Formação de Professores numa Perspectiva Intercultural: A Universidade está aberta para a construção dessa abordagem? XAVIER, Cláudia Pereira1 NASCIMENTO, Adir Casaro 2 INTRODUÇÃO O presente artigo traduz as preocupações iniciais e as indagações que, neste momento, dão formas a uma pesquisa para produção de tese de doutoramento. Essas indagações são parte da minha trajetória de educadora da Educação Básica e posteriormente, da Educação Superior que, tendo estado nestes dois espaços e, também em ambientes diferentes, no que tange ao aspecto sócio-cultural3, comecei a me sentir provocada por perceber certos desencontros, ao mesmo tempo em que me sinto responsável por não me manter apenas na posição contemplativa, ou, de simples crítica. Como dizia Freire (2007) , o trabalho educativo exige comprometimento e este, vai muito além da mera constatação, da mera denúncia. É preciso e fundamental “anunciar”, colocar-se à disposição, oferecer algo como possibilidade alternativa sobre aquilo que, porventura, nos parece incômodo, ou deslocado, ou carente de ressignificação. Segundo ele “devo relatar aos alunos a minha capacidade de analisar, de decidir, de optar, de romper. Minha capacidade de fazer justiça, de não falhar à verdade. Ético, por isso mesmo tem que ser o meu testemunho” (p.98). Assim, ao pesquisar o ambiente universitário e toda sua rica diversidade (todas as nuances), creio que posso me aproximar, igualmente, de suas ricas possibilidades, inclusive a de ressignificar-se como espaço legítimo de trocas culturais e de aprendizagens mútuas, no qual a concepção de “alta” e “baixa” cultura, possa também ser ressignificada, já que o processo histórico atual e nossa capacidade de pensar sobre o momento singular que vivemos, nos aponta para as muitas perdas que já tivemos, por 1 Doutoranda do Programa de Mestrado e Doutorado em Educação da UCDB, Linha 3: Diversidade Cultural e Educação Indígena. 2 Professora Doutora do Programa de Mestrado e Doutorado em Educação da UCDB, Coordenadora da Linha 3: Diversidade Cultural e Educação Indígena. 3 No início do exercício da docência, 1986 até 1997, residia e lecionava em escolas da rede privada de ensino na capital do estado do MS. De 1997 até 2008, passei a residir e lecionar no Ensino Básico em um Projeto de Assentamento Rural, no município de Sidrolândia/MS; e a partir de 2006, passei a lecionar na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), até o ingresso no Programa de Doutorado da UCDB, em 2010. mantermos nossa ‘mirada’ monocular e eurocêntrica como via única de resolução de possíveis problemas cotidianos. Assim, reconhecendo, sobretudo, que dada à própria origem da universidade, do “lugar” cultural onde ela nasce (o continente europeu), dos valores e princípios que essa origem carrega, que trazem em seu bojo a própria “função social” a ela delegada, notadamente, nos processos de colonização; não nutrimos a posição ingênua de que, uma transformação que circule, justamente, pelo arcabouço de conhecimentos que ela ‘detém’ e deseja veicular, seja assim, uma tarefa tão fácil de empreender. Contudo, impossível não o é. Portanto, a proposição dessa pesquisa permite, igualmente, a interlocução com os sujeitos que circulam no ambiente universitário, para tomarmos conhecimento de como percebem este espaço. Estariam os docentes e discentes, bem como, os demais profissionais que atuam nessa dinâmica, construindo percepções diferentes sobre essas possibilidades que citei anteriormente? Ainda que seja um fato a inserção de outras culturas pelo viés dos instrumentos legais, como as cotas, por exemplo, que favorecem os afrodescendentes e indígenas, e as bolsas de estudo que auxiliam a classe economicamente desfavorecida; estariam estes sujeitos que vivem a dinâmica da universidade construindo um olhar diferenciado sobre a própria estrutura que recebe a diversidade e/ou, por outra, uma percepção sobre a necessidade de uma nova linguagem a mediar esse processo de construção do conhecimento? E por falar em conhecimento, quais seriam estes disponibilizados e priorizados para compor os currículos dos cursos de formação, no caso de nosso interesse mais estreito, as Licenciaturas? Nos Entrelugares do exercício da docência... O termo “entrelugar” utilizado por Bhabha (2010) para caracterizar a nossa condição fluida no que diz respeito à identidade cultural, nos chama a atenção sobre nossa constituição histórica que, na