1 2 Fala, Presidente! C omo pano de fundo, as reportagens de destaque desta edição mostram o trabalho dos procuradores da República na defesa dos direitos do cidadão. São matérias que abordam temas caros para o país, como as revelações de uma época obscura de nossa história recente, que estão vindo à tona com os levantamentos feitos pela Comissão Nacional da Verdade (CNV). Para isso, entrevistamos o ex-procurador-geral da República Claudio Fonteles, que compõe a CNV. Buscamos desvendar também a realidade cruel a que são submetidas milhões de vítimas do tráfico de pessoas. Segundo a Organização das Nações Unidas, a prática está no rol de crimes que mais movimentam dinheiro no mundo, atingindo cerca de R$ 32 bilhões ao ano, dos quais aproximadamente 85% provêm da exploração sexual. Encarregado de promover a ação penal, o Ministério Público Federal (MPF) é protagonista nesses casos. A revista A República entra, ainda, no cotidiano de servidores e membros do MPF, para enaltecer ações bem sucedidas e mostrar lacunas que precisam ser preenchidas. É o caso, por exemplo, do I Prêmio República de Valorização do MPF. Lançada este ano pela ANPR, a iniciativa busca identificar, reconhecer e estimular o trabalho dos procuradores da República no cumprimento de suas obrigações institucionais. Já por meio de requerimento administrativo, a entidade de classe defende a equiparação das licenças adotante e maternidade. O objetivo é proporcionar às famílias um tempo mínimo de adaptação à chegada de uma criança, não importando se de forma biológica ou se por uma relação de adoção. Momentos importantes para os integrantes do MPF, ocorridos ao longo dos últimos meses, também ficam registrados nesta edição. A eleição de Lista Tríplice para o cargo de procurador-geral da República foi um dos pontos altos, com a realização de cinco debates entre os candidatos. A lista já foi encaminhada à Presidência da República e ao Ministério da Justiça. No Congresso Nacional, ganhou repercussão nacional a campanha contra a Proposta de Emenda à Constituição nº 37/2011 – a PEC da Impunidade –, que restringe a investigação criminal às polícias federal e civis. Mais de mil procuradores e promotores marcharam até a Câmara dos Deputados para entregar manifesto contra a proposição. O presidente da Casa, Henrique Alves, montou grupo de trabalho para discutir o tema. Outro destaque foram as eleições para Diretoria e Colégio de Delegados da ANPR. Mais uma vez, a chapa Nova ANPR foi a única a registrar candidatura e vai permanecer no comando da entidade de classe por mais dois anos. Agradeço aos colegas pela renovação da confiança. Vejo nisso uma responsabilidade ainda maior com a carreira. Boa leitura! Alexandre Camanho de Assis Revista A República Esta é uma publicação da Associação Nacional dos Procuradores da República Diretoria Biênio 2011/2013 Presidente Alexandre Camanho de Assis (PRR1) Vice-Presidente José Robalinho Cavalcanti (PR/DF) Diretor de Comunicação Social Alan Rogério Mansur (PR/PA) Diretor para Aposentados José R. Ferreira (aposentado/PGR) Diretora-Secretária Caroline Maciel (PR/RN) Diretor Financeiro Gustavo Magno Albuquerque (PR/RJ) Diretor de Assuntos Legislativos Sergei Medeiros Araújo (PRR3) Diretora Cultural Monique Cheker de Souza (PR/RJ) Diretor de Assuntos Corporativos Maria Hilda Marsiaj Pinto (PRR4) Diretor de Assuntos Institucionais Léa Batista de Oliveira (PR/GO) Diretor de Assuntos Jurídicos Antônio Edílio M. Teixeira (PRR5) Diretora de Eventos Zani Cajueiro (PR/MG) Revista A República Junho de 2013 Tiragem: 4.000 exemplares Foto da capa: Pedro Lino Jornalista Responsável Renata Freitas Chamarelli MTB – 6945/15/172-DF Edição: Renata Freitas Chamarelli Textos: Rafania Almeida, Shirley de Medeiros e Sylvia Dimittria Projeto Gráfico: Pedro Lino Contato: SAF Sul Quadra 4 Conjunto C Bloco B Salas 113/114 – Brasília (DF) Cep 70.050-900 Fone: 61 – 3961-9025 Fax: 61 – 3201-9023 e-mail: [email protected] Twitter: @Anpr_Brasil Facebook: ANPRBrasil www.anpr.org.br 3 Índice Curtas 5e6 Capa Integração Vítimas invisíveis Arrecadação por madeiras apreendidas beneficiará reserva extrativista 10-13 Parlamento PEC da Impunidade: mobilização leva à criação de grupo de trabalho 7 Entrevista Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça ANPR recomenda Nossos escritores 14-17 21 Em Destaque Mobilização Artigo - Lista Tríplice Direitos iguais para mães biológicas e adotantes Justas férias de 60 dias - 1º Prêmio República 8-9 4 20 18-19 22 Curtas Chapa “Nova ANPR” é reeleita para o Biênio 2013/2015 Ocorreram no dia 12 de abril as eleições para a Diretoria e o Colégio de Delegados da ANPR (Biênio 2013/2015). A chapa “Nova ANPR”, única a registrar candidatura, foi reeleita com 308 votos válidos. A solenidade de posse deu-se no dia 14 de maio. Parte dos membros continuará nos cargos, mas houve modificações em algumas diretorias. Reassumem os cargos: Alexandre Camanho de Assis (PRR1) Presidente Confira os nomes dos integrantes: José Robalinho Cavalcanti (PR/DF) Vice-presidente Monique Cheker de Souza (PR/RJ) Diretora Cultural Zani Cajueiro T. de Souza (PR/MG) Diretora de Eventos Novos diretores: Antônio Edílio M. Teixeira (PRR5) Diretor de Assuntos Jurídicos Caroline Maciel da Costa (PR/RN) Diretora Secretária José R. Ferreira (aposentado/PGR) Diretor para Aposentados Gustavo M. G. De Albuquerque (PR/RJ) Diretor Financeiro Léa Batista de Oliveira (PR/GO) Diretora de Assuntos Institucionais Ascom/ANPR Alan Rogério Mansur Silva (PR/PA) Diretor de Comunicação Social Maria Hilda Marsiaj Pinto (PRR4) Diretora de Assuntos Corporativos Sergei Medeiros Araújo (PRR3) Diretor de Assuntos Legislativos Adicional por Tempo de Serviço (ATS) é tema prioritário em 2013 A ANPR, juntamente com as demais entidades que compõem a Frente Associativa da Magistratura e do Ministério Público da União (Frentas), elegeu o restabelecimento do Adicional por Tempo de Serviço (ATS) como um dos temas prioritários em 2013. As ações se voltam, especialmente, para a votação da PEC do ATS (PEC 5/2011) – e apensadas –, projetos que, entre outros pontos, reintroduzem o adicional como componente da remuneração das carreiras do Judiciário, do Ministério Público, da Advocacia e da Defensoria Pública. Atualmente, a PEC tramita no Senado Federal e deve passar, ainda, pelo crivo da Câmara dos Deputados. O presidente da ANPR, Alexandre Camanho, integra a comissão criada pela Frentas para executar um Plano de Trabalho que prevê estratégias políticas e de engajamento dos membros das magistraturas para sensibilizar os parlamentares acerca do tema. A Associação já encaminhou nota técnica ao Senado Federal referente às propostas. No documento, a entidade declara ser a favor dos projetos, uma vez que objetivam o retorno de uma vantagem financeira voltada à valorização do servidor e ao reconhecimento da sua qualificação profissional, adquirida pelo tempo de serviço. No início do ano, o relator da PEC do ATS, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), senador Gim Argelo (PTB/ DF), visitou a ANPR para tratar sobre o assunto. Recebido por Camanho, o senador afirmou que dará atenção especial ao projeto, visando a corrigir distorções e melhorar o quadro do MP. Em março, Camanho também se reuniu com o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, para discutir temas de interesse das carreiras do Judiciário e do Ministério Público. Na ocasião, o presidente da ANPR pediu o apoio de Barbosa na tramitação da proposta sobre o pleito. 