Revista Interdiscipli nar Digitally signed by Revista Interdisciplinar DN: cn=Revista Interdisciplinar, o=UNIVAR, ou, [email protected], c=BR Date: 2009.12.09 11:16:15 -02'00' HABILIDADES E COMPETÊNCIAS: NOVOS SABERES EDUCACIONAIS E A POSTURA DO PROFESSOR. Profª Ma Fabiola Angarten Felix 1 Co-autoria Profª Mestranda Elaine Cristina Navarro SKILLS AND ABILITIES: NEW KNOWLEDGE OF TEACHER EDUCATION and posture. RESUMO Este artigo tem o objetivo de apresentar dois conceitos atuais que vem sendo aplicados no trabalho pedagógico, sendo eles, as habilidades e competências da educação. A análise de tais conceitos e seu envolvimento com a Pedagogia Tecnicista também estão presentes neste trabalho, no sentido de esclarecer suas diferenças teóricas e práticas e de evitar prováveis confusões e, portanto, suas aplicações incorretas no trabalho educacional. Por fim, discutir o trabalho do professor, cuja prática pedagógica se pauta no ideário das habilidades e competências é mais um dos objetivos esperados neste trabalho. Palavras-chave: Educação; habilidades; competências; pedagogia tecnicista. ABSTRACT This article aims to present two concepts currently being applied in pedagogical work, which are the abilities and skills education. The analysis of such concepts and their involvement with the education technique also are present in this work, to clarify its theoretical and practical differences and to avoid possible confusion, and therefore their applications in educational work incorrect. Finally, discuss the work of the teacher, whose teaching is based on the idea of the skills and competencies is one of the goals expected in this work. KEYWORDS: Education, skills; competencies; Technical Education. 1 Graduada em Ciências Sociais e Pedagogia (UNESP-FCL/CAr) e Mestre em Sociologia (IFCHUNICAMP); Docente na UNIVAR- Faculdades Unidas do vale do Araguaia, ministrando aulas de Sociologia e Antropologia. E-mail: [email protected]. 2 Graduada em Letras (UFMT) Especialista em Docência da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental; Cursando Mestrado em Educação ( UDE – Universidad de La Empresa); Docente e Coordenadora do Curso de Licenciatura em Pedagogia da UNIVAR- Faculdades Unidas do vale do Araguaia. E-mail: [email protected] Introdução Este artigo tem por objetivo analisar os conceitos de habilidade e competências, que compõem os novos saberes educacionais, bem como o papel do professor frente aos modelos pedagógicos contemporâneos, como também estabelecer relações entre as diferenças e proximidades existentes nos conceitos de habilidades e competências e na Pedagogia Tecnicista a fim de contribuir com o esclarecimento do trabalho do educador. Estudos atuais apontam para as transformações que a sociedade está passando, sobretudo no que diz respeito à criação de uma nova cultura que apresenta mudanças nas formas de produção e apropriação dos saberes. Nesse contexto, os professores assumiriam a responsabilidade de mediar a construção do processo de conceituação a ser apropriado pelos alunos, buscando a promoção da aprendizagem e desenvolvendo habilidades importantes para que eles participem da sociedade. Desse modo, a prática de decorar conteúdos, passa a ser substituída pela aquisição de grandes competências. A capacitação dos professores, portanto, levará, efetivamente, ao bom êxito do programa, pois só com uma formação adequada, eles poderão atuar com desenvoltura e segurança em relação à nova proposta. As mudanças atuais no conceito do que é ensinar diz respeito à capacidade de ir além dos conteúdos e das informações didáticas, de modo que estes possibilitem a aprendizagem como uma competência central que possa ser desenvolvida tanto pelo educador quanto pelo educando, através de suas próprias realidades vividas. Tal ideia vem superar o conceito de ensino enquanto informação, apoiado numa relação passiva professor-aluno, que na maioria das vezes, por meio do livro didático, transmite as informações para o aluno, que normalmente as repetem, sem conseguir associá-las a uma interpretação e ligação com a realidade, que forneça sentido ao próprio aprendizado. O desenvolvimento das habilidades e competências ocorre por meio de atividades como pesquisa, conhecimento teórico, vivência, reflexão e ação. Sendo assim, as competências e habilidades só são desenvolvidas num trabalho interdisciplinar e contextualizado mas, para que isto ocorra, o professor precisa estar apto a desenvolver sua própria postura interdisciplinar e contextualizada. O papel do professor, para Del Prette et al (1996), enquanto participante, condutor e mediador dessas interações educativas necessita, além da competência profissional, um repertório bastante diferenciado das habilidades sócio-cognitivas como planejar, avaliar e fornecer feedback, planejamento