UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM TREINAMENTO ESPORTIVO CRYSTIAN PHILIPPI CARDOSO QUALIDADE DE VIDA DO PROFESSOR DA REDE PÚBLICA DE ENSINO: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO CRICIÚMA, JULHO 2008 1 CRYSTIAN PHILIPPI CARDOSO QUALIDADE DE VIDA DO PROFESSOR DA REDE PÚBLICA DE ENSINO: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO Monografia apresentada ao Setor de Pós-graduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, para a obtenção do título de especialista em Treinamento Esportivo. Orientadora: Profª. Dra. Bárbara Regina Alvarez CRICIÚMA, JULHO 2008 2 AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer a Professora Dra. Bárbara Regina Alvarez, pela orientação durante a escrita deste trabalho, pela paciência e especial compreensão. Agradeço também os meus familiares, minha irmã Laylla Donata Cardoso, mestre em Lingüística, meus pais José Dimas Cardoso e Laurinda Philippi Cardoso, incansáveis trabalhadores e incentivadores para a conclusão deste estudo. Sou especialmente grato a todos os professores da Universidade do Extremo Sul Catarinense –UNESC, pois foram fontes de inspiração. RESUMO Qualidade de vida é um tema em voga nos dias atuais. Entretanto, tal conceito ainda se apresenta revestido de relevantes dúvidas, principalmente no contexto sócio-educacional. O presente estudo tem como objetivo geral realizar um levantamento bibliográfico sobre a qualidade de vida do professor. O objetivo específico é evidenciar modelos conceituais e fatores que influenciam na qualidade de vida do professor da rede pública de ensino. A razão de sua elaboração é conhecer a qualidade de vida dos professores, para então sugerir melhorias no seu o ambiente de trabalho e condição de vida. Com este objetivo em mente, foram pesquisados livros, artigos científicos e demais referências bibliográficas acerca do tema. Os resultados apontam uma situação preocupante, pois os professores têm se afastado cada vez mais da sala de aula devido a problemas de saúde. O excesso de trabalho, muitas vezes associado aos baixos salários, contribuem para o agravamento deste quadro. Em conclusão, realizar um trabalho preventivo com os profissionais da educação, preparando-os para o dia-a-dia escolar, bem como diminuir as situações geradoras de stress pode ser uma alternativa para melhorar a qualidade de vida e saúde do professor. Palavras-chave: Qualidade de vida; Saúde; Professor; Rede pública de ensino. 4 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 05 2 QUALIDADE DE VIDA ................................................................................................ 07 2.1 Modelos conceituais sobre qualidade de vida .......................................................................... 08 2.2 Fatores que influenciam na qualidade de vida.......................................................................... 09 2.3 Qualidade de vida e saúde ....................................................................................................... 10 3 QUALIDADE DE VIDA E O PROFESSOR.................................................................. 13 3.1 O papel social e educacional do professor ............................................................................... 13 3.2 Qualidade de vida do professor da rede pública de ensino........................................................ 14 3.2.1 Condições e jornada de trabalho dos professores.................................................................16 3.2.2 Causas do afastamento de professores............................................................................. 17 3.2.3 Promoção da saúde e qualidade de vida do professor ...................................................... 20 4 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 24 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 27 5 1 INTRODUÇÃO Qualidade de vida é um tema bastante em voga nos dias atuais. Entretanto, tal conceito ainda se apresenta revestido de relevantes dúvidas, principalmente no contexto sócioeducacional. O avanço nas pesquisas sobre a qualidade de vida começa a se expandir no mundo, evidenciando uma busca pelo entendimento acerca do tema. Há literaturas indicando que esse assunto é fonte de pesquisa de muitos anos (XAVIER & MORAIS, 2007). A qualidade de vida está fortemente relacionada à saúde, de modo que ambas estão presentes no cotidiano dos educadores. Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo geral realizar um levantamento bibliográfico sobre a qualidade de vida do professor da rede pública brasileira, seja ela estadual ou municipal. O objetivo específico é evidenciar modelos conceituais e fatores que influenciam na qualidade de vida do professor da rede pública de ensino fundamental e ensino médio. A razão de sua elaboração é conhecer a qualidade de vida dos professores, para então sugerir melhorias no seu o ambiente de trabalho e condição de vida. Com este objetivo em mente, serão pesquisados livros, artigos científicos e demais referências bibliográficas acerca do tema. A expectativa de uma mudança do nível de vida existente para um padrão de maior qualidade é uma busca interminável e desgastante para a maioria das pessoas. Esta busca tem sido objeto de estudo de várias áreas do conhecimento (Seixas, apud ALVAREZ, 1996). Apesar dos estudos sobre a qualidade de vida no trabalho, poucos estudos têm referenciado a saúde do trabalhador, no seu contexto geral. Além dos fatores ambientais, tais como: poluição, ruído, vibração, temperatura e iluminação, que podem ser prejudiciais ao homem, existem outros fatores que também devem ser considerados, tais como: o estilo de vida, aspectos cognitivos, sociais e organizacionais, dentre outros (ALVAREZ, 1996). 