5 Curtas MP brasileiro receberá prêmio por Mensalão dos pelos membros do Ministério Público Federal durante a investigação, o processo e o julgamento da ação penal do Mensalão. Indicação - Em março, a ANPR, por meio da procuradora regional da República Carla de Carli (PRR4), apresentou a ação e os cinco membros do Ministério Público Federal envolvidos no caso ao Prêmio de Procuradores do Ano Ascom/ANPR O Comitê Executivo da Associação Internacional de Procuradores (na sigla em inglês Internacional Association of Prosecutors - IAP) decidiu por unanimidade conceder o “Special Achievement Award” (Prêmio de Realização Especial) à Procuradoria Geral da República do Brasil. A decisão é um reconhecimento pelo esforço, eficiência e excelência dos trabalhos realiza- de 2013. Foram indicados: o procurador-geral da República, Roberto Gurgel; o subprocurador-geral da República aposentado Antônio Fernando Barros e Silva de Souza, que ocupou o cargo de PGR de 2005 a 2009; os procuradores regionais da República Alexandre Espinosa Bravo Barbosa (PRR1) e Raquel Branquinho Pimenta Mamede Nascimento (PRR1) e o procurador da República José Alfredo de Paula Silva (PR/BA). O evento é organizado anualmente pelo órgão e a entrega da premiação ocorrerá durante a cerimônia de abertura da 18ª Conferência Anual da IAP, em Moscou, de 8 a 12 de setembro. Associação protocola ações coletivas contra a União A ANPR protocolou duas ações coletivas contra a União. A primeira, apresentada em março, requer o pagamento de indenização pelo descumprimento do artigo 37-X da Constituição Federal – relativo à revisão anual do subsídio – nos últimos cinco anos. Entre os fundamentos defendidos, o documento ressalta que o inciso X foi alterado pela Emenda Constitucional nº 19 de 1998, que afirma: “a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do artigo 39 somente poderão ser fixados ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada a revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de índices”. Dessa forma, não haveria dúvida de que o novo texto constitucional impôs à União um dever jurídico, cujo descumprimento acarreta a obrigação de indenizar 6 os danos dele recorrentes. Outro ponto destacado é de que, devido aos índices de inflação acumulados nos últimos anos, o desrespeito a essa obrigação levou à perda do poder aquisitivo que tinha o subsídio em 2005. Já a segunda ação foi protocolada em maio e postula a não-incidência de Imposto de Renda sobre o terço constitucional de férias. A Associação destaca que, por ocasião da concessão de férias anuais, a classe recebe o terço constitucional a que se refere o § 3º do artigo 220, da Lei Complementar nº 75, de 1993 – quantia constitucionalmente prevista no 7º, XVII, da Constituição Federal. “Os valores recebidos não podem ser objeto de Imposto de Renda retido na fonte, consoante o complexo normativo de regência do tema, bem como a reiterada jurisprudência do Supremo Tribu- nal Federal e do Superior Tribunal de Justiça que reconhece a natureza indenizatória da parcela, devendo ser afastado o desconto e devolvidos os valores já tributados nas folhas de pagamentos do adicional”, destaca o documento. Consulta à classe - Em dezembro do ano passado, conforme previsto em estatuto, a ANPR convocou os associados para participarem, via internet ou de forma presencial, de Assembleia Geral para definir sobre o ajuizamento de três ações. O pleito resultou em parecer positivo por parte dos membros. A próxima ação a ser protocolada será o pedido da equiparação remuneratória dos subsídios da categoria com os dos membros do Poder Legislativo - dado o caráter remuneratório das parcelas salariais adicionais instituídas para as carreiras desse Poder. Parlamento PEC 37: Grupo de Trabalho discute aperfeiçoamento da investigação Shirley de Medeiros para a instituição ministerial. Nossa abertura é para regulamentar com o Congresso Nacional regras e procedimentos para investigação criminal do MP”, pontuou Camanho. O coordenador do Grupo, secretário de Reforma do Judiciário Flávio Crocce Caetano, ressaltou a importância da construção do consenso sob as premissas de cooperação e integração entre o Ministério Público e as Polícias. Camanho destacou que o panorama nacional mostra claramente o trabalho conjunto feito pelo MP com a polícia e que isso deve ser considerado no debate. “Temos uma dinâmica de cooperação. O MP e a polícia trabalham na produção de provas para a elucidação do crime”, afirmou. Por fim, no encontro ocorrido dia 27 de maio, o GT decidiu que as discussões serão prorrogadas até 20 de junho, data limite estipulada pelo presidente da Câmara e pelo ministro da justiça para a entrega dos resultados das atividades. Caetano antecipou que já existe um acordo entre delegados e procuradores da República participantes de que o MP permanecerá atuando nas investigações criminais. Para Camanho, os trabalhos do colegiado serão mais frutíferos se o tema for debatido por mais tempo e com mais responsabilidade. “Nosso objetivo é fortalecer as instituições, promovendo, inclusive, o monitoramento do orçamento das secretarias de Segurança Pública nos estados”, disse. de Emenda à Constituição 37/2011 (PEC 37) em Brasília, que reuniu mais de mil participantes, entre procuradores, promotores, representantes de entidades e da sociedade civil, no Congresso Nacional. Na ocasião, foi entregue um manifesto ao presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que se comprometeu a discutir o assunto e a colocar a PEC na pauta do plenário em junho deste ano. Durante o encontro, Camanho reforçou que a PEC 37/2011 representava um retrocesso. “Subtrair uma prerrogativa visceral do MP é um atentado contra a Democracia e contra a cidadania, e nos parece claro que o Congresso Nacional não vai cometer essa falta de juízo”, declarou. O presidente da ANPR destacou que o momento seria de dar um passo à frente e promover uma discussão mais acertada: a modernização da investigação criminal. Buscando um acordo entre as partes envolvidas na discussão da proposição, Alves convocou o ministro da justiça, José Eduardo Cardozo, membros do Ministério Público Federal, delegados de polícia e parlamentares para reunião sobre o tema, que culminou na criação do GT. Ascom/ANPR D esde o início de maio, a ANPR participa ativamente das reuniões do Grupo de Trabalho de Aperfeiçoamento da Investigação. O presidente da Associação, Alexandre Camanho, representa o Ministério Público Federal no colegiado, criado durante reunião entre o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, o ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, e representantes do MP, da Polícia Federal e da Polícia Civil, quando se debatiam os rumos da PEC 37/2011. A medida foi uma tentativa de promover uma ampla discussão sobre a proposição – que pretende concentrar o poder investigatório nas mãos da polícia judiciária – e apresentar ao Congresso Nacional um projeto abrangente, alternativo a ela, que regulamente a investigação criminal no país. Integram o Grupo quatro representantes do MP, quatro das polícias, um do Ministério da Justiça, o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) e os deputados federais Bernardo Santana (PR-MG) e Fabio Trad (PMDB-MS). Vários foram os cenários desenhados durante as reuniões feitas pelo colegiado. Os representantes do orgão ministerial já apresentaram uma proposta de projeto de lei que regulamenta a investigação criminal tanto pelo MP quanto pela polícia judiciária. Mas os delegados de polícia não chegaram a um acerto em relação ao poder investigatório do MP, nem se devem colaborar com uma proposta de aperfeiçoamento dos trabalhos. “Sempre sinalizei que não vamos negociar investigação temática Entenda a criação do GT - No dia 24 de abril, ocorreu a mobilização nacional contra a Proposta 7 Em destaque ANPR encaminha Lista Tríplice para Presidência da República e Ministério da Justiça Ascom/ANPR Shirley de Medeiros E m ofício dirigido à presidente da República, Dilma Rousseff, a ANPR encaminhou, no dia 19 de abril, a Lista Tríplice para o cargo de Procurador-Geral da República. O documento apresentou os nomes dos subprocuradores-gerais da República Rodrigo Janot, que obteve 511 votos, Ela Wiecko (457 votos) e Deborah Duprat (445 votos). O presidente da ANPR, Alexandre Camanho, ressaltou no ofício a importância de a escolha ser apenas entre os agentes políticos que atuam na mesma área, com os mesmos objetivos e atribuições do procurador-geral da República, sob pena de perder por completo seu sentido. Após sua decisão, a chefe do Poder Executivo enviará o nome escolhido para suceder o atual procurador-geral da República, Roberto Gurgel – no cargo até dia 15 de agosto –, ao Senado Federal, para ser sabatinado. 