e coordenação de atividades de grupo, flexibilidade para mudanças na atuação, percepção das demandas imediatas do contexto escolar, entre outras questões que dizem respeito à formação do profissional contemporâneo, que está centrado nas relações interpessoais, principalmente no que se refere ao magistério. As tecnologias passam a ser utilizadas como suporte para a aprendizagem, entretanto, não devem ser consideradas apenas como meios de comunicação ou distração, mas como recursos didáticos que favoreçam a aquisição de conhecimentos, devendo ser interpretadas, analisadas e contextualizadas na busca do desenvolvimento de habilidades e competências que levem a aprendizagem significativa. Definindo habilidades e competências As competências podem ser definidas como um conjunto de conhecimentos, atitudes, capacidades e aptidões, que habilitam alguém para vários desempenhos, não apenas em sua vida escolar, mas em todos os aspectos de sua existência pessoal. Na ação, não é possível separar o conceito de competência e de habilidades, mas eles exigem domínio de certos conhecimentos, para que possam ser efetivados. As habilidades se ligam a atributos relacionados não apenas ao saber-conhecer mas ao saber-fazer, saber-conviver e ao saber-ser, que, de acordo com a UNESCO, são os quatro pilares que sustentam a educação. As competências pressupõem operações mentais, capacidades para usar as habilidades, emprego de atitudes adequadas à realização de tarefas e conhecimentos. Algumas competências e habilidades que não podem deixar de existir no trabalho em sala de aula são: respeitar as identidades e as diferenças; utilizar-se das linguagens como meio de expressão, desenvolver a comunicação e a apreensão de informações; inter-relacionar pensamentos, idéias e conceitos; desenvolver o pensamento crítico e flexível e a autonomia intelectual; adquirir, avaliar e transmitir informações; compreender os princípios das tecnologias e suas relações integradoras; entender e ampliar fundamentos científicos e tecnológicos; desenvolver a criatividade; saber conviver em grupo e aprender a aprender. De acordo com o professor Vasco Moretto, doutorando em Didática pela Universidade Laval de Quebec/Canadá, as habilidades estão associadas ao saber fazer: ação física ou mental que indica a capacidade adquirida. Assim, identificar variáveis, compreender fenômenos, relacionar informações, analisar situações-problema, sintetizar, julgar, correlacionar e manipular são exemplos de habilidades. Já as competências são um conjunto de habilidades harmonicamente desenvolvidas e que caracterizam por exemplo uma função/profissão específica: ser arquiteto, médico ou professor de química. As habilidades devem ser desenvolvidas na busca das competências. De que competências se está falando? Da capacidade de abstração, do desenvolvimento do pensamento sistêmico, ao contrário da compreensão parcial e fragmentada dos fenômenos, da criatividade, da curiosidade, da capacidade de pensar múltiplas alternativas para a solução de um problema, ou seja, do desenvolvimento do pensamento divergente, da capacidade de trabalhar em equipe, da disposição para procurar e aceitar críticas, da disposição para o risco, do desenvolvimento do pensamento crítico, do saber comunicar-se, da capacidade de buscar conhecimento. Estas são competências que devem estar presentes na esfera social, cultural, nas atividades políticas e sociais como um todo, e que são condições para o exercício da cidadania num contexto democrático. (PCNEnsino Médio) O Ministério da Educação e Cultura (MEC) estabeleceu como diretrizes para a efetivação de competências, cinco pontos importantes, sendo eles: domínio de linguagens; compreensão de fenômenos; construção de argumentações; solução de problemas; e, elaboração de propostas. Em geral, as habilidades são consideradas como algo menos amplo do que as competências. Assim, a competência estaria constituída por várias habilidades. Entretanto, uma habilidade não "pertence" a determinada competência, uma vez que uma mesma habilidade pode contribuir para competências diferentes. Sendo assim, é importante educar para as competências, e isso, através da contextualização e da interdisciplinaridade. Mais do que nunca é preciso uma ruptura com as práticas tradicionais e o avançar em direção a uma ação pedagógica interdisciplinar voltada para a aprendizagem do aluno-sujeito envolvido no processo não somente com o seu potencial cognitivo, mas com todos os fatores que fazem parte do ser unitário, ou seja, fatores afetivos, sociais e cognitivos. De acordo com Perrenoud (2001), as competências estão ancoradas em duas constatações: 1. É preciso trabalhar e treinar a transferência e a mobilização das capacidades e dos conhecimentos. Esse trabalho exige tempo, etapas didáticas e situações apropriadas. 