MODELAGEM DA SECAGEM DE FATIAS DE BERINJELA EM ESTUFA Luíza N. Pinheiro Acadêmica do curso de engenharia química da Universidade Federal de Santa Maria [email protected] Daniel Begrow Acadêmico do curso de engenharia química da Universidade Federal de Santa Maria [email protected] Mariangela B. Ravazio Acadêmica do curso de engenharia química da Universidade Federal de Santa Maria [email protected] Lisiane M. Terra Professora doutora do curso de engenharia química da Universidade Federal de Santa Maria [email protected] Resumo. A berinjela é um alimento funcional, pois há alto teor de antocianinas em sua casca. A secagem em estufa desse alimento é motivada pela obtenção de um produto com maior vida útil e facilidades de transporte. Analisou-se a cinética de secagem e foi realizada a modelagem do processo. O melhor ajuste de cinética deu-se para o modelo Midilli et al e o ponto ótimo da operação de secagem em estufa encontrada foi para uma temperatura de 70°C e 180 minutos de duração do processo. Palavras-chave: Berinjela. Estufa. Secagem. 1. INTRODUÇÃO A berinjela (Solanum melongena L.) é uma planta pertencente à família das solanáceas, que apresenta propriedades medicinais e quantidades significativas de vitaminas e minerais. A coloração arroxeada de sua casca deve-se à grande quantidade de flavonóides, que possuem propriedades antioxidantes. O principal destes compostos é a antocianina, que permite a classificação da hortaliça como alimento funcional (SANTOS et al, 2002). Obter um alimento seco de berinjela é uma alternativa para o consumo da mesma. A retirada de água de alimentos é uma parte integrante do processamento de diversos tipos de alimentos. Podem-se citar como principais objetivos dessa desidratação o prolongamento da vida de prateleira, devido à diminuição da atividade de água que resulta em menor atividade de microorganismos, e a diminuição dos custos de manuseio e preparo para processamentos futuros, devido à significativa redução de volume e peso, o que acarreta maior facilidade de transporte e armazenamento. Dessa forma foi elaborado um processo de secagem em estufa, realizando-se a modelagem e análise da cinética do mesmo. A secagem é definida como a retirada de água de um material mediante a evaporação. Nesse processo estão envolvidos mecanismos simultâneos de transferência de calor e massa. A troca de energia sob a forma de calor é motivada pela diferença de temperatura entre o alimento e o ar aquecido do aparelho, enquanto à de massa se dá devido à diferença da pressão parcial de vapor da corrente de ar e do produto, XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil ocasionando o arraste do vapor do alimento (PARK, YADO E BROD, 2001). 2. METODOLOGIA As matérias primas utilizadas para o projeto foram berinjelas obtidas no comércio local da cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul, sendo selecionadas a partir de aspectos como tempo de maturação, forma e aparência saudável, sendo pegas apenas as que possuíam estrutura firme e casca brilhante já que as opacas e amolecidas já se encontravam velhas e perderam um pouco suas propriedades nutricionais. As berinjelas foram lavadas e em seguida fatiadas transversalmente, utilizando-se um descascador. A casca do alimento foi mantida em virtude da mesma ser rica em antocianinas, caracterizando o aspecto funcional da berinjela. Foram usadas amostras de 14 a 15 gramas. Foi realizada a desidratação osmótica (DO) como pré-tratamento da secagem, a qual é um procedimento vantajoso, pois proporciona uma perda de água de 40 a 70%, amenizando as condições de secagem posterior, além de causar inativação da atividade enzimática causadora do escurecimento da hortaliça (RAOULTWACK, 1994). O agente osmótico usado foi uma solução