CAPA
LUCRE
DÓLAR
EM
O Brasil está prestes a experimentar
um boom de aplicações financeiras
que permitem investir dinheiro no
exterior e aproveitar a valorização
do dólar; saiba como fazer
POR JOÃO SANDRINI E DIEGO LAZZARIS
I
magine que um investidor que nasceu em Santa Catarina
goste tanto de sua terra-natal que decida aplicar o próprio dinheiro apenas em ações de empresas fundadas
por catarinenses ou com sede no Estado. Faz algum sentido investir dessa maneira? Ainda que esse catarinense
possa ter obtido lucros elevados com a valorização das ações
da Weg ou da BRF nos últimos anos, é bem provável que, com
tão poucas possibilidades de investimento, ele também tenha aplicado em papéis como da Teka ou da Hering, do setor
têxtil, e perdido dinheiro. Ao adotar um critério geográfico e
pouco racional, esse investidor também não pôde pegar na
veia a disparada de empresas como as paulistas Cielo, Klabin
e Embraer ou a mineira Cemig durante o governo Dilma. Mas a
essa altura é provável que você esteja pensando: que tipo de
investidor seria tão bairrista a ponto de só comprar empresas
do seu próprio Estado? Pois saiba que, de certa forma, é assim
que investem mais de 99% dos brasileiros – não em relação ao
Estado de origem, mas em relação à nacionalidade. Pense em
quantos dos seus amigos investem em ações de empresas
americanas que você perceberá que o país-sede da companhia conta muito na hora em que um brasileiro vai montar seu
portfólio de investimentos – ainda que inconscientemente.
IMAGEM SATTU RODRIGUES
MAR/ABR 2015
11
O grande problema de concentrar a carteira no
país de origem é que nem sempre as melhores
oportunidades estão lá – o que fica evidente nos
ciclos econômicos de baixa como o atual. Com ao
redor de 400 empresas abertas, a Bovespa é hoje
um lago bem raso, que responde por cerca de 1%
do mercado acionário mundial. Como a maioria dos
peixes nem passa por suas águas, um investidor
vai precisar de muita sorte pescar o maior deles na
Bovespa. Se houver um boom das empresas pontocom, por exemplo, é provável que os investidores
brasileiros fiquem a ver navios. Caso a indústria
farmacêutica faça descobertas revolucionárias
nos próximos anos, seus amigos não vão ganhar
dinheiro com isso. Além de restringir as possibilidades de lucro, a baixa diversificação também aumenta o risco do investidor. Imagine, apenas por
um exercício hipotético, que a presidente Dilma
tenha um arroubo bolivariano e decida que é hora
de estatizar a Vale. Todas as empresas da Bovespa
sofreriam, não é mesmo? Mas se sairia menos mal
quem aplicasse uma parte do dinheiro nos EUA.
“O Brasil representa 1% do mercado acionário
mundial, 2% do mercado de renda fixa e 3% do
PIB. Faz muito mais sentido diversificar geograficamente do que aplicar tudo aqui”, diz Giuliano De
Marchi, diretor comercial da gestora de fundos do
JPMorgan para a América Latina.
A tendência de concentrar o dinheiro em empresas locais não é exclusividade dos brasileiros, ainda
que, aqui, o fenômeno seja mais acentuado. O percentual da poupança investida no mercado local é
equivalente a 99% no Brasil, 82% nos EUA, 58%
na Alemanha e apenas 32% na Holanda, segundo
estudo da gestora de recursos Mint Capital (veja o
Os países
onde os
investidores
têm mais viés
doméstico
gráfico no final desta página). Os investidores brasileiros têm até mesmo preferências regionais.
O levantamento da Mint mostra, entre outros
exemplos, que tradicionais fundos de ações cariocas preferem investir na empresa de educação Estácio, também do Rio de Janeiro, enquanto os gestores paulistas possuem uma alocação muito mais
relevante na concorrente Kroton, com sede em São
Paulo. A preferência não é necessariamente irracional. Por estarem geograficamente próximos, os
gestores de ações cariocas podem, por exemplo,
marcar reuniões ou mesmo happy hours com executivos da Estácio com muito mais facilidade. Mas
isso não significa que um paulista que passa diariamente por algum campus da Kroton no caminho
para o trabalho esteja mais bem informado sobre a
situação da empresa a ponto de dar preferência a
ela na hora de incluir o setor de educação na carteira de investimentos.