2. Na escola não se dá tanta importância à prática de transferência e a mobilização, é necessário trabalhar mais essas questões. O treinamento, portanto, é insuficiente. Os alunos acumulam saberes, passam nos exames, mas não conseguem mobilizar o que aprenderam em situações reais, no trabalho e fora dele, fato este que muitas vezes ocorre devido a falta de oportunidades e momentos para que a aprendizagem realmente se efetive e se torne significativa. Quando Perrenoud apresenta as constatações anteriores como pontos onde as competências estão ancoradas, deve-se considerar que a escola é conduzida e determinada por tempos distintos, onde todas as situações possíveis para que ocorra a aprendizagem pela mobilização de capacidades adquiridas no desenrolar do processo nem sempre são possíveis. Sendo assim, torna-se difícil o trabalho por competências, dentro desta estrutura. Considerando competências como conteúdo, conhecimento, teoria e habilidades em ação, elas estão caracterizadas pela função, e as habilidades pela capacidade de ação, sendo estas inseparáveis, logo, a competência é o saber construído, elaborado e desenvolvido pelas muitas descobertas e redescobertas e as habilidades referem-se ao saber quando e como fazer. Fornecer oportunidades espaciais e temporais é fundamental para a conquista de bons resultados nos trabalhos desenvolvidos sob essa perspectiva. Existem competências e habilidades que são necessárias para a formação de educandos e educadores, mas não é possível determinar listas fixas de competências e habilidades, pois estas se desenvolverão de acordo com as necessidades dos aprendizes (professores e /ou alunos) e da comunidade na qual estão inseridos ou , até mesmo, de suas vivências passadas, presentes e futuras. A competência pedagógica é flexível, depende do momento histórico, dos interesses da sociedade e das pessoas, dos valores morais e éticos, das relações de afetividade que são construídas. Por isso ela não pode ser apresentada sob a forma de uma receita, mas construída no decorrer da vida e da história de cada um. Tanto para professores quanto para alunos existem habilidades e competências importantes. As competências que um professor deve ter e desenvolver permeiam todos os momentos do ato de ensinar e aprender, sendo assim, a ação, as tomadas de decisões, o pesquisar, o incitar a pesquisar, o descobrir, o deixar descobrir, o aprender contínuo, permitem transformar pontos fracos em fortes, defeitos em qualidades, desmotivação em entusiasmo e ação, onde educador e educando alcançarão e desenvolverão suas competências e habilidades conjuntamente. No trabalho pautado em competências e habilidades, a postura do professor frente às novas tecnologias, tem que se fazer diferente, é importante não desconsiderar os saberes previamente adquiridos ou as habilidades dos alunos e dos professores que possam ser mobilizadas em situações novas. Esses momentos devem ser constantes e presentes na postura do educador, do mesmo modo que os educadores devem ser capacitados para atuarem como técnicos pedagógicos em tecnologias educacionais, sendo especialistas em softwares, internet, sites, uso do vídeo, máquinas de calcular e outros recursos tecnológicos, pois, é parte da competência dos mesmos, assim como saber, expressar ideias, articular questões teóricas e práticas que envolvam educação e aprendizagem. Estudos referentes ao tema das habilidades e competências na educação têm demonstrado que os termos “habilidades sociais” e “competência social” são termos empregados, com frequência, como sinônimos, assim como “desempenho social”. No entanto, eles se diferenciam. Caballo (1982) identifica que a assertividade aparece em substituição ao termo “competência social” e engloba quatro dimensões: capacidade de dizer ‘não’; de pedir ou fazer favores; de expressar sentimentos; iniciar, manter e terminar conversas. Em suas pesquisas, Caballo (1987) afirma que a conduta socialmente habilidosa é definida como um conjunto de comportamentos apresentados por um indivíduo que expressa sentimentos, desejos e se adequam à situação, dependendo do comportamento dos demais. É importante ressaltar que uma competência permite mobilizar conhecimentos a fim de se enfrentar uma determinada situação. A competência não é o uso estático de regrinhas aprendidas, mas uma capacidade de lançar mão dos mais variados recursos, de forma criativa e inovadora, no momento e na maneira mais adequada. A competência abarca, portanto, um conjunto de coisas. Perrenoud (2000) fala de esquemas, em um sentido muito próprio. Seguindo a concepção piagetiana, o esquema é uma estrutura invariante de uma operação ou de uma ação. Não está, entretanto, condenado a uma repetição idêntica, mas pode sofrer acomodações, dependendo da