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Date: 2009.12.09 11:16:15 -02'00'
HABILIDADES E COMPETÊNCIAS: NOVOS SABERES
EDUCACIONAIS E A POSTURA DO PROFESSOR.
Profª Ma Fabiola Angarten Felix 1
Co-autoria Profª Mestranda Elaine Cristina Navarro
SKILLS
AND
ABILITIES:
NEW
KNOWLEDGE
OF
TEACHER EDUCATION and posture.
RESUMO
Este artigo tem o objetivo de apresentar dois conceitos atuais que vem sendo aplicados no trabalho
pedagógico, sendo eles, as habilidades e competências da educação. A análise de tais conceitos e seu
envolvimento com a Pedagogia Tecnicista também estão presentes neste trabalho, no sentido de
esclarecer suas diferenças teóricas e práticas e de evitar prováveis confusões e, portanto, suas
aplicações incorretas no trabalho educacional. Por fim, discutir o trabalho do professor, cuja prática
pedagógica se pauta no ideário das habilidades e competências é mais um dos objetivos esperados neste
trabalho.
Palavras-chave: Educação; habilidades; competências; pedagogia tecnicista.
ABSTRACT
This article aims to present two concepts currently being applied in pedagogical work, which are the
abilities and skills education. The analysis of such concepts and their involvement with the education
technique also are present in this work, to clarify its theoretical and practical differences and to avoid
possible confusion, and therefore their applications in educational work incorrect. Finally, discuss the
work of the teacher, whose teaching is based on the idea of the skills and competencies is one of the
goals expected in this work.
KEYWORDS: Education, skills; competencies; Technical Education.
1
Graduada em Ciências Sociais e Pedagogia (UNESP-FCL/CAr) e Mestre em Sociologia (IFCHUNICAMP); Docente na UNIVAR- Faculdades Unidas do vale do Araguaia, ministrando aulas de
Sociologia e Antropologia. E-mail: [email protected].
2 Graduada em Letras (UFMT) Especialista em Docência da Educação Infantil e Anos Iniciais do
Ensino Fundamental; Cursando Mestrado em Educação ( UDE – Universidad de La Empresa); Docente
e Coordenadora do Curso de Licenciatura em Pedagogia da UNIVAR- Faculdades Unidas do vale do
Araguaia. E-mail: [email protected]
Introdução
Este artigo tem por objetivo analisar os conceitos de habilidade e
competências, que compõem os novos saberes educacionais, bem como o papel do
professor frente aos modelos pedagógicos contemporâneos, como também estabelecer
relações entre as diferenças e proximidades existentes nos conceitos de habilidades e
competências e na Pedagogia Tecnicista a fim de contribuir com o esclarecimento do
trabalho do educador.
Estudos atuais apontam para as transformações que a sociedade está passando,
sobretudo no que diz respeito à criação de uma nova cultura que apresenta mudanças
nas formas de produção e apropriação dos saberes.
Nesse contexto, os professores assumiriam a responsabilidade de mediar a
construção do processo de conceituação a ser apropriado pelos alunos, buscando a
promoção da aprendizagem e desenvolvendo habilidades importantes para que eles
participem da sociedade. Desse modo, a prática de decorar conteúdos, passa a ser
substituída pela aquisição de grandes competências.
A capacitação dos professores, portanto, levará, efetivamente, ao bom êxito do
programa, pois só com uma formação adequada, eles poderão atuar com desenvoltura
e segurança em relação à nova proposta.
As mudanças atuais no conceito do que é ensinar diz respeito à capacidade de
ir além dos conteúdos e das informações didáticas, de modo que estes possibilitem a
aprendizagem como uma competência central que possa ser desenvolvida tanto pelo
educador quanto pelo educando, através de suas próprias realidades vividas. Tal ideia
vem superar o conceito de ensino enquanto informação, apoiado numa relação passiva
professor-aluno, que na maioria das vezes, por meio do livro didático, transmite as
informações para o aluno, que normalmente as repetem, sem conseguir associá-las a
uma interpretação e ligação com a realidade, que forneça sentido ao próprio
aprendizado.