Os principais fatores que explicam o viés doméstico dos investidores brasileiros não são psicológicos. Em primeiro lugar, é preciso considerar que a
maioria da população ganha em reais e tem despesas em reais. Possuir investimentos em dólar, portanto, pode não fazer sentido para uma parte dos
brasileiros. O segundo fator é o desconhecimento
do mercado americano ou europeu. As pessoas se
sentem mais confortáveis ao investir no que conhecem. Se já é difícil para muita gente escolher
ações na Bovespa para montar uma carteira, imagine quando existe a possibilidade de investir em
dezenas de milhares de empresas em âmbito global. Por último, vale lembrar a existência de diversas restrições regulatórias para o investimento de
brasileiros no exterior. A boa notícia é que essas
PERCENTUAL DO DINHEIRO INVESTIDO NO MERCADO LOCAL
99%
Brasil
89%
África do Sul
85%
Chile
As novas regras da CVM para os fundos
Duas instruções da CVM editadas em dezembro, a 554 e a 555, vão mudar as
regras para o investimentos em fundos que aplicam no exterior. A instrução
554 alterou as classificações dos investidores brasileiros. A partir de julho,
será considerado investidor qualificado quem tiver R$ 1 milhão em
aplicações financeiras – hoje o limite é de R$ 300.000. Já os investidores
superqualificados passam a ser chamados de profissionais. O patrimônio
mínimo para se enquadrar nessa categoria subiu de R$ 1 milhão para
R$ 10 milhões. Essas classificações servem para restringir o acesso dos
investidores a aplicações que a CVM considera ser de maior risco ou de difícil
avaliação, como CRI (certificados de recebíveis imobiliários), FIDC (fundos de
investimento em direitos creditórios), debêntures isentas de IR distribuídas
em ofertas com esforços restritos (a um pequeno grupo de investidores) e
também fundos que investem no exterior.
Mas se CVM aumentou o patrimônio mínimo exigido para que os investidores sejam considerados qualificados e profissionais, por que as novas
regras vão favorecer as aplicações em ativos no exterior? Porque a
instrução 555 facilitou esse tipo de aplicação via fundos. Hoje fundos de
investimento que aplicam mais de 67% do patrimônio no exterior exigem
aplicação inicial mínima de R$ 1 milhão. A partir de julho, esses fundos
serão restritos a investidores qualificados, mas caberá à gestora dos
recursos definir o tíquete mínimo de entrada – poderá ser de R$ 25.000 ou
R$ 50.000, por exemplo. A mudança é importante porque investidores
qualificados poderão diversificar a carteira com investimentos no exterior.
Outra regra importante é que fundos destinados a investidores qualificados poderão investir até 40% do patrimônio no exterior – hoje esse limite
é de 20%. Já fundos voltados para o varejo poderão investir 20% dos
recursos fora do Brasil. E fundos de BDR, hoje restritos a investidores
qualificados, poderão ser oferecidos a qualquer investidor a partir de julho.
Na visão de especialistas, as novas regras permitirão que uma quantidade
muito maior de brasileiros passe a ter exposição a ativos internacionais
em suas carteiras de investimento – algo que já acontece nas principais
economias da América Latina. “Demorou, mas finalmente o investidor de
varejo vai poder acessar o mercado internacional”, diz Ernesto Leme,
diretor comercial da Claritas.
82%
EUA
65%
Reino Unido
58%
Alemanha
32%
Holanda
FONTE: MINT CAPITAL
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MAR/ABR 2015
IMAGENS PAVEL SHLYKOV E NASTIAMED
MAR/ABR 2015
13
Carlos Takahashi,
da BB DTVM: fundo
cambial serve mais
para “hedge” de
despesas em dólar
restrições serão flexibilizadas a partir de julho,
quando entram em vigor as novas regras estabelecidas pelas instruções 554 e 555 da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). As duas instruções vão
tornar mais acessível para as pessoas físicas o investimentos no exterior por meio de fundos (veja
o box na página 13). E a indústria já se prepara para
trazer ao país centenas de novas aplicações financeiras que permitirão aos brasileiros ter exposição
a ativos dos EUA e da Europa.
