Comunicar para T endo embora merecido alguns questionamentos, a objectividade da nova metodologia, utilizada para a sistematização dos dados recolhidos no âmbito do Censo 2010, não pode ser posta em causa, uma vez que expurga do universo dos sem-trabalho os indivíduos cujo perfil não se adequa ao que tecnicamente pode ser considerado um desempregado. Aplicando-se retrospectivamente os mesmos critérios aos resultados apurados no censo de 2000, a constatação é que havia em Cabo Verde, nessa altura, 13.393 pessoas sem emprego, o que equivalia a uma taxa de desemprego de 8,6 por cento, praticamente o mesmo calculado em sentido restrito*. Convém salientar que em 2009 a taxa de desemprego era de 13,1 por cento. PARÂMETROS DA OIT De acordo com as recomendações da OIT nesta matéria, para que uma pessoa seja considerada desempregada, é necessário, além de ter 15 ou mais anos de idade, não desempenhar qualquer actividade económica, estar disponível para trabalhar e encontrar-se em busca activa de emprego no período de referência. Iniciando-se a idade activa nos 15 anos, a metodologia anterior incluía no universo dos desempregados qualquer estudante sustentado ou não integralmente pelos pais e que estivesse à procura de trabalho ou tivesse manifestado disponibilidade para entrar no mundo laboral, trabalhar se a oportunidade surgisse. Foram estes os critérios observados pelo Instituto Nacional de Estatística para o cálculo da taxa de desemprego a partir de 2009, e os números apurados são reveladores de algumas disparidades, por exemplo, ao nível do género e da distribuição geográfica do desemprego. S. VICENTE E R. BRAVA Os dois extremos do desemprego A análise da problemática do desemprego em Cabo Verde tem suscitado alguma polémica nos últimos tempos, em virtude da revisão dos critérios até agora utilizados para o cálculo da respectiva taxa. A metodologia, avalizada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e utilizada em França, Espanha, Itália, Portugal, Brasil e vários países membros do Afristat como uma boa prática, determinou que o desemprego em Cabo Verde, em Junho de 2010, afectava 10,7 por cento da população activa, abrangendo um total de 21.168 indivíduos. GÉNERO: O ETERNO DESEQUILÍBRIO A população activa de Cabo Verde é, actualmente, de 198.465 indivíduos, sendo 111.225 do sexo masculino e 87.240 do sexo feminino, o que revela um desequilíbrio de género, tendo em conta que cerca de 51 por cento da população cabo-verdiana é constituído por mulheres. Uma consulta mais específica mostra que, da população activa ocupada, num total de 177.297, 100.575 são homens, equivalentes a 90,4 por cento, enquanto apenas 76.722, correspondentes a 87,9 por cento, são mulheres. Outro dado a considerar é que, dos 21.168 desempregados existentes em Cabo Verde, a franja de indivíduos do sexo masculino é de 9,6 por cento, ou seja, 10.650, e a de mulheres é de 12,1 por cento, o que equivale a 10.518 indivíduos. Em termos genéricos, o total da população cabo-verdiana inactiva é, actual- mente, de 293.218, sendo 132.182 homens e 161.036 mulheres. DE 2000 A 2010 Fazendo-se por outro lado uma análise comparativa com a situação vigente em 2000, constata-se que se registou em 2010 um aumento visível em todos os indicadores do binómio emprego-desem- prego, sendo certo que a população aumentou substancialmente de lá para cá. Em 2000, havia em Cabo Verde 155.118 indivíduos economicamente activos, e o número de ocupados era de 141.725, o que corresponde a 91,4 por cento, em contraponto com os 177.297, actualmente existentes, ou seja, 89,3 por cento. o Desenvolvimento As mulheres, então como agora, eram as mais afectadas pelo desemprego (10,9 por cento) do que os homens (6,7 por cento), embora o desequilíbrio em termos de género fosse muito mais acentuado em 2000, como se pode perfeitamente notar. De acordo com o Censo 2010, a taxa de actividade em Cabo Verde é de 59,1 por cento, sendo, igualmente, mais elevada nos