O desenvolvimento das habilidades e competências ocorre por meio de
atividades como pesquisa, conhecimento teórico, vivência, reflexão e ação. Sendo
assim, as competências e habilidades só são desenvolvidas num trabalho
interdisciplinar e contextualizado mas, para que isto ocorra, o professor precisa estar
apto a desenvolver sua própria postura interdisciplinar e contextualizada.
O papel do professor, para Del Prette et al (1996), enquanto participante,
condutor e mediador dessas interações educativas necessita, além da competência
profissional, um repertório bastante diferenciado das habilidades sócio-cognitivas
como planejar, avaliar e fornecer feedback, planejamento e coordenação de atividades
de grupo, flexibilidade para mudanças na atuação, percepção das demandas imediatas
do contexto escolar, entre outras questões que dizem respeito à formação do
profissional
contemporâneo,
que
está
centrado
nas
relações
interpessoais,
principalmente no que se refere ao magistério.
As tecnologias passam a ser utilizadas como suporte para a aprendizagem,
entretanto, não devem ser consideradas apenas como meios de comunicação ou
distração, mas como recursos didáticos que favoreçam a aquisição de conhecimentos,
devendo ser interpretadas, analisadas e contextualizadas na busca do desenvolvimento
de habilidades e competências que levem a aprendizagem significativa.
Definindo habilidades e competências
As competências podem ser definidas como um conjunto de conhecimentos,
atitudes, capacidades e aptidões, que habilitam alguém para vários desempenhos, não
apenas em sua vida escolar, mas em todos os aspectos de sua existência pessoal.
Na ação, não é possível separar o conceito de competência e de habilidades,
mas eles exigem domínio de certos conhecimentos, para que possam ser efetivados.
As habilidades se ligam a atributos relacionados não apenas ao saber-conhecer mas ao
saber-fazer, saber-conviver e ao saber-ser, que, de acordo com a UNESCO, são os
quatro pilares que sustentam a educação. As competências pressupõem operações
mentais, capacidades para usar as habilidades, emprego de atitudes adequadas à
realização de tarefas e conhecimentos.
Algumas competências e habilidades que não podem deixar de existir no
trabalho em sala de aula são: respeitar as identidades e as diferenças; utilizar-se das
linguagens como meio de expressão, desenvolver a comunicação e a apreensão de
informações; inter-relacionar pensamentos, idéias e conceitos; desenvolver o
pensamento crítico e flexível e a autonomia intelectual; adquirir, avaliar e transmitir
informações; compreender os princípios das tecnologias e suas relações integradoras;
entender e ampliar fundamentos científicos e tecnológicos; desenvolver a criatividade;
saber conviver em grupo e aprender a aprender.
De acordo com o professor Vasco Moretto, doutorando em Didática pela
Universidade Laval de Quebec/Canadá, as habilidades estão associadas ao saber fazer:
ação física ou mental que indica a capacidade adquirida. Assim, identificar variáveis,
compreender fenômenos, relacionar informações, analisar situações-problema,
sintetizar, julgar, correlacionar e manipular são exemplos de habilidades. Já as
competências são um conjunto de habilidades harmonicamente desenvolvidas e que
caracterizam por exemplo uma função/profissão específica: ser arquiteto, médico ou
professor de química. As habilidades devem ser desenvolvidas na busca das
competências.
De que competências se está falando? Da capacidade de abstração, do
desenvolvimento do pensamento sistêmico, ao contrário da compreensão
parcial e fragmentada dos fenômenos, da criatividade, da curiosidade, da
capacidade de pensar múltiplas alternativas para a solução de um
problema, ou seja, do desenvolvimento do pensamento divergente, da
capacidade de trabalhar em equipe, da disposição para procurar e aceitar
críticas, da disposição para o risco, do desenvolvimento do pensamento
crítico, do saber comunicar-se, da capacidade de buscar conhecimento.