Do ponto de vista cambial, a nova regulamentação não poderia vir em melhor hora. O dólar entrou
há dois anos em um ciclo de alta ante as principais
moedas mundiais devido à recuperação da economia americana, à redução dos estímulos monetários pelo Federal Reserve (o banco central dos EUA)
e à expectativa de início do aumento dos juros, que
permanecem muito próximos a zero desde a crise
do subprime. A história mostra que os ciclos cambiais costumam durar muitos verões. O real, por
exemplo, se valorizou por quase uma década, entre
2002 e 2011, devido à ascensão da China e ao superciclo das commodities. Já os dois últimos grandes ciclos de valorização do dólar ocorreram entre
agosto de 1980 e fevereiro de 1985 e depois entre
maio de 1995 e maio de 2002. Esse é um dos motivos que leva a maior parte dos gestores de fundos a
apostar que o atual ciclo da moeda americana está
longe de se encerrar.
Na comparação com o real, o dólar vem em um
movimento de valorização desde 2011, quando chegou a cair abaixo de R$ 1,60. A valorização gradual –
porém contínua – acumulada desde então já supera
80%. O principal fator de pressão sobre o câmbio é a
desvalorização das commodities, que reduz drasticamente a entrada de dólares no Brasil. Mas também
há motivos internos para a perda de valor do real.
Para Eduardo Levy, gestor de investimentos no exterior da Rio Bravo, pesa sobre a moeda brasileira a
perda de competitividade do setor produtivo. Como o
governo não faz reformas no sentido de reduzir os
custos das empresas com salários, impostos, insumos, etc., o ajuste acaba ocorrendo com a depreciação cambial. Analistas ouvidos pela Revista InfoMoney também citaram a falta de confiança no governo
Dilma como fator de redução da entrada de moeda
forte no país, assim como o provável racionamento
duplo de água e energia.
Mas até que ponto poderia ir a valorização do
dólar? O economista-chefe para a América Latina
do banco Goldman Sachs, Alberto Ramos, disse em
fevereiro que o dólar deveria se fortalecer para
IMAGENS ANDRÉ LESSA/INFOMONEY
R$ 3,10 ou R$ 3,20. Ainda que haja divergências
sobre o tamanho da desvalorização adicional, é
curioso notar que nem mesmo o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, parece confortável com o patamar
atual. No final de janeiro, quando o dólar estava em
R$ 2,60, ele disse abertamente que não tomaria
medidas para manter o câmbio “artificialmente valorizado”. Outro profeta de depreciação do real é
Luis Stuhlberger, o mais renomado gestor de fundos do Brasil. Na carta do Fundo Verde divulgada
em fevereiro, ele disse que o dólar é “o ativo com
preço mais profundamente errado” no Brasil. “Poucas vezes em minha carreira profissional me lembro
de ter visto um alinhamento de circunstâncias negativas tão forte que levaria a uma depreciação
cambial”, escreveu o principal sócio da Verde Asset
Management. Stuhlberger também afirmou que
um ajuste mais profundo no câmbio só não ocorreu
ainda porque é difícil apostar contra um país que
paga as maiores taxas de juros entre todas as nações com “grau de investimento”.
Considerando que a taxa Selic garante um retorno de mais de 12% ao ano, bastante atrativo para
gestores de fundos ou para qualquer brasileiro,
quanto alguém deveria investir em ativos em dólar
neste momento? Para Eduardo Levy, da Rio Bravo,
um pessoa com patrimônio de R$ 200.000 e perfil
moderado já deveria avaliar a possibilidade de ter
uma exposição internacional equivalente a cerca de
15% da carteira para fins de diversificação. Mas que
ativos escolher? A primeira aplicação financeira que
vem à cabeça dos brasileiros é algum fundo cambial. O problema desse tipo de aplicação é que o
dólar precisaria registrar uma valorização ao longo
de um ano de ao menos 5 pontos percentuais acima da Selic para que a relação entre o risco e o retorno de um fundo cambial valesse a pena. Carlos
Takahashi, presidente da BB DDTVM, a maior gestora de recursos do Brasil, indica fundo cambial
apenas para “hedge” de alguma despesa em dólar
que a pessoa terá dentro de alguns meses. “Ter exposição a fundo cambial buscando janelas de oportunidade é muito difícil”, diz. Toda a indústria parece
