Sistema Renal
Regulação da Volemia e Hipertensão Arterial
Integração: Regulação da volemia e fisiopatologia da
hipertensão arterial
Introdução
Os mecanismos de regulação da pressão arterial a longo prazo são mecanismos
hormonais e fundamentalmente ligados à volemia. Os mecanismos a curto prazo estão
diretamente ligados a reflexos neurais, que modificam as variáveis hemodinâmicas que
determinam a pressão, então o órgão-alvo nesse caso é o próprio coração.
Os mecanismos a longo prazo têm ação direta na volemia, então o órgão-alvo
normalmente é o rim, o responsável pela regulação da perda hídrica. O sistema renal não
é capaz de corrigir volemia.
É necessário formar urina por 2 razões: eliminar ácidos e excretas do
metabolismo. Então, se é necessário produzir urina, não tem como o rim reverter uma
hipovolemia, o que ele pode fazer é diminuir a velocidade de perda.
O único mecanismo natural capaz de reverter volemia é o mecanismo da
sede. A sede é uma expressão comportamental do mecanismo de regulação volêmica e,
portanto do controle da pressão arterial a longo prazo, do controle da osmolaridade e
intrinsecamente ligado ao controle da volemia.
Uma substância muito potente na estimulação da sede é a angiotensina II, que
estimula, no hipotálamo, a sensação de sede.
Os mecanismos de curto prazo
•
Os barorreceptores
•
A renina
Os barorreceptores
Os mecanismos de curto e longo prazo atuam simultaneamente. O mecanismo a
curto prazo regula imediatamente – se ele for suficiente para corrigir o problema, o
reflexo endócrino é menos estimulado, tendo este uma ação menos exuberante. Mas em
uma hipovolemia, há todos os estímulos hormonais a longo prazo (minutos e horas) que
irão corrigir a volemia.
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Em um sangramento, a tendência é que a pressão arterial diminua. Ao diminuir a
pressão arterial, os mecanismos a curto prazo agem – os barorreceptores irão enviar
menos sinais inibitórios centrais, provocando aumento da atividade simpática, aumento
da freqüência cardíaca (inotropismo), vasoconstrição periférica. Simultaneamente, há
efeito desse aumento da atividade simpática na mácula densa, na verdade, na parede das
células justaglomerulares, estimulando secreção de renina. Além disso, a hipoperfusão
renal também tem efeito potente sobre a secreção de renina; tanto diretamente, mas
também pela atividade neural, nos receptores β2 nas paredes justaglomerulares, as quais
captam a noradrenalina, estimulando a secreção de renina.
A renina
A renina é uma enzima, que converte angiotensinogênio (que vem do fígado) em
angiotensina I, por clivagem de 2 aminoácidos terminais. A angiotensina I é uma
substância instável, porque, no endotélio pulmonar, existe uma enzima à qual a
angiotensina I se liga, a chamada enzima conversora de angiotensina (ECA) ou
cininase II. Essa enzima, além de converter angiotensina I em angiotensina II, também
degrada a bradicinina. Então uma droga que iniba essa enzima pode tanto inibir a síntese
de angiotensina II, quanto inibir a degradação de bradicinina, que é um vasodilatador.
Então, a ação dessa enzima, da ECA, é produzir uma substância extremamente
vasoconstritora (a 2º mais, perdendo apenas para a endotelina I) e, ao mesmo tempo,
degradar um vasodilatador, que é a bradicinina. Logo, há um efeito vasoconstritor global
muito potente.
Mecanismos de longo prazo
•
A aldosterona
•
O hormônio antidiurético (ADH) ou vasopressina
•
Fatores desencadeantes do mecanismo da sede
A aldosterona
A angiotensina II faz vasoconstrição, colaborando para o mecanismo ligado ao
controle de curto prazo, que é a regulação hemodinâmica. Outro efeito da angiotensina
II muito importante é estimular o córtex da adrenal secretar aldosterona. O efeito da
aldosterona acontece no tubo contornado distal. O tubo proximal tem pouca regulação,
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está envolvido com grandes reabsorções de volume isosmótico, como se fosse um filtro.
A regulação fica para os segmentos finais. Por exemplo, reabsorção de sódio (que cria um
gradiente osmótico) e água no túbulo contornado distal.
O hormônio antidiurético (ADH) ou vasopressina
Existem osmorreceptores no hipotálamo que secretam ADH, que desce até a
neurohipófise, e cai na circulação. O ADH tem o papel específico de, no tubo contornado
distal e no tubo coletor, aumentar a expressão de aquaporinas, canais de água,
estimulando a reabsorção de água livre, tendendo a diluir o plasma e reequilibrar a
osmolaridade. Houve também aumento de volume, logo é um mecanismo indireto de
regulação da PA. Para que isso ocorra, a medula deve estar hipertônica.
