De que forma os recursos naturais de África podem retirar milhões de pessoas da pobreza Por Caroline Kende-Robb 25 de julho de 2013 – Uma década depois de Angola emergir de uma devastadora guerra civil, a marginal que serpenteia a baía da sua capital, Luanda, está agora repleta de condomínios multimilionários, clubes exclusivos e “boutiques” que abastecem a elite do país. No entanto, a maioria da população de Luanda vive em bairros de lata próximos, onde não existem unidades de cuidados de saúde e as crianças têm de trabalhar, e não estudar, para sobreviver. Certamente que a riqueza de recursos naturais de África alimentou uma década de crescimento rápido, mas a maioria dos africanos continua a não ver os benefícios. O que é mais urgente é o facto de um rápido crescimento populacional aliado a uma profunda desigualdade poder vir um dia a revelar-se explosivo. É evidente que não tem de ser assim. O Botsuana geriu com sucesso a sua riqueza em diamantes para se desenvolver rapidamente, passando de um dos países africanos mais pobres na altura da sua independência, em 1966, para uma nação democrática, estável e de rendimentos médios altos. Mas países como o Gana e a Libéria também alcançaram progressos consideráveis em direção a uma melhor gestão dos recursos naturais nos últimos anos. Com o aumento da procura global a manter em alta os preços de exportação e novas explorações a revelarem reservas muito maiores do que as anteriormente conhecidas, África está destinada a obter ganhos excecionais com os seus recursos naturais. O desafio consiste em traduzir esta riqueza em benefícios significativos para os cidadãos africanos. O Relatório do Progresso em África deste ano, intitulado "Equidade nas Indústrias Extrativas: Administrar os recursos naturais de África para todos", recomenda políticas para que mais africanos possam beneficiar dos minerais que se encontram debaixo dos seus solos e águas costeiras. Entre as recomendações que fazemos aos decisores políticos africanos, à comunidade internacional e ao setor privado, destacam-se cinco grandes temas. Em primeiro lugar, dos fluxos de receitas à propriedade das empresas, a transparência é fundamental porque reduz as oportunidades de corrupção. As iniciativas internacionais, como a Iniciativa para a Transparência nas Indústrias Extrativas (EITI), produziram fortes progressos e países africanos como a Guiné, a Libéria e o Gana publicam cada vez mais as informações sobre os contratos online. Mas resta ainda muito trabalho por fazer. A comunidade internacional tem de se esforçar mais para combater as questões do branqueamento de capitais e das empresas fictícias anónimas, que facilitam a corrupção ao ocultarem os verdadeiros beneficiários dos pagamentos corruptos. Este é um desafio global que exige soluções multilaterais. O nosso relatório analisou cinco contratos recentes, por exemplo, que custaram à República Democrática do Congo cerca de 1,36 mil milhões de dólares, calcula-se, através da subvalorização sistemática e venda de ativos minerais detidos pelo Estado a compradores desconhecidos. Estas perdas equivaliam a mais do dobro do orçamento conjunto para a saúde e a educação em 2012 num país que tem um dos piores índices de subnutrição do mundo, a sexta taxa de mortalidade infantil mais alta e mais de sete milhões de crianças que não frequentam a escola. Estas questões podem ter integrado a agenda política do G8 deste ano, mas os líderes do G8 pouco fizeram para legislar contra a propriedade anónima das empresas nas suas jurisdições. O mundo estará atento à liderança australiana do G20 no próximo ano, esperando que se registem progressos significativos neste domínio. Em segundo lugar, os países africanos devem garantir uma quota-parte mais justa das receitas de recursos naturais para os seus cidadãos. África recebeu com demasiada frequência retornos injustos dos seus recursos minerais. No início deste século, por exemplo, meio milhão de zambianos do setor mineiro pagavam uma taxa de imposto mais alta do que as multinacionais para as quais trabalhavam. Inevitavelmente, alguns governos africanos têm-se visto em situação de desvantagem natural quando negoceiam com empresas cuja experiência se estende por muitas décadas e também diferentes continentes. Mas acordos mais justos podem ser positivos para as multinacionais. As empresas preferem um ambiente empresarial estável e os acordos mais justos geralmente duram muito mais tempo. Em terceiro lugar, os governos africanos devem despender as receitas derivadas dos seus recursos naturais de forma mais eficaz na redução da pobreza. Através da utilização de fluxos de recursos para eliminar a subnutrição, os decisores políticos africanos poderiam eliminar a maior barreira ao progresso social e económico de África, que prejudica as vidas de 40% das crianças africanas. Em quarto lugar, a comunidade internacional deve combater a fraude e evasão fiscais, o que é especialmente relevante para os setores do petróleo, do gás e dos minerais de África. Tal como referimos no nosso relatório, África continua a perder mais fundos todos os anos através da evasão fiscal do que recebe quer através da ajuda internacional, quer através de investimento direto estrangeiro. Mas os exemplos da Amazon, da Google e da Starbucks demonstram que a agenda política do G8 está também alinhada com a agenda africana. Em todo o mundo, tanto governos como cidadãos beneficiarão do combate à fraude e evasão fiscais. Em quinto lugar, os decisores políticos africanos devem aproveitar esta oportunidade para criarem mais empregos. O petróleo, o gás e a exploração mineira não criam um grande número de empregos por si só, mas a criação de empregos é uma questão fundamental para África, que possui uma das populações de crescimento mais rápido do mundo. Os governos devem exigir que as empresas extrativas adquiram mais produtos e serviços localmente. Mas os decisores políticos podem também utilizar as indústrias extrativas como base de diversificação das suas economias. Estamos otimistas quanto às perspetivas para África. Não somente estamos a assistir ao enraizamento da democracia no continente e a uma governação económica muito mais forte, como também a um maior empenho das multinacionais em contribuírem para a sociedade. Em última análise, é do interesse de todos nós que África alcance o sucesso. Todos beneficiaremos de uma África próspera, justa e estável. Fonte original: HYPERLINK "http://edition.cnn.com/2013/07/25/opinion/africas-naturalresources-millions-poverty/index.html" http://edition.cnn.com/2013/07/25/opinion/africasnatural-resources-millions-poverty/index.html * * * * * Presidido por Kofi Annan, ex-Secretário-Geral das Nações Unidas, o Africa Progress Panel (o Painel) inclui individualidades eminentes dos setores privado e público que promovem a defesa de questões globais importantes para África e para o mundo. Para mais informações, contactar Edward Harris – HYPERLINK "mailto:[email protected]" [email protected] (telemóvel) +41 79 87 38 322 e (trabalho) +41 22 919 7536 HYPERLINK "http://www.africaprogresspanel.org" www.africaprogresspanel.org e HYPERLINK "http://www.facebook.com/africaprogresspanel" www.facebook.com/africaprogresspanel @africaprogress e #APR2013