Sonhos e Desejos do Menino do Campo
Autora: Ana Beatriz Chainho Tomás
Escola: Escola Secundária de José Afonso, Loures
Agrupamento de Escolas nº 2 de Loures
Professor responsável: Maria de Jesus Rodrigues
Sonhos e Desejos do Menino do Campo
Hugo vivia no campo. Adorava esse ambiente de paz e tranquilidade, onde os pássaros esvoaçavam bem alto no céu brilhante e coelhos saltavam alegres entre a folhagem. Passava os dias de sol na rua, trepando árvores com o objetivo de
colher os frutos maduros. Também se deitava na relva, ora para dormir uma sesta, ora para apreciar o espetáculo mágico
que as nuvens brancas e fofas lhe proporcionavam. Apesar dos belos dias solarengos o alegrarem, Hugo dava igual valor
aos trovejantes e chuvosos dias. Para ele, a chuva era uma das suas melhores amigas, que o auxiliava nas épocas de grandes secas, surgindo com ela desde pequenas poças de água a imensos lagos e lagoas. As poças que aí nasciam serviam
de divertimento para Hugo, onde ele podia saltar, brincar sem se preocupar em estar encharcado no final do dia. Muitas
vezes, abria bem a boca em direção ao céu cinzento para apanhar algumas das gotas de água que refletiam uma grande
variedade de cores quando atingidas por pequenos raios de luz que escapavam do sol. Essas gotas eram também doces e
puras, tão puras como a água das fontes e que o alegravam quando as sentia cair na sua jovem face.
Certo dia de primavera, Hugo acordou ouvindo o ruído da tempestade que se avizinhava. Mal se levantou, saiu de casa
com o seu amigo Nisa, um cachorro de apenas dois meses, para poderem aproveitar de um dia de diversão. Hugo pôs as
mãos no ar e, com a língua para fora, tentou apanhar as pingas que salpicavam a sua roupa e que caíam sistematicamente.
Porém algo estava diferente; as gotas, doces e puras de antes, eram agora ácidas e sujas, provocando assim o “cancelamento” do dia de brincadeira com a chuva.
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Estavam ambos dentro de casa. Nisa aproximou-se de Hugo, sentando-se a seu lado, pois apercebeu-se que o seu amigo
estava infeliz. Apoiando os cotovelos no parapeito da janela, com as mãos encostadas na face rosada, Hugo fitava o cair
da chuva na relva, sem desviar o seu olhar. Quando os seus olhos deixaram de se concentrar na água das nuvens, reparou
que havia algo diferente para além da montanha e da planície onde ele vivia. Existia uma enorme fila de luzes reluzentes
vermelhas, acompanhada de uma outra branca e amarela, que circulavam rapidamente em sentidos opostos. Também
verificou que havia tubos largos e longos que expeliam grandes quantidades de fumo negro para o céu. Formava-se sobre
as luzes e sobre a grande concentração de enormes prédios, uma gigantesca nuvem, que parecia não só cobrir esse ambiente urbano como também se infiltrava no espaço natural. O espanto de Hugo foi tanto, que este decidiu descobrir se
o causador da alteração da chuva seria aquele fumo negro e, enrolando um lençol com algumas coisas indispensáveis e
pegando em Nisa, partiu rumo à cidade, que por um lado o assustava e por outro o colocava cada vez mais curioso.
Alcançaram a cidade em poucos minutos e, quando aí chegaram, Hugo e Nisa sentiram-se estupefactos coma imensidão
de ruas, prédios, estradas e até pessoas que se deslocavam de um lado para outro, sem se preocupar com o que se passava
ou com o que acontecia fora das suas vidas, até que os pequenos ficaram perdidos, uma vez que não conheciam aquele
ambiente.