situação. A competência implica em uma mobilização dos conhecimentos e esquemas que se possui para desenvolver respostas inéditas, criativas, eficazes para problemas novos. Na Europa, nos anos 80, o modelo das competências profissionais começou a ser discutido no mundo empresarial com o objetivo de adaptar a formação profissional aos requisitos da nova forma de divisão do trabalho e de unificar os meios de formação profissional, tornando a transferência e disponibilidade dos trabalhadores possível, pois, estes são formados além de suas capacidades de trabalho mecânico, dessa forma com novas competências baseadas no campo intelectual, aumentariam as oportunidades no mercado de trabalho. Em meio a tudo isso, instaura-se no Brasil, em 1990 a pedagogia das competências, pela necessidade de adaptar e subordinar a produção educacional às necessidades estabelecidas pelo mercado de trabalho e de se estabelecer mecanismos de controle e avaliação da qualidade dos serviços educacionais. A reforma educacional implementada no Brasil a partir da Lei 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB) e, a seguir, nos dispositivos de regulamentação no que se refere à educação profissional, como o Decreto-Lei 2208/9717 e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional, consubstanciadas no Parecer CNE/CEB nº16/99,18 na Resolução CNE/CEB nº04/9919 e nos Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Profissional, assume como concepção orientadora o modelo das competências. De acordo com os Parâmetros, O conceito de aprendizagem significativa, central na perspectiva construtivista, implica, necessariamente, o trabalho simbólico de significar a parcela da realidade que se conhece. As aprendizagens que os alunos realizam na escola serão significativas na medida em que consigam estabelecer relações substantivas e não arbitrárias entre os conteúdos escolares e os conhecimentos previamente construídos por eles, num processo de articulação de novos significados. Frente às mudanças instauradas pela nova LDB e pelas novas políticas necessárias a um mercado globalizado, as competências aparecem e tornam-se bem claras na formação do cidadão concluinte da Educação Básica (Ensino Fundamental e Médio). O trabalho por competências torna-se necessário, pois na sociedade em que vivemos, onde a convivência em sociedade, o domínio e o trato das informações e a capacidade de tomar atitudes com rapidez e clareza, são questões que tornam-se indissociáveis da formação do indivíduo. Os saberes adquiridos na vida cotidiana devem ser articulados com os saberes escolares, para que seja possível a formação de um cidadão que possa estar preparado para a vida e para a inserção e atuação no mercado de trabalho. Neste sentido, que a LDB e os PCN’s, falam da necessidade do trabalho pedagógico por habilidades e competências. Sobre esse assunto, em termos mundiais, a UNESCO, na Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada em Jomtien, na Tailândia, em 1990, definiu quatro pilares da educação, que deveriam ser a meta para o desenvolvimento educacional em todos os países signatários de seus documentos. Nesse trabalho, as competências e habilidades estariam no campo das relações entre teoria e prática. Os quatro pilares são: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a viver com os outros; e, aprender a ser. Pode-se perceber que são objetivos que vão muito além da informação ou mesmo do mero desenvolvimento de um conhecimento intelectual. Abarcam toda a formação humana e social da pessoa. É fácil perceber que metas desse porte envolvem conhecimento, comportamento, conceitos, procedimentos, valores, atitudes, saber, fazer e ser. Não podem ser atingidas com um ensino livresco, fragmentado, conteudista, estereotipado, estagnado. Exigem novas perspectivas, uma nova visão da Educação. Os Parâmetros Curriculares Nacionais, que começaram a ser publicados em 1997, também apresentam uma visão mais moderna e mais flexível de currículo, enfatizando a questão das habilidades e competências: O termo "currículo" (...) assume vários significados em diferentes contextos da pedagogia. Currículo pode significar, por exemplo, as matérias constantes de um curso. Essa definição é a que foi adotada historicamente pelo Ministério da Educação, Cultura e do Desporto quando indicava quais as disciplinas que deveriam constituir o ensino fundamental ou de diferentes cursos do ensino médio. Currículo é um termo muitas vezes utilizado para se referir a programas de conteúdos de cada disciplina. Mas, currículo pode significar também a expressão de princípios e metas do projeto educativo, que precisam ser flexíveis para promover discussões e reelaborações quando realizado em sala de aula, pois é o professor que traduz os princípios elencados em prática didática. Essa foi