa Catarina. 2000. Dissertação. (Mestrado em Educação Física)–
Programa de Pós-Graduação em Educação Física, UFSC. Florianópolis.
MARTINEZ, M.C; PARAGUAY, A.I.B.; LATORRE, M.R.D.O. Relação entre satisfação com
aspectos psicossociais e saúde dos trabalhadores. Revista Saúde Pública. vol.38, no.1. 2004.
MELNYK, P.; et al. Considerations about teachers´voice disorders. International Congress
Series. Philadelphia, p. 1293 - 1296, 2003.
MINAYO, M.C.S., Hartz, Z.M.A., Buss, P.M. Qualidade de vida e saúde: um debate necessário.
Ciência & Saúde Coletiva. 2000.
Ministério da Saúde. A promoção da saúde
Pública, vol.36, n.4. São Paulo, Agosto de 2002.
no
contexto
escolar.
Rev.
Saúde
MONTIBELLER FILHO, G. O mito do desenvolvimento sustentável: meio ambiente e custos
sociais no moderno sistema produtor de mercadorias. Ed. UFSC: Florianópolis, 2004.
NAHAS, M.V. Atividade Física, saúde e qualidade de vida: Conceitos e sugestões para um
estilo de vida ativo. 2 ed. Londrina: Midiograf, 2001.
__________. Atividade Física, saúde e qualidade de vida: Conceitos e sugestões para um
estilo de vida ativo. 3 ed. Londrina: Midiograf, 2003.
NASSAR, S.M. e GONÇALVES, L.H.T. A confiabilidade da escala de qualidade de vida de
Flanagan. (EQVF) – Versão em português – UFSC / CESPI. In I Congresso de Geriatria e
Gerontologia do Mercosul. Foz de Iguaçu – PR. 12 a 15 de maio de 1999.
OLIVEIRA, S. A qualidade da qualidade: uma perspectiva em saúde do trabalhador. Cad.
Saúde Pública v.13 n. 4. Rio de Janeiro, out./dez. 1997.
PENTEADO, R. Z.; PEREIRA, I. M. T. B. A voz do professor: relações entre trabalho, saúde e
qualidade de vida. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional. São Paulo, v. 25, n. 95/96, p. 109
- 130, 1999.
29
ROCHA, A. D.; OKABE, I.; MARTINS, M.E.A. MACHADO, P.H.B. ; MELLO, T.C.
Qualidade de vida, ponto de partida ou resultado final? Ciência e saúde coletiva. v. 5 n.1. Rio
de Janeiro, 2000.
ROCHA, V.M. & FERNANDES, M.H. Qualidade de vida de professores do ensino
fundamental: uma perspectiva para a promoção da saúde do trabalhador. Jornal Brasileiro de
Psiquiatria. vol.57 no.1. Rio de Janeiro, 2008.
SANTOS, João Francisco Severo. Globalização, qualidade de vida e educação. Revista
Espaço Acadêmico, n.61. jun. 2006.
SCALCO, M. A. G.; PIMENTEL, R. M.; PILZ, W. A saúde vocal do professor: levantamento
junto a escolas particulares de Porto Alegre. Revista Pro-Fono. São Paulo, v. 8, n. 2, p. 25 - 30,
1996.
SILVANY-NETO, et al. Condições de trabalho e saúde de professores da rede particular de
ensino de Salvador, Bahia. Revista Baiana de Saúde Pública. Bahia, v. 24, n. 12, p. 42 - 56,
2000.
SILVA, D.A.S.; JESUS, K.P., & SANTOS, R.J. Conceito de saúde e qualidade de vida para
acadêmicos de Educação Física. Revista Brasileira de Educação Física, Esporte, Lazer e
Dança, v.2, n.4, dez. 2007. pp.140-153.
VIEIRA, J., D. Identidade expropriada: Retrato do educador brasileiro. Brasília: CNTE,
2003.
VOLKOFF, S. O tempo, a saúde, a seleção: três questões relativas aos “modelos japoneses”. In:
Sobre o Modelo Japonês: Automação, Novas Formas de Organização e Relações de
Trabalho (H. Hirata, org.), pp. 267-278. São Paulo: Edusp/Aliança Cultural Brasil Japão, 1993.
XAVIER, Cley Erickson Silva & MORAIS, Alexandre Silva. Qualidade de vida em
professores da rede pública estadual de ensino da cidade de Aracajú – SE. Revista Brasileira
de Prescrição e Fisiologia do Exercício, v.1, n.5. São Paulo, set/out. 2007. pp.85-94.
ZARAGOZA, J., M., E. O mal estar docente: a sala de aula e a saúde dos professores.
Tradução: Durley de Carvalho Cavicchia. 3ª Ed, Bauru: Edusc, 1999.
Download

qualidade de vida do professor da rede pública de ensino