888 membros do MPF (ativos e inativos), associados à ANPR. A escolha do candidato foi plurinominal, facultativa e secreta. Com 271 votos, a candidata Sandra Cureau ficou em quarto lugar e não entrou na lista. “Tenho certeza de que a presidente da República, que lutou pela democratização do país, prestigiará mais uma vez esse momento democrático dos procuradores da República”, afirmou Alexandre Camanho, presidente da ANPR, ao anunciar o resultado do pleito. Ao registrar seu voto, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, salientou a relevância da eleição. “Mais uma vez a carreira tem a oportunidade de influir na escolha de quem irá chefiar a instituição nos próximos dois anos. Como a Constituição Federal não nos assegurou essa escolha, a formação da Lista Tríplice é um processo valioso para a classe”, declarou Gurgel. Ministério da Justiça – Durante reunião com as associações do MP sobre a PEC 37/2011 – a PEC da Impunidade – realizada no dia 24 de abril, Camanho entregou a Lista Tríplice ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, presente no evento. Na ocasião, Cardozo solicitou o envio dos currículos dos candidatos, pedido que já foi providenciado pela ANPR. Consulta à classe - Há dez anos a Associação organiza a consulta aos procuradores da República. Embora a presidente da República não seja obrigada a aceitar a Lista Tríplice encaminhada pela ANPR, nem haja previsão constitucional para tal, a Associação mantém esta prática democrática, representativa da vontade da categoria. Nesta eleição, a entidade inovou durante as campanhas dos candidatos, aumentando o número de debates entre os concorrentes de um para cinco. Os eventos tiveram lugar nas cidades de Brasília (DF), São Paulo (SP), Porto Alegre (RS), Recife (PE) e Rio de Janeiro (RJ) e possibilitaram um amplo contato entre candidatos e membros da instituição, associações de membros e servidores do MPU e jornalistas. Eleições - O resultado da Lista Tríplice foi fruto da consulta à classe feita no dia 17 de abril pela ANPR, nas unidades do Ministério Público Federal (MPF). A eleição, que virou tradição nos últimos 10 anos - tendo sido respeitada pelos presidentes da República Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff -, contou com a participação de 8 1º Prêmio República de Valorização do MPF divulga vencedores A ANPR organizou, no dia 26, a cerimônia do 1º Prêmio República de Valorização do Ministério Público Federal. Em evento realizado em Brasília, os vencedores foram agraciados com troféu. Durante a abertura, Camanho lembrou as lutas do MP e as perseguições que o órgão sofre na defesa da sociedade. “Temos sido perseguidos e sabotados por aquilo que fazemos de bom e de certo. Nossa exemplaridade tem nos custado um preço. Com esse prêmio, lembramos como é bom e o quanto nos orgulha sermos procuradores da República”, destacou o presidente da ANPR. Também presente na cerimônia, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, declarou que o Prêmio realça o trabalho de excelência que os membros fazem por todo o País. “Uma das únicas formas de reconhecimento no MP eram as representações dirigidas contra os colegas procuradores”, disse Gurgel. Participaram da premiação o vice-presidente da ANPR, José Robalinho Cavalcanti e a representante da Diretoria da ANPR Monique Cheker de Souza. Os trabalhos estão disponíveis no site: www.anpr.org.br/premiorepublica. Confira os vencedores: 1. Constitucional e Princípios Institucionais André de Carvalho Ramos – Ação da Procuradoria Regional Eleitoral em São Paulo que agiu nos casos de candidatos a cargos majoritários, cujos registros ha- Ascom/ANPR Rafania Almeida viam sido indeferidos por inelegibilidades da “Lei da Ficha Limpa”. 2. Criminal e Controle Externo da Atividade Policial Daniel de Resende Salgado – Manual de Controle Externo, de autoria coletiva, que visa a facilitar a atuação do controle externo do MP e melhoramento da atividade policial. 3. Consumidor e Ordem Econômica Sérgio Monteiro Medeiros – Ação precursora, elaborada e proposta para proibir o fumo em voos partindo de Roraima. Na época, era permitido fumar a bordo de aeronaves. 4. Meio Ambiente Daniel César Azeredo Avelino – O MPF no Pará identificou toda a cadeia produtiva da pecuária – atividade apontada como a principal responsável pelo desmatamento na Amazônia – e iniciou um amplo processo de mobilização e acordos com cerca de cem municípios paraenses. O resultado foi a redução de mais de 40% do desmatamento na Amazônia. 5. Patrimônio Público e Social Pedro Antônio de O. Machado – Investigação que constatou um boicote das empresas farmacêuticas e distribuidoras de medicamentos na venda de produtos ao Poder Público, com o objetivo de furtar-se a obedecer o regime de preços legalmente fixado (Lei nº 10.742/2003 e Resoluções da Câmara de Medicamentos). 6. Índios, Comunidades Tradicionais e Minorias Anelise Becker – Ação Civil Pública objetivando o restabelecimento do pagamento do seguro defeso às mulheres que tradicionalmente exercem a pesca artesanal no estuário da Lagoa dos Patos (RS). 7. Direitos do Cidadão André Carlos de A. Pimentel Filho – Foi levantado, por meio de contato com pessoas cegas ou de baixa visão, bem como com suas respectivas associações, que a então cédula do Real não permitia a identificação por essas pessoas com deficiência. Em fevereiro de 2010, embora sem fazer menção à recomendação, a Casa da Moeda anuncia o novo design das cédulas, contemplando integralmente a recomendação. 9 Capa Vítimas invisíveis Falta de denúncias, dificuldade em investigar o crime e legislação falha dificultam o combate ao tráfico de pessoas no Brasil Rafania Almeida O tráfico de seres humanos é um dos crimes que mais movimenta dinheiro no mundo. Segundo a Organização das Nações Unidas, são cerca de R$ 32 bilhões ao ano, dos quais aproximadamente 85% provêm da exploração sexual. Os números são preocupantes. O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC) calcula que o tráfico de seres humanos já fez 2,5 milhões de vítimas em diversos países. O Ministério Público Federal (MPF) é o órgão encarregado de promover a ação penal. Tem, portanto, protagonismo nesses casos. Compete a ele não só processar judicialmente os suspeitos identificados durante a investigação criminal, mas também auxiliar na elaboração de estratégias de prevenção e de investigação. “Cabe ao MPF atuar na investigação criminal, com o intuito de assegurar que a prova produzida na fase pré-processual tenha qualidade e seja em quantidade suficiente para permitir a punição judicial dos responsáveis”, explica o procurador regional da República Luiz Lessa. A despeito de não ter no MPF um grupo que trate especificamente do assunto, o tráfico de pessoas é um dos temas da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão. Além disso, a subprocuradora-geral da República Ela Wiecko explica que, recentemente, a 2ª Câmara de Coordenação e Revisão convocou interessados para compor Grupo de Trabalho sobre Escravidão Contemporânea, mas a composição ainda não foi noticiada. “O MPF precisa definir uma estratégia de atuação, não só no campo da persecução penal como também das políticas públicas de prevenção”, avalia Ela Wiecko. Para a subprocuradora- 10 -geral, o órgão deve ter uma visão multidisciplinar do problema e buscar respostas abrangentes, para além de metas de condenação penal. A fala do ministro ganha força na argumentação da senadora Vanessa Grazziotin (PcdoB/ AM), presidente da CPI do Tráfico de Pessoas do Senado, encerrada