Estas são competências que devem estar presentes na esfera social,
cultural, nas atividades políticas e sociais como um todo, e que são
condições para o exercício da cidadania num contexto democrático. (PCNEnsino Médio)
O Ministério da Educação e Cultura (MEC) estabeleceu como diretrizes para a
efetivação de competências, cinco pontos importantes, sendo eles: domínio de
linguagens; compreensão de fenômenos; construção de argumentações; solução de
problemas; e, elaboração de propostas.
Em geral, as habilidades são consideradas como algo menos amplo do que as
competências. Assim, a competência estaria constituída por várias habilidades.
Entretanto, uma habilidade não "pertence" a determinada competência, uma vez que
uma mesma habilidade pode contribuir para competências diferentes. Sendo assim, é
importante educar para as competências, e isso, através da contextualização e da
interdisciplinaridade.
Mais do que nunca é preciso uma ruptura com as práticas tradicionais e o
avançar em direção a uma ação pedagógica interdisciplinar voltada para a
aprendizagem do aluno-sujeito envolvido no processo não somente com o seu
potencial cognitivo, mas com todos os fatores que fazem parte do ser unitário, ou seja,
fatores afetivos, sociais e cognitivos.
De acordo com Perrenoud (2001), as competências estão ancoradas em duas
constatações:
1. É preciso trabalhar e treinar a transferência e a mobilização das capacidades
e dos conhecimentos. Esse trabalho exige tempo, etapas didáticas e situações
apropriadas.
2. Na escola não se dá tanta importância à prática de transferência e a
mobilização, é necessário trabalhar mais essas questões. O treinamento, portanto, é
insuficiente. Os alunos acumulam saberes, passam nos exames, mas não conseguem
mobilizar o que aprenderam em situações reais, no trabalho e fora dele, fato este que
muitas vezes ocorre devido a falta de oportunidades e momentos para que a
aprendizagem realmente se efetive e se torne significativa.
Quando Perrenoud apresenta as constatações anteriores como pontos onde as
competências estão ancoradas, deve-se considerar que a escola é conduzida e
determinada por tempos distintos, onde todas as situações possíveis para que ocorra a
aprendizagem pela mobilização de capacidades adquiridas no desenrolar do processo
nem sempre são possíveis. Sendo assim, torna-se difícil o trabalho por competências,
dentro desta estrutura.
Considerando competências como conteúdo, conhecimento, teoria e
habilidades em ação, elas estão caracterizadas pela função, e as habilidades pela
capacidade de ação, sendo estas inseparáveis, logo, a competência é o saber
construído, elaborado e desenvolvido pelas muitas descobertas e redescobertas e as
habilidades referem-se ao saber quando e como fazer. Fornecer oportunidades
espaciais e temporais é fundamental para a conquista de bons resultados nos trabalhos
desenvolvidos sob essa perspectiva.
Existem competências e habilidades que são necessárias para a formação de
educandos e educadores, mas não é possível determinar listas fixas de competências e
habilidades, pois estas se desenvolverão de acordo com as necessidades dos
aprendizes (professores e /ou alunos) e da comunidade na qual estão inseridos ou , até
mesmo, de suas vivências passadas, presentes e futuras.
A competência pedagógica é flexível, depende do momento histórico, dos
interesses da sociedade e das pessoas, dos valores morais e éticos, das relações de
afetividade que são construídas. Por isso ela não pode ser apresentada sob a forma de
uma receita, mas construída no decorrer da vida e da história de cada um. Tanto para
professores quanto para alunos existem habilidades e competências importantes. As
competências que um professor deve ter e desenvolver permeiam todos os momentos
do ato de ensinar e aprender, sendo assim, a ação, as tomadas de decisões, o
pesquisar, o incitar a pesquisar, o descobrir, o deixar descobrir, o aprender contínuo,
permitem transformar pontos fracos em fortes, defeitos em qualidades, desmotivação
em entusiasmo e ação, onde educador e educando alcançarão e desenvolverão suas
competências e habilidades conjuntamente.
