capa Privatização é a solução para os aeroportos Especialistas e empresários acreditam que passar o comando dos principais aeroportos brasileiros para o setor privado seria a maneira mais rápida e econômica para se resolver o caos aéreo instalado no País U m setor em dificuldades. A caótica situação da aviação brasileira é tida como um dos entraves que mais atrapalham a evolução econômica do País. Até mesmo as principais cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, sofrem com estruturas pré-históricas, terminais que não suportam o número de passageiros, poucos espaços para estacionar as aeronaves e equipamentos sempre em manutenção, causando enormes filas no embarque e desembarque. A situação, que anda de mal a pior, é comprovada por estudos e pesquisas. A revista americana Latin Trade divulgou, no começo do ano, que o Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, é o pior da América Latina. O levantamento realizado avaliou 26 aeroportos em 19 cidades de 16 países. Guarulhos recebeu o menor número de votos nas categorias conforto, bagagem e facilidade de conexão. A situação é tão grave que a presidente Dilma Rousseff, antes reticente à privatização dos aeroportos durante sua campanha eleitoral no ano passado, viu-se obrigada a criar a Secretaria Nacional da Aviação Civil, na pasta do Ministério da Defesa, depois dos problemas de atrasos ocorridos no fim do ano. “É impressionante a incapacidade das autoridades de resolver os problemas, de um simples parafuso à elaboração de um grande projeto”, avalia o presidente da Companhia Aérea Azul, Pedro Janot. “Conseguimos nos expandir até Sem hora para embarcar: filas e confusão no aeroporto de Congonhas, em dezembro 2 - LIDE LIDE - 3 capa A demanda de passageiros cresce 10% ao ano, segundo a Infraero agora, mas com esse ritmo de crescimento não pode ocorrer improvisos por parte do governo.” As críticas do empresário são direcionadas à Infraero, que administra 67 aeroportos no País e deveria direcionar o quanto antes investimentos para a estrutura do embarque, desembarque e terminais e evitar como o caos se es- tabeleceu durante o fim do ano, em várias localidades. Foram filas intermináveis nos guichês, crianças chorando e pessoas dormindo até nos banheiros. O pior caso foi em Congonhas, em São Paulo. “A transferência do comando de alguns aeroportos para a iniciativa privada é uma solução eminente”, comenta Janot. “Podemos pensar “A transferência do comando de alguns aeroportos para a iniciativa privada é uma solução eminente”, avalia o presidente da Azul Linhas Aéreas, Pedro Janot em companhias de capital misto, como a Petrobras.” A demora na tomada de decisão também é criticada pelo presidente da SPTuris e ex-ministro do Turismo, Caio Luiz de Carvalho. “É preciso investir em infraestrutura, com urgência, se quisermos receber a Copa e as Olimpíadas”, alerta. “O Brasil não pode mais esperar.” Considerados cartão de visita para estrangeiros, até a associação e os centros que promovem cursos para pilotos e profissionais aeroportuários acreditam que a adminis- tração por empresas seria a medida mais certa a ser tomada devido à atual situação. “A privatização é a solução mais econômica e rápida”, acredita o diretor do Centro Educacional de Aviação do Brasil, Salmeron Cardoso. “Com a administração dos aeroportos em formato privado, a qualidade dos serviços prestados ao usuário também seria aprimorado.” Um deles é o Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, a 14 quilômetros de Manaus. Com capacidade para receber 2,3 milhões de passageiros anualmente, e con- Um terceiro terminal tem sido cogitado, em Guarulhos, o que ampliaria o fluxo máximo para 28 milhões de pessoas por ano Baixo investimento: apenas 1,7 milhão de reais devem ser aplicados no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, em 2011 4 - LIDE LIDE - 5 capa Último no ranking: Aeroporto de Guarulhos foi considerado o pior da América Latina, pela revista americana Latin Trade Aeroporto Internacional de Manaus: porta de entrada da América Central sofre com infraestrutura antiquada e poucos investimentos para receber turistas Aeroporto em Manaus conta com apenas uma pista para pouso e decolagem e 341 vagas de estacionamento 6 - LIDE siderado o quinto mais movimentado do País em pessoas e segundo em cargas, conta com apenas uma pista para pouso e decolagem, dois terminais e 341 vagas de estacionamento. As obras de construção da nova pista e a reforma do terminal de passageiros, que seriam iniciadas em fevereiro, foram adiadas para setembro. Pela localidade, próximo à América Central e em uma área de potencial crescimento econômico, o aeroporto seria uma oportunidade para empresas se tornarem gestoras do espaço, aliando ações de incentivo do turismo e da indústria. Porém, o caso mais grave do Brasil é Guarulhos. Com capacidade anual de 16,5 milhões de passageiros, recebeu em 2010 quase 27 milhões de pessoas em seus portões de embarque e desembarque. O número é 62% superior à capacidade total. A necessidade para manter o aeroporto internacional como o mais importante do País é a ampliação dos seus setores. Sem falar na falta de uma linha de metrô ou trem, que na Europa e nos Estados Unidos são comuns se locomoverem do centro até os terminais, independente da distância. Um terceiro terminal tem sido cogitado, o que ampliaria o fluxo máximo para 28 milhões de pessoas por ano, resultado que deve se equiparar já em 2011. A previsão de término da possível obra é 2016, ou seja, com cinco anos de atraso. Os aeroportos nacionais têm registrado aumento de 10% ao ano, na demanda de passageiros, segundo a Infraero. A empresa publicou, em fevereiro, licitação para a construção do novo estacionamento de veículos, em Guarulhos, em formato de transelevadores, utilizados em terminais logísticos, com até seis andares. A meta é ampliar de 2.948 para 9.716 vagas. “Essa será a primeira experiência de várias que faremos nos estacionamentos de diversos aeroportos do País”, afirmou o diretor comercial da Infraero, Eraldo Moreira Neves. “A iniciativa também deve ser realizada em Brasília, Porto Alegre e Santos Dumont, além de Viracopos e Salvador.” Outra ação emergencial tomada é a construção de módulos operacionais com capacidade para 1 milhão de passageiros. Nos meandros do mercado, essas estruturas ganharam o nome de “puxadinhos”. No Rio de Janeiro, o Santos Dumont recebeu investimento de 700 mil reais, esse ano, para acréscimo de duas posições no pátio de estacionamento de aviões, novos aparelhos de ar-condicionado nas pontes de embarque, dois micro-ônibus para atendimento de autoridades e uma sala de Achados e Perdidos. “Com o aumento do número de passageiros, as ações de melhora no aeroporto são essenciais”, afirma o superintendente do aeroporto, Aparecido Iberê de Oliveira. “Queremos ampliar o conforto dos usuários e esperamos aplicar mais 1 milhão de reais em melhorias.” A Infraero promete, até 2013, revitalizar as instalações do terminal de desembarque e complementar o de embarque, além de recuperar as pistas de taxi de aeronaves. Enquanto o governo não decide o que fazer, o caos aéreo promete ser mais um problema a ser enfrentado pelos brasileiros em 2011, às vésperas da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. n Guarulhos, com capacidade anual de 16,5 milhões de passageiros, recebeu quase 27 milhões de pessoas em 2010 “Com a administração dos aeroportos em formato privado, a qualidade dos serviços prestados ao usuário também seria aprimorado”, diz o presidente da CEAB Salmeron Cardoso LIDE - 7