LINGUAGEM NÃO É APENAS A ESCRITA E FALADA Vamos pensar um pouco: a linguagem existe para atender a uma das maiores necessidades humanas, que é a de se comunicar, de se expressar, de ser compreendido pelo outro, mas falar não é a única forma de se comunicar. Existem várias formas de comunicação, várias formas de linguagem. Uma delas é a linguagem dos gestos. As pessoas que não podem falar ou ouvir usam a linguagem dos sinais, e todos nós usamos gestos o tempo todo para ajudar a comunicação. Sem gestos pareceríamos um robô falando. Os mimos contam histórias só usando gestos. E o próprio silêncio também é uma forma de comunicação, uma linguagem. Dizem que quem cala, consente. Mas nem sempre é verdade, pode-se calar devido a uma emoção fortíssima, ou porque há algo que não pode ser dito, ou porque quem nos fala nos desperta raiva ou indiferença. Nosso silêncio pode expressar compreensão, união, mas também pode servir para afastar as pessoas, dificultar um contato do outro conosco. E esse outro tem que fazer o maior esforço para se aproximar. Precisamos saber ouvir as palavras e os silêncios. Se escutamos sem prestar atenção, as palavras do outro viram apenas ruídos, não entendemos, não acontece comunicação entre nós E como é importante um ouvido amigo, uma palavra amiga, na vida da gente. E quem consegue entrar em contato com as próprias emoções se comunica melhor com os outros. Se ficamos atentos ao que acontece dentro de nós, acabamos mais atentos ao mundo à nossa volta. Uns tem mais facilidade para se comunicar do que outros, mas todos precisam se aperfeiçoar, quase diariamente, para manter essa comunicação, criar vínculos com os outros, pois essa troca nos torna criativos e enriquecidos. Existem muitas formas de se comunicar: linguagem do corpo, dos sons, do silêncio, do cinema, da televisão, do rádio, do computador... Será que esses recursos estão sendo usados para comunicar tanto quanto poderiam? E a palavra, que é um bem da espécie humana, será que a estamos usando para nos comunicarmos de verdade? A palavra é a forma mais sofisticada de comunicação, mas ninguém nasce sabendo falar. Quando um bebê começa a falar, ele está mostrando o resultado de um esforço grande em direção às pessoas mais próximas, na maioria das vezes os pais. E cada palavra aprendida é sempre a maior alegria, tanto para o bebê quanto para as pessoas em volta. Vai ficando mais fácil “entender” aquele bebê. Mesmo antes de falar, a criança já consegue se comunicar, expressar suas satisfações, necessidades e dores. Ela sorri e ela chora. Seu choro não é manha, é busca de ajuda. E o adulto que cuida da criança em geral consegue compreender a linguagem do bebê. Basta estar atento, ouvindo o que o bebê diz, mesmo sem palavras. A comunicação inicial do bebê vai depender muito de quem escuta. E é assim por toda a vida porque, quando a gente fala, a comunicação eficaz vai depender de quem escuta. Cada vez que há uma sintonia, cada vez que um expressa e o outro ouve e compreende, esse encontro importante vai estimulando cada vez mais a comunicação. Isso acontece desde o bebê com as pessoas ao redor, até jovens com pais, professores, e casais entre si. Quando esses encontros não são satisfatórios, pode acontecer que a palavra se cale. Talvez a pessoa acabe procurando alguma outra forma de comunicação mais impactante para ser ouvida. Um bom ouvido saberá escutar além das palavras e compreender. Hoje vamos pensar mais sobre o desenvolvimento da linguagem falada do bebê. Quanto mais a mãe e o pai falam com o bebê, expressam seu carinho pelo abraço e pela palavra, mais rápido tende a ser o desenvolvimento da fala, da capacidade de se comunicar através da mesma. Crianças criadas por lobos, longe dos humanos, ao serem descobertas e passarem a conviver com os humanos muitas vezes não conseguiram mais desenvolver a capacidade de falar, como se os órgãos da fala, por não haver seres humanos a estimular seu uso, se tivessem atrofiado. Crianças criadas em abrigos para órfãos, sem pais, ou substitutos, que lhes deem carinho, atenção, que falem com elas, tenderão a desenvolver menos sua capacidade cerebral e sua fala. Pensa-se que 90% do das palavras usadas pelas crianças venham dos pais. Quanto mais eles falarem com a criancinha, usando frases completas, mais ela desenvolverá a sua capacidade de falar. Quanto mais lerem, mostrarem gravuras, comentarem as mesmas, mais ajudarão seu cérebro a se desenvolver. É importante estimular o desenvolvimento da atividade cerebral e da linguagem. Com menos de um aninho, o cérebro humano está em seu auge e apto para receber os estímulos externos. Crianças bem pequeninas, com apenas um aninho, têm mais facilidade de aprender línguas estrangeiras que as maiores ou os adultos; conseguem distinguir a língua materna das outras e captar a pronúncia correta sem problemas. Pode-se bem perceber isso em quem tem mãe estrangeira e se cria falando e entendendo dois idiomas. Televisão e tablets do nosso mundo de hoje, com seu colorido e seu movimento, podem ser usados com moderação com as criancinhas, mas jamais devem substituir o contato, a interação dos pais com a criança. Uma linda musiquinha da “Galinha Pintadinha” pode ser usada, mas jamais deverá substituir a velha canção de mãe ou pai na hora de dormir. Sabemos que a palavra é a forma mais sofisticada de comunicação, mas vamos perguntar: que palavra? Cada um de nós pode se lembrar de situações em que a palavra fez toda a diferença, onde foi importante ou desastrosa. A palavra mais valiosa para os relacionamentos é aquela que consegue comunicar sentimentos. E a gente bem sabe como é difícil colocar sentimentos em palavras, mas o bom ouvido é aquele que sai do seu lugar para ouvir de verdade, que vai em direção à necessidade do outro, mesmo que o outro não esteja conseguindo colocar em palavras o que está sentindo. E aí também entra a questão da tolerância, porque nem sempre somos capazes de levar a boa palavra e nem os que estão próximos são capazes de escutar com bons ouvidos. A gente tem que lembrar que se comunicar é uma prática que está sempre em aperfeiçoamento tanto para nós quanto para os outros. É interessante que se conversa muito sobre a palavra “não”, como é difícil dizer não, aceitar um não, mas quase não se pensa na palavra “sim”. E o “sim” é também fundamental nas relações e até mesmo na questão da educação para os limites. É preciso compreender o que não se pode, mas também o que se pode. E o “sim” pode ter muitos significados positivos, tipo: gosto de você, confio em você, estou aberto para você. Tem gente que não consegue dizer um “sim” verdadeiro. Seu “sim” é dito sem pensar, só para facilitar ou seduzir. Não leva junto uma disponibilidade afetiva para o outro. O importante é desejar entrar em contato com o outro. Dizer “sim” para a relação, para o contato. E ver que podemos ser mais verdadeiros e facilitar que os que se aproximam de nós também possam ser mais verdadeiros.