a concepção adotada nestes Parâmetros Curriculares Nacionais. (Introdução dos PCN de 5a a 8a séries). Educação Tecnicista versus habilidades e competências A Pedagogia Tecnicista, presente ainda hoje, teve suas origens a partir da segunda metade do século XX, no mundo, e a partir de 1970, no Brasil, quando desenvolveu-se acentuadamente o que se chamou de "tecnicismo educacional", inspirado nas teorias behavioristas da aprendizagem e da abordagem sistêmica do ensino, que definiu uma prática pedagógica altamente controlada e dirigida pelo professor, com atividades mecânicas inseridas numa proposta educacional rígida e passível de ser totalmente programada em detalhes. A supervalorização da tecnologia programada de ensino trouxe conseqüências: a escola se revestiu de uma grande auto-suficiência, reconhecida por ela e por toda a comunidade atingida, criando assim a falsa idéia de que aprender não é algo natural do ser humano, mas que depende exclusivamente de especialistas e de técnicas. O que é valorizado nessa perspectiva não é o professor, mas a tecnologia, o professor passa a ser um mero especialista na aplicação de manuais e sua criatividade fica restrita aos limites possíveis e estreitos da técnica utilizada. A função do aluno é reduzida a um indivíduo que reage aos estímulos de forma a corresponder às respostas esperadas pela escola, para ter êxito e avançar. Seus interesses e seu processo particular não são considerados e a atenção que recebe é para ajustar seu ritmo de aprendizagem ao programa que o professor deve implementar. Essa orientação foi dada para as escolas pelos organismos oficiais durante os anos 60, e até hoje está presente em muitos materiais didáticos com caráter estritamente técnico e instrumental 2 . A Pedagogia liberal tecnicista apareceu nos Estados Unidos na segunda metade do século XX e foi introduzida no Brasil entre 1960 e 1970. Nessa concepção, o homem é considerado um produto do meio. É uma conseqüência das forças existentes em seu ambiente. A consciência do homem é formada nas relações 2 Disponível em: http://www.centrorefeducacional.com.br/educge.html. Acesso em 20/04/2009. acidentais que ele estabelece com o meio ou controlada cientificamente através da educação. De acordo com Luckesi (1994), a educação escolar liberal tecnicista organiza o processo de aquisição de habilidades em conhecimentos específicos, necessários para que o indivíduo se integre no sistema social global. Seus conteúdos de ensino são as informações, principios científicos, leis, etc., estabelecidos e ordenados numa sequência lógica e psicológica por especialistas. É matéria de ensino apenas o que é redutivel aos conhecimentos que podem ser observados, os conhecimentos, portanto, decorrem da ciência objetiva. A educação atua, assim, no aperfeiçoamento da ordem social vigente, cujo sistema social é o capitalista, articulando-se diretamente com o sistema produtivo. Para tanto emprega a ciência da mudança de comportamento, ou seja, a tecnologia comportamental. Seu interesse imediato é o de produzir indivíduos competentes para o mercado de trabalho. A prática escolar nessa pedagogia tem como função especial adequar o sistema educacional com a proposta econômica e política do regime militar, preparando, dessa forma, mão-de-obra para ser aproveitada pelo mercado de trabalho. A tendência tecnicista firma-se nos anos 70, alicerçada no princípio da otimização: racionalidade, eficiência e produtividade. Com sua organização racional e mecânica, visava corresponder aos interesses da sociedade industrial. A semelhança com o processo industrial não ocorre por acaso, pois tal proposição atinge seu apogeu nos anos 70, período de forte presença do autoritarismo do Estado e do regime militar. É nesse período que o espírito crítico e reflexivo é banido das escolas. Os profissionais que atuam hoje no mercado de trabalho têm aí as bases de sua formação. Sendo assim, o ensino-aprendizagem está intimamente ligado a essas pedagogias que fazem parte da história do ensino no Brasil, estando respaldadas na conjuntura social e política brasileira. A despeito da máquina oficial, entretanto, não há indícios seguros de que os professores da escola pública tenham assimilado a pedagogia tecnicista, pelo menos em termos de ideário. A aplicação da pedagogia tecnicista (planejamento, livros didáticos programados, procedimentos de avaliação, etc.) não configura uma postura tecnicista do professor; antes, o exercício profissional do professor continua mais para uma postura eclética em torno de princípios pedagógicos assentados nas pedagogias tradicionais e renovados (LUCKESI, 1994). A confusão quanto aos conceitos e ideologias do trabalho por competências, se torna evidente, pois, após análise sobre a questão, tudo parece uma tradução pura e simples de