trabalhar com essa filosofia, uma vez que os cambiais respondem por apenas 0,1% do patrimônio
total dos fundos. Para investidores, o melhor é buscar ativos que paguem a oscilação do dólar somada
a alguma remuneração. O número de aplicações
desse tipo vai crescer muito a partir de julho, com a
nova regulamentação da CVM. A seguir a Revista
InfoMoney apresenta algumas possibilidades que
já estão à disposição dos brasileiros:
Giuliano De Marchi,
do JPMorgan:
não faz sentido
concentrar todo seu
dinheiro no Brasil
DÓLAR
+ S&P 500
Na Bovespa existem dois ETFs (fundos de ações
com cotas negociadas em Bolsa) que garantem
ao investidor uma remuneração em reais equivalente à oscilação do S&P 500, o principal índice de
ações dos EUA, somada à variação do dólar. Se a
moeda americana se valorizar 10% em um ano
em que o S&P 500 também suba 10%, o investidor que comprar um desses produtos garantirá
um retorno próximo a 21%. Um dos ETFs é o S&P
500 FI em Cotas de Fundo de Índice, negociado
sob o código IVVB11 na Bovespa. Lançado no final de abril de 2014 pela gestora americana
BlackRock, o fundo rendeu quase 33% em seus
nove primeiros meses de existência. Em fevereiro, foi a vez da Itaú Asset Management lançar o It
Now S&P500 TRN, negociado na Bovespa sob o
código SPXI11. Os dois produtos investem em
ETFs de S&P 500 negociados na Bolsa de Nova
York. Ambos cobram uma taxa de administração
bem baixa para fundos de ações: de 0,27% ao
ano, sem taxa de performance. Como o lote-padrão é de 10 ETFs, com cerca de R$ 600 já é possível investir nesses ativos. O Imposto de Renda é de 15% sobre o ganho de capital obtido
Os brasileiros que
quiserem ter
exposição a ações
americanas podem
comprar na Bovespa
dois ETFs que
seguem o S&P 500
16
MAR/ABR 2015
pelo investidor. Ao contrário do investimento
direto em ações, no entanto, vendas inferiores
a R$ 20.000 por mês não estão isentas de IR porque a Receita Federal tem dado aos ETFs o mesmo tratamento tributário dos fundos de ações.
Por já estar há quase um ano no mercado, o produto da BlackRock tem mais liquidez. Nos horários em que a Bovespa e também a Bolsa de Nova
York estão abertas, sempre há no livro de ofertas
grandes ordens de compra e venda com uma diferença de até R$ 0,05 – o que garante ao investidor entrada e saída sem ágio ou deságio.
O que afasta muitos investidores do produto é o
fato de o S&P 500 já estar em alta há quase seis
anos – ou seja, para muita gente, já ficou caro comprar ações americanas. Em fevereiro, o S&P 500
superou pela primeira vez a barreira dos 2.100
pontos, com uma valorização acumulada de quase
250% desde março de 2009. Bruno Stein, diretor
de desenvolvimento de negócios da BlackRock no
Brasil, afirma, no entanto, que não basta olhar o
número de pontos de um índice para tirar uma conclusão se o mercado está barato ou caro. “Se houver expansão proporcional do lucro das empresas,
um índice pode bater seu recorde histórico e continuar barato”, afirma. Ele defende que o investidor
analise a relação entre o preço da ação e o lucro por
ação (o chamado P/L). Olhando para a expectativa
de lucros das 500 maiores empresas americanas
para os próximos 12 meses, as ações do S&P 500
negociam em média a 18 vezes o lucro – o que não
chega a ser uma pechincha, mas também não configura uma bolha. Nos últimos 20 anos, o menor
P/L foi observado em 2012, de 12 vezes, e o maior,
em 1999, de 27 vezes. Na média, o S&P tem negociado a cerca de 16 vezes o lucro das empresas.
O ágio atual pode ser considerado natural dada a
expectativa de valorização do dólar – que beneficia
quem investe nos EUA – e também considerando
que a economia americana tem apresentado melhores resultados que a maioria dos países desenvolvidos. Para um brasileiro que quer ter exposição
em Bolsa, neste momento parece fazer muito mais
sentido comprar um produto atrelado ao S&P 500
do que ao Ibovespa, que tem sofrido com a recessão econômica e a inflação elevada. O único problema do investimento em S&P 500 via ETF é que o
produto da BlackRock está disponível apenas
para investidores qualificados (com ao menos
R$ 300 mil em aplicações financeiras) enquanto
no caso do Itaú é necessário ter ao menos
R$ 1 milhão em aplicações financeiras.