medida em que vamos nos fazendo, como sujeitos, vamos nos deixando atravessar por outras referências, outras culturas, no momento mesmo em que vivemos a experiência, mediados pela linguagem, mediante a qual essa apropriação e essa construção acontece. Segundo Silva (2000, p.109): É precisamente porque as identidades são construídas dentro e não fora do discurso que nós precisamos compreendê-las como produzidas em locais históricos e institucionais específicos, no interior de formações e práticas discursivas específicas, por estratégias e iniciativas específicas. Além disso, elas emergem no interior do jogo de modalidades específicas de poder e são, assim, mais produto da marcação da diferença e da exclusão do que o signo de uma unidade idêntica, naturalmente constituída, de uma identidade”em seu significado tradicional – isto é, uma mesmidade que tudo inclui, uma identidade sem costuras, inteiriça, sem diferenciação interna. Tomar consciência de como essa construção se dá e perceber que ao fazê-lo, vamos ressignificando o que outrora tínhamos como única maneira de nos apropriarmos de novos saberes; provoca em nós a percepção de que outras lógicas estão à nossa disposição, se oferecendo como um modo a mais para nos apropriarmos do mundo no qual vivemos e sobre o qual deixamos nossa marca. E foi, justamente, essa experiência vivida por mim ao me deslocar de um ambiente urbano, classe média, atuando como educadora (na maior parte do exercício profissional, em instituições privadas) para o “novo” ambiente rural e, mais ainda, num contexto de Reforma Agrária, no estado do MS. As minhas referências, aprendizagens e saberes que até então me serviam, satisfatoriamente, no meio no qual eu transitava até ali, entraram em conflito com o novo ambiente quando eu percebia que o meu discurso se distanciava cada vez mais da nova realidade na qual eu passava a viver, conviver, compartilhar. No exercício cotidiano da profissão, ia buscando nas minhas experiências anteriores e também ao evocar o meu processo de formação na graduação universitária e não encontrava um aporte específico a me lembrar que, aquela realidade, havia sido contemplada como realidade possível de ser encontrada durante minha trajetória como docente e, portanto, passível de ser problematizada, refletida, durante as aulas. Onde estaria, então, o ‘fio daquela meada’? Em que momento da formação inicial essa possibilidade foi ou deixara de ser cogitada como uma realidade provável de ser encontrada ou vivenciada por qualquer acadêmico/a em processo de formação? Isso remete ao desejo de saber se, ainda hoje, a ausência desses conhecimentos que destaquei na minha formação , ainda persistem nos cursos de licenciatura, ou, se já estão sendo repensados para preparar os seus acadêmicos/as para atuarem em espaços sócioculturais diferenciados. E se aprofundamos as indagações, os mecanismos para instrumentalizar os sujeitos na educação formal com vias a conquistarem (pelo acesso aos múltiplos saberes construídos pela humanidade) as condições para resolverem problemas cotidianos com o mínimo de autonomia; estariam ancorados sobre quais lógicas? Essas perguntas não só foram a mola propulsora para investigar o tema da formação de professores em espaços de reforma agrária durante o Programa de Mestrado, como ainda são, hoje, as indagações que se colocam como necessárias ao desafio de compreender o espaço da universidade como espaço possível de transito de outras lógicas que não apenas a lógica européia, ou, a lógica da cultura branca. Para que essa compreensão se viabilize, é preciso me aproximar das percepções dos outros pares que vivem o ambiente universitário para conhecer que lógicas são essas a circular visivelmente neste espaço, ou, o quanto são silenciadas, ou subalternizadas? Segundo Moreira e Silva (2006), “o currículo é considerado um artefato social e cultural”. A partir dele, longe de se caracterizar como instrumento neutro, despretensioso, implica necessariamente em “relações de poder”. Historicamente é a tradução do próprio modo através do qual uma sociedade se organiza e se estrutura. Ora, acompanhando este raciocínio podemos inferir que, um dos instrumentos de ressignificação da sociedade e, por conseguinte do que transita nos ambientes institucionais responsáveis pela organização social, notadamente, a escola em todos os níveis de ensino, é o próprio modo como concebemos o currículo. O