no ano passado. “Há registros esparsos de todos esses tipos de casos, porém não há uma estatística confiável ainda”, explicou. Isso se deve não só às poucas denúncias como à dificuldade de se identificar a conduta delituosa. Na Câmara, outra CPI sobre o assunto está em andamento. A comissão foi criada em fevereiro de 2012 e o término está previsto para setembro deste ano. Presidida pelo deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA), a CPI já recebeu diversas denúncias de pessoas desaparecidas, mulheres forçadas ao trabalho escravo, adoção ilegal de crianças e até mesmo sobre mercado clandestino de tráfico de órgãos. Porém, Jordy explica a dificuldade da apuração pela invisibilidade das vítimas. Por isso, os parlamentares trabalham na sensibilização e conscientização da opinião pública. “Mostramos que esse crime é mais próximo do que nós podemos imaginar”, disse Jordy. O deputado avalia que é preciso aparelhar melhor o Estado, que ainda é ineficaz no enfrenta- Para Cardozo, outro problema é que a legislação brasileira é inadequada, pois aborda o tráfico de pessoas apenas para fins de exploração sexual Divulgação Cenário nacional De acordo com relatório do Ministério da Justiça, entre 2005 e 2011, a Polícia Federal instaurou 514 inquéritos de tráfico interno de pessoas e 344 de trabalho escravo. No mesmo período, foram registrados 157 inquéritos por tráfico internacional de pessoas. Já o Departamento Penitenciário Nacional revela que, dos 381 indiciados por tráfico internacional de pessoas para exploração sexual, apenas 158 foram presos -, menos da metade. Isso porque existe a dificuldade em reunir provas, o que dificulta a punição. Lessa lamenta o fato de os números serem tão baixos para um crime que movimenta tanto dinheiro e já fez mais de 2 milhões de vítimas. “Sem o trabalho do MPF, a punição dos autores desses crimes é impossível no Brasil”, argumenta. A atuação do MP deve ser abrangente tanto no plano da repressão penal quanto no da prevenção. Ela Wiecko exemplifica com o caso de trabalhadores bolivianos encontrados em situação análoga à escravidão em São Paulo, uma vez que o Brasil não apenas “exporta” traficados, mas também existem aqui quadrilhas “importadoras” dessas vítimas. Eles eram explorados pelo ateliê de costura de uma grife internacional. “O MPF, por exemplo, vem atuando em prol da regularização da imigração boliviana. O Ministério Público do Trabalho vem cobrando e acompanhando o cumprimento das normas de proteção do trabalho nos ateliês de costura”, garante. Dados do Sistema Nacional de Estatística de Segurança Pública e Justiça Criminal (SINESPJC) indicam que 1.735 pessoas foram vítimas de tráfico interno de pessoas para fins de exploração sexual no Brasil, entre 2006 e 2011. Contudo, essas informações ainda não mostram um panorama real do crime no Brasil e no mundo. As autoridades afirmam que não existe uma cultura de registro do fenômeno, poucas pessoas colaboram com denúncias por medo ou vergonha e poucos são punidos, entre outros pontos. Para o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, outro problema é que a legislação brasileira é inadequada, pois aborda o tráfico de pessoas apenas para fins de exploração sexual. Outras modalidades do crime não são enquadradas como sequestro ou “contrato” para remoção de órgãos ou o trabalho escravo. 11 mento do tráfico e na assistência às vítimas, além de produzir uma legislação mais eficiente. O crime já acontece há anos; entretanto, o procurador regional Luiz Lessa, especialista no assunto, aponta que ele se tornou uma preocupação há pouco tempo. O tráfico de seres humanos só ganhou projeção internacional a partir de 2003. No Brasil, isso aconteceu em março de 2004, com a vigência do Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças. “Ainda hoje é possível notar uma deficiência de infraestrutura, dados e informações que impedem os estados de combater esse tipo de crime de forma efetiva”, esclarece. A subprocuradora-geral afirma que o registro de informações será possível, de forma gradativa, com a implantação da Metodologia Integrada de Coleta e Análise de Dados e Informações, elaborada por um Grupo de Trabalho, sob coordenação da Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça. “O MPF fez parte desse grupo comigo e com o procurador da República Daniel de Resende Salgado (PR/GO)”, diz. A senadora Vanessa Grazziotin diz não ser possível afirmar que houve um aumento no número de casos, mas as denúncias começaram a aparecer. “Antes, esse crime passava despercebido, quase invisível mesmo, porque as vítimas tinham - e ainda têm - muito medo de denunciar, ou se pensavam em fazer isso, não sabiam nem como e nem para quem fazê-lo”. No dia 13 de maio, a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) entregou, para a senadora Ana Rita (PT-ES), nota técnica referente ao Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 479/12 – que dispõe sobre a prevenção e punição ao tráfico interno e internacional de pessoas. A parlamentar é relatora do PLS na Comissão de Constituição de Justiça (CCJ). 12 Além de se posicionar favorávelmente à proposta, as ANPR sugeriu ajustes na fundamentação de pontos como: colaboração premiada; vítima e isenção de pena; abrangência das medidas assecuratórias; adequação redacional quanto ao artigo 7º, parágrafo segundo – sobre a autoria do crime –; e cooperação internacional. Perfil das vítimas Segundo declarações de organizações de apoio às vítimas de escravidão e exploração sexual – feitas durante a CPI do Senado –, o perfil das pessoas procuradas para tal finalidade é de mulheres com menos de 30 anos, mães solteiras, provedoras da família que, além dos filhos, têm a mãe e mais algum parente para sustentar. Há muitos casos de mulheres que sofreram violência doméstica em seus relacionamentos ou violência sexual na adolescência. Em geral, engravidaram muito jovens e buscam melhoria das condições de vida, porque suas experiências de trabalho foram sub-remuneradas. No entanto, são registrados, ainda, casos de crianças e adolescentes sendo explorados ou vendidos para adoção. O UNODC avalia que grande parte dos explorados e dos agentes criminosos são do gênero feminino. O número de crianças traficadas corresponde a cerca de 20% do total de vítimas. O procurador Luiz Lessa afirma que os traficados costumam integrar a parcela mais pobre e, portanto, menos informada da população. “São pessoas carentes de serviços e que não têm acesso ou facilidade para compreender os riscos a que se submetem”, explica. Ele avalia que a mídia em geral tende a apresentar os grandes centros urbanos, sejam nacionais ou estrangeiros, como fonte inesgotável de riquezas e oportunidades. A discrepância entre a remuneração paga nos países centrais aos trabalhadores não-qualificados – como ope- rários, domésticos e faxineiros, dentre outros– e o salário oferecido nas nações de origem é enorme. Ele cita o exemplo dos Estados Unidos, onde as chances de progressão econômica aparecem como muito atrativas para esses imigrantes. “No Brasil, quantos não foram os nordestinos que, fugindo da seca ou de condições de miséria, mudaram para cidades como São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, para ter uma chance de um emprego digno?”, questiona. Lessa salienta que o drama não é a pessoa migrar para outros lugares em busca de melhores condições de vida. O problema ocorre quando a promessa de trabalho não se concretiza ou quando a migração é feita de forma clandestina e a um preço muito alto. “Nesses casos, quer seja por necessidade de se manter, quer seja por dívidas cobradas pelos responsáveis por trazer o trabalhador para o país, quer seja mesmo por estarem cativas, essas pessoas acabam se colocando em situações iguais ou piores das que se encontravam no seu país de origem”, diz. Entre os agravantes para o risco das vítimas, ele pontua os fatos de: na maior parte das vezes, o