6 Diante do objetivo de estudo proposto nesse trabalho, a metodologia utilizada será compatível com a modalidade de pesquisa levantamento bibliográfico. Sendo assim, o referenciado levantamento bibliográfico selecionará as publicações mais relevantes, por conteúdo, autor, e, principalmente, por grau de detalhamento. Na escolha dos textos, três critérios serão adotados: • Preferência por estudos brasileiros, inclusive pela importância dos fatores sócioculturais na discussão do tema; • Diversidade, isto é, procurar-se-á citar trabalhos que abordem o tema a partir de diversos panoramas teóricos; • Pertinência, ou seja, serão apontar textos relevantes na discussão sobre qualidade de vida para o profissional da Educação. Desse modo, o presente estudo será estruturado em quatro capítulos. Neste capítulo introdutório, foram apresentados o contexto, os objetivos da pesquisa e metodologia. No segundo capítulo, serão revisadas as principais literaturas referentes ao tema qualidade de vida, buscando elucidar modelos conceituais e fatores influenciadores na qualidade de vida e saúde dos indivíduos. O capítulo terceiro explorará os conceitos de qualidade de vida aplicados à realidade escolar e social vivenciada pelos professores do ensino público no Brasil. Além disso, no terceiro capítulo ainda serão discutidos o papel do professor, jornada de trabalho e condição de vida. No quarto capítulo, apresentar-se-á uma conclusão dos capítulos discutidos anteriormente. Por fim, as referências bibliográficas completarão este trabalho. 7 2 QUALIDADE DE VIDA Vários autores apresentam dificuldade para definir “qualidade de vida”, pois diversos são os critérios que englobam sua dimensão. O conceito de qualidade de vida é diferente de pessoa para pessoa e ao longo da vida de cada um, tende a mudar. Na década de 90 o termo qualidade de vida invadiu todos os espaços, passando a integrar o discurso acadêmico, a literatura relativa ao comportamento nas organizações, as conversas informais e a mídia em geral. Dessa forma, o termo tem sido utilizado tanto para avaliar as condições de vida urbana, incluindo transporte, saneamento básico, lazer e segurança, quanto para se referir à saúde, conforto e bens materiais (BAHIA, 2002). Segundo Nassar e Gonçalves (1999), a qualidade de vida pode ser compreendida como uma percepção subjetiva do sujeito sobre o bem estar em sua vida agrupado em algumas dimensões, como: o bem estar físico e material, as relações com outras pessoas, as atividades sociais, comunitárias e cívicas, o desenvolvimento pessoal, as realizações e as recreações. Para Neto (apud BAHIA, 2002) a expressão “qualidade de vida” é de origem recente. Surgiu nos últimos 30 anos oriunda de problemas ambientais decorrentes da industrialização descontrolada. Considera-se que, avaliar a qualidade de vida implica na adoção de múltiplos critérios de natureza biológica, psicológica e socioestrutural. Apesar da proliferação de instrumentos e o crescimento rápido da literatura voltada para medir a qualidade de vida, não existe uma concordância no seu significado. Os autores salientam que a qualidade de vida é diretamente proporcional ao status funcional, que é traduzido basicamente pela capacidade de desenvolver atividades diárias (ALVAREZ, 1996). Setién (apud MARQUES, 2000), considera que a multidimensionalidade do 8 fenômeno qualidade de vida, tem sua base no termo “vida”, pois, há um consenso em considerar que a vida compreende múltiplas facetas, referindo-se a um conjunto complexo que obrigatoriamente leva em conta a hora de definir e medir a qualidade de vida. A Organização Mundial de Saúde definiu a qualidade de vida englobando cinco dimensões: saúde física; saúde psicológica; nível de independência; relações sociais e meio ambiente. Assim, a qualidade de vida diz respeito justamente à maneira pela qual o indivíduo interage com o mundo externo, portanto a maneira como o sujeito é influenciado e como influencia. Logo, o acesso a uma vida com qualidade é determinado por uma relação de equilíbrio entre forças internas e externas (BAHIA, 2002). 2.1 Modelos conceituais sobre qualidade de vida Rogerson (apud ROCHA, OKABE e MARTINS et al, 2000) desenvolveu dois modelos conceituais sobre qualidade de vida: o primeiro relacionado à saúde e a sua recuperação e o segundo relacionado às questões ambientais. O primeiro enfoque envolve o processo de sobrevida ou pós-trauma dos indivíduos que recuperam sua saúde após um evento de doença ou agravo, ou melhor, está diretamente associado aos sintomas, incapacidades ou limitações ocasionadas pelas enfermidades. O segundo ponto relaciona-se ao meio ambiente como reflexo da realidade de um determinado grupo social, ou seja, o ambiente incorpora conceitos mais amplos resultante das questões socioeconômicas de uma realidade. Ao analisar-se o termo qualidade de vida verificam-se dois aspectos relevantes: a subjetividade e a multidimensionalidade (SILVA, JESUS & SANTOS, 2007). No que se refere à subjetividade, considera-se a percepção da pessoa sobre o seu estado de saúde e sobre os aspectos não-médicos do seu contexto de vida. A multidimensionalidade, além de se referir 9 as quatro dimensões do ser humano (física, psicológica, social e ambiental), pode também ser analisada através do senso comum, do ponto de vista objetivo ou subjetivo, e em abordagens individuais ou coletivas. 