No trabalho pautado em competências e habilidades, a postura do professor
frente às novas tecnologias, tem que se fazer diferente, é importante não desconsiderar
os saberes previamente adquiridos ou as habilidades dos alunos e dos professores que
possam ser mobilizadas em situações novas. Esses momentos devem ser constantes e
presentes na postura do educador, do mesmo modo que os educadores devem ser
capacitados para atuarem como técnicos pedagógicos em tecnologias educacionais,
sendo especialistas em softwares, internet, sites, uso do vídeo, máquinas de calcular e
outros recursos tecnológicos, pois, é parte da competência dos mesmos, assim como
saber, expressar ideias, articular questões teóricas e práticas que envolvam educação e
aprendizagem.
Estudos referentes ao tema das habilidades e competências na educação têm
demonstrado que os termos “habilidades sociais” e “competência social” são termos
empregados, com frequência, como sinônimos, assim como “desempenho social”. No
entanto, eles se diferenciam. Caballo (1982) identifica que a assertividade aparece em
substituição ao termo “competência social” e engloba quatro dimensões: capacidade
de dizer ‘não’; de pedir ou fazer favores; de expressar sentimentos; iniciar, manter e
terminar conversas.
Em suas pesquisas, Caballo (1987) afirma que a conduta socialmente
habilidosa é definida como um conjunto de comportamentos apresentados por um
indivíduo que expressa sentimentos, desejos e se adequam à situação, dependendo do
comportamento dos demais.
É importante ressaltar que uma competência permite mobilizar conhecimentos
a fim de se enfrentar uma determinada situação. A competência não é o uso estático
de regrinhas aprendidas, mas uma capacidade de lançar mão dos mais variados
recursos, de forma criativa e inovadora, no momento e na maneira mais adequada.
A competência abarca, portanto, um conjunto de coisas. Perrenoud (2000) fala
de esquemas, em um sentido muito próprio. Seguindo a concepção piagetiana, o
esquema é uma estrutura invariante de uma operação ou de uma ação. Não está,
entretanto, condenado a uma repetição idêntica, mas pode sofrer acomodações,
dependendo da situação. A competência implica em uma mobilização dos
conhecimentos e esquemas que se possui para desenvolver respostas inéditas,
criativas, eficazes para problemas novos.
Na Europa, nos anos 80, o modelo das competências profissionais começou a
ser discutido no mundo empresarial com o objetivo de adaptar a formação profissional
aos requisitos da nova forma de divisão do trabalho e de unificar os meios de
formação profissional, tornando a transferência e disponibilidade dos trabalhadores
possível, pois, estes são formados além de suas capacidades de trabalho mecânico,
dessa forma com novas competências baseadas no campo intelectual, aumentariam as
oportunidades no mercado de trabalho.
Em meio a tudo isso, instaura-se no Brasil, em 1990 a pedagogia das
competências, pela necessidade de adaptar e subordinar a produção educacional às
necessidades estabelecidas pelo mercado de trabalho e de se estabelecer mecanismos
de controle e avaliação da qualidade dos serviços educacionais.
A reforma educacional implementada no Brasil a partir da Lei 9394/96 (Lei de
Diretrizes e Bases da Educação - LDB) e, a seguir, nos dispositivos de
regulamentação no que se refere à educação profissional, como o Decreto-Lei
2208/9717 e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional,
consubstanciadas no Parecer CNE/CEB nº16/99,18 na Resolução CNE/CEB
nº04/9919 e nos Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Profissional,
assume como concepção orientadora o modelo das competências.
