PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO – Ano B
Evangelho – Jo 20,1-9.
“Cristo ressuscitou. Aleluia!”
Ir. Sandra M. Pascoalato, sjbp.
O anúncio pascal ressoa hoje na Igreja: Cristo ressuscitou! Ele vive! É o Senhor dos vivos e dos mortos! A
vida venceu a morte! A Liturgia propõe à nossa escuta aquela que é a Boa Notícia por excelência, hoje,
segundo a narração do evangelho de S. João.
Na hora da morte de Jesus, junto à cruz, estavam somente algumas mulheres – entre as quais Maria
Madalena – e o discípulo amado (cf. Jo 19,25-27); um punhado de pessoas que não conseguia acreditar que
o seu tão amado mestre e profeta de Nazaré pudesse terminar assim de modo tão infame. Ao entardecer
daquele dia iniciava-se o sábado, um sábado triste, sombrio, carregado de temor e de angústia: a morte
parecia haver posto a palavra ‘fim’ sobre a vida de Jesus. Mas, eis que ao amanhecer do primeiro dia da
semana, assim que terminara o repouso sabático, encontramos alguém que não se resigna a crer que tudo
havia acabado: “No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus bem de madrugada,
quando ainda estava escuro” (20,1).
Mas, quem era Maria Madalena? Uma mulher com um passado devastado e que, graças ao encontro com
Jesus, tinha sido libertada de ‘sete demônios’ (cf. Lc 8,2). Deste encontro com Jesus nascia uma nova mulher
que, sem hesitação, pusera-se a seguir o Mestre como discípula. Os evangelhos não explicitam detalhes
sobre este seguimento tão original. Será a Tradição a identificar a Madalena como ‘a prostituta que havia
lavado os pés de Jesus com as suas lágrimas, enxugado com os seus cabelos, coberto de beijos e os havia
ungido com perfume’ (cf. Lc 7,37-38); como aquela ‘a quem foram perdoados muitos pecados, porque muito
havia amado’ (cf. Lc 7,47). É ela que retorna ao sepulcro, enquanto ainda a escuridão envolve a paisagem e,
sobretudo, vela o seu coração. Será que vai para ver o sepulcro? Para ungir de perfume o cadáver de Jesus?
O IV Evangelho silencia sobre as suas intenções, deixando, ao mesmo tempo, transparecer o motivo
profundo do agir da Madalena: ela vai ao sepulcro porque não consegue abandonar-se à ideia da morte
daquele que havia imensamente amado.
Uma novidade extraordinária a espera: Maria “viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo”! Imediata a sua
reação: “Saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava. E disse
para eles: Tiraram do túmulo o Senhor, e não sabemos onde o colocaram!”. Palavras que poderiam parecer
alucinantes, palavras difíceis de acreditar, todavia, de tal modo densas de amor, que provocaram uma outra
corrida, aquela de Pedro e do outro discípulo amado ao sepulcro. E também neste caso é questão de amor.
Após a corrida ao sepulcro, os dois discípulos voltam para casa sem proferir palavra. Provavelmente, Pedro,
mesmo tendo visto o sudário e os panos de linho no chão, não compreendeu o fato extraordinário; mas é
diferente a experiência do discípulo amado: “Ele viu e acreditou”. Se é verdade que “a fé nasce da escuta”
(Rm 10,17), aqui compreendemos que a fé nasce do amor: somente o amor por Jesus permite compreender
em profundidade a Escritura e saber discernir, a partir de um sepulcro vazio, que Cristo ressuscitou.
“Na Igreja que vai em busca dos sinais do seu Senhor, diversos são os temperamentos, diversas as
mentalidades: há o afeto de Maria, a intuição de João, a lentidão de Pedro. Mas todos, se se sentem
verdadeiramente Igreja, têm em comum o anseio pela presença de Jesus entre nós. Neste episódio
encontramos o exemplo da colaboração na diversidade: cada um comunica ao outro aquele pouco que viu, e
juntos reconstroem a orientação da existência cristã, lá onde os sinais da presença do Senhor, diante de
graves dificuldades parecem não existir mais... Quando falta a presença dos sinais visíveis do Ressuscitado,
é preciso sacudir-se, mover-se, correr, buscar, partilhar com os outros, com a certeza de que Deus está
presente e nos fala. Se na Igreja primitiva a Madalena não tivesse agido de tal modo, comunicando o que
encontrou, e se não se tivessem ajudado reciprocamente, o sepulcro teria ficado lá e ninguém para lá havia
corrido; teria sido inútil a ressurreição de Jesus. Somente a busca em comum e a ajuda recíproca fez com
que os discípulos se reencontrassem, e juntos, reconhecessem o Senhor Ressuscitado” .
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