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Tocou o sino da escola primária, quando milhares de crianças saíram contentes em direção às suas casas. Ao verificar que
Hugo e Nisa estavam desnorteados e não eram dali, Alice, uma menina da idade de Hugo, decidiu ajudá-los. Apresentaram-se e tornaram-se os três amigos. O que mais estranhou Hugo não foi a própria cidade, mas o facto de Alice trazer
vestida uma gabardina, galochas e ter um guarda-chuva. Não seria mais simples trazer apenas uma t-shirt e uns calções?
Para quê o calçado?
O jovem contou a Alice o que ele e Nisa faziam naquele momento e todos os acontecimentos posteriores que provocaram
a sua ida à cidade, colocando a menina preocupada e triste pela situação que ocorreu no campo. De seguida, perguntoulhe se não existia qualquer tipo de plantas, mas esta olhou-o nos olhos, com ar pensativo e disse-lhe que não sabia do que
se tratava. Era de facto preocupante. Mas não era de espantar, visto que naquela zona não existia nem um pouco de verde
e o céu parecia cinzento mesmo após a chuva se afastar. Após várias explicações de ambas as partes, Alice, Hugo e Nisa
tentaram ter ideias para limpar o céu, que deixou de ser pálido e mágico. Uma das ideias propostas foi colocar uma rolha
gigante dentro dos tubos de pedra, outra foi cortar o caminho dos automóveis, por fim a última hipótese dada foi transferir a cidade para outro lugar. Todavia, nenhuma das ideias parecia ter resultado ou mesmo ser possível de realizar, já que
eram apenas duas crianças e um cachorro. Hugo desviou o olhar por momentos, dando conta que havia algo singular e
belo. Era um pequeno rebento de árvore, à beira do passeio. Enquanto Hugo ficou entusiasmado, Alice ficou pensativa e
observadora sem perceber a razão pela qual ele poderia estar eufórico. Nesse momento surgiu uma nova ideia e também
uma nova esperança. Era um pouco tola, mas iria dar resultado.
O tio de Alice trabalhava numa loja de utilidades. Vendia de tudo um pouco, desde linhas de costura a baús. A sua sobrinha
e os seus novos amigos dirigiram-se à sua loja pedindo-lhe uma rede de pesca, flexível, longa e de ótima qualidade. Quando a rede estava pronta fizeram-se ao trabalho. Com ela iriam alcançar o fumo negro deixado pelos automóveis e pela
fábrica, fazendo um vazio que dava uma entrada para o belo céu azul. Depois, do fumo recolhido, davam-no à plantinha e
esta parecia agradecer-lhes, uma vez que lhe surgiam mais folhas.
A certa altura, os habitantes da cidade já se questionavam sobre o que as crianças e o cão faziam, embora, no final, acabassem por os auxiliar. Após um dia chuvoso de trabalho, Hugo conseguiu ouvir o primeiro chilrear de um passarinho que
voava sobre a sua cabeça, surgindo assim o primeiro sinal de resultados do trabalho árduo dos meninos. O pequeno rebento era agora uma árvore saudável e feliz, que crescera graças a todo o dióxido de carbono que conseguiu capturar. Mas
não estava sozinha, pois foram plantadas pelos citadinos, muitas iguais.
Confiantes que, no futuro, o mundo seria muito mais limpo, os três pequenos despediram-se, prometendo que iriam manter as suas casas saudáveis.
Já era o final de outono e as folhas caíam das árvores com magníficos tons vermelhos e amarelos, castanhos e laranja,
com as cores quentes de São Martinho. Hugo e Nisa aproximaram-se da janela, observando intensamente a paisagem
que os rodeava. Já não havia fumo negro. Já não havia estradas longas e mexidas. Já não era ácida a chuva. Apenas havia
a silhueta de uma menina de galochas e gabardina, acompanhada do seu guarda-chuva, afastando-se de uma bela cidade
verde e azul, para visitar os seus amigos que continuavam a sonhar e a desejar um céu que permitisse um espetáculo de
nuvens fantástico no campo.
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