ANÁLISE DOS FLUXOS VERTICAIS DE QUANTIDADE DE MOVIMENTO HORIZONTAL DE UM SISTEMA CONVECTIVO DE MESOESCALA Cláudia Jacondino de Campos ([email protected]) Faculdade de Meteorologia, UFPel Michel Chong MeteoFrance-CNRM Toulouse-França Itamar Adilson Moreira PIBIC/CNPq/FMet/UFPel ABSTRACT This paper examines the momentum fluxes in a mesoscale convective system, observed on 12/12/92, in the northeast of the TOGA-COARE Intensive Flux Array (IFA: 1ºN-4ºS, 151º-158ºE). Initially were examined the momentum fluxes in the convective region and after in the stratiform region. The results confirm that the vertical flux of horizontal momentum (VFHM) parallel to the convective line has a global effect that tends to reduce the gradient, in both regions of the system, convective and stratiform. It was also observed that, as in others cases studied, the VFHM for the component normal to the convective line, presented a configuration that tends to amplify the wind shear. 1. INTRODUÇÃO Este trabalho analisa os fluxos verticais de quantidade de movimento horizontal (TVQMH) operados pela convecção dentro das regiões convectiva e estratiforme de um Sistema Convectivo de Mesoescala (SCM) que ocorreu no dia 12 de dezembro de 1992, durante o experimento TOGACOARE (Tropical Ocean Global Atmosphere Coupled Ocean-Atmosphere Response Experiment), sistema este localizado a NE da IFA (Intensive Flux Array: 1oN-4oS, 151o-158oE). O SCM foi documentado usando dados coletados pelos radares Doppler embarcados nos dois aviões P3 da NOAA, além de imagens de satélite, radiossondagens e dados de estações de superfície. Em Campos (1996) a estrutura básica do sistema convectivo, incluindo a situação sinótica, o seu campo de refletividade e o campo de vento 3D está documentado. Neste trabalho, foi complementada, a análise da estrutura do sistema pelo exame dos fluxos verticais de quantidade de movimento horizontal (FVQMH) ocorridos nas regiões convectiva e estratiforme, separadamente. A Teoria do Comprimento de Mistura (TCM), que é uma analogia com a difusão molecular, é freqüentemente utilizada para determinar o FVQMH operado pela convecção, podendo ser escrita matematicamente, por exemplo como: u ' w' K u , onde K é positivo e representa o coeficiente z de troca turbulenta. A TCM supõe, portanto, que o FVQMH ( u ' w' ) ocorre no sentido contrário ao gradiente vertical de velocidade. Na literatura, o termo ‘downgradient’ é utilizado se a TCM se verifica; no caso contrário, emprega-se o termo ‘upgradient’ ou ‘countergradient’ (LeMone et al., 1984). Neste trabalho definiremos os termos: ‘downgradiente’ como redutor do gradiente e ‘upgradiente’ como amplificador do gradiente. Nas seções seguintes serão apresentados o procedimento de coleta e análise dos dados. Em seguida os resultados obtidos para os FVQMH para o SCM do dia 12/12/92 serão apresentados. 2. COLETA E ANÁLISE DOS DADOS Os dados utilizados neste trabalho foram coletados pelos radares Doppler embarcados nos aviões P3 da NOAA, numa missão ocorrida no dia 12/12/92, na região de águas quentes do Pacífico oeste, durante TOGA-COARE. Esses aviões utilizando a técnica de varredura "Fore/Aft" (Jorgensen e DuGranrut, 1991) descreveram trajetórias paralelas coordenadas, primeiramente ao longo da linha convectiva e em seguida dentro da região estratiforme do sistema. A combinação das porções paralelas das trajetórias de cada avião foram utilizadas para obter o campo de vento 3D, usando a técnica variacional EODD (Extended Overdetermined Dual-Doppler) descrita por Chong e Campos (1996). Esta técnica foi aplicada primeiro aos dados coletados entre 18:16-18:26 UTC (região convectiva) e em seguida aos dados coletados entre 19:50-20:21 UTC (região estratiforme), os dois campos de vento 3D obtidos (Figuras 1a e 1b, respectivamente) foram utilizados para os cálculos dos FVQMH. O processo de análise utilizado para estudar o FVQMH operado pela convecção organizada em linhas, consiste em considerar separadamente as componentes do movimento perpendicular (u) e paralelo (v) à linha convectiva. Assim, separa-se as componente do vento em componentes médias e em perturbações, sendo essas componentes calculadas num sistema de coordenadas com o eixo x perpendicular à linha convectiva, positivo na direção de deslocamento do sistema. No presente caso, considerou-se o sistema de coordenadas no qual a componente u, perpendicular à linha convectiva, é positiva na direção de deslocamento da linha (238o/SO) e a componente v, paralela à linha, é positiva para 148o (S-SE). Os campos de vento apresentados nas Figuras 1a e 1b foram os utilizados para os cálculos. Negligenciando as flutuações de densidade, o FVQMH total perpendicular à linha convectiva N uw , é calculado usando a relação: uw u ' i w'i U W , onde N é o número de pontos i em N i 1 cada nível; U W representa o FVQMH associado ao movimento médio; u ' w' representa o FVQMH perturbado; U e W representam o vento médio em cada plano vertical. 3. RESULTADOS As Figuras 2 e 3 mostram os perfis de vento médio perpendicular ( U ) e paralelo ( V ) à linha convectiva. Nas Figura 4 e 5 os perfis de FVQMH total e perturbado, perpendicular ( uw e u ' w' ) e paralelo ( vw e v' w' ) à linha convectiva são apresentados. As Figuras (2 e 4) e (3 e 5) referem-se às regiões convectiva e estratiforme, respectivamente. Comparando as figuras 2 e 4 (região convectiva) nota-se que: a) o FVQMH transverso ( uw ) é amplificador do gradiente abaixo de 7 km e redutor do gradiente acima deste nível. O efeito global é um aumento do cisalhamento do vento transverso. Os perfis de uw e u ' w' indicam que a maior parte do transporte é devido ao movimento médio. b) o FVQMH paralelo a linha ( vw ) é redutor do gradiente até 8 km e amplificador do gradiente acima deste nível. O fluxo perturbado v' w' é positivo e tem uma contribuição importante abaixo de 3,5 km. Os fluxos médio e perturbado contribuem para diminuir o cisalhamento do vento paralelo. Comparando as figuras 3 e 5 (região estratiforme) nota-se que: a) o FVQMH transverso uw é amplificador do gradiente abaixo de 2 km e entre 3.5 e 9 km. Fora destes limites ele é redutor do gradiente. Essa configuração tende a aumentar o cisalhamento do vento transverso. b) o FVQMH paralelo à linha ( vw ) alterna fluxos redutores e amplificadores do gradiente. O fluxo perturbado v' w' positivo tem uma contribuição mais importante abaixo de 6 km. Os fluxos médio e perturbado contribuem para diminuir o cisalhamento do vento paralelo. Esses resultados quando comparados com aqueles obtidos por LeMone e Moncrieff (1994), ao estudar o comportamento global de vários casos observados, mostra o caráter clássico do sistema convectivo observado. 4. CONCLUSÕES Os resultados obtidos neste trabalho confirmam que o FVQMH paralelo à linha convectiva tem um efeito global que tende a reduzir o gradiente, tanto na região convectiva como na estratiforme do sistema. Observou-se também que como em outros casos estudados, o FVQMH pela componente perpendicular à linha convectiva apresentou uma configuração que tende a amplificar o cisalhamento do vento. Os resultados apresentados neste trabalho representam mais um passo para a compreensão dos sistemas convectivos que ocorrem sobre a região do oceano Pacífico oeste. Estudos mais detalhados serão feitos para comparar o impacto de cada uma das regiões (convectiva e estartiforme) sobre o ambiente. 5. BIBLIOGRAFIA CAMPOS, C.R.J., 1996: Etude des Sistèmes Précipitants Convectifs par Radar Doppler Aéroporté: Aplication a un cas de TOGA-COARE. Tese de doutorado, UPS- França, p. 146. CHONG, M.; C.R.J., CAMPOS, 1996: Extended overdetermined dual-Doppler formalism in sinthesizing airborne Doppler radar data. J. Atmos. Oceanic Technol., 13, 581-597. JORGENSEN, D.P.; J.D. DuGRANRUT,1991: A dual-beam technique for deriving wind fields from airborne Doppler radar. Anais da 25a Radar Meteorology Conf., Paris, Amer. Meteor. Soc., 458461. LEMONE, M.A., G.M. BARNES; E.J. ZIPSER, 1984:Momentum fluxes by lines of cumulonimbus over the tropical oceans. J. Atmos. Sci., 41, 1914-1932. _____________ ; M.W. MONCRIEFF, 1994: Momentum and mass transport by convective bands: comparison of highly idealized dynamical models to observations. J. Atmos. Sci., 51, 281-304. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à FAPERGS pelo apoio financeiro. O terceiro autor agradece ao CNPq pela concessão da bolsa de iniciação científica. (a) (b) Figura 1 - Fluxo horizontal relativo e isolinhas de refletividade em z = 0,5 Km, para a região convectiva (a) e estratiforme (b) do sistema. O norte é ao longo do eixo y e a origem do domínio analisado é 160.55 E, 0.821 N. Figura 2. Perfis de vento: -perpendicular ( U ) e -paralelo ( V ) à linha convectiva (para região convectiva do sistema). Figura 3. Perfis de vento: -perpendicular ( U ) e -paralelo (V ) à linha convectiva (para região estratiforme do sistema). Figura 4. Perfis de fluxos verticais de quantidade de movimento total ( uw e vw ) e perturbado ( u w e v w ), perpendicular a linha convectiva ( painel esquerdo, para u ) e paralelo a linha convectiva ( painel direito, para v ), para região convectiva do sistema. ' ' ' ' Figura 5. Perfis de fluxos verticais de quantidade de movimento total ( uw e vw ) e perturbado ( u w e v w ), perpendicular ( painel esquerdo, para u ) e paralelo ( painel direito, para v ) à linha convectiva ( para região estratiforme do sistema ). ' ' ' '