REPORTAGEM SINDMUSI 100 ANOS O que o músico pode obter do seu sindicato O Sindicato dos Músicos Profissionais do Estado do Rio de Janeiro (SindMusi) completou 100 anos no mês de maio. Veja o que é e o que a entidade pode oferecer para o músico Miguel Sá [email protected] Q uando ouvimos a palavra “sindicato”, logo nos lembramos de reuniões infindáveis, com “questões de ordem”, discursos políticos e nenhuma ação. É contra este preconceito que a presidente do SindMusi, a violinista da Orquestra Sinfônica Brasileira Déborah Cheyne luta. Uma batalha que fica ainda mais difícil quando a entidade que preside é confundida com outra muito criticada pelos músicos, que é a Ordem dos Músicos do Brasil (OMB). Déborah participa da diretoria do SindMusi há três gestões: uma no conselho fiscal, outra como vice-presidente e agora como presidente. A musicista procura defender sua posição apresentando diversas ações concretas, como a participação na criação de um fundo de previdência complementar para artistas - o CulturaPrev. Como presidente de um sindicato, Déborah enfatiza que, apesar de ter a profissão regulamentada por estruturas antiquadas, o músico não deve permanecer na informalidade. Revista Backstage - Qual a diferença entre a Ordem dos Músicos do Brasil e o Sindicato dos Músicos? Déborah Cheyne - A OMB tem 142 www.backstage.com.br prerrogativas que nós não temos. Ela é o órgão que habilita o profissional e fiscaliza se o músico que está trabalhando é regulamentado. O Sindicato não habilita e não fiscaliza. A nossa função é cuidar da relação trabalhista e do amparo ao músico. As administrações e atuações da ordem e do Sindicato, pelo menos no caso do SindMusi, são inteiramente separadas. Revista Backstage - A profissão de músico é regulamentada por lei. O que isto significa? Déborah Cheyne - É fundamental que a profissão seja regulamentada. Nós não somos camelôs, temos uma lei (a lei Nº 3.857 de 22 de dezembro de 1960) que define os nossos direitos. O que nós vemos acontecendo em relação à Ordem é que ela carece de uma modernização. A Ordem talvez não esteja atendendo a todo mundo, mas a lei atende e é boa, apesar de um pouco antiquada. Revista Backstage - Por que você resolveu entrar para o sindicato? Déborah Cheyne - Eu aceitei pelo motivo mais simples que me foi exposto no momento: porque não havia mulhe- REPORTAGEM res na chapa. Era uma diretoria só de homens e eu acho importante que haja mulheres participando não somente no sindicato, mas em todos os setores da sociedade. Revista Backstage - Apesar de ser uma entidade estadual, o sindicato também atua em questões de âmbito nacional. Por que isto acontece? Déborah Cheyne – Todo o Brasil é rico musicalmente, mas nem todos os estados têm sindicatos dos músicos organizados. Isto nos coloca como referência. Fazemos um trabalho político que traz resultados em âmbito nacional. Por exemplo, existe uma Comissão de Educação no Senado. Dentro desta comissão, há uma Subcomissão de Cinema, Teatro, Música e Comunicação Social. Antes, a música não estava incluída por pura falta de movimentação política dos músicos. Agora, temos mantido presença dentro do Senado. Ajudamos a elaborar projetos de lei como o do retorno da educação musical no currículo escolar. Estamos também com um outro projeto que estabelece a isenção fiscal para importação de instrumentos. Não preciso nem dizer o quanto isso é importante para o músico profissional. Também participamos de seminários de direito autoral e estamos pressionando o governo para que seja refeito o Conselho Nacional de Direito Autoral, que foi extinto no governo Collor. Participamos dessas discussões através do Grupo de Ação Parlamentar(GAP), um grupo montado com a ajuda de músicos independentes e algumas outras entidades que representam músicos. Revista Backstage - A situação do Sindicato dos músicos é diferente da de outros sindicatos que têm empregados com um perfil mais formal, com carteira assinada... Déborah Cheyne - A atividade do músico é muito específica, atípica como trabalhador. 144 www.backstage.com.br Revista Backstage - Há uma diferença entre os músicos populares e os de música clássica. Os músicos de orquestra têm mais vínculo com o empregador que os de música popular, não? Déborah Cheyne - Temos mais do que duas categorias. Há também a dos educadores, que são ligados às escolas e universidades. Por isto, temos que criar um leque de opções e benefícios com abordagens diferenciadas. O que é bom para um pode não ser bom para o outro. Há ainda uma questão específica da nossa entidade: nós amparamos ao empregado e ao patrão, como é o caso dos músicos que têm um trabalho próprio e empregam outros profissionais em sua banda. Revista Backstage - A ampliação do mercado também seria um objetivo do sindicato? Déborah Cheyne – Não é apenas ampliação de mercado. A educação nas escolas, por exemplo, não cria só empregos para músicos, cria platéia também, e isto é importantíssimo. Revista Backstage - E quais são as ações específicas de apoio à categoria? Déborah Cheyne - Já que o músico não tem amparo vindo do empregador, o Sindicato tem que preencher este vácuo. A mais importante ação é o CulturaPrev, que é o plano de previdência complementar administrado pela Petros. Hoje também estamos fechando uma boa parceria com a Unimed, levando um plano de saúde decente e acessível para o músico. Temos ainda vários outros convênios, como o que foi fechado com o Centro de Saúde Veiga de Almeida, que oferece fisioterapia e tratamento odontológico, entre outros serviços. Também oferecemos assessoria jurídica de qualidade de forma gratuita aos associados. Aos pou- cos, vamos ampliando este quadro de convênios para poder amparar mais ao músico. Por exemplo, o CulturaPrev tem, através da Petros, uma parceria com a Caixa Econômica Federal que dá um financiamento ainda mais acessível para a casa própria. Revista Backstage - Para obter os benefícios do sindicato, o que a pessoa deve fazer? Déborah Cheyne - Primeiro, ser músico profissional. O músico profissional hoje é aquele que está habilitado pela Ordem dos Músicos, seja pela prova que eles têm lá de habilitação ou por um diploma universitário. A partir do momento que este músico tem a carteira da Ordem, ele deve ir ao Sindicato e, como todo profissional de qualquer categoria, fazer a contribuição compulsória, que é anual. Essa contribuição traz alguns direitos e benefícios que são ampliados quando o músico se associa ao Sindicato. Para se associar, ele deve pagar, além da contribuição sindical obrigatória, uma anuidade que dá direito, por exemplo, ao CulturaPrev e ao plano de saúde, além de se habilitar a votar e ser candidato nas eleições do SindMusi. Revista Backstage - Quais são os projetos para o futuro? Déborah Cheyne - Estamos com um projeto para nos aproximar mais dos sindicatos de outros estados e ter um diálogo mais consistente com eles. Também queremos trazer outros benefícios de amparo ao músico e fazer cursos de capacitação. Como estamos em ano de centenário queremos fazer atividades mais intensas e diversificadas na semana do músico, que será em setembro. Para saber mais www.sindmusi.com.br