SOBRE O PROGRAMA DE VOCAÇÃO CIENTÍFICA
Francisco Caruso‡
CBPF & UERJ
Há cerca de 2 anos, quando havia sido convidado pelo Diretor do CBPF,
Prof. Amós Troper, para implantar, em parceria com a Fiocruz, o Programa de
Vocação Científica na nossa Instituição, fiz questão de ir ver in loco como
funcionava o Programa da Fiocruz. Acompanhado do Prof. Troper, da Prof. Ana
Maria Amâncio e de outros pesquisadores da Fiocruz, lá passamos uma tarde
agradável conversando com alunos e pesquisadores. Recordo-me que ficamos
extremamente entusiasmados com os testemunhos que colhemos de ambas as
partes. Talvez a melhor forma de expressar o que apreendemos desta visita seja
lembrar da rápida conversa com duas alunas que estavam aprendendo
tratamento estatístico de dados. Vencida a timidez inicial de ambas as partes,
elas nos explicaram em que consistia seu trabalho e perguntei-lhes se aquela
experiência no Provoc havia mudado alguma coisa para elas na Escola. A
resposta mais simples e menos comprometedora veio logo com outra pergunta
 “como assim?”  e, a seguir, uma delas se aventurou a dizer: “agora tenho
menos medo na Escola”. Nossa surpresa com a resposta deve ter sido visível e
então ela se apressou a completar a resposta, explicando-nos que havia
adquirido mais autoconfiança e uma nova disposição para os estudos, tinha
aguçado a sua curiosidade e não tinha mais medo de provas e de admitir que
não compreendia uma certa matéria. Acho que não poderíamos ter ouvido
testemunho melhor em favor do Provoc: saímos de lá convictos de que este
Programa era uma experiência ímpar para os jovens, enquanto que para nós
seria uma nova experiência muito estimulante, capaz, inclusive, de mexer com a
dinâmica do próprio CBPF. De fato, estávamos certos.
Estão hoje envolvidos no Provoc do CBPF cerca de 30% de seus
pesquisadores. A primeira “turma” de 30 alunos passou por uma seleção
rigorosíssima em duas fases, nas Escolas e no CBPF, e concluiu o estágio neste
mês de agosto. A segunda “turma”, igualmente selecionada, é formada de 12
alunos apenas, pois, infelizmente, o período de seleção deste ano coincidiu com
um longo período de greve em 4 das 7 Escolas que participam do Programa. O
sucesso deste primeiro ano de experiência fez com que nossa instituição
decidisse por ter um programa avançado com 4 alunos e por organizar um
laboratório didático de física moderna para os alunos do Provoc, revivendo
assim uma antiga vocação do CBPF. Neste sentido, o apoio da Fiocruz e da
Fundação Vitae tem sido fundamental.
Gostaria de aproveitar esta oportunidade para oferecer aos colegas
interessados no Provoc três pontos para reflexão. O primeiro relaciona-se à
natureza específica distinta de cada área do conhecimento. Embora a experiência
acumulada no caso específico da Física seja ainda muito pouca comparada à da
Biologia, a enorme distância entre os currículos de física das Escolas e o que seria
desejável que o aluno já soubesse, por si só, me leva a questionar se, na Física,
realmente devemos abrir o programa para alunos do primeiro ano do segundo
grau ou se ele seria mais proveitoso para alunos do segundo ano. Do ponto de
vista pedagógico, acredito que seja preciso experimentar e só a análise
comparativa de seus resultados ao longo dos próximos anos é que poderá
apontar o caminho melhor. A segunda questão está relacionada à avaliação do
impacto do Provoc, a qual já tive a oportunidade de apresentar e discutir com os
coordenadores da Fiocruz. Posso sintetizar minha curiosidade na seguinte
pergunta: Quanto a excelência do programa depende da excelência das Escolas
participantes? Ou ainda, o programa só terá sucesso sendo elitista? As respostas
a estas perguntas virão com a escolha criteriosa de um espectro de Escolas mais
amplo e quanto mais heterogêneo melhor. O terceiro e último ponto diz respeito
à participação mais efetiva dos professores de física, matemática, biologia e
química das Escolas no Provoc. É importantíssimo, em minha opinião,
buscarmos criar mecanismos que contribuam para aumentar a capacidade dos
docentes de divulgar a Ciência. Neste sentido, as Escolas que participam do
Provoc deveriam participar do projeto “SBPC vai a Escola”, que será retomado
neste semestre, sob minha coordenação, liberando sempre os professores para
assistirem junto com os alunos todas as palestras. Esta atitude da escola é
fundamental para que o professor possa cada vez mais despertar nos jovens o
interesse pela Ciência e venha a se constituir no principal aliado do Provoc nas
Escolas. O relacionamento entre pesquisadores e professores não deve, no
entanto, esgotar-se com estas palestras. Os professores interessados podem
participar hoje em dia de várias Escolas a eles dedicadas, organizadas por
diversas instituições no Rio de Janeiro, como a LISHEP, patrocinada pelo LAFEX
do CBPF, As Escolas de Verão do CBPF e do IMPA, a Escola da UFF, atividades
no MAST etc.
Concluindo, vejo o Provoc como um dos programas mais importantes de
Ensino de Ciências dedicado aos jovens no Estado do Rio de Janeiro e é
obrigação de todos  Universidades, Centros de Pesquisa, Universidades e
Escolas  contribuir para mantê-lo, aperfeiçoá-lo e difundi-lo, como vem
fazendo a Fiocruz, com o apoio da Vitae, e atualmente de seus novos parceiros,
como forma de procurar recuperar o tempo perdido. Gosto de dizer que na
Educação, mais do que em qualquer outra atividade humana, o tempo é a
medida implacável do que não foi feito e, no Brasil, há quanto tempo se fala do
“problema educacional” e, em particular, do problema da Educação de Ciências?
‡
E-mail: [email protected]; Fax: (021) 541-2047 ou 275-9240.
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