currículo por sua vez é, pois, uma “arena política”. Para tanto, necessário será nos dispormos a perceber com o apoio dos sujeitos participantes da pesquisa, outros componentes que participam desse movimento de constituição do ambiente universitário, quais sejam: o espaço físico da universidade em si, desde sua arquitetura, a sua organização administrativo-pedagógica, o projeto político pedagógico dos cursos oferecidos, o currículo (como já apontamos), as práticas docentes e, sobretudo, a abordagem presente no discurso dos sujeitos que nela atuam. Na direção dessa possibilidade de ressignificação do espaço da universidade, a construção de uma educação intercultural parece ser uma opção interessante. Segundo Fleuri (2003), [...] intercultura refere-se a um campo complexo em que se entretecem múltiplos sujeitos sociais, diferentes perspectivas epistemológicas e políticas, diversas práticas e variados contextos sociais. Enfatizar o caráter relacional e contextual (inter) dos processos sociais permite reconhecer a complexidade, a polissemia, a fluidez e a relacionalidade dos fenômenos humanos e culturais. [...]. A educação, na perspectiva intercultural, deixa de ser assumida como um processo de formação de conceitos, valores, atitudes baseando-se uma relação unidirecional, unidimensional e unifocal, conduzida por procedimentos lineares e hierarquizantes. [...] torna-se um ambiente criativo e propriamente formativo, ou seja, estruturante de movimentos de identificação subjetivos e socioculturais. (p.3132) E nossa investigação caminhará nessa direção desde a escolha da metodologia de produção dos dados que apresentarei no próximo item. É importante destacar que, me aproximando dessas “miradas” sobre a presença ou não das relações de trocas/construção do conhecimento, me permitirá visualizar se, a presença da diferença, da diversidade, é presença que dialoga, ou que se submete. Pois, o fato de transitar no mesmo espaço, não determina, necessariamente, a interlocução destes sujeitos. Mas, a pergunta que se revela como subtítulo desse artigo nos chega: A universidade está aberta para a construção dessa abordagem? Como a universidade pode formar os “novos docentes” para atuarem segundo uma compreensão de mundo e organização social que seja intercultural? Um aspecto interessante favorecido por esta investigação será saber se ela conhece/compreende os caminhos para essa possibilidade e se está disposta a assumi-la segundo essa compreensão. Em seu artigo intitulado Adeus às metanarrativas educacionais, Silva (1994) chama a atenção para que observemos a existência de uma “epistemologia social”, mediante a qual nós, os grupos que caracterizam uma dada cultura, conferimos significados ao mundo, o nomeamos, segundo uma “lógica de significação da realidade”. Explica ainda o autor: Como outros campos sociais, também o da educação é “governado” pelas categorias que nos permitem nomeá-lo. Em geral tendemos a ver essas categorias e nomes como resultado de um processo racional e lógico de significação da realidade, envolvendo atores também racionais e razoáveis. Tendemos, por outro lado, a esquecer o quanto essas categorias, conceitos, nomes, taxonomias capacitam ou restringem aquilo que podemos pensar, sentir, dizer, fazer. Como atores sociais, vivemos dentro de verdadeiras epistemologias sociais e educacionais que constituem para nós o campo do possível, nos permitindo pensar, dizer e fazer certas coisas e não outras. (p. 254) Ora, se é assim, a própria construção da ideia sobre a função social da universidade, suas possibilidades e tarefas diante da sociedade para a qual ela produz e disponibiliza o conhecimento, também se processa historicamente e no próprio movimento de interlocução ou de subalternização de uma cultura sobre outra. A partir disso, é possível perceber a complexidade presente em qualquer desejo de se ressignificar uma dada realidade no campo das relações humanas, haja vista, como anunciamos no início desse artigo, o próprio período de tempo em que , no caso desse estudo, a universidade vem consolidando o seu discurso monocultural e sobre ele fundando e ratificando as próprias relações de poder que percebemos existir no modelo político-econômico e sócio-cultural vigente. Pensando sobre estas questões com o apoio de Sacristán (2000), compreendemos a profundidade dos processos de construção de um determinado modelo de estrutura educacional que pretende