Autor : Nicolas Grassi Insight O lado escondido da verdade A palavra Insight está na moda há algum tempo e promete continuar a estar. Por uma razão simples, é o actual holy grail deste nosso mundo das marcas. Como tema fértil, são já várias as obras escritas1 exclusivamente sobre ele ou figurando como capítulo2. E, na condição de holy grail que é, não se encontra propriamente à mão, daí a expressão comum para o definir como sendo o lado escondido de qualquer coisa (da verdade, da realidade, do comportamento,...). Apesar de ser um conceito em voga nos últimos anos no léxico das marcas e da comunicação, é importante lembrar que é através dele que a civilização tem avançado. A filosofia, a ciência, a arte, a sociologia, a psicologia são algumas das áreas nas quais grandes insights fizeram a diferença. Eu penso, logo sou de Descartes; a maçã caída da árvore de Newton; a minha pátria é a minha língua de Fernando Pessoa; a caverna de Platão; a Terra que gira à volta do Sol de Galileu; a Interpretação dos Sonhos de Freud são alguns exemplos de insights ‘enormes’ que fizeram história. É da natureza humana procurar insights, mesmo quando não se chamavam insights. Se houver uma realidade, há insights e, como a realidade está sempre a mudar, há sempre novos insights por descobrir. Continuando a sua desmistificação, quem quiser saber insights sobre a identidade portuguesa, então encontrá-los-á em obras de José Gil3 ou de Eduardo Lourenço4; quem quiser saber insights sobre si próprio recomenda-se uma sessão de psicanálise ou, para quem aceitar, uma sessão de astrologia; quem quiser saber insights sobre o amor e as relações humanas, então provavelmente encontrá-los-á nas obras de Francesco Alberoni5, por exemplo. Este parágrafo não teria fim, tal como o conhecimento. A escritora Anais Nin escreveu: ‘nós não vemos as coisas como elas são, vemo-las como nós somos.’ Depois deste insight, certo é que nunca mais as veremos da mesma maneira. Este é o seu poder. Quando acontece um insight, ficam a existir duas realidades: a anterior e a posterior. O seu poder é ‘obrigar’ a olhar para a realidade de uma nova forma, mais esclarecida e mais inspirada. Nesse momento, o insight aparece como uma revelação. Se não produzir esse efeito, então é porque não é um insight. Poderá ser um facto, uma tendência, uma superficialidade, uma convenção, uma ideia, pouco importa. É que, a partir do momento em que um insight entra no domínio do conhecimento comum, deixa de ser um insight. Esgotou a sua função. Criou uma nova realidade. Assim, um jogo de computador faz-me sentir como se fosse outra pessoa, como se tivesse uma dupla personalidade6, foi no seu tempo um grande insight. Hoje, não; hoje é explorado por meio mundo. Os insights são as verdades escondidas da realidade – encontradas a partir de um ângulo novo, uma perspectiva nova, um olhar diferente. Verdades que, depois de ditas, nos parecem resoluções de enigmas, lufadas de ar fresco e nos surgem, depois, como confrangedoramente óbvias. Só que era preciso que alguém os ‘visse’ e os verbalizasse. As suas dimensões intrínsecas de novidade e de revelação levam a que três características sejam necessárias para alguém descobrir um insight: a curiosidade (quem acha que sabe tudo ou que seja preguiçoso provavelmente nunca encontrará um insight); o conhecimento (quem sabe pouco, encontrará falsos insights (fazem já parte do conhecimento comum) e não será capaz de reconhecer a sua novidade), e a intuição (porque afinal vemos as coisas como nós somos e se fosse lógico e linear não teria valor). E são essas mesmas dimensões intrínsecas de novidade e de revelação que tornam o insight num valor precioso para a construção das marcas. Existem dois pressupostos fundamentais sem os quais a palavra insight nunca teria alcançado o seu estatuto. São eles: www.brandiacentral.com 1 1- A existência de um target. E quanto melhor se o conhece e com ele se consegue comunicar, melhor se estabelece uma relação emocional e se alcançam os objectivos. Um bom insight torna-se uma revelação para o destinatário da mensagem e faz com que ele activamente a incorpore. Como exemplo, dizer escreve o que te apetece ou o que custa dizer, escreve7 são duas formas diferentes de falar sobre sms. Só que apenas uma tem um insight e é essa que melhor conectará com o target. Um insight pode ser descoberto no negócio (não vendemos produtos de cosmética, vendemos sonhos8), na organização (se somos o nº2, queremos ser o 1º, logo esforçamo-nos mais9), no mercado (os criativos precisam de ferramentas que os estimulem – que não existem10), no produto (é preciso esperar dois minutos para a cerveja assentar11), na marca (bonito demais para ser um Skoda12) ou no consumidor (a fantasia da mulher dar o primeiro passo13). Mas este só será relevante se conseguir unir a oferta e a procura, a marca e o seu consumidor. É o que a autora Lisa Campbell designa como o Sweet Spot14 (a verdade da marca ao encontro da verdade do consumidor). 2- A existência da necessidade de diferenciação. E no mundo da paridade, a originalidade na construção de marca torna-se um valor competitivo. Descobrir um insight é descobrir a originalidade estruturante, a verdadeira originalidade, uma originalidade exclusiva e incopiável – a plataforma única da marca. Um grande insight permite inúmeras ideias, inúmeras execuções criativas e inúmeras experiências de marca todas elas enraizadas numa verdade mobilizadora, relevante e nova. Esta é a sua vantagem, porque se não for assim, a originalidade fica entregue (apenas) ao talento único de quem cria (e muitas são as marcas e campanhas que são criadas sem um verdadeiro insight que as sustente e não deixam, mesmo assim, de serem grandes marcas ou grandes campanhas – mas nunca serão tão grandes e tão inesquecíveis e profundamente marcantes quanto aquelas que são insightful, assim prova a História). É muito bem visto! ou é mesmo assim!, são as reacções do outros que confirmam estarmos perante a força e a magia de um insight. Notas 1 Hitting the Sweet Spot, Lisa Campbell; Then We Set His Air on Fire, Phil Dusenberry; Marketing Insights from A to Z, Philip Kotler são alguns exemplos 2 Beyond Disruption, Jean-Marie Dru 3 Portugal Hoje: Medo de Existir 4 Nós e a Europa, Eduardo Lourenço 5 Amor e Enamoramento; A Amizade 6 Campanha de publicidade da Playstation 7 Campanha de publicidade da Optimus 8 Avon 9 Avis 10 Apple 11 Guinness 12 Campanha da Skoda veiculada no Reino Unido 13 Axe 14 Hitting the Sweet Spot, Lisa Campbell www.brandiacentral.com 2