De acordo com os Parâmetros,
O conceito de aprendizagem significativa, central na perspectiva
construtivista, implica, necessariamente, o trabalho simbólico de significar
a parcela da realidade que se conhece. As aprendizagens que os alunos
realizam na escola serão significativas na medida em que consigam
estabelecer relações substantivas e não arbitrárias entre os conteúdos
escolares e os conhecimentos previamente construídos por eles, num
processo de articulação de novos significados.
Frente às mudanças instauradas pela nova LDB e pelas novas políticas
necessárias a um mercado globalizado, as competências aparecem e tornam-se bem
claras na formação do cidadão concluinte da Educação Básica (Ensino Fundamental e
Médio). O trabalho por competências torna-se necessário, pois na sociedade em que
vivemos, onde a convivência em sociedade, o domínio e o trato das informações e a
capacidade de tomar atitudes com rapidez e clareza, são questões que tornam-se
indissociáveis da formação do indivíduo.
Os saberes adquiridos na vida cotidiana devem ser articulados com os saberes
escolares, para que seja possível a formação de um cidadão que possa estar preparado
para a vida e para a inserção e atuação no mercado de trabalho. Neste sentido, que a
LDB e os PCN’s, falam da necessidade do trabalho pedagógico por habilidades e
competências.
Sobre esse assunto, em termos mundiais, a UNESCO, na Conferência Mundial
de Educação para Todos, realizada em Jomtien, na Tailândia, em 1990, definiu quatro
pilares da educação, que deveriam ser a meta para o desenvolvimento educacional em
todos os países signatários de seus documentos. Nesse trabalho, as competências e
habilidades estariam no campo das relações entre teoria e prática. Os quatro pilares
são: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a viver com os outros; e,
aprender a ser.
Pode-se perceber que são objetivos que vão muito além da informação ou
mesmo do mero desenvolvimento de um conhecimento intelectual. Abarcam toda a
formação humana e social da pessoa. É fácil perceber que metas desse porte envolvem
conhecimento, comportamento, conceitos, procedimentos, valores, atitudes, saber,
fazer e ser. Não podem ser atingidas com um ensino livresco, fragmentado,
conteudista, estereotipado, estagnado. Exigem novas perspectivas, uma nova visão da
Educação.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, que começaram a ser publicados em
1997, também apresentam uma visão mais moderna e mais flexível de currículo,
enfatizando a questão das habilidades e competências:
O termo "currículo" (...) assume vários significados em diferentes
contextos da pedagogia. Currículo pode significar, por exemplo, as
matérias constantes de um curso. Essa definição é a que foi adotada
historicamente pelo Ministério da Educação, Cultura e do Desporto quando
indicava quais as disciplinas que deveriam constituir o ensino fundamental
ou de diferentes cursos do ensino médio. Currículo é um termo muitas
vezes utilizado para se referir a programas de conteúdos de cada disciplina.
Mas, currículo pode significar também a expressão de princípios e metas
do projeto educativo, que precisam ser flexíveis para promover discussões
e reelaborações quando realizado em sala de aula, pois é o professor que
traduz os princípios elencados em prática didática. Essa foi a concepção
adotada nestes Parâmetros Curriculares Nacionais. (Introdução dos PCN de
5a a 8a séries).
Educação Tecnicista versus habilidades e competências
A Pedagogia Tecnicista, presente ainda hoje, teve suas origens a partir da
segunda metade do século XX, no mundo, e a partir de 1970, no Brasil, quando
desenvolveu-se acentuadamente o que se chamou de "tecnicismo educacional",
inspirado nas teorias behavioristas da aprendizagem e da abordagem sistêmica do
ensino, que definiu uma prática pedagógica altamente controlada e dirigida pelo
professor, com atividades mecânicas inseridas numa proposta educacional rígida e
passível de ser totalmente programada em detalhes.