2.2 Fatores que influenciam na qualidade de vida Atualmente, coloca-se a qualidade de vida como base de todas as outras qualidades, uma vez que esta focaliza a saúde e a satisfação como condições necessárias para que o ser humano se esforce e produza da melhor maneira possível, acreditando que o homem vale mais do que o seu produto e que a qualidade de vida é medida pela saúde e pela satisfação total de cada um (BAHIA, 2002). A qualidade de vida das pessoas, conforme Nahas (2001), está diretamente associada aos fatores do estilo de vida, como: nutrição, atividade física, comportamento preventivo, relacionamentos e estresse. Vários são os elementos apontados como determinantes ou indicadores de bemestar, como por exemplo: longevidade, saúde biológica, saúde mental, satisfação, controle cognitivo, competência social, produtividade, status social, renda, continuidade de papéis familiares e ocupacionais (BAHIA, 2002). NAHAS (2003, p.14), define a qualidade de vida como: “condição humana resultante de um conjunto de parâmetros individuais e sócio-ambientais, modificáveis ou não, que caracterizam as condições em que vive o ser humano”. Neste contexto, os parâmetros sócio-ambientais são: moradia, transporte, segurança; assistência médica; Condições de trabalho e remuneração; Educação; Opções de lazer; Meio-ambiente. Os parâmetros individuais são: Hereditariedade; Estilo de Vida; Hábitos alimentares; Controle do Stress; Atividade Física habitual; Relacionamento; Comportamento preventivo. (NAHAS, 2003, p. 14). 10 Dessa forma, observa-se que alguns parâmetros podem ser modificáveis principalmente os referentes ao estilo de vida que conseqüentemente influenciam a saúde e bem-estar (SILVA, JESUS & SANTOS, 2007). Por outro lado, se enfatiza a importância do estilo de vida do indivíduo na promoção da saúde como também na redução da mortalidade por todas as causas. De acordo com Nahas (2001), os parâmetros individuais que afetam diretamente na qualidade de vida, principalmente os componentes do estilo de vida, influenciam na saúde e bem-estar. Destaca o autor, que estudos recentes evoluem para uma valorização de fatores como satisfação, realização pessoal, qualidade dos relacionamentos, opções de lazer, acesso a eventos culturais, percepção de bem-estar geral, entre outros. Em qualquer caso, considera-se como pré-requisito, ou componente fundamental sobre o qual se pode edificar uma vida com qualidade, o atendimento das necessidades humanas básicas: o alimento, a moradia, a educação e o trabalho. 2.3 Qualidade de vida e saúde A relação entre qualidade de vida e saúde existe desde o nascimento da medicina social nos séculos XVIII e XIX (MINAYO, et al 2000). Saúde é um direito fundamental do homem, reconhecido como o maior e o melhor recurso para o desenvolvimento social, econômico e pessoal, como também uma das mais importantes dimensões da qualidade de vida (BUSS, 2003). Neste sentido, a saúde não pode ser reduzida a uma relação biológica de causa e efeito, pois o homem é um ser histórico e como tal, sofre influência do meio social e cultural (ASSUMPÇÃO, MORAIS e FONTOURA, 2002). Assim, faz pouco sentido centrar a idéia de saúde na dimensão estritamente orgânica. “Saúde” não é um conceito universal, ao contrário, varia sob distintas condições 11 sociais. Ela é o resultado de um conjunto de fatores sociais, econômicos, políticos, culturais, coletivos e individuais, que se combinam, de forma particular, em cada sociedade resultando em comunidades mais ou menos saudáveis (BUSS, 2003). A saúde pode ser analisada sob diferentes perspectivas, ela pode ser vista tanto como ausência de doenças, como completo bem-estar físico-psíquico-social, como a capacidade de superação de dificuldades físicas, psíquicas, sociais, culturais e simbólicas (ASSUMPÇÃO, MORAIS e FONTOURA, 2002). Sob o ponto de vista da saúde, pode-se pensar em duas maneiras de olhar a qualidade de vida: a individual e a coletiva. A primeira refere-se à avaliação da capacidade funcional e da conseqüência da doença, da natureza física, biológica e social (Forattini, apud XAVIER & MORAIS, 2007). Forattini (apud XAVIER & MORAIS, 2007) ainda informa que indicadores da qualidade de vida em nível coletivo, quando mostram a necessidade de intervenção para sua melhoria, compreendem ações estruturadas social e politicamente. Porém, quando a qualidade de vida é entendida como satisfação de viver, quando se liga a um conceito tão sutil como a felicidade, exige intervenções em outra dimensão, a individual. Para BUSS (2003), a promoção da saúde pode ser entendida como dirigida à transformação do comportamento dos indivíduos, focalizando a educação para mudanças no estilo de vida. Essa visão abrange indivíduos, família e meio ambiente e as ações transformadoras dependem do indivíduo. Em resumo, pode-se dizer que a saúde não é apenas um processo de intervenção na doença, mas um processo para que o indivíduo e a coletividade disponham de meios para a manutenção ou recuperação do seu estado de saúde. Diante disso, enfatiza-se a idéia de promoção da saúde, que se apresenta como uma forma moderna e eficaz de enfrentar os desafios referentes à saúde e qualidade de vida, oferecendo condições e instrumentos para 12 uma ação integrada e multidisciplinar que inclui as diferentes dimensões da experiência humana que pode ser expressa pelos diferentes campos do conhecimento (SECRETARIA DE POLÍTICAS DE SAÚDE, 2001). 