aquosa concentrada de 200 gramas a 46,45 °Brix de sacarose e sal, sendo apenas 3% da massa de sólidos composta por sal. A desidratação osmótica foi conduzida em um banho termostático provido de agitação, à temperatura de 36,45°C. As amostras foram submersas na solução concentrada por um tempo de 30 minutos. As condições de tempo e temperatura de realização da DO foram previamente otimizados. A modelagem da secagem para estufa foi baseada nos fatores temperatura e tempo. A faixa de temperatura foi obtida mediante literatura (ERTEKIN E YALDIZ, 2004) e a de tempo a partir da análise da cinética de secagem, a qual foi comparada com os resultados obtidos por Ertekin e Yaldiz (2001). Analisaram-se parâmetros como redução de massa e de atividade de água para determinação da viabilidade do processo e otimização do modelo obtido. 2.1 Cinética de secagem em estufa O estudo da cinética de secagem na estufa foi baseado na variação de temperatura, dentro da faixa de 30 a 70°C determinada. Utilizaram-se cinco valores de temperatura: 30, 44,18, 50, 64, 18 e 70°C. A secagem foi conduzida na estufa, com a realização de pesagens de meia em meia hora, até a obtenção de massa constante. Quando a massa ficou constante, considerouse que a amostra atingiu a umidade de equilíbrio e que o processo de secagem estava encerrado. Os experimentos foram realizados em triplicata. Os dados obtidos foram ajustados aos modelos apresentados na tabela 1, com auxílio do software Polymath®. No caso, a variável independente do modelo é RU, redução de umidade e a independente t, tempo. As demais variáveis tratam-se de parâmetros de ajuste. O parâmetro RU foi obtido segundo a Eq. (1). (1) A umidade (U) foi calculada em base seca, sendo obtida pelo produto da massa pela porcentagem de sólidos (8,715%). Sendo U(i) a umidade no ponto i, Ue a umidade de equilíbrio que foi considerada como a umidade para massa constante e Uinicial a umidade da amostra in natura. 2.2 Secagem em estufa Para análise da secagem em estufa, elaborou um planejamento experimental com base em delineamento composto central rotacional (DCCR) para duas variáveis, assim analisou-se 12 pontos: 4 pontos fatoriais, 4 pontos axiais e 4 repetições do XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil ponto central (RODRIGUES E IEMMA, 2009). Analisando-se o efeito da temperatura, variando-a de 30 a 70°C e do tempo com variação de 180 a 690 minutos, conforme resultados obtidos da cinética de secagem. Para a modelagem, as variáveis dependentes analisadas foram a redução de massa relativa e redução da atividade de água, sendo esta última variável determinada no analisador de atividade de água Aqualab. Tabela 1. Modelos para ajuste da cinética de secagem. Modelo Equação RU = a .exp(-k . tn) + b Midilli .t RU = a .exp(-k . t) + (1 Aprox. da Difusão a) . exp(-k . b . t) Page RU = exp(-k . tn) Logaritmo RU = a .exp(-k . t) + c Henderson e RU = a .exp(-k . t) Pabis Page RU = exp[(-k . t)n] Modificada RU = a .exp(-k . t) + b . Dois Termos exp(-q . t) RU = a .exp(-k . t) + (1 Exponencial de – Dois Termos a). exp(-k . a . t) Newton RU = exp(-k . t) RU = a .exp(-k . t) + b . Henderson e Pabis exp(-q . t) + c . exp(-w Modificada .t) Wangh e Singh RU = 1 + a . t + b .t2 3. secagem para cada temperatura e a partir desses tempos, determinou-se a faixa de análise utilizada no DCCR citada anteriormente. 