A supervalorização da tecnologia programada de ensino trouxe conseqüências:
a escola se revestiu de uma grande auto-suficiência, reconhecida por ela e por toda a
comunidade atingida, criando assim a falsa idéia de que aprender não é algo natural
do ser humano, mas que depende exclusivamente de especialistas e de técnicas. O que
é valorizado nessa perspectiva não é o professor, mas a tecnologia, o professor passa a
ser um mero especialista na aplicação de manuais e sua criatividade fica restrita aos
limites possíveis e estreitos da técnica utilizada. A função do aluno é reduzida a um
indivíduo que reage aos estímulos de forma a corresponder às respostas esperadas
pela escola, para ter êxito e avançar. Seus interesses e seu processo particular não são
considerados e a atenção que recebe é para ajustar seu ritmo de aprendizagem ao
programa que o professor deve implementar. Essa orientação foi dada para as escolas
pelos organismos oficiais durante os anos 60, e até hoje está presente em muitos
materiais didáticos com caráter estritamente técnico e instrumental 2 .
A Pedagogia liberal tecnicista apareceu nos Estados Unidos na segunda
metade do século XX e foi introduzida no Brasil entre 1960 e 1970. Nessa concepção,
o homem é considerado um produto do meio. É uma conseqüência das forças
existentes em seu ambiente. A consciência do homem é formada nas relações
2
Disponível em: http://www.centrorefeducacional.com.br/educge.html. Acesso em 20/04/2009.
acidentais que ele estabelece com o meio ou controlada cientificamente através da
educação.
De acordo com Luckesi (1994), a educação escolar liberal tecnicista organiza
o processo de aquisição de habilidades em conhecimentos específicos, necessários
para que o indivíduo se integre no sistema social global. Seus conteúdos de ensino são
as informações, principios científicos, leis, etc., estabelecidos e ordenados numa
sequência lógica e psicológica por especialistas. É matéria de ensino apenas o que é
redutivel aos conhecimentos que podem ser observados, os conhecimentos, portanto,
decorrem da ciência objetiva.
A educação atua, assim, no aperfeiçoamento da ordem social vigente, cujo
sistema social é o capitalista, articulando-se diretamente com o sistema produtivo.
Para tanto emprega a ciência da mudança de comportamento, ou seja, a tecnologia
comportamental. Seu interesse imediato é o de produzir indivíduos competentes para
o mercado de trabalho. A prática escolar nessa pedagogia tem como função especial
adequar o sistema educacional com a proposta econômica e política do regime militar,
preparando, dessa forma, mão-de-obra para ser aproveitada pelo mercado de trabalho.
A tendência tecnicista firma-se nos anos 70, alicerçada no princípio da
otimização: racionalidade, eficiência e produtividade. Com sua organização racional e
mecânica, visava corresponder aos interesses da sociedade industrial. A semelhança
com o processo industrial não ocorre por acaso, pois tal proposição atinge seu apogeu
nos anos 70, período de forte presença do autoritarismo do Estado e do regime militar.
É nesse período que o espírito crítico e reflexivo é banido das escolas.
Os profissionais que atuam hoje no mercado de trabalho têm aí as bases de sua
formação. Sendo assim, o ensino-aprendizagem está intimamente ligado a essas
pedagogias que fazem parte da história do ensino no Brasil, estando respaldadas na
conjuntura social e política brasileira.
A despeito da máquina oficial, entretanto, não há indícios seguros de que os
professores da escola pública tenham assimilado a pedagogia tecnicista, pelo menos
em termos de ideário. A aplicação da pedagogia tecnicista (planejamento, livros
didáticos programados, procedimentos de avaliação, etc.) não configura uma postura
tecnicista do professor; antes, o exercício profissional do professor continua mais para
uma postura eclética em torno de princípios pedagógicos assentados nas pedagogias
tradicionais e renovados (LUCKESI, 1994).