13 3 QUALIDADE DE VIDA E O PROFESSOR Considerando que o professor é um mediador do processo educativo, ele tem um importante papel para a valorização e adoção de uma concepção mais crítica e humana de qualidade de vida, não só pelo seu discurso, mas também por seu comportamento (SANTOS, 2006). Segundo Libâneo (1991), a educação é um processo complexo de influências e interrelações que colaboram para a formação do caráter humano, e conseqüentemente, para a concepção de valores, atitudes e comportamentos que, se orientados para o bem maior da sociedade, podem conduzi-la a um estágio de desenvolvimento sustentável cujas desigualdades sociais sejam amenas (MONTIBELLER FILHO, 2004). 3.1 O papel social e educacional do professor Para SANTOS (2006), é através da conscientização que o professor assume seu compromisso social de lutar por uma sociedade melhor para todos. A conscientização ocorre quando há um contexto favorável de comunicação transformadora, e quando há percepção do aprendizado (como vai aprender e o para quê). Nesse sentido, a educação formal une a teoria e a prática para a condução do ato educativo numa direção libertadora (FREIRE, 1976; GADOTTI, 1991). O papel do professor contemporâneo é conscientizar a sociedade para um modelo crítico e contextual de educação formal, que representa a superação da alienação produzida culturalmente em relação aos valores ligados à qualidade de vida (SANTOS, 2006). Para RUIZ (2003), o papel do profissional da educação precisa ser repensado. Segundo Gadotti (apud RUIZ, 2003), faz-se mister que o professor se assuma enquanto um profissional do humano, social e político, tomando partido e não sendo omisso, neutro, mas 14 sim definindo para si de qual lado está, pois se apoiando nos ideais freireanos, ou se está a favor dos oprimidos ou contra eles. Posicionando-se então, este profissional não mais neutro pode ascender à sociedade usando a educação como instrumento de luta, levando a população a uma consciência crítica que supere o senso comum, todavia não o desconsiderando. Nesse contexto, RUIZ (2003) coloca que os educadores precisam engajar-se social e politicamente, percebendo as possibilidades da ação social e cultural na luta pela transformação das estruturas opressivas da sociedade classista. Para isso, antes de tudo necessitam conhecer a sociedade em que atuam, o nível social, econômico e cultural de seus alunos. Em resumo, o professor tem um papel, sobretudo político e precisa problematizar a educação, buscando o porquê e o para quê do ato educativo; mais que isso, sua tarefa é a de quem incomoda, de quem evidencia e trabalha o conflito, não o conflito pelo conflito, mas o conflito para sua superação dialética (RUIZ, 2003). 3.2 Qualidade de vida do professor da rede pública de ensino Estudos realizados em todo o mundo apontam que os educadores correm o risco de sofrerem esgotamento físico e mental, levando-se em consideração as dificuldades materiais e psicológicas associadas ao exercício da docência (GOMES & AMÉDIS, 2006). No ambiente de trabalho, os processos de desgaste do corpo são determinados quase sempre pelo tipo de trabalho e pela forma como o mesmo está organizado (Delcor et al. 2004). Os problemas de saúde dos docentes têm sido estudados a partir dos anos 1960, na Europa e no Brasil, a partir da década de 1970. Na década de 1980, vários autores centraram suas reflexões sobre a educação chamando a atenção para a figura do docente e buscaram 15 decifrar os efeitos que podiam estar sofrendo pela racionalização de seus trabalhos (MARTINEZ et al, 2004). Um estudo sobre a qualidade de vida dos professores da rede pública de ensino da cidade de Aracaju-Sergipe, foi conduzido em quatro escolas estaduais no ano de 2007 (Xavier & Morais, 2007). Neste estudo, avaliou-se a qualidade de vida de 80 professores divididos em dois grupos: 1ª à 4ª séries do ensino fundamental e 5ª à 8ª séries do ensino fundamental. A estratégia utilizada para coleta de dados foi a aplicação de um questionário onde quatro domínios foram investigados: domínio físico; domínio psicológico; relações sociais e meio ambiente. O estudo concluiu que, com base nos dados coletados e tendo em vista que supostamente alguns professores não possuem casa própria, bons salários, segurança em suas vidas e encontram péssimas condições de trabalho, esses indivíduos possuem uma razoável qualidade de vida. Os professores de 1ª à 4ª séries apresentaram uma qualidade de vida pior que os professores de 5ª à 8ª séries, principalmente no que tange o domínio meio ambiente. Segundo a pesquisa, o domínio meio ambiente foi o único a diferenciar-se dentre os analisados. ROCHA & FERNANDES (2008) avaliaram a qualidade de vida dos professores do ensino fundamental do município de Jequié na Bahia. A pesquisa foi realizada com uma amostra aleatória constituída por 91 professores que responderam o questionário genérico de avaliação