IMAGENS SHUTTERSTOCK
Bolsa de Nova York:
ações americanas
ainda estão atrativas
apesar de alta de
250% desde 2009
MAR/ABR 2015
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S&P 500
+ SELIC
Uma forma de fugir dessa restrição aos investidores de varejo dos ETFs é comprar cotas de fundos
multimercados que investem em contratos futuros de S&P 500 na BM&F. Esse é o caso do Western Asset US Index 500 FI Multimercado, que
permite aplicações a partir de R$ 25 mil para qualquer investidor. O fundo investe os quase R$ 130
milhões em patrimônio nos títulos públicos mais
seguros do mercado, as LFT (letras financeiras do
Tesouro). Paralelamente o gestor compra contratos futuros de S&P 500 na BM&F e usa os títulos
públicos para o depósito das garantias exigidas
em operações com derivativos. O fundo paga ao
investidor a Selic (remuneração das LFT) mais a
variação do S&P 500 em dólares, e não em reais.
Ou seja, se o S&P 500 subir de 2.000 para 2.100
pontos em determinado período, o investidor ganha 5% mais a Selic, independente da oscilação
cambial. Nos últimos 12 meses até 19 de fevereiro, o fundo garantiu um retorno de 26,8%. “O fundo tem andado bem por conta da alta da Bolsa
americana e dos juros elevados no Brasil. Mas não
é um produto para ter exposição ao dólar”, explica
Marcelo Guterman, especialista de investimentos
da Western Asset. O fundo também pode ser considerado menos arriscado que os ETFs de S&P
500 porque, ao contrário do dólar, a Selic sempre
garante um retorno positivo ao investidor.
Há fundos no
Brasil que garantem
um retorno igual
à taxa Selic mais a
valorização do
S&P 500 em dólar
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DÓLAR
+ AÇÕES
AMERICANAS
Uma das principais iniciativas da Bovespa para permitir o acesso de brasileiros a ações de grandes empresas americanas e europeias foi o lançamento
dos BDRs (brazilian depositary receipts) não-patrocinados. Esses papéis permitem investir em
Apple, Google, Goldman Sachs e outras 88 empresas enviando ordens pelo home broker de alguma
corretora - igualzinho quando você compra Vale ou
Petrobras. O problema dos BDRs é a restrição para
que apenas investidores institucionais (como bancos e gestoras de fundos) ou superqualificados
(hoje aqueles com ao menos R$ 1 milhão em aplicações financeiras) possam negociá-los na Bovespa.
Uma forma de as pessoas físicas acessarem o produto é por meio do investimento em fundos de
BDRs, disponibilizados por instituições como o Bradesco, o Itaú e a Western Asset. Esses fundos estão entre os mais rentáveis dos últimos dois anos
porque a Bolsa americana e o dólar andaram muito
bem no período. Só que, até julho, esses fundos só
poderão ser acessados por investidores qualificados (aqueles com ao menos R$ 300 mil em aplicações financeiras). A boa notícia é que a partir do segundo semestre a CVM vai autorizar qualquer
investidor de varejo a comprar cotas desses fundos, tornando o produto muito mais acessível. O
investidor só precisa entender que há três riscos
nos fundos de BDR: de queda das Bolsas americanas ou europeias, de desvalorização do dólar ou do
euro e de uma escolha ruim dos papéis comprados
pelo gestor. Para minimizar esse último risco, o ideal
é escolher gestores com experiência em fundos de
ações no exterior e que realmente tenham capacidade de escolher os papéis com mais potencial. Outro grande problema desses fundos é que comprar
ações diretamente nos EUA dá ao gestor a possibilidade de escolher entre 20.000 empresas abertas
– e não apenas as 91 com BDRs. Isso deve mudar
com a nova regulamentação da CVM para a indústria de fundos, que entra em vigor em julho. Dezenas ou centenas de fundos de ações existentes no
exterior deverão ganhar uma “versão nacional”
para investidores qualificados – ou seja, Wall Street
estará ao alcance dos brasileiros.