A confusão quanto aos conceitos e ideologias do trabalho por competências, se
torna evidente, pois, após análise sobre a questão, tudo parece uma tradução pura e
simples de situações vivenciadas e instauradas por outros países.
O estudo, análise e construção de linhas de ação e pesquisa para o trabalho por
competências e habilidades deve estar relacionado às necessidades de professores e
alunos, senão esta forma de ensinar e aprender não passará de um simples modismo,
ou de uma implantação baseada no que espera esta sociedade neoliberal. É
importante, portanto, estabelecer novas diretrizes que definam e estruturem o
programa de ensino e não seguir rigidamente o livro didático. Tal liberdade de
trabalho é muito positiva para o professor, mas também exige esforço e dedicação.
Cabe aos educadores atentos, através de análise, pesquisas e vivências reais
compreender as várias conceituações apresentadas quanto ao trabalho por
competências e habilidades tomando cuidado para que não se voltem às velhas
perspectivas do tecnicismo.
As concepções apresentadas na definição teórica de competências e
habilidades demonstram a coexistência de diferentes fontes teórico-conceituais, já que
cada segmento busca conduzir esta definição, para que se atinjam os objetivos
esperados. Seja em educação ou na formação de um profissional, muitas destas fontes
conceituais estão baseadas em modelos que podem ser identificados como
behaviorista, funcionalista, construtivista e crítico-emancipatória.
Estas definições têm como questão central a formação do cidadão para o
trabalho, as várias interpretações e concepções referentes ao enfoque do ensino
aprendizagem baseado nas competências e habilidades que levam à percepção de
características semelhantes as da escola tecnicista, mudando a visão dos objetivos a
serem cumpridos para as competências e habilidades a serem alcançadas ou
desenvolvidas.
Considerações Finais
A competência se faz como um saber construído, elaborado e desenvolvido
pelas muitas descobertas e redescobertas feitas pelos educadores. Leva, pela
estruturação dos conhecimentos anteriores, a construção de novos conhecimentos e a
um saber de quando, o que e como fazer destas vivências e conhecimentos passados e
presentes, uma fonte de pesquisa futura para outros. Através desta síntese, é possível
perceber que no trabalho por competências e habilidades assim como na pedagogia de
projetos, o pesquisar, construir, agir, avaliar e ser avaliado são constantes.
A escola, mais do que nunca, tem por missão contribuir para que o aluno
desenvolva habilidades e competências que lhe permitam trabalhar essas informações:
selecionar, criticar, comparar, elaborar novos conceitos a partir dos que se tem. O
fundamental na educação não é o acúmulo de informações, mas o desenvolvimento de
competências e habilidades que nos permitam encontrá-las, lidar com elas, discernir
quais são importantes para nós em determinado momento, analisá-las, criticá-las, tirar
conclusões, enfim , aprender a pensar e associar o conhecimento ao real.
Daí a importância de se considerar as habilidades e competências como
objetivos em si, tal como se faz com a leitura e a escrita. Logicamente, isso não
significa desvincular as habilidades de algum conteúdo. Pelo contrário, os conteúdos
das diferentes disciplinas devem ser o principal instrumento para o desenvolvimento
dessas habilidades. O que se necessita é mudar o enfoque, a abordagem que se faz de
muitos assuntos, além da postura do professor, que em geral considera o conteúdo
como de sua responsabilidade, mas a habilidade como de responsabilidade do aluno.
Mudar o foco para o desenvolvimento de competências e habilidades implica,
além da mudança de postura da escola, um trabalho pedagógico integrado em que se
definam as responsabilidades de cada professor nessa tarefa. Um grande obstáculo é
que os professores podem ter dúvidas sobre em que consiste, realmente, uma
determinada habilidade, e mais ainda sobre como auxiliar o seu desenvolvimento.
Mas as dificuldades representam o desafio de contribuir para uma mudança
significativa na prática didática da escola.
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