da qualidade de vida (SF-36). O questionário considerou oito domínios relativos à qualidade de vida: capacidade funcional; aspectos físicos; dor; estado geral de saúde; vitalidade; aspectos sociais; aspectos emocionais; e saúde mental . Os dados foram analisados por meio da estatística descritiva, com determinação de médias, freqüências e desvio-padrão. Todos os domínios apresentaram-se prejudicados com destaque para vitalidade e dor, como os de menor escore, e capacidade funcional e limitação por aspectos emocionais, como os de 16 maior escore. O estudo concluiu que a qualidade de vida da população investigada encontrase comprometida, o que pode repercutir no estado de saúde de tais indivíduos. Nas seções seguintes, serão discutidos os principais elementos que afetam a qualidade de vida dos professores da rede pública de ensino no Brasil, tais como: condição de trabalho; jornada de trabalho; causas do afastamento de professores e ações voltadas para a saúde do professor. 3.2.1 Condições e jornada de trabalho dos professores A educação é uma área que possui características particulares geradoras de stress e de alterações do comportamento dos que nela trabalham devido à tensão do próprio ambiente escolar, e às relações que se operam nele, dentre elas as relações competitivas, relações de poder, relação com a comunidade e relação com o conhecimento (GOMES & AMÉDIS, 2006). Segundo Amorim et al (2006), os professores representam cerca de dois milhões de trabalhadores no Brasil, sendo uma categoria predominantemente feminina na educação básica, devido a fatores históricos. Essa categoria profissional tem sido acometida por patologias que afetam a qualidade de seu trabalho e conseqüentemente sua qualidade de vida. Segundo dados do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP, 2006), no Brasil observa-se um grande número de professores readaptados (afastados temporária ou permanentemente para as atividades administrativas), sendo afetados por uma ou algumas doenças da área da psiquiatria, neurologia, otorrinolaringologia, reumatologia ou mesmo professores que se mantém em sucessivas licenças de saúde por razões diversas. Estes afastamentos dos docentes de suas atividades podem estar associados às 17 condições das quais se submetem (muito tempo em pé, ou em assentos não-ergonômicos, número de alunos excessivos em sala, jornada de trabalho excessiva, baixos salários, dentre outros). No Brasil, as jornadas de trabalho são de aproximadamente 40 horas semanais, sendo raros os casos em que parte deste tempo (em geral 10% ou 20%) é dedicada ao trabalho extraclasse (GOMES & AMÉDIS, 2006). Com isso, muitas destas atividades inerentes ao ensino são realizadas no período extraclasse pelos docentes em casa em seu horário de descanso. A sobrecarga de horas extraordinárias e pouco remuneradas tem efeitos particularmente nocivos sobre as condições de trabalho e de saúde dos educadores, uma vez que torna mais acentuadas as condições já estressantes do trabalho realizado. Estes trabalhos excessivos, que representam uma sobrecarga de trabalho inclusive nas férias e finais de semana, retiram do professor a oportunidade de estar com seus familiares, amigos ou mesmo realizar outros tipos de atividades físicas, culturais e sociais, comprometendo então sua qualidade de vida. (GOMES & AMÉDIS, 2006). 3.2.2 Causas do afastamento de professores O cotidiano e as condições de trabalho são citados como os grandes causadores de afastamento dos professores da sala de aula. O ritmo intenso de trabalho, as longas jornadas, a tensão do ambiente escolar, o acúmulo de atividades do professor, bem como a indisciplina dos alunos e sua dificuldade de aprendizagem têm sido apontadas como uma das fontes geradoras de doenças para os docentes (GOMES & AMÉDIS, 2006). Segundo GOMES & AMÉDIS (2006), os principais causadores do afastamento de professores por problemas respiratórios são: a exposição constante ao pó de giz; o contato 18 diário com várias crianças em sala de aula muitas vezes com ventilação precária; as mudanças climáticas, e a poluição das cidades. Os problemas osteomusculares, outro grande causador de afastamento do professor, pode ter suas causas relacionadas aos assentos não-ergonômicos, o uso constante do quadro negro, assim como os livros e materiais pesados carregados diariamente (GOMES & AMÉDIS, 2006). Zaragoza (1999) realizou um estudo sobre a evolução da saúde dos professores de 1982 a 1989, contabilizando as licenças médicas oficiais dos professores no período de sete anos e pôde constatar que os diagnósticos mais freqüentes foram: distensões; laringites e depressões. Discutindo sobre distúrbios mentais de professores, Viera (2003) destaca as doenças psiquiátricas e os calos nas cordas vocais como as principais enfermidades às quais os educadores são mais vulneráveis por conta da sua condição de trabalho. A disfonia tem se tornado causa de afastamento do trabalho, com efeitos negativos na vida do professor, tanto no nível profissional quanto no social e no econômico (Penteado & Pereira, 1999). No Brasil, os afastamentos por adoecimento vocal causam um prejuízo estimado em mais de 200 milhões de reais ao ano. Apesar de vultoso, o valor referido pode ainda estar subestimado, pois estudos assinalam afastamentos, licenças e readaptações por disfonia na ordem de 2% dos professores ativos (3º Consenso Nacional sobre Voz Profissional, 2004). O processo de readaptação funcional por disfonia é um indicativo de que, segundo Melnyk et al. (2003), o problema de voz dos professores pode se tornar uma doença com incapacidade específica no trabalho, parcial ou total, transitória ou permanente. O exercício da docência solicita uma voz de qualidade moderada e de alta intensidade. A disfonia pode resultar de grande demanda vocal no desempenho do trabalho. Ela se desenvolve 19 gradativamente e, ao atingir o estágio crônico, torna-se intratável e incapacitante (Vilkman, 2000; 2004). De forma geral, o trabalho influencia a voz do docente em razão das características do ambiente físico e dos aspectos da atividade profissional implicados na interação entre o professor e o aluno (Scalco et al., 1996; Fabron & Omote, 2000; Silvany-Neto et al., 2000; Araújo & Paranhos, 2003). A investigação de Codo et al. (1998) sobre a saúde mental dos professores de 1º e 2º graus em todo o país, abrangendo 1440 escolas e 30.000 professores, revelou que 26% dos professores da amostra estudada apresentavam exaustão emocional (cerca de um professor a cada quatro estudados). Essa proporção variou de 17% em Minas Gerais e Ceará a 39% no Rio Grande do Sul. A desvalorização profissional, baixa auto-estima e ausência de resultados percebidos no trabalho desenvolvido foram fatores importantes para o quadro encontrado. Volkoff (1993) adverte no sentido que a modernização das técnicas e da organização do trabalho, não necessariamente, é acompanhada de uma redução das imposições eventualmente nocivas para a saúde; a evolução das imposições de horário e ritmo é igualmente portadora de conseqüências patogênicas eventuais. O excesso de trabalho muitas vezes associado à péssima qualidade de vida dos profissionais da educação é apontado como um fator agravante no quadro de afastamento dos professores (GOMES & AMEDIS, 2006). Melhorar a qualidade de vida e realizar um trabalho preventivo com estes profissionais preparando-os para o dia-a-dia escolar bem como diminuir as situações geradoras de stress podem ser alternativas que diminuam os índices. 20 3.2.3 Promoção da saúde e qualidade de vida do professor Existem evidências científicas abundantes que mostram a contribuição da saúde para a qualidade de vida de indivíduos ou populações. Da mesma forma, é sabido que muitos componentes da vida social que contribuem para uma vida com qualidade são também fundamentais para que indivíduos e populações alcancem um perfil elevado de saúde (BUSS, 2000). A promoção da saúde vem sendo interpretada, de um lado, como reação à acentuada medicalização da vida social e, de outro, como uma resposta setorial articuladora de diversos recursos técnicos e posições ideológicas (BUSS, 2000). Embora o termo tenha sido usado a princípio para caracterizar um nível de atenção da medicina preventiva (Leavell & Clark, apud BUSS, 2000), seu significado foi mudando, passando a representar, mais recentemente, um enfoque político e técnico em torno do processo saúde-doença-cuidado. Sigerist (1946, apud BUSS 2000) foi um dos primeiros autores a mencionar a promoção da saúde, quando definiu as quatro tarefas essenciais da medicina: a promoção da saúde, a prevenção das doenças, a recuperação dos enfermos e a reabilitação, e afirmou que a saúde se promove proporcionando condições de vida decentes, boas condições de trabalho, educação, cultura física e formas de lazer e descanso, para o que pediu o esforço coordenado de políticos, setores sindicais e empresariais, educadores e médicos. A estes, como especialistas em saúde, caberia definir normas e fixar padrões. As diversas conceituações disponíveis para a promoção da saúde podem ser reunidas em dois grandes grupos (Sutherland & Fulton, apud BUSS, 2000). No primeiro deles, a promoção da saúde consiste nas atividades dirigidas à transformação dos comportamentos dos indivíduos, focando nos seus estilos de vida e localizando-os no seio das famílias e, no máximo, no ambiente das culturas da comunidade em que se encontram. Neste 21 caso, os programas ou atividades de promoção da saúde tendem a concentrar-se em componentes educativos, primariamente relacionados com riscos comportamentais passíveis de mudanças, que estariam, pelo menos em parte, sob o controle dos próprios indivíduos. Por exemplo, o hábito de fumar, a dieta, as atividades físicas, a direção perigosa no trânsito. Nessa abordagem, fugiriam do âmbito da promoção da saúde todos os fatores que estivessem fora do controle dos indivíduos. O que, entretanto, vem caracterizar a promoção da saúde, modernamente, é a constatação do papel protagonista dos determinantes gerais sobre as condições de saúde, em torno da qual se reúnem os conceitos do segundo grupo. Este se sustenta no entendimento que a saúde é produto de um amplo espectro de fatores relacionados com a qualidade de vida, incluindo um padrão adequado de alimentação e nutrição, e de habitação e saneamento; boas condições de trabalho; oportunidades de educação ao longo de toda a vida; ambiente físico limpo; apoio social para famílias e indivíduos; estilo de vida responsável; e um espectro adequado de cuidados de saúde (BUSS, 2000). Suas atividades estariam, então, voltadas ao coletivo de indivíduos e ao ambiente, compreendido num sentido amplo, de ambiente físico, social, político, econômico