IMAGENS SHUTTERSTOCK E DIVULGAÇÃO
Google: é possível
investir na empresa pelo
home broker da Bovespa
comprando BDRs
Embraer: a fabricante de
aviões é opção para se
beneficiar caso o dólar
continue em alta
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ABRIR
CONTA
DÓLAR
+ JUROS
Escritório do Itaú em
Miami: o banco é líder
no atendimento a
brasileiros endinheirados nos EUA
AÇÕES
BRASILEIRAS
DOLARIZADAS
Comprar ações de empresas brasileiras que lucram mais
com a alta do dólar é uma opção para ter exposição indireta à
moeda americana. Geralmente são empresas com a maior
parte das receitas em dólar, mas com custos em reais. A valorização da moeda americana, portanto, engorda diretamente as margens de lucro e irriga o caixa dessas companhias. Os
papéis dolarizados mais recomendados pelos analistas são
os da Suzano, Embraer e Fibria. Presente na carteira recomendada de dez corretoras em fevereiro, as ações da Suzano
(SUZB5) têm se beneficiado tanto da alta do dólar quanto
pelo início das operações da nova fábrica no Maranhão, que
elevou em 80% sua capacidade de produção de celulose. Já
as ações da Embraer (EMBR3) foram recomendadas por oito
corretoras em fevereiro porque mais de 90% de suas receitas estão em dólar e porque a lista de encomendas de aviões
cresceu de US$ 18 bilhões para US$ 22,1 bilhões nos últimos
12 meses. A Fibria, por sua vez, está nas carteiras recomendadas de quatro corretoras porque conseguiu diminuir o endividamento e, com a alta do dólar, obteve margem Ebtida
recorde de 45,3% no quarto trimestre.
20
MAR/ABR 2015
Uma forma de ganhar com a alta do dólar obtendo
uma remuneração adicional é comprar cotas de
fundos que investem em “bonds” – ou títulos de
dívida de empresas negociados no mercado global e que pagam juros aos investidores. O problema é que, na renda fixa, os brasileiros estão acostumados com taxas irreais para os padrões
internacionais, principalmente neste momento
de juros baixos. Quem investe em depósitos a prazo – ou seja, em uma espécie de CDB – do Banco do
Brasil nos EUA vai obter uma remuneração próxima a 1% ao ano, segundo Claudio Prado, gerentegeral do BB em Miami. Já Eduardo Levy, da Rio Bravo, lembra que só 15% dos títulos de renda fixa
negociados nos EUA pagam ao menos 4% ao ano
em juros – há dez anos, esse percentual era de
100%. Para obter um retorno mais interessante,
o investidor não poderá comprar apenas títulos
com “grau de investimento” e precisará correr o
risco de empresas classificadas como “high yield”.
Giuliano De Marchi, do JPMorgan, lembra que é
preciso ser muito cuidadoso para investir nesses
papéis. “É como andar em gelo fino.” O JPMorgan
oferece a brasileiros um fundo de renda fixa desse tipo, o JPM Global High Yield Bond Fund FIM, em
que o gestor compra títulos de centenas de empresas e pulveriza o risco de crédito. Com essa diversificação, se uma ou duas empresas derem
calote – o que é até esperado – a rentabilidade do
fundo não é comprometida. O fundo tem aplicação mínima de R$ 1 milhão, mas o tíquete de entrada vai cair drasticamente quando a nova regulamentação da CVM para fundos entrar em vigor
em julho. De Marchi considera que o maior risco
para esses fundos é o início do ciclo de alta dos
juros nos EUA. Ele lembra que as taxas americanas atingiram o pico em 1982, quando chegaram a
17% ao ano. Desde então, os juros vieram cedendo gradativamente até que chegaram próximos
de zero após a crise do subprime. O problema é
que uma reversão de tendência parece bem próxima. “Nos últimos 30 anos, tivemos um dos maiores ‘bull markets’ da história da renda fixa nos
EUA. Para baixo os juros não vão mais. E, quando
eles começarem a subir, muita gente vai apanhar
com ‘bonds’”, afirma o diretor do JPMorgan.
IMAGENS DIVULGAÇÃO E ILYASHENKO OLEKSIY
NO EXTERIOR
DÓLAR
COM
PROTEÇÃO
99 em cada 100 investidores profissionais acham
que o dólar continuará a se valorizar ante o real
nos próximos anos, mas, em se tratando de renda
variável, nunca há ganho certo. Para investidores
conservadores que não toleram o risco de perder
dinheiro, uma possibilidade é investir em dólar
com capital protegido. Os COE (certificados de
operações estruturadas) cambiais permitem participar da valorização do dólar até determinado
limite ou resgatar o mesmo valor aplicado caso o
dólar surpreenda o mercado e se desvalorize. Em
um COE, há ativos de renda fixa e variável. Um COE
de dólar pode comprar um CDB de um grande banco (renda fixa) e uma opção de compra de dólares
por um valor em reais e uma data pré-definida
(renda variável). Por exemplo, imagine um COE
atrelado ao dólar comprado com o câmbio a
R$ 2,50. Se a moeda se valorizar, o investidor embolsa toda a variação até o teto de R$ 3 – ou seja,
ganhará até 20%. Já se o dólar se desvalorizar no
período, o investidor recebe os mesmos R$ 2,50.