homens (67,4 por cento) do que nas mulheres (51,1 por cento), enquanto que, geograficamente, Boa Vista (78,9 por cento), Sal (78,1 por cento), Maio (65,9 por cento), Praia (65,1 por cento) e Tarrafal de Santiago (59,0 por cento) se encontram claramente numa posição mais privilegiada que os restantes concelhos do país. DISCREPÂNCIAS REGIONAIS Ainda relativamente à taxa de actividade, os concelhos de Calheta de São Miguel (43,5 por cento), São Lourenço dos Órgãos (45,6 por cento), São Salvador do Mundo (49,7 por cento), Ribeira Grande de Santo Antão (50,0 por cento), Ribeira Grande de Santiago (52,6 por cento) e Santa Catarina de Santiago (52,8 por cento) são os que, neste capítulo, se posicionam no fim da lista. Considerando mais uma vez o género, o desequilíbrio a favor do sexo masculino volta a ser a tónica dominante, uma vez que a taxa de actividade nos homens, a nível nacional, é de 67,4 por cento contra 51,1 por cento nas mulheres. Esta discrepância também salta à vista se for observada a realidade vigente nos meios urbano e rural. No primeiro caso, a taxa de actividade, que atinge os 63 por cento no universo citadino, abrange 70,3 por cento dos homens e 55,7 por cento das mu- lheres, enquanto, no campo, o mesmo indicador, que é globalmente de 52,5 por cento, beneficia os indivíduos do sexo masculino, com 62,2 por cento, em detrimento dos do sexo feminino, com 43,4 por cento. TAXA DE OCUPAÇÃO No que respeita à taxa de ocupação, os dados do Censo 2010 apontam para cerca de 53 por cento a nível nacional, sendo, novamente, mais elevada nos homens (60,9 por cento) do que nas mulheres (45,0 por cento). A mesma realidade verifica-se tanto no meio urbano, onde as percentagens, para homens e mulheres, são de 62,8 e 48,4 por cento respectivamente, como no rural, que regista uma taxa de ocupação de 57,6 por cento num caso e de 39,2 por cento no outro. À semelhança do que acontece com a taxa de actividade, é nos concelhos de Boavista (74,4 por cento), Sal (69,6 por cento), Maio (60,5 por cento), Praia (57,7por cento) e Tarrafal de Santiago (53,0 por cento) que a taxa de ocupação é mais elevada, situando-se acima da média nacional. É de notar, igualmente, que esse indicador é particularmente elevado nos indivíduos do sexo masculino na Boavista, atingindo os 80,5 por cento, no Sal, com 77,2 por cento, e no Maio, com 71,5 por cento, sendo também de constatar que, neste capítulo, no que se refere às mulheres, esses concelhos estão posicionados acima do nível nacional. EXTREMOS A BARLAVENTO A análise da problemática do desemprego em Cabo Verde, à luz do Censo 2010, mostra que o fenómeno é mais acentuado em São Vicente, que regista uma taxa de 14,8 por cento, substancialmente acima da registada na Praia, que é o segundo concelho mais afectado, com 11,3 por cento. Nessa mesma linha seguem-se Santa Cruz, com 10,9, Sal, com 10,8, Calheta de São Miguel, com 10,6, Tarrafal de Santiago, com 10,1 e Paul, com 10,0 por cento. De entre os concelhos com menos desemprego pontuam São Salvador do Mundo, onde a taxa é de 4,6 por cento, Ribeira Brava, com 4,7, Boa Vista, com 5,7, Santa Catarina do Fogo, com 6,4, Mosteiros, com 6,7, e Ribeira Grande de Santo Antão, com 7,3 por cento. Em posição intermédia vêm Ribeira Grande de Santiago, com uma taxa de desemprego de 8,0, Maio, com 8,3, São Filipe, com 8,7, São Domingos, com 8,8, São Lourenço dos Órgãos, com 9,4, Brava, com 9,6, e Porto Novo e Santa Catarina de Santiago, ambos com 9,9 por cento de desempregados. * Ver, na secção Publicações, o documento “Características Económicas da População - INE, Censo 2000, em www.ine.cv. Nota: Com este texto, o Instituto Nacional de Estatística dá início à publicação, nos principais jornais nacionais, de uma série de artigos de divulgação dos resultados do Recenseamento Geral de População e Habitação realizado em 2010, abordando os diferentes aspectos da que foi, até agora, a mais exaustiva operação estatística realizada em Cabo Verde.