manter ou modificar uma dada estrutura de organização social, visto que, não há uma organização/proposição ingênua do currículo, tampouco, desprovida de intenção, pois: A cultura que a escola distribui encapsulada dentro de um currículo é uma seleção característica organizada e apresentada também de forma singular. O projeto cultural do currículo não é mera seleção de conteúdos justapostos ou desordenados, sem critério algum. Tais conteúdos estão organizados sob uma forma que se considera mais apropriada para o nível educativo ou grupo de alunos do qual se trate. A própria essência do que se entende como currículo implica a ideia de cultura “organizada” por certos critérios para a escola. (p.75) Sendo assim, a quem interessaria tal ressignificação? Como deslocar o olhar dos sujeitos para novas/possíveis “miradas” com relação à construção do conhecimento? Por onde começar? Quem seriam os sujeitos desse processo de mudança, e mais ainda, como saber se ela é desejada? Um aspecto importante e que traduz-se em condição para a própria produção desse desejo, talvez seja o exemplo do que ocorreu comigo em meu próprio processo de mudança. Será mesmo que, se eu tivesse permanecido no mesmo meio onde se deu o início do meu exercício profissional, sem a chance de ter me deslocado tão radicalmente para outro lugar, essas indagações me seriam incômodas? O que foi mesmo que fez com que eu pudesse cogitar esta outra possibilidade e encará-la hoje não só como possível, coerente, como também urgente e necessária? Assim, apresento a seguir, o caminho metodológico escolhido para proceder à aproximação dessas questões para outros pares de caminhada na docência, como também, para perceber se esse processo de mudança, é algo que se encontra em movimento, se caracteriza uma preocupação presente no espaço universitário no qual essa pesquisa se dará, ou não. Quero empreender a atitude de escuta para saber se a já referida presença da diversidade, no espaço da universidade, ocorre em todos os campos de sua manifestação: física, cultural, ideológica, discursiva. Construindo, coletivamente e mediando uma interlocução com aqueles e aquelas que integram essa dinâmica de modo mais direto: os docentes e os discentes e também alguns funcionários do ambiente universitário, acredito me aproximar dessa realidade e compreender o fenômeno. A sociopoética: uma abordagem de investigação a muitas mãos... Segundo Gauthier (2010), o autor dessa metodologia que se propõe a empreender a prática investigativa com a parceria dos sujeitos participantes da pesquisa e que, mais comumente, em outras metodologias são considerados “informantes”, nessa configuração de pesquisa os sujeitos pesquisados são, a um só tempo, os sujeitos convidados à reflexão, por assim dizer, sobre aquilo que ora é apresentado pelo pesquisador ou pesquisadora que propõe a temática como desafio. Na sua perspectiva, a sociopoética se oferece como possibilidade de construção de uma análise legítima e confiável sobre o fenômeno, já que o mecanismo construído para tal, o grupo-pesquisador, se constitui de sujeitos que, sobretudo, desejam estar, querem compor o coletivo que auxiliará o então mediador do processo (o proponente da pesquisa) a refletir a partir das muitas miradas possíveis que surgem da experiência de cada sujeito envolvido, tendo como importante aporte, o repertório cultural a partir do qual cada um e cada uma consegue propor suas conjecturas. A este respeito, explica: Os sociopoetas pretendem pensar, conhecer, pesquisar, aprender com o corpo inteiro, ao equilibrarem as potências da razão pelas da emoção, das sensações, da intuição, da gestualidade, da imaginação... Muitos saberes não se expressam com palavras, por terem sido recalcados nos nossos músculos e nervos por opressões diversas ou por pertencerem à ordem do silêncio, do sagrado ou da dança. (p.5) Nascida, segundo ele, da insatisfação com as chamadas abordagens mais clássicas de pesquisas, através das quais o pesquisador, via de regra, acessa apenas o que tange o campo da objetividade, ou daquilo que se ‘pensa para dizer’; tal limitação deixa de fora, detalhes relevantes que habitam o campo do inconsciente e que, portanto, o caminho mais direto de acesso a esse inconsciente, é justamente a linguagem não verbal do corpo, ou seja, aquela expressa por meio de linguagens que tocam nossa subjetividade, as expressões artísticas, a dança, a arte cênica, a