“Na pior das hipóteses você não perde o que investiu”, diz Fábio Zenaro, gerente-executivo de
produtos e negócios da Cetip. Esse tipo de estrutura já é feita na mesa de operações de grandes
bancos e corretoras. Para aplicar não é necessário
ser investidor qualificado e a decisão sobre o tíquete mínimo fica com o banco emissor – já houve
emissões para aplicações a partir de R$ 15 mil.
Segundo dados da Cetip, mais de 35% das emissões de COE no Brasil são de câmbio.
Para quem planeja morar, trabalhar, adquirir um
imóvel, fazer uma pós-graduação ou passar um
tempo viajando no exterior pode fazer muito
sentido enviar parte do dinheiro para fora e investi-lo em moeda forte. Uma das vantagens de
investir nos EUA é diversificar a carteira com a
exposição a produtos de investimento diferentes dos existentes no Brasil, diz Rodrigo Jabali, da
XP Securities. Os EUA respondem por cerca de
50% do mercado acionário mundial. As maiores
empresas de outros países também costumam
ter ADRs (american depositary receipts) negociados nas Bolsas americanas. O mercado de
“bonds” é gigantesco – e, ao contrário do que se
vê no Brasil, bastante popular entre pessoas físicas. No entanto, não vale a pena ter conta no exterior quando o patrimônio é muito baixo ou
quando é esperado que o dinheiro permaneça
por pouco tempo lá fora. Os motivos são de ordem burocrática, tributária e sucessória. Em primeiro lugar, o investidor deve estar ciente de que
enviar dinheiro ao exterior é uma operação
100% legal, mas que envolve três custos: 1) IOF
(Imposto sobre Operações Financeiros) de
0,38% do valor da operação; 2) taxa de US$ 15 a
US$ 75 por remessa; e 3) spread da casa de câmbio. Nesse último caso, alguns bancos chegam a
cobrar 4% de spread sobre a cotação do dólar
comercial na remessa. A dica, se isso acontecer, é
procurar um banco médio, que chega a enviar dinheiro aos EUA com margens inferiores a 1%.
Já os aspectos tributários e sucessórios favorecem a abertura de uma empresa para investir nos
EUA (veja o box na página 23).
Outro ponto importante é a escolha da instituição financeira americana onde será aberta a conta. A maioria dos brasileiros acaba escolhendo um
banco também brasileiro devido à facilidade do
atendimento em português. Em Miami, a liderança
absoluta do mercado de private banking entre os
brasileiros é do Itaú. Entre as instituições financeiras que tradicionalmente atendem clientes de alta
renda no exterior, também estão o Safra, o BB,
MAR/ABR 2015
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IMÓVEIS
NO EXTERIOR
Imóveis em Miami:
potencial de
valorização é maior
para quem compra
durante a construção
a XP Securities e o UBS. A quantidade de dinheiro
que saiu do Brasil aumentou nos últimos anos com
a valorização do dólar e depois com as eleições.
“Miami virou o grande hub de investidores latino
-americanos que querem ter investimentos em
moeda forte”, afirma Claudio Prado, do BB. “Temos
cerca de 20 mil clientes e US$ 22 bilhões em ativos
nos EUA.” Escolhida a instituição, o próximo passo
é decidir que ativos comprar. Há basicamente três
opções: ações, títulos de renda fixa e fundos de
investimento. A maior parte dos clientes compra
títulos de renda fixa de empresas brasileiras em
dólar – pela familiaridade, e não porque são os investimentos mais indicados, principalmente em
termos de diversificação. Cientes das dificuldades
dos brasileiros, Leandro Ruschel e Tito Gusmão,
que fizeram carreira no mercado de capitais nacional, decidiram abrir uma empresa de educação
para ensinar o funcionamento do mercado dos
EUA. Com sedes em Nova York e em Miami, a Liberta Global explica os mercados de ações, derivativos, fundos imobiliários, “bonds”, ETFs e fundos
de investimento. Estudar bastante antes de investir faz todo sentido, principalmente para quem
começa a dar os primeiros passos rumo à diversificação internacional.