Fatores desencadeantes do mecanismo da sede
A osmolaridade, junto à angiotensina II, produz a sensação de sede. O principal
mecanismo responsável pela sensação de sede é a hiperosmolaridade. Em casos de
sudorese alta, o organismo fica hipertônico. Normalmente, numa situação dessas, todas as
pessoas sentem vontade de tomar água. Qualquer causa de diminuição da pressão arterial,
particularmente da volemia, causa sensação de sede, como um sujeito em choque, por
exemplo. O que causa mais sede é a desidratação com hipovolemia.
As alterações da volemia e osmolaridade
Há situações em que ocorre secreção preferencial da aldosterona em relação ao
ADH. São elas: hipovolemia e hipotensão, que é a baixa pressão de perfusão renal, o que
estimula a atividade simpática e a liberação de renina. Nesse caso, a estimulação de ADH
é muito pequena, pois o principal mecanismo responsável por secretar ADH é a
hiperosmolaridade agindo no hipotálamo. Então se está hipovolêmico, mas a
osmolaridade é a mesma, os receptores não serão perturbados, e não irão aumentar a
secreção de ADH.
Existem receptores mecânicos com estrutura semelhante aos barorreceptores
arteriais de baixa pressão, com terminações nervosas livres, que estão na parede das veias
cavas e do átrio direito, que são disparados quando ocorre estiramento dos átrios e das
grandes veias. Isso acontece em hipervolemia, e diminui o grau de atividade em
hipovolemia. Em hipervolemia, há o aumento da freqüência de potenciais de ação desses
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receptores de baixa pressão e inibição da atividade simpática. Mais uma vez, observa-se a
interação de volemia com atividade simpática. Por outro lado, se há hipovolemia, há
diminuição da freqüência de potenciais de ação desses receptores, analogamente ao que
ocorre no sistema arterial.
Paralelamente, esses estímulos neurais vão ao hipotálamo e modificam a
sensibilidade dos osmorreceptores para a liberação de ADH; ou seja, quando há
hipovolemia, há diminuição dos potenciais de ação da fibra aferente, logo deixa-se de
inibir a percepção dos osmorreceptores à osmolaridade, facilitando a secreção de ADH.
Então aumenta-se a sensibilidade dos osmorreceptores para secretar ADH e repor a
volemia.
A hipertensão arterial
No indivíduo considerado hipertenso, deve-se ter 3 medidas adequadas, em dias
diferentes, acima dos valores de referência, que ainda vale o 120 x 80. Nos EUA, já é
aceito que o normal está abaixo de 120 x 80 mmHg. As características de um sujeito com
hipertensão são: resistência vascular periférica muito baixa e débito cardíaco
aumentado equivocadamente. Um sujeito com uma atividade adrenérgica muito grande,
estresse sustentado ao longo do dia, tende a desenvolver uma hipertensão arterial. A
disfunção endotelial, alimentação, peso corporal, excesso de álcool, fumo, também são
fatores de risco.
A hipertensão arterial é uma doença crônico-degenerativa, não é aguda, então
não existem causas ou fatores etiológicos, mas fatores de risco, que aumentam a
probabilidade do indivíduo desenvolver a hipertensão. Uma doença que tem fator
etiológico só existe se o fator existir, e isso não acontece na hipertensão. Mas é
importante salientar que existem causas orgânicas para a hipertensão arterial, que são
responsáveis por 10 a 15% na população em geral. Em indivíduos jovens ou crianças,
esse número sobe para mais de 80%.
As causas orgânicas, e potencialmente curáveis, de hipertensão arterial são:
causas renais, particularmente uma obstrução da artéria renal, provocando baixa
perfusão renal, estímulo da renina, etc. A obstrução pode ser derivada de um
hipodesenvolvimento ou adquirida por uma trombose ou arteriosclerose; os indivíduos
podem ser curados por cirurgia, sendo a artéria substituída por uma prótese.
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O feocromocitoma, um tumor de células cromafins, secretoras de catecolaminas,
que existem no córtex das supra-renais, provoca crescimento desordenado dessas células
e grande secreção de catecolaminas na circulação, fazendo com que haja aumento da
pressão arterial e vermelhidão em vários momentos do dia; são picos de hipertensão, com
vermelhidão, sensação de angústia. Não é o que acontece em um indivíduo hipertenso,
que apresenta os sintomas continuamente.
Os outro 85% dos casos de hipertensão arterial são idiopáticos, ou seja, não se
sabe a causa, mas apenas os fatores de risco.
A hipertensão é chamada doença das metades, porque metade das pessoas que têm
a doença não sabe que a possuem. Uma das causas para isso é que as pessoas podem não
sentir nada. Das que sabem que têm, apenas metade se tratam. E das que se tratam,
apenas metade têm sua pressão controlada. É uma doença muito importante, independente
de classe econômica, raça, ou idade, e sua permanência chega a 30% na população. Se
não houver um programa de prevenção, metade delas nunca irá saber da sua existência.
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