trabalhador não falar a língua do país para onde é enviado; o medo de sofrer alguma represália das organizações criminosas que fazem o tráfico; a crença de que se encontra em uma situação temporária e que, em breve, conseguirá vencer e se estabelecer no país novo; algumas serem viciadas em drogas; ou em função de contratos ou documentos que assinou, acreditar que se encontra em dívida com o empregador. Foi o que aconteceu com pelo menos 14 garotas que eram exploradas em um bordel na região Norte do país. Quem investiga o caso é a procuradora da República Thais Santi (PR/PA). Essa é uma das ocorrências de tráfico de pessoas mais recentes registrada no Brasil. Jovens eram levadas do Rio Grande do Sul até o município de Altamira (PA), onde eram exploradas sexualmente para atenderem a clientes na região das obras da Usina de Belo Monte. “Vinham com a promessa de ganhar dinheiro e já chegavam com uma dívida de R$ 13 mil da viagem, que se somaria às dívidas de roupas, salão de beleza e alimentação, tudo anotado em caderneta”, relata. As garotas não poderiam ir embora enquanto não saldassem a dívida, que só aumentava. “Além disso, tinham que trabalhar sempre que fossem requisitadas, 24 horas por dia, e as condições físicas do local eram de insalubridade”, afirma. As jovens foram ouvidas pelo MPF em Belém e a procuradora recebeu inquéritos e depoimentos. A preocupação de Thais Santi é a amplitude do tráfico, uma vez que ele não se organizava apenas no município de Altamira, mas também no Sul do País, onde as mulheres eram aliciadas. Os objetivos da procuradora são a efetivação da prisão dos membros e que a investigação alcance outros estados, o que deverá garantir a prisão de toda a quadrilha e a segurança das vítimas. Combate contra o crime ganha força No dia 26 de fevereiro, o Ministério da Justiça, a Secretaria de Direitos Humanos e a Secretaria de Políticas para Mulheres lançaram o II Plano de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. O objetivo é promover a integração e o fortalecimento das políticas públicas, redes de atendimento e organizações para prestação de serviços. O MPF apoia o Plano, que tem como uma de suas metas o incentivo à denúncia por parte das vítimas ou de pessoas ligadas a elas. Para isso, devem ser dadas condições – especialmente proteção às pessoas traficadas, que não se sentem a vontade para informar o crime às autoridades e correm o risco de ficar à mercê dos aliciadores ou das organizações criminosas. A ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos, diz que é necessário instituir uma política de enfrentamento ao problema que garanta a cidadania e a liberdade das vítimas. 13 Entrevista Divulgação Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça Integrante da Comissão Nacional da Verdade, o ex-procurador-geral da República Claudio Fonteles afirma que o objetivo dos trabalhos é garantir uma rede forte de proteção à Democracia, para que as mazelas de um Estado ditatorial militar não voltem a se repetir Shirley De Medeiros A Comissão Nacional da Verdade (CNV) foi instituída em maio de 2012, pela presidente da República Dilma Rousseff. De acordo com a lei de criação, sua finalidade é apurar graves violações aos Direitos Humanos, ocorridas entre 1946 e 1988, com ênfase no período da ditadura militar (1964-1985). Composta por sete integrantes, um ano após sua instalação, a CNV já promoveu mais de 10 audiências públicas pelo Brasil e, nas apurações, tem contado com o auxílio de cerca de 40 outras comissões, formadas por instituições da sociedade civil. O prazo para finalizar os trabalhos é maio de 2014, quando o grupo deverá entregar à presidente da República um relatório circunstanciado, detalhando todas as atividades desenvolvidas e os resultados. Nesta edição da revista, o ex-procurador-geral da República Claudio Fonteles, um dos membros da CNV, conta sobre a atuação do grupo e afirma que o principal objetivo dos trabalhos é garantir 14 uma rede forte de proteção à Democracia, para que as mazelas de um Estado ditatorial não voltem a se repetir. Dentro do esquema de revezamento feito pelos integrantes do grupo à frente da Comissão, Fonteles coordenou os trabalhos por cinco meses. Duas vezes por semana, visita o Arquivo Nacional – órgão que possui um acervo de 16 milhões de papéis sobre o período – para realizar sua pesquisa documental e já divulgou 14 textos, nos quais analisa casos ocorridos no regime militar. Aposentado pelo Ministério Público Federal desde 2008 – onde atuou por 35 anos –, Fonteles exerceu o cargo de procurador-geral da República entre 2003 e 2005. Humanista cristão, natural do Rio de Janeiro, é membro leigo da Ordem de São Francisco e, desde que saiu do MPF, faz trabalhos voluntários em comunidades pobres e com dependentes químicos, além de lecionar na Faculdade de Teologia da Arquidiocese de Brasília (FATEO). Como surgiu o convite para compor a Comissão Nacional da Verdade? Meu nome foi uma escolha pessoal da presidente da República, Dilma Rousseff. Ela me chamou em seu gabinete e disse que queria alguém com o meu perfil para compor o grupo: um humanista cristão. vítimas, parentes e amigos de pessoas que morreram durante o regime; e no levantamento pericial, onde a equipe, a partir de informações e imagens, examina locais, refaz cenários e elabora laudos. Já que as recomendações não possuem carácter punitivo, na sua opinião, qual será o maior legado da CNV para a socieE o senhor é um humanista cristão? dade brasileira? Sim, me considero. Sempre lutei pelos DiO principal ponto é dar uma resposta às reitos Humanos e pela defesa da vida em sua famílias que perderam entes queridos e reconsplenitude. Esse convite foi uma oportunidade truir a história do país, trazendo a verdade à para retomar meus ideais da juventude. Cotona. Acredito que quando os verdadeiros fatos mecei minha militância aos 15 anos de idade, são conhecidos, cria-se no movimento estudanuma rede forte de defesa til do colégio Elefante da Democracia, de modo Branco, em Brasília, e fui “O principal ponto é dar que as mazelas de um membro da Ação Popular uma resposta às famílias Estado ditatorial militar, (AP), movimento estutorturador e assassino, dantil ligado à esquerda que perderam entes jamais sejam esquecidas católica. Também tenho queridos e reconstruir a formação em Teologia história do país, trazendo e nunca mais se repitam. Por outro lado, o Ministée, atualmente, leciono a a verdade à tona ” rio Público também pode disciplina Doutrina Soresponder com ações que cial da Igreja. partam das recomendações apresentadas, para exame do Poder Judiciário. De acordo com a lei de sua criação (Lei nº 12.528/11), a Comissão tem a finalidade de Na prática, já houve uma resposta do poder examinar e esclarecer as graves violações de público para alguma recomendação da CNV? Direitos Humanos ocorridas no período enSim. Um exemplo foi o caso do assassinato tre 1946 e 1988. Como se dá a legitimidade do jornalista Vladimir Herzog, morto em 1975. do trabalho da Comissão? Após recomendação da CNV, atendendo soliciA lei determina que elaboremos Relatório tação da família Herzog, a Justiça de São Paulo circunstanciado para, em seguida, apresentardeterminou a mudança do registro de óbito para mos recomendações a serem observadas. Para que a causa da morte fosse alterada de asfixia isso, trabalhamos em três principais frentes: na mecânica para morte em decorrência “de lesões busca de documentos para a produção de proe maus-tratos sofridos em dependência do II vas documentais – em órgãos públicos e entiExército – SP (DOI-Codi)”. Também já houve a dades, como o Arquivo Nacional, por exemplo; devolução simbólica dos mandatos dos deputana coleta de depoimentos de pessoas – como Divulgação Vladimir Herzog morreu no dia 25 de outubro de 1975, durante uma sessão de tortura em um prédio utilizado pelo Destacamento de Operações Internas – Comando Operacional de Informações do II