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MAR/ABR 2015
Assim como o S&P 500 deu um banho no Ibovespa nos últimos cinco anos, também o mercado
imobiliário americano tem tudo para apresentar
resultados melhores que o brasileiro daqui em
diante. E as pessoas já vem percebendo isso. Segundo a consultoria Faccin Investments, os brasileiros são os estrangeiros que mais compram
imóveis em Miami, atrás apenas dos venezuelanos. Cassio Faccin, vice-presidente da consultoria, diz que a grande maioria dos brasileiros são
investidores em busca da diversificação, que
compram imóveis com valor médio de US$ 1 milhão. As cidades de Orlando e Nova York também
estão com boa procura. Em Orlando, os investidores compram propriedades em média de
US$ 250.000, buscam retorno com aluguel por
temporada e aproveitam para usar o imóvel nas
férias. Já os clientes de Nova York são os mais sofisticados: procuram uma segunda residência
com valor médio de US$ 3,5 milhões. Em todas as
cidades, a demanda é motivada pela recuperação
da economia americana, que vai na direção contrária da brasileira, diz Luiz Henrique Perlingeiro,
consultor sênior do Westchester Financial Group.
Para quem sonha em comprar um imóvel nos
EUA, o primeiro passo é ter um visto válido para
entrar no país, que pode ser o de turista. Também
é necessário abrir uma conta em banco americano e registrar o imóvel em nome de uma empresa
aberta para esse fim, como forma de evitar a taxação sobre heranças (veja o box na página ao
lado). Para os investidores que estão de olho na
renda dos aluguéis, os especialistas recomendam
a compra de imóveis comerciais ou residenciais
que permitam a locação por temporada. Já quem
está investindo na expectativa de obter uma valorização futura deve, segundo Faccin, comprar
uma unidade em um empreendimento imobiliário
que ainda está em desenvolvimento. “Estima-se
uma valorização média de 25% a 35% no período
de lançamento, execução e venda do projeto”, diz.
Os especialistas desaconselham a compra de
imóveis pela internet – ainda que 85% das vendas de Faccin sejam fechadas no escritório de São
Paulo. “Sempre recomendamos que os clientes
visitem os projetos”, aconselha.
IMAGENS SONGQUAN DENG E NASTIAMED
Abra empresa para investir nos EUA
Uma alternativa interessante para brasileiros que investem nos EUA
pagarem menos impostos é com a abertura de uma empresa. Quem aplica
dinheiro no país como pessoa física terá de pagar 15% de Imposto de Renda
sobre o lucro obtido nos EUA sempre que vender ativos com ganho de
capital. O pagamento é feito no mês seguinte à venda, por meio de um Darf
(documento de arrecadação de receitas federais). Até aí nenhuma novidade
em relação ao procedimento da Bovespa. Só que para aplicações em Bolsa
nos EUA, eventuais prejuízos registrados em um mês não poderão ser
utilizados para abater o imposto nos meses seguintes.
A variação cambial também entra na conta, uma vez que o cálculo do ganho
de capital será feito em reais. Dividendos também serão tributados de
acordo com a tabela progressiva – ou seja, com alíquotas que variam
de 0 a 27,5%, de acordo com o valor dos rendimentos. Outro problema de
fazer operações nos EUA com uma conta em nome da pessoa física é que
em caso de falecimento do titular, será cobrado um imposto sobre a herança
que pode chegar a até 50% do valor do investimento.
Devido a essas regras, pode fazer mais sentido investir nos EUA por meio
de um trust, uma offshore ou uma empresa americana. Todas essas
estruturas são absolutamente legais. Nesses casos, não haverá cobrança
de imposto sobre ganho de capital com ações e “bonds”. Os juros pagos
pelos títulos de renda fixa são isentos. Estrangeiros, no entanto, pagam
30% de imposto sobre o recebimento de dividendos. No Brasil, só será
cobrado IR sobre o ganho de capital obtido em ações nos EUA quando o
dinheiro for trazido de volta ao país. E, no aspecto sucessório, não haverá
a sobretaxação, já que, em caso de falecimento do dono da empresa,
ela continua a existir – suas cotas apenas são transferidas aos herdeiros.
O único problema é que a abertura de uma empresa vai gerar custos de
US$ 1.000 a US$ 1.500 por ano – entre contador e taxas. Para pessoas
com um patrimônio no exterior de US$ 500.000 ou mais, o custo é bem
diluído e pode valer a pena abrir a empresa.
MAR/ABR 2015
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