musicalidade, entre outros. Conforme Gauthier (1999): A sociopoética é toda prática social de produção de conhecimento que afirma: 1) a importância do corpo na construção do imaginário, base das abstrações; 2) a importância das culturas dominadas, das categorias e dos conceitos que elas produzem; 3) o papel dos sujeitos pesquisados como co-responsáveis dos conhecimentos produzidos; 4) o papel da criatividade de tipo artística no aprender, no conhecer e no pesquisar; 5) a importância do sentido espiritual, humano, das formas e dos conteúdos do saber. No caso dessa pesquisa em andamento, nosso grupo-pesquisador será constituído por docentes e discentes do Curso de Pedagogia, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), bem como, de alguns funcionários de diversos setores da instituição escolhida como lócus dessa investigação por ser aquela na qual se originou esta preocupação, ou seja, aonde atuei como docente de 2006 a 2010, e por acolher em seu ambiente acadêmicos/as indígenas, afro-descendentes e assentados da Reforma Agrária oriundos dos assentamentos do município vizinho, Sidrolândia. Além disso, a própria diversidade não só cultural como sócio-econômica que caracteriza esses espaços e os próprios acadêmicos/as do município sede dessa unidade, Maracajú. A ideia inicial é que, ao organizar esses grupos-pesquisadores, um formado pelos docentes que atuam na unidade, outro por discentes ainda cursando a graduação, outro formado pelos egressos da universidade, e outro por funcionários que participam do cotidiano da universidade, poderemos nos aproximar das perspectivas de cada sujeito levando em consideração o referido “lugar” a partir do qual observam, vivem, analisam e formalizam um juízo sobre o fenômeno da formação do educador. No caso específico que nos interessa, pensando em que momento a universidade considera, em sua função social de colaborar para a formação profissional, a diversidade cultural que circula em seu ambiente e, se não o faz, como poderia vir a fazê-lo, com que ferramentas constitutivas dessas mudanças. Com o apoio da abordagem sociopoética e da dinâmica utilizada por esta metodologia para construir os espaços de reflexão, como dinâmicas que remetem ao campo da subjetividade humana, como as acima descritas, desejo traduzir sob a forma do texto da tese, as percepções e possibilidades à nossa disposição que possam colaborar na construção da ressignificação do espaço universitário, caso essa seja a tradução do desejo coletivo, com vistas à formação de educadores interculturais que auxiliem no exercício profissional, na construção da já anunciada sociedade mais humana, fraterna e justa. Considerações complementares... Como essa pesquisa encontra-se em andamento, muitas são as expectativas em torno do que vamos encontrar. Haja vista que, não é difícil intuir que a realização desta tarefa também foi impulsionada pelas conversas e, outras vezes, pelo desabafo de certos sujeitos com relação a esta temática que ora trazemos à reflexão. A diversidade e as dificuldades presente nas pessoas para se colocarem à disposição na construção de uma convivência mais humana, pacífica, fraterna, não se dá à revelia dos próprios discursos pelos quais fomos e ainda somos atravessados durante nossa educação/formação enquanto sujeitos históricos, tampouco, se erguem sem ter como sustentação nossas mais significativas experiências de vida no seio de nossa cultura. Portanto, legitimar essas experiências como fundantes e constitutivas de todo e qualquer ser humano independente de sua origem étnica, é chamar a atenção para um discurso deslocado que, ainda pode ser percebido a transitar nos espaços de educação formal e que, infelizmente, ainda que estejamos vivendo um novo tempo, pelos suportes de interlocução globalizada, pelas muitas mídias à nossa disposição que valorizam e apresentam a riqueza da diversidade; parece ainda querer permanecer impondo o empoderamento de uma cultura sobre a outra e construindo verdadeiros espaços de segregação que já não cabem mais na sociedade atual. REFERÊNCIAS: BHABHA, H. O Local da cultura. Belo Horizonte: Ed UFMG, 1998, 5ª reimpressão, 2010. FLEURI, R. M. Intercultura e educação. Revista Brasileira de Educação, nº 23, p. 16 – 35, Mai/jun/jul/ago 2003 FREIRE, P.; Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa.São Paulo: Paz e Terra, 1996.. GAUTHIER, J. H. M. 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