Exército 15 dos cassados durante a ditadura, em sessão solene da Câmara federal, presidida pela deputada Luiza Erundina (PSB/SP). regiões geográficas do país. À atuação espon“Acreditamos que tânea dessas Comissões a contribuição e da sociedade civil organizada soma-se cada da sociedade é vez mais a incessante indispensável para Dentro da Comissão, busca pela verdade no a criação dessa rede como é dividido o traesclarecimento dos faprotetiva em torno da balho para a apuração tos e das circunstâncias. Democracia.” dos fatos? Qualquer pessoa ou insA equipe foi divitituição que tenha inforda em 12 grandes grupos temáticos que, inmações para contribuir com o trabalho pode ternamente, seguem a metodologia citada entrar em contato conosco. anteriormente. Os temas abrangem a questão de pessoas torturadas, mortas e desapaQual a maior dificuldade enfrentada pelo recidas no regime militar, a Guerrilha do grupo em seu primeiro ano de atuação? Araguaia, a Operação Condor, as violações Na minha opinião, o curto prazo de temaos direitos de indígenas, o papel da igreja po que temos para produzir - dois anos - e a fase durante a ditadura, as violações de Direitos de ajustamento entre os membros, pessoas que Humanos de brasileiros no exterior e de esnunca tiveram a tradição de atuarem juntos. trangeiros no Brasil e a perseguição a militaNão achei tão complicado coletar informações, res que se opuseram ao regime, entre outros. por exemplo. Todos os textos que escrevi são baseados em provas documentais produzidas pelo Há a participação da sociedade civil organizada? Estado ditatorial militar, fruto de pesquisas feiAcreditamos que a contribuição da societas no Arquivo Nacional, que possui um acervo dade é indispensável para a criação dessa rede de 16 milhões de papéis sobre o período. protetiva em torno da Democracia. De acordo com o previsto na Resolução nº 4 da CNV, foMas o acesso à informação nos órgãos miliram fechados diversos acordos técnicos com tares foi facilitado? instituições como a Ordem dos Advogados, o Passado o mal-estar inicial, entramos em Programa das Nações Unidas para o Desenvolum processo evolutivo de diálogo com os milivimento (PNUD), a Federação Nacional dos tares, que não se negaram a contribuir. O Estado Jornalistas (Fenaj), a União Nacional dos EsMaior do Exército já nos encaminhou documentudantes (Une), a Associação Juízes para a Detação, conforme havia se comprometido. As Formocracia (AJD), a ONG Movimento de Justiça ças Armadas são corporações fundamentais para e Direitos Humanos, entre outros. Mais de 40 o Estado Democrático e a nova geração de militaentidades da sociedade civil têm nos auxiliado res tem uma outra visão sobre a importância da nas investigações. sua atuação, o que inclui não se envolver em assuntos políticos partidários, cuja definição há de Em fevereiro, a mídia divulgou que, de acorcaber nos exatos termos da estruturação constido com levantamentos da CNV, a ditadura tucional democrática à Presidência da República, havia violado direitos de cerca de 50 mil ao parlamento e ao Supremo Tribunal Federal. pessoas, incluindo presos, exilados e torturados. Como o trabalho do grupo consegue Como o senhor analisa as críticas vindas de ter abrangência nacional? militares, que tacharam o trabalho da CoIncentivamos a criação de Comissões missão de revanchismo do governo atual? da Verdade estaduais e municipais. Elas já Essa é a opinião de militares antigos, 90% deles existem em estados como Alagoas, Espírito da reserva. Não há revanchismo. O Estado brasileiSanto, Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro já reconheceu que a ditadura violou gravemente ro e Rio Grande do Sul. Além disso, percorreos direitos da pessoa humana por seus agentes púmos o Brasil realizando audiências públicas blicos. A propósito, basta que se veja a Lei 9104/95. para colher depoimentos de vítimas e levanCumprir a legislação é dever sagrado para todos nós tarmos informações. Já estivemos nas cinco que nos empenhamos na defesa da Democracia. 16 Então, manter viva a memória é uma maneira de garantir a Democracia? Sim. A juventude precisa ser incentivada a não cair na alienação e a conhecer profundamente o passado. No dia da minha primeira visita ao Arquivo Nacional, havia um piquete montado na porta do órgão. Quando ponde- rava com o grupo de grevistas sobre a importância de realizarmos o trabalho da CNV nas dependências da instituição, ouvi de um jovem funcionário público: “Estão mortos, estão sossegados”. Essa frase perturba-me. É um desrespeito a tantos e tantas que ofertaram a própria vida em defesa das liberdades democráticas, dentre elas, o próprio direito de greve. Recentemente, a filha do deputado Rubens Paiva agradeceu, publicamente, a CNV pelo esclarecimento da morte do parlamentar. Como o senhor se sentiu com as declarações? Uma sensação pessoal de estímulo para que eu continue com todo empenho nessa missão. Após todos esses meses de trabalho, como o senhor resumiria o sistema ditatorial militar no Brasil? Uma página violenta, obscura e que nunca mais pode ser vivida em nossa história. Divulgação O trabalho da CNV pode contribuir para mudar o conceito de que o brasileiro é omisso com relação ao seu passado? É o que esperamos. Inclusive criamos uma política na Comissão de pedir a preservação dos locais que se notabilizaram pela repressão do estado ditatorial militar. A ideia é que esses espaços de tortura e assassinatos transformem-se em museus, espaços vivos de memória e de construção da história, para que essas mazelas nunca mais aconteçam. Já emitimos ofícios solicitando, por exemplo, a preservação das sedes dos DOI-Codis do Rio de Janeiro e de São Paulo e do imóvel onde funcionou a Casa da Morte, em Petrópolis. 17 Mobilização Direitos iguais para mães biológicas e adotantes Prorrogação de licença-adotante é pleiteada junto à administração do Ministério Público. O estatuto interno do órgão não garante o previsto na Constituição Sylvia Dimittria A Ascom/ANPR chegada de uma criança ao lar é um dos momentos mais esperados pela família, seja por aquela que aguardou ansiosamente os nove meses de gestação, ou aquela que está na fila de espera da adoção. Ter nos braços alguém para chamar de filho é o desejo da maioria das mulheres, como Carolina Longo (foto), servidora do Ministério Público Federal em Brasília, que sempre quis ser mãe. “A ideia inicial era ter um filho biológico e adotar outro”, afirma. Os planos tiveram que mudar. Por problemas de saúde, ela foi impedida de gerar o filho biológico e acabou optando pela segunda alternativa: adotar os dois filhos que tanto desejou ter. Carolina procurava por irmãos com idade entre 1 e 8 anos, até que encontrou Gabriel e Thaís, à época com 5 e 1 ano respectivamente, no abrigo Nosso Lar. Segundo ela, a adoção tardia foi uma escolha, porém é um processo complicado. A construção da relação entre pais e filhos é mais difícil e demorada. Nessa fase de adaptação e concepção de uma nova identidade das crianças recém-chegadas ao lar, há um longo caminho 18 a ser percorrido. “É muito importante a presença constante dos pais nessa etapa. Quanto mais próximos à criança, melhor”, defende ela. O perfil buscado pela servidora se assemelha à nova realidade da adoção em Brasília. De acordo com a Seção de Colocação em Família Substituta da 1ª Vara de Infância e da Juventude do Distrito Federal, a preferência por cor e gênero não é mais algo determinante. Em 2012, houve crescimento de 23% na procura por crianças negras e maiores de 1 ano. Foram adotadas 18 crianças na faixa etária de 4 a 11 anos, e 43 de 0 a 3 anos de idade, totalizando 63 acolhimentos. Nos processos de pedido de guarda, a adoção tardia já demonstra crescimento, por isso precisa ser analisada de outra forma. Neste ponto, a equiparação entre as licenças maternidade e adotante é o principal pleito a ser discutido. Buscando atender ao pedido dos servidores e membros do MPF, a ANPR