3.2 Secagem em estufa A análise dos resultados permitiu a obtenção de dois modelos para a secagem em estufa, considerando em ambos intervalos de confiança de 95%. As variáveis independentes são dadas por temperatura codificada (T) e tempo codificado (t). O primeiro modelo, dado pela Eq. (2), é relativo à redução de massa relativa (RMR). RMR = 0,701 + 0,040 T – 0,040 T² + 0,017 t + 0,025 t² - 0,069 Tt (2) Obtiveram-se como parâmetros significativos (p-valor<0,05): a temperatura, linear e quadrática, e a interação das duas variáveis. No caso, percebe-se que a temperatura aumenta a redução de massa, até atingir um ponto de máximo indicado pelo fato do coeficiente quadrático ser negativo. Esse modelo apresentou R² de 0,84, indicando sua confiabilidade e erro médio de 2,26%. RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1 Cinética de secagem em estufa O modelo de melhor ajuste foi o modelo de Midilli et al, de modo que foi obtido um valor de 0,998 para o coeficiente de correlação (R²). Esse resultado é confirmado pelos trabalhos de Ertekin e Yaldiz (2004). Além disso, com base nos experimentos de secagem obteve-se o tempo de duração da Figura 1. Superfície de resposta da redução da massa relativa em função da temperatura e tempo codificados. Analisando a Fig. 1 percebeu-se que as regiões de otimização do processo são para um tempo superior a 706,2 minutos a uma XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil temperatura de 21,64 a 50 °C e também para um tempo de 73,4 a 180 minutos sob temperatura de 50 a 78,36°C. Isso evidencia a significância da interação das variáveis. O segundo modelo, dado pela Eq. (3), é relativo à redução de atividade de água (RAA). O modelo apresentou R² de 0,888 e um erro médio de 3,29%, parâmetros que indicam a confiabilidade do mesmo. RAA = 0,552 + 0,124 T – 0,074 T² + 0,056 t – 0,021 t² - 0,104 Tt (3) Os parâmetros significativos foram os mesmos que para a RMR: temperatura (linear e quadrática) e a interação das variáveis. Pode-se notar que as variáveis influenciam da mesma forma as respostas, havendo também um ponto de redução de atividade máxima. A Fig. 2 faz referência à superfície de resposta do modelo e permite a otimização do processo, via escolha das regiões que propiciam uma maior redução da atividade de água. A região de máxima perda é considerada para um tempo de 180 a 435 minutos em temperatura variando de 42,91 a 78,36°C. Figura 2. Superfície de resposta da redução da atividade de água em função da temperatura e tempo codificados. Combinando as regiões otimizadas para as duas variáveis de resposta, tem-se que o ponto ótimo para a realização da secagem de fatias de berinjela em estufa é em uma temperatura de 70°C durante 180 minutos (3 horas). 4. CONCLUSÕES A realização da secagem em estufa permitiu a redução tanto da massa do alimento quanto da atividade de água cumprindo os objetivos de redução de tamanho e conservação do alimento. A elaboração do modelo mostrou a importância da interação das variáveis temperatura e tempo, ilustrando que se pode trabalhar com valores medianos das mesmas para obter bons resultados. O ponto ótimo da secagem em estufa foi estimado para uma temperatura de 70°C e operação por 180 minutos. 5. REFERÊNCIAS ERTEKIN, C.; YALDIZ, O. Drying of eggplant and selection of a suitable thin layer drying model. Journal of Food Engineering. V.63, p.349-359, 2004. PARK, K. J.; YADO, M. K. M.; BROD, F. P. R. Estudo de secagem de pêra bartlett (Pyrus sp.) em fatias. Ciência e Tecnologia em Alimentos. Campinas, V.21, n.3, p.288292, set-dez 2001. RAOULT-WACK, A. L. Recent advances in the osmotic dehydration of foods. Trends in food science & technology, Cambridge, England, V. 5, n. 8, p. 255-260, agosto, 1994. RODRIGUES, M. I. R; IEMMA, A. F. Planejamento de experimentos & Otimização de Processos. 2ª edição, Campinas: Casa do espírito amigo fraternidade fé e amor, 2009. SANTOS, K.A. et al. Composição química da berinjela (Solanum melongena L.) Boletim do Centro de Pesquisa e Processamento de Alimentos (B.CEPPA), Curitiba, V. 20, n. 2, p. 247-256, julho/dezembro, 2002. 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