72 C APÍTULO 8 D INÂMICA DO M OVIMENTO P LANO DE C ORPOS R ÍGIDOS I MPULSO E Q UANTIDADE DE M OVIMENTO Neste capítulo será analisada a lei de Newton apresentada numa outra forma integral. Nesta forma integra-se a lei de Newton dada por (6.7) no tempo. Esta forma se baseia nos conceitos de impulso e quantidade de movimento do corpo rígido. Ao final deste capítulo estes conceitos são aplicados na teoria de impacto. 8.1 Q UANTIDADE DE M OVIMENTO L INEAR DE UM C ORPO R ÍGIDO Seja um corpo rígido C, de massa m e cujo centro de massa se localiza em G. Seja v a velocidade de um ponto qualquer, de massa dm, deste corpo. y v dm vG r G rG P C x Figura 8.1 - Corpo rígido C com centro de massa G. Usando a definição de quantidade de movimento linear de uma partícula, podemos escrever para o corpo C a quantidade de movimento linear L como 73 L v dm (8.1) m A posição do centro de massa G do corpo rígido pode ser obtida através de rG 1 r dm mm (8.2) r dm (8.3) E, portanto, m rG m Derivando (8.3), obtém-se m vG v dm (8.4) m Substituindo (8.4) em (8.1), obtemos L v dm m vG (8.5) m A equação (8.5) é a definição da quantidade de movimento linear de um corpo rígido de massa m, com centro de massa em G. É uma grandeza vetorial obtida pelo produto da massa do corpo pela velocidade de seu centro de massa. 8.2 Q UANTIDADE DE M OVIMENTO A NGULAR DE UM C ORPO R ÍGIDO A definição de quantidade de movimento angular de um corpo rígido é dada a partir da definição feita para a partícula, mostrada no Capítulo 4. Seja um corpo rígido C, de massa m e cujo centro de massa se localiza em G. Seja v a velocidade de um ponto qualquer, de massa dm, deste corpo. Pode-se escrever a quantidade de movimento angular deste elemento de massa em relação ao ponto P tomado na origem do sistema de referência, ver Figura 8.1, usando a definição (4.31), ou seja 74 dH P (8.6) r v dm Logo a quantidade de movimento angular do corpo rígido em relação a um ponto P é dada por HP (8.7) r v dm m Pode-se relacionar a velocidade v do elemento de massa dm com a velocidade do ponto P, através de v vP ω r (8.8) Substituindo (8.8) em (8.7), resulta HP r ( vP ω r ) dm (8.9) m ou HP r (ω r ) dm r vP dm m (8.10) m Para qualquer movimento plano, podemos fazer r HP (x i y j ) dm vP m (x i y j) ( xi yj e ω ω k , e obter yi x j )dm (8.11) m que é igual a HP ( xG m vPy ( x2 yG m vPx ) y 2 ) dm k (8.12) m ou, finalmente HP ( xG m vPy yG m vPx IP ) k (8.13) 75 Assim a quantidade de movimento angular no movimento plano é uma grandeza vetorial na direção de z, podendo escrever na forma escalar sua intensidade HP m ( xG vPy (8.14) yG vPx ) I P Observe-se que se nas seguintes condições: v P rG , isto é, xG vPy yG vPx 0 ou vP 0 a equação (8.14) fica na forma simples HP (8.15) IP Em geral são conhecidas as propriedades em relação ao centro de massa G. Neste caso a equação (8.14) pode ser modificada, usando m ( xG2 IP IG vP vG ω rP / G yG2 ) (8.16) e vG ω rG (8.17) Para o movimento plano, (8.17) pode ser escrita nas componentes vPx vGx yG vPy vGy x yG (8.18) Aplicando (8.18) e (8.16) em (8.14), obtém-se HP m ( xG vGy yG vGx ) I G (8.19) Observe-se que quando se calcula a quantidade de movimento angular em relação ao ponto G, faz-se G P . Neste caso, xG 0 e yG 0 . Portanto 76 HG (8.20) IG Assim, para o movimento plano qualquer, as equações que definem as quantidades de movimento linear e angular de um corpo rígido são: Lx m vGx Ly m vGy HG IG (8.21) Observemos que na translação HP m ( xG vGy HG 0 yG vGx ) (8.22) ou (8.23) A definição da quantidade de movimento angular em relação ao centro de massa G, ver Figura 8.1, é dada por: HG r v dm (8.24) m onde r r rG . Então HG ( r rG ) v dm (8.25) r v dm (8.26) m ou HG m rG v dm m Aplicando a definição (8.7) e a propriedade da em (8.4), obtém -se HP HG rG mvG (8.27) 77 Observando a Figura 8.2, para o caso do movimento plano, podemos escrever HP IG (8.28) m vG dG onde o sinal da segunda parcela deve ser obtido pelo sinal do produto vetorial. y mvG G C dG rG x P Figura 8.2 - Posição e velocidade do centro de massa G. 8.3 PRINCÍPIO DO I MPULSO E DA Q UANTIDADE DE M OVIMENTO L INEAR Vamos partir da formulação diferencial da lei de Newton F maG m dvG dt (8.29) Realizando a integral de (8.29) entre os instantes de tempo t 1 e t 2 , sendo v G1 e v G2 as velocidades do dentro de massa do corpo nestes instantes, obtemos t2 t1 F dt v2 m dvG (8.30) mvG 2 mvG 1 (8.31) v1 ou t2 t1 F dt Vamos usar a definição de impulso de uma força dada por 78 I1 t2 2 t1 (8.32) F dt Assim, pode escrever o princípio do impulso e da quantidade de movimento como t2 mvG 1 t1 F dt (8.33) mvG 2 ou L1 I1 (8.34) L2 2 Há uma forma angular correspondente a este princípio. O princípio da quantidade de movimento angular pode ser obtido a partir da equação de momentos da dinâmica MG d dt IG (8.35) Integrando (8.35) entre os instantes t 1 e t 2 , sendo ω 1 e ω 2 as velocidades angulares do corpo nestes instantes, obtemos t2 IG 1 t1 M G dt IG 2 (8.36) Vamos usar a definição de impulso angular dada por Ω1 t2 2 t1 M G dt (8.37) Assim, podemos escrever o princípio do impulso e da quantidade de movimento angular como H G1 1 2 HG 2 (8.38) As equações que serão utilizadas nas aplicações de movimento plano são 79 t2 mvG 1 x mvG 2 x Fy dt mvG 2 y M G dt IG t2 mvG 1 y IG Fx dt t1 t1 t2 1 t1 (8.39) 2 A conservação da quantidade de movimento é conseqüência direta deste princípio. Se o impulso resultante de todas as forças aplicadas é nulo, a quantidade de movimento se conserva, isto é mvG1 (8.40) mvG 2 Se o impulso angular resultante de todos os momentos em relação ao centro de massa G for igual a zero, a quantidade de movimento angular se conserva, ou seja IG 8.4 1 IG (8.41) 2 I MPACTO E XCÊNTRICO No estudo de impacto entre duas partículas já foram definidos os conceitos de impacto central e de impacto oblíquo, ver Capítulo 4. Neste capítulo vamos tratar do impacto excêntrico. Ocorre um impacto excêntrico quando a linha de impacto não coincide com a linha que une os centros de massa dos corpo s em contato, conforme mostra a Figura 8.3. Se estas linhas coincidem, ocorre o impacto central e podem ser aplicadas todas as equações correspondentes do Capítulo 4. B plano de contato linha de centros GB A GA linha de impacto Figura 8.3 - Impacto excêntrico entre os corpos A e B. 80 B GB a - antes do impacto: v A1 > v B1 vB1 GA A vA1 B GB b - impacto - deformação Pdt - Pdt GA A B GB c - impacto - mesma velocidade v GA A v B GB d - impacto - restauração Rdt - Rdt GA A B GB e - após o impacto: v B2 > v A2 vB2 A GA vA2 Figura 8.4 - Fases do impacto excêntrico entre A e B. 81 A Figura 8.4 ilustra as fases: a ocorre imediatamente antes do impacto; b, c e d ocorrem durante o impacto e após o impacto. As velocidades indicadas são as projeções das velocidades dos pontos em contato na direção da linha de impacto. As velocidades v A1 e v B1 são as projeções das velocidades imediatamente antes do impacto, enquanto que as velocidades v A2 e v B2 são as projeções das velocidades imediatamente após do impacto. Durante o impacto ocorre a fase de deformação, passando por um instante em que as projeções das velocidades destes pontos é igual, cujo valor é indicado por v. Realizando os mesmos passos mostrados na seção 4.4 do Capítulo 4, podemos mostrar que e vB 2 v A 2 v A1 vB 1 (8.42) onde e é o coeficiente de restituição, conforme já definido anteriormente. Utilizando as equações do princípio da quantidade de movimento e a equação (8.40) é possível determinar as projeções das velocidades após o impacto, dado as velocidades imediatamente antes deste impacto.