formulou requerimento administrativo, solicitando revisão do posicionamento institucional. A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) também defende a equiparação entre as licenças adotante e maternidade no âmbito do Ministério Público da União. O órgão enviou ofício ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, solicitando que a administração do MPU modi- fique o entendimento quanto à não equiparação da extensão da licença-adotante. A administração do MPU baseia-se na Lei n° 8.112/90 e na Lei Complementar n° 75/93. O estatuto interno da instituição prevê que membros e servidoras que adotem ou recebam a guarda de criança menor de um ano têm diPara a procuradora da República (PRR3) Luiza Friescheisen, a licençareito à licença-adotante de noventa dias. No maternidade tem a ver também com o convívio da criança e a nova família caso de criança maior de um ano, o prazo é de 30 dias. Em ambos os casos, a licença pode ser prorrogada por mais sessenta dias, nos termos como a criação de vínculos e confiança é algo que da Portaria PGR/MPU n° 510/2008. deve ser conquistado com o tempo e a convivênO pedido de equiparação feito à administracia. Para as mães adotantes, isso seria uma granção do Ministério Público atende a um requeride conquista”, acrescentou. mento da procuradora regional da República LuiO principal ponto defendido pela procuraza Cristina Fonseca Friescheisen (PRR3) que, ao dora regional Luiza Cristina Fonseca Friescheisen analisar o estatuto do órgão, considerou-o restrié a necessidade da criança, uma vez que a Constivo, tanto no que se aplica às servidoras quanto às tituição defende os interesses sem distinções. A mulheres membros do MPU. De acordo com a proprorrogação da licença mostrou a mudança do encuradora, toda a discussão tendimento feita pela Consé se as normas do estatuto tituição. Antes, entendiapodem ser aplicadas no -se que a presença da mãe “A prorrogação do período caso das mães adotantes, abrangia o momento da da licença-adotante é passando por cima dessa amamentação, justificando necessária, principalmente, o curto período para crianequiparação prevista na Constituição. “O que está pelas questões psicológicas ças maiores de 1 ano. Conse fazendo é uma intertudo, para Friescheisen, que envolvem os pais pretação mais restritiva da a licença-maternidade e a criança.” Lei para a Constituição, não tem a ver apenas não da Constituição para com amamentação a Lei, como deve ser feito. É evidente que o direito e sim com o convívio da criança que cheé da servidora”, ressalta Friescheisen. Argumento ga ao seio familiar, não importando se de importante destacado por ela é que casos de adoforma biológica ou se por uma relação ção tardia merecem a mesma atenção e tempo que de adoção. os de nascimento ou acolhimento de crianças com A presidente da ONG Aconchego, Soraidade menor requer. ya Kátia Pereira, explica que a relação afetiva vai além do DNA. “A genética não garante filiação. Relação de afeto - A prorrogação do períoPara se tornar filho, mesmo que gerado e criado do da licença-adotante é necessária, principalpela própria mãe, é preciso ser adotado, é precimente, pelas questões psicológicas que envolvem so que haja afinidades ”, destaca. A equiparação os pais e a criança. A servidora Carolina Longo entre os períodos de vivência se torna fundamenlembra que é neste período em que se constrói a tal ao perceber que a adoção tardia precisa de relação de família. “O prazo concedido às mães é mais tempo e cuidado, já que a construção curto e impede a adaptação a rotina. Trinta dias de vínculos é conquistada mediante a prede licença é pouco, mal dá para fazer a matrícusença. “É uma relação instituída através la na escola”, alega. Segundo ela, a prorrogação do olhar, cheiro, toque, cumplicidade. por mais 60 dias é razoável, mas ainda é pequena É uma comunicação além da verbal, é porque em 90 dias a criança ainda não está habiafetiva”, certifica Soraya. Outro fator que deve ser levado em conta para defituada com a nova realidade, além de a presença nir a equiparação é a formação psíquidos pais ser indispensável para a construção de ca da criança – que ocorre na primeira uma nova identidade. “O Gabriel está há seis meinfância, período desde o nascimento ses fazendo terapia e até hoje não se sente à vonaté os 6 anos de idade. tade para falar sobre sua história. Isso demonstra 19 Integração Arrecadação por madeiras apreendidas beneficiará reserva extrativista Leilão de madeira ilegal no Pará concederá 50% do valor arrecadado a unidade de preservação SyLVIA DIMITTRIA E m março de 2010, ocorreu a maior apreensão de madeira ilegal no Brasil. A Operação Arco de Fogo – ação conjunta entre Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Polícia Federal, Força Nacional e Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) – encontrou, escondidos em uma floresta, 64,5 mil metros cúbicos de madeira: mais de 23 mil toras, com valor estimado em R$10 milhões. A floresta fica dentro da reserva extrativista Renascer, unidade de conservação criada em 2009 que protege 400 mil hectares de área verde, localizada em Prainha (PA). O agravante é que junto à comunidade estão serrarias que, antes dessa data, obtiveram licença para operar na região e se recusam a deixar o lugar. Naquele mesmo ano, começaram as negociações para o acerto do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que surgiu de uma ação civil do procurador da República Marcel Brugnera (PR/PA). O objetivo era fazer com que a madeira apreendida fosse destinada às comunidades extrativistas locais. Em 15 de janeiro de 2013, o documento assinado entre Ministério Público Federal no Pará (MPF/PA), ICMBio, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e a Reserva Extrativista (Resex) Renascer foi enviado à Justiça Federal. O acordo prevê a realização do leilão dentro de nove meses a partir da data 20 de sua homologação. O termo autoriza a destinação de 50% dos recursos para o programa Fome Zero e o restante para investir no desenvolvimento sustentável da resex Renascer. Representante do Ministério Público no TAC, o procurador da República Luiz Antonio Miranda Amorim Silva (PRM/Santarém) destaca que a concessão do benefício à reserva é uma forma de mostrar o reconhecimento do MP pelo trabalho de proteção ao meio ambiente que estas comunidades desempenham. “Foi decidido que iria para a resex primeiro pela atuação de preservação. Segundo, pela forma contundente como atuam na extração legal de recursos, sempre preocupados em proteger e não em explorar”, afirma. A porcentagem do dinheiro destinada à Renascer será administrada pelo Instituto Chico Mendes. É responsabilidade do órgão planejar e investir o valor em prol da comunidade. Delfem Ferreira, vereador suplente e na época da fundação da resex e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Prainha, ressalta que a população é carente em infraestrutura e precisa de investimentos, principalmente nas áreas de educação e saneamento. “A resex foi criada para que a comunidade trabalhe sem agredir o meio ambiente, mas precisa de políticas públicas que garantam melhores condições de moradia”, aponta. Outra forma positiva de uso do valor a ser recebido é através de inovações tecnológicas. Para o Professor Doutor em Análise Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, Luiz Carlos Nasser, as reservas extrativistas têm papel primordial na preservação, uma vez que mantém intacta uma área explorada. Porém, funcionam de forma precária e ganhos em causas desse tipo podem garantir melhores formas de trabalho. “Investir em tecnologia pode ser a saída para aumentar o rendimento e a qualidade do produto, além de incentivar a extração sustentável”, destaca. De acordo com o professor, o reconhecimento feito pelo Ministério Público contribui para que outros órgãos se posicionem. “Parcerias com a Embrapa, por exemplo, podem ajudar na adoção de tecnologias sustentáveis”, acredita. O uso do benefício em recursos tecnológicos também é defendido por Delfem. “Investir para que haja desmatamento zero é uma causa válida. Com mais tecnologia, podemos aproveitar melhor as capoeiras sem agredir a floresta”, lembra. A fiscalização do destino dado aos recursos será feita pelo MPF/PA, e o prazo para aplicá-los foi estimado em cinco anos. O procurador da República Luiz Antonio Amorim defende a iniciativa. “Esse tipo de acordo faz com que autoridades beneficiem comunidades carentes. Espero que os órgãos atuem para que produtos apreendidos possam ir para esses grupos”, afirma. ANPR recomenda Nossos escritores Autor: Procuradora Regional da República Maria Iraneide O. Santoro Facchini Livro: Flores no caminho Editora: SSUA Editora Sinopse: Segundo livro de autoria da procuradora, assim como o primeiro – intitulado “Insubstituível” –, “Flores no Caminho” é uma coletânea com 50 poesias, umas das paixões de Facchini. A procuradora vê na poesia uma forma de expressar reflexões e registrar seu ponto de vista sobre os fatos cotidianos. O livro contempla poemas feitos entre 2008 e 2012, escritos após a publicação da primeira obra. “Apaziguar a dor” é um texto em homenagem à Maria Luíza, irmã falecida da escritora, e um de seus preferidos : “Roubei do sol a alegria/de um dia cálido, enrubescido/e por momentos me senti feliz! Sem embargo, tenho que seguir:/há coisas a fazer/estórias a contar/poemas a escrever...” O livro pode ser encontrado nas livrarias Martins Fontes e Cultura. Arquivo Pessoal Perfil do autor: Amante do Direito e da poesia, Maria Iraneide Olinda Santoro Facchini iniciou a carreira pública como procuradora do município de São Paulo. Em 1992, ingressou no Ministério Público Federal na Procuradoria Regional do Estado. Hoje atua na área criminal da PRR3, além de ser membro suplente, pela segunda vez, da 5ª Câmara de Coordenação e Revisão da PGR. A literatura é uma de suas paixões, além da música, escultura, fotografia, cinema e natureza. Gosta de cantar e há seis anos se apresenta nos shows de talento do Encontro Nacional dos Procuradores da República. Autor: Procurador da República Edilson Vitorelli Diniz Lima Livro: Estatuto da Igualdade Racial e Comunidades Quilombolas Editora: Juspodivm Sinopse: O livro compõe a coleção ‘Leis para concurso público’, voltada para estudantes de direito, porém vai além da literatura já existente que contempla o assunto, pois analisa, a partir de uma perspectiva crítica, pontos equivocados na Constituição. A publicação é dividida em duas partes: a primeira aborda o Estatuto da Igualdade Racial, em que as ações afirmativas, a liberdade religiosa e os direitos sociais recebem destaque. Já a segunda Arquivo Pessoal ressalta a questão das comunidades quilombolas, onde o autor conceitua o real significado deste termo, uma vez que é facilmente confundido com um conceito histórico. Dentro da obra, Vitorelli mostra os dois pontos a partir dos entendimentos do MPF, além de diferenciar a situação de negros e quilombolas, que é análoga, mas não idêntica. O livro pode ser encontrado nas principais livrarias e também no site da editora. Perfil do autor: Procurador da República em Campinas, Edilson Vitorelli é membro do MPF há quatro anos. Doutorando em Direito pelo UFPR e mestre pela UFMG, começou a carreira pública como procurador do Estado de Minas de Minas Gerais, cargo exercido por pouco mais de três anos até tornar-se juiz federal e, posteriormente, ingressar no MPF. Estatuto de Igualdade Racial e Comunidades Quilombolas é o terceiro livro de Vitorelli. O primeiro – intitulado ‘Estatuto do Índio’ – também faz parte da coleção ‘Leis para concurso público’. O interesse pelos temas de ambas as obras vem desde a atuação como procurador em Minas Gerais, onde defendeu casos como o da comunidade quilombola Marques, em Carlos Chagas (MG), e dos índios Maxacali. Quer participar da editoria “Nossos Escritores”? Envie um e-mail para [email protected] com os dados técnicos de sua obra e faça parte da nossa galeria. 21 Ascom/ANPR Artigo Justas férias de 60 dias Ailton Benedito* O jornal Folha de São Paulo, na edição do dia 23/2/2013, na seção “Tendências/ Debates”, publicou argumentos favoráveis e contrários às férias de 60 dias para membros do Poder Judiciário, extensíveis aos integrantes do Ministério Público, por força de igual constitucional. Naquela seção, o advogado Sergei Cobra Arbex, escrevendo “Não” às férias de 60 dias, pugnou por uma pretensa “Regra única para todos”. Enquanto o desembargador Nelson Calandra, favorável, redarguiu para “muito além dos factoides”. Pois bem, é inatacável que as férias de 60 dias aos membros do Poder Judiciário e do Ministério Público são não apenas legais, mas, sobretudo constitucionais, legítimas, perfeitamente adequadas à justiça social. Contudo, para dissimular os assaques contra os direitos desses agentes políticos, os acusadores, comodamente encastelados nos Poderes Legislativo e Executivo, e, pasme-se, no Poder Judiciário e Ministério Público, “esquecem-se”, desejando que ninguém os lembre, de que o direito a 60 dias de férias integram-se a um regime jurídico bastante mais complexo que vinculam indelevelmente a vida 22 pessoal, familiar e funcional e a cidadania dos membros do Poder Judiciário e do Ministério Público. Exemplificativamente, os integrantes do Judiciário e do MP são atingidos por proibições que não alcançam outros agentes públicos, à medida que são proibidos de: exercer outro cargo ou função, salvo magistério; receber custas ou participação em processo; dedicar-se à atividade político-partidária; receber auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei; exercer a advocacia perante o órgão do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração; além de outras atividades. Prosseguindo, em confronto com diversas categorias profissionais, integrantes do Judiciário e do MP não se beneficiam de direitos daquelas, tanto celetistas quanto estatutários: horas extras remuneradas, descanso semanal remunerado, fundo de garantia por tempo de serviço, remuneração do trabalho noturno superior ao diurno, entre outros. Também não se beneficiam de direitos que lhas assistem, malgrado os demagogos finjam-se de cegos, surdos e mudos: aposentadoria especial de 25 anos de serviço, igualmente aos delegados, agentes e escrivães; não podem se aposentar com cinco anos a menos de idade e contribuição, como professores; não recebem 14º, 15º salários, nem verba de gabinete, nem plano de saúde integral etc, analogamente aos parlamentares federais. Entretanto, não se observa nenhum inconformismo daqueles acusadores contra direitos dessas categorias profissionais. Daqueles não se leem alegações de que o caos na segurança pública (50 mil assassinatos por ano) deva-se à aposentadoria especial de delegados, agentes e escrivães. Não se ouvem invectivas contra a aposentadoria antecipada de professores, à conta das mazelas da educação. Não denunciam o leque de benefícios dos parlamentares entre as causas de degradação da política. Os demagogos de plantão maculam os direitos e prerrogativas dos membros do Poder Judiciário e do Ministério Público de injustos, de privilégios inaceitáveis, de causas de todos os problemas do sistema de justiça. Vislumbram ademais, extinguir esse e outros direitos sem diminuir a carga de deveres. Assim, vão-se propagando ideias de que os membros do Poder Judiciário e do Ministério Público são beneficiários de injustos privilégios. No entanto, não passam de falácias. Enfim, ônus e prerrogativas dos integrantes do Poder Judiciário e do Ministério Público compreendem a própria substância dos mesmos. Dessa feita, o seu regime jurídico deve ser responsavelmente entendido, debatido, tratado e assegurado pela sociedade e pelos Poderes Executivo, Legislativo e também pelo próprio Judiciário e o Ministério Público. *Procurador da República em Goiás (GO) 23 www.anpr.org.br