e cultural, através de políticas públicas e de condições favoráveis ao desenvolvimento da saúde (as escolhas saudáveis serão as mais fáceis) e do reforço da capacidade dos indivíduos e das comunidades. A Carta de Ottawa define promoção da saúde como “o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo” (WHO, 1986 apud BUSS, 2000). Inscreve-se, desta forma, no grupo de conceitos mais amplos, reforçando a responsabilidade e os direitos dos indivíduos e da comunidade pela sua própria saúde. Para Gutierrez (1994, apud Gutierrez, M. et al., 1997), promoção da saúde é o conjunto de atividades, processos e recursos, de ordens institucionais, governamentais ou da 22 cidadania, orientados a propiciar a melhoria das condições de bem-estar e acesso a bens e serviços sociais, que favoreçam o desenvolvimento de conhecimentos, atitudes e comportamentos favoráveis ao cuidado da saúde e o desenvolvimento de estratégias que permitam à população maior controle sobre sua saúde e suas condições de vida, a níveis individual e coletivo. Neste conceito, mais apropriado à realidade atual, agrega-se ao papel da comunidade a responsabilidade indelegável do Estado na promoção da saúde de indivíduos e populações. A Carta de Ottawa propõe cinco campos centrais de ação: • Elaboração e implementação de políticas públicas saudáveis; • Criação de ambientes favoráveis à saúde; • Reforço da ação comunitária; • Desenvolvimento de habilidades pessoais; • Reorientação do sistema de saúde. Para promover a saúde e melhor qualidade de vida, segundo Buss (2000), é necessário mais do que o acesso a serviços médico-assistenciais de qualidade, é preciso enfrentar os determinantes da saúde em toda a sua amplitude, o que requer políticas públicas saudáveis, uma efetiva articulação intersetorial do poder público e a mobilização da população. Nesse sentido, a área da educação pode agir como forte aliado à saúde nas políticas de promoção da saúde e qualidade de vida. No entanto, a educação e a saúde, como campos de conhecimentos e de práticas, têm sido consideradas a partir de suas especificidades, em que a educação está associada à escola e aos processos de aprendizagem e a saúde é identificada com os serviços de saúde e processos de adoecimento. Vista de forma ampliada, a relação entre saúde e educação pode estabelecer a intersecção para a integração dos saberes acumulados por tais campos, uma vez que os 23 processos educativos e os de saúde e doença incluem tanto conscientização e autonomia quanto a necessidade de ações coletivas e de fomento à participação. Em artigo à Revista de Saúde Pública (2002), o Ministério da Saúde sugere que na concepção de saúde individual, seria necessário refletir sobre a saúde dos professores, seja individual ou coletivamente. O estresse diário dos docentes, o esforço repetitivo que o cotidiano exige, o enfrentamento de situações dramáticas não faz parte do cotidiano escolar. Uma escola promotora de saúde inclui essa idéia de saúde, de estar saudável incluindo o bemestar docente. Ainda de acordo com o artigo do Ministério da Saúde, para se promover saúde não é suficiente informar. É necessária uma relação dialogal, uma comunicação emancipadora, em que os sujeitos sejam envolvidos na ação educativa, formativa e criativa, levando em conta a reconstrução do saber da escola e a formação continuada dos docentes. Promover saúde implica e requer ter paz, educação, alimentação, renda, ecossistema saudável, recursos sustentáveis, justiça e eqüidade e desenvolver ações de promoção da saúde. No contexto escolar, tem a ver com respeito às possibilidades e aos limites do corpo, do intelecto e das emoções, da participação social e do estabelecimento de alianças. Em resumo, o professor é um elemento de fundamental importância no processo de promoção da saúde. Para tanto, se torna necessário que o mesmo esteja com sua saúde em perfeitas condições para que possa contribuir no processo de ensino-aprendizagem, e também possa colaborar no processo de construção de uma melhor qualidade de vida para si e as pessoas com as quais se relaciona. 24 4 CONCLUSÃO O presente levantamento bibliográfico buscou discutir e refletir sobre a qualidade de vida do professor da rede pública de ensino. Para tal, inicialmente refletiu-se sobre a qualidade de vida, evidenciando modelos conceituais e fatores influenciadores. Em seguida, traçou-se um paralelo entre qualidade de vida e saúde, onde o papel social e educacional do professor serviu de centro para essa discussão. Com o objetivo de provocar novas pesquisas e análises acerca das questões neste trabalho levantadas, é possível ressaltar alguns itens de grande relevância reflexiva: • A educação é uma área que possui características particulares geradoras de stress e de alterações do comportamento dos que nela trabalham devido à tensão do próprio ambiente escolar, e às relações que se operam nele, dentre elas as relações competitivas, relações de poder, relação com a comunidade e relação com o conhecimento (GOMES & AMÉDIS, 2006). • Estudos realizados em todo o mundo apontam que os educadores correm o risco de sofrerem esgotamento físico e mental, levando-se em consideração as dificuldades materiais e psicológicas associadas ao exercício da docência (GOMES & AMÉDIS, 2006). No ambiente de trabalho, os processos de desgaste do corpo são determinados quase sempre pelo tipo de trabalho e pela forma como o mesmo está organizado (Delcor et al. 2004). • O estado em que se encontra o trabalho na escola, e em particular, o trabalho dos professores, tem chamado a atenção devido ao aumento de adoecimento e afastamento desses profissionais; • A tensão provocada pela cobrança da qualidade e ritmo acelerado; a fadiga mental expressa pelos sintomas de sensação de esgotamento físico permanente; jornadas de trabalho extenuantes; os problemas de humor, irritação e ansiedade são os principais fatores que interferem negativamente na qualidade de vida e saúde dos professores; • A qualidade de vida está fortemente relacionada á saúde, de modo que ambas estão presentes no cotidiano dos educadores. • A assistência à saúde dos professores não deveria estar relacionada apenas aos exames admissionais, mudanças de cargos ou mesmo rescisórios ou quando o docente é obrigado a afastar-se de suas atividades por doenças adquiridas em seu ambiente de trabalho ou não ou mesmo por falta de um 25 trabalho preventivo com os mesmos. Seria interessante que fossem desenvolvidas ações educativas visando sempre à promoção da saúde e prevenção de doenças, iniciando no processo de formação dos professores e durante todo o processo de trabalho nas reais condições em que é realizado. Para isso, os servidores de saúde por meio das políticas vigentes, devem redimensionar e reestruturar a atenção à saúde do professor, visando interpretar mais precocemente os possíveis sinais de adoecimento dos professores, sendo necessário também traçar linhas de ações que consolidem uma política de valorização do trabalhador em educação, afim de que se possa minimizar estes afastamentos do trabalho. • Dessa forma, observa-se que alguns parâmetros podem ser modificáveis principalmente os referentes ao estilo de vida que conseqüentemente influenciam a saúde e bem-estar (SILVA, JESUS & SANTOS, 2007). Por outro lado, se enfatiza a importância do estilo de vida do indivíduo na promoção da saúde como também na redução da mortalidade por todas as causas. De acordo com Nahas (2001), os parâmetros individuais que afetam diretamente na qualidade de vida, principalmente os componentes do estilo de vida, influenciam na saúde e bem-estar. Destaca o autor, que estudos recentes evoluem para uma valorização de fatores como satisfação, realização pessoal, qualidade dos relacionamentos, opções de lazer, acesso a eventos culturais, percepção de bem-estar geral, entre outros. Em qualquer caso, considera-se como pré-requisito, ou componente fundamental sobre o qual se pode edificar uma vida com qualidade, o atendimento das necessidades humanas básicas: o alimento, a moradia, a educação e o trabalho. O mais importante papel da educação nesse contexto é o de formar cidadãos capazes de visualizar o bem estar coletivo como critério indispensável para o bem estar individual, ou seja, incutir valores e crenças que tenham maior potencial levar a sociedade a um desenvolvimento equilibrado. E que, além disso, tenham conhecimento, mesmo que básico, para identificar e analisar suas opções, bem como predizer as conseqüências de suas escolhas para o seu futuro e o da sociedade (SANTOS, 2006). Conforme exposto anteriormente, o objetivo do presente estudo foi fazer um levantamento bibliográfico acerca da qualidade de vida do professor. Está além do escopo aqui delimitado, analisar dados quantitativos, discutir resultados e propor mudanças. Sendo assim, fica registrado como sugestão para pesquisas futuras demonstrar quantitativamente, por meio de análise de dados, que a qualidade e condições de vida afeta a saúde e que esta 26 influencia fortemente na qualidade de vida do professor do ensino público no Brasil. Ainda restam muitas questões a serem resolvidas e respondidas neste campo de investigação, inclusive no que diz respeito às intervenções que, a partir do setor da saúde, possam, mais eficazmente, influenciar de forma favorável à qualidade de vida do professor. Ser professor é uma profissão louvável que merece respeito e consideração pela nobre missão, de quem a exerce, de transmitir seus conhecimentos aos alunos, mas, infelizmente, ocorreu uma deterioração das condições de formação e da prática profissional do professorado no Brasil, atualmente tão desvalorizado no próprio universo acadêmico, na mídia e na sociedade em geral. Conseqüentemente, de acordo com Gatti (2002) ser professor do ensino básico tem se mostrado cada vez menos atraente, tanto pelas condições de formação oferecidas, pelos cursos em si, quanto pelas condições em que seu exercício se dá, pelas condições salariais e baixa qualidade de vida. 27 REFERÊNCIAS ALVAREZ, B.R. Qualidade de vida relacionada à saúde de trabalhadores. 1996. Dissertação. (Mestrado em Engenharia da Produção) – Programa de Pós-graduação em Engenharia da Produção, UFSC. Florianópolis. AMORIM, S., N., M., C. et al. Implicações do trabalho na saúde de professoras de ensino fundamental. Goiânia. I Seminário Nacional de Trabalho e Gênero. Sessão Temática: Trabalho, Gênero e Educação. p.1-14, 2006. APEOESP- Associação dos Professores do estado de São Paulo. Disponível em: www.apeoesp.gov.br. ARAÚJO, T. M.; PARANHOS, I. S. Interface entre trabalho docente e saúde de uma instituição de ensino superior. In: OLIVEIRA, D. A. (Org.). 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