ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICA Aos 18 (dezoito) dias do mês de novembro de 2015, no auditório da sede da Procuradoria da República do Estado da Bahia (PR-BA), foi realizada a Audiência Pública sobre o tema “Carreira dos Professores Indígenas no Estado da Bahia”, sob condução dos Procuradores da República Cristina Nascimento de Melo e Leandro Bastos Nunes, e com a participação de lideranças e representantes de comunidades indígenas do estado, conforme Edital de Audiência Pública n 01/2015, de 22 de outubro de 2015. Também estavam presentes os deputados estaduais Bira Coroa e Fátima Nunes, a Procuradora do Estado da Bahia, Marcela Capachi, a superintendente de Recursos Humanos da Secretaria da Educação do Estado da Bahia (SEC), Ana Margarida Caribé Catapano, e a coordenadora de educação indígena da SEC, Rosilene Araújo. A Secretaria da Administração do Estado da Bahia (SAEB) também estava representada por Michele de Sales Santos Alves e Adson Moreira, da Diretoria de Planejamento, além de Alba Rejane Novaes, da Coordenação de Concurso da SAEB. O assunto está sob análise no âmbito do Procedimento Administrativo n 1.14.001.000182/2015-52, em trâmite na Procuradoria da República Polo Ilhéus-Itabuna. A audiência pública leva em conta que a Bahia foi o primeiro estado do Brasil a ter uma legislação própria nesta área, com a Lei n 12.046, de 04 de janeiro de 2011, que criou a carreira do professor indígena. A partir de então, apenas um concurso foi realizado, sendo que a Lei n 12.916, editada em 2013, alterou a forma de remuneração para subsídio. Em maio de 2015, o Ministério Público Federal em Ilhéus recebeu um grupo de professores e lideranças para tratar de assuntos ligados à contratação de docentes indígenas no estado da Bahia. Houve relatos de alguns problemas, referentes à carga horária, à necessidade de aperfeiçoamento do sistema de ingresso, ao pagamento de gratificação por cursos de aperfeiçoamento, à remuneração através de subsídio e ao reconhecimento como indígena para concorrer à vaga como professor. Inicialmente, a Procuradora da República em Ilhéus, Cristina Nascimento de Melo deu as boas vindas e explicou a sistemática de participação dos presentes na audiência. Em seguida, cada um dos componentes da mesa se apresentou e teceu breves comentários sobre o tema em discussão. A procuradora Cristina Nascimento de Melo trouxe para debate reivindicações levadas a seu conhecimento em Ilhéus, como a necessidade de revisão da legislação atual e de oferta de aperfeiçoamento para que os candidatos possam participar do concurso, considerando as especificidades de cada um dos povos indígenas das diferentes regiões da Bahia. Como forma de democratização do processo, começaram as inscrições dos interessados para as perguntas. O Cacique Babau, tupinambá da Serra do Padeiro, questionou a postura do Governo do Estado de estabelecer o subsídio como forma de remuneração, bem como o pagamento do salário abaixo do piso. Frisou ainda que o concurso já realizado não atende às necessidades dos diferentes povos indígenas, por não valorizar a cultura indígena. A índia Glicéria complementou o pensamento do Cacique Babau e criticou o processo de seleção para professor por meio de PST e REDA. Agnaldo Pataxó seguiu a mesma linha, sobretudo em relação ao subsídio, assim como os cursos de formação e os critérios de elaboração de provas, que estariam “desqualificando” a cultura indígena diferenciada. Diante das primeiras considerações, Adson Moreira, da SAEB, explicou que diversas outras carreiras do Estado recebem por subsídio, no qual incidem diversas vantagens, resultando num ganho real maior. Para professor indígena, como carreira nova, implementou-se o subsídio por ser esta uma tendência atual. Fez menção a tabelas comparativas de valores e à lei federal que instituiu o subsídio, reforçando que os valores pagos não estão abaixo do piso, o que foi contestado por alguns dos índios presentes na audiência. Justificou ainda que os valores variam para quem trabalha 20 horas ou 40 horas. Em nome da Procuradoria Geral do Estado (PGE), a procuradora do Estado Marcela Capachi, sugeriu que todos aqueles que trabalham 40 horas, mas recebem por 20 horas (as outras 20 horas seriam consideradas horas extras), devem levar o problema ao conhecimento do Estado para que seja resolvido, seguindo os trâmites legais, por meio da Lei 12.406/2011. Ato contínuo, a Procuradora da República Cristina Nascimento de Melo reforçou que o Ministério Público Federal trabalhará no encaminhamento da mudança do regime de 20 para 40 horas (alteração de carga horária) para os interessados ou que estejam se sentindo prejudicados. Os participantes sustentaram que não é admissível que o professor indígena receba menos que os demais docentes. Os representantes do Estado, por sua vez, buscaram deixar claro que a carreira de professor indígena segue o mesmo padrão remuneratório de um professor de nível médio, e que todos os aprovados no concurso já realizado ainda estão em estágio probatório. Ou seja, que a carreira está se iniciando. E que os professores indígenas só passarão a auferir valores de nível superior quando o estágio probatório terminar. Ademais, que a instituição do subsídio não oferece desvantagem e que os valores pagos obedecem à estrita legalidade, como preceitua a Lei 12.406/2011, sem qualquer viés discriminatório. A procuradora Cristina Nascimento de Melo frisou que o cerne da questão não é a forma de pagamento, por subsídio ou não, mas sim se o docente indígena está ganhando menos, o que não é desejável. Ressaltou também que, se a lei estabelece que os professores deverão ter licenciatura plena intercultural e se qualificar para ocupar o cargo, o Estado deve oferecer o respectivo curso de aperfeiçoamento. Não fazê-lo seria uma discriminação injustificável. Sem falar que, embora a lei específica seja de 2011, a alteração da remuneração para subsídio só veio em 2013, por meio de outra lei, certamente por algum motivo que deveria ser esclarecido. Rosilene Araújo, coordenadora da educação indígena da SEC, salientou que o subsídio não atende às necessidades do professor indígena, uma vez que se trata de parcela única, sem mais gratificações ou qualquer outro valor, o que deixará a carreira sempre em desvantagem, mesmo com as progressões de nível e de classe, o que foi contestado pelo representante da SAEB, Adson Moreira. Este afirmou que os professores sempre vão progredir na carreira, pois o subsídio contempla aumentos, mesmo em parcela única – o “bolo” composto por vencimento e remuneração. Como a questão ainda não restou esclarecida, a procuradora Cristina Nascimento de Melo salientou a necessidade de aditar a legislação nesse sentido, antes de um eventual próximo concurso. Ana Margarida Capanato, inclusive, explicou que já foi aprovado um novo edital do concurso para professor indígena. No anterior, houve oferta de 390 vagas, mas só 130 foram aprovados. Destes, 101 assumiram. Alissana Pataxó, professora de educação indígena de Coroa Vermelha, salientou que os cursos de formação de licenciatura intercultural, que visam à mudança de nível na carreira, não são devidamente oferecidos. Logo, restaria inviável exigir algo que o Estado não assegura. Assim, Alissana sugeriu que fossem aceitos para progressão de nível outros cursos de licenciatura, ministrados por universidades e outras instituições. Salientou ainda que a empresa que elabora as provas deve levar em consideração aspectos pertinentes à cultura indígena, e não certos temas distantes da realidade dos povos, como vem ocorrendo. Nesse ínterim, a procuradora Cristina Nascimento de Melo ressaltou a necessidade de reformar a legislação, suprimindo pontos como a exigência de licenciatura intercultural, mas aceitando outras. Como encaminhamento, a empresa contratada para elaborar a prova deve ouvir as comunidades, de modo a não formular questões tão uniformizantes, uma vez que os candidatos são de diferentes regiões e vivem realidades distintas. A procuradora Cristina Nascimento de Melo sugeriu, inclusive, que um antropólogo participe da comissão do concurso, ou então professores que já lecionam, sendo possível, inclusive, que uma recomendação nesse sentido seja expedida à empresa que elabora as provas. Patrícia, indígena representante da aldeia Pancararé, salientou que tem pósgraduação, assim como diversos outros professores presentes possuem mestrado e doutorado, mas nada disso conta para a valorização na carreira e para a mudança de nível, ante a exigência da licenciatura intercultural. Reforçou que não é válido que um indígena seja avaliado por alguém que não compreende a cultura dos índios, tampouco responder questões em prova que falam sobre assuntos que fogem à realidade deles – no último concurso, por exemplo, uma questão abordava a produção de pão. Por fim, ela entregou aos componentes da mesa contracheques de indígenas, nos quais seria possível vislumbrar as distorções apontadas. Adson Moreira destacou em três os principais problemas tratados: a remuneração como subsídio, o ingresso na carreira com licenciatura plena e a forma de realização do concurso e elaboração de questões. Para tratar de todos esses pontos, Moreira sugeriu a criação de um Grupo de Trabalho que discuta uma proposta de reestruturação do assunto, com o aproveitamento das licenciaturas para progressão na carreira, etc, estando a SAEB disposta a trabalhar nesse sentido para o fortalecimento da carreira, ouvindo as demandas indígenas, o que requer alterações legislativas. A procuradora Cristina Nascimento de Melo pontuou que uma nova reunião seja marcada para tratar de assuntos de resolução mais rápida, de modo a sanar vícios já constatados e que o próximo concurso seja realizado sem eles, mediante aditivo na legislação. Para uma resposta conclusiva do Estado acerca dos professores (efetivos ou REDA) que já lecionam e desejam alterar o regime de 20 horas para 40 horas, foi estabelecido o prazo de 30 (trinta) dias. Também ficou determinado que a comissão de indígenas já existente (e não impugnada pelos presentes) irá atuar nos encaminhamentos deliberados nesta audiência. Ademais, todos os presentes acordaram pela realização de uma nova audiência com a participação de representantes da Casa Civil do Estado da Bahia. Nada mais havendo, foi encerrada a audiência e lavrada a presente ata, que eu, ______________________________, servidor do Ministério Público Federal em Ilhéus, digitei. CRISTINA NASCIMENTO DE MELO Procuradora da República LEANDRO BASTOS NUNES Procurador da República BIRA COROA Deputado Estadual MARCELA CAPACHI Procuradora do Estado da Bahia ANA MARGARIDA CARIBÉ CATAPANO Superintendente de Recursos Humanos da SEC ROSILENE ARAÚJO Coordenadora de Educação Indígena da SEC MICHELE DE SALES SANTOS AVES Secretaria da Administração do Estado da Bahia ADSON MOREIRA Secretaria da Administração do Estado da Bahia ALBA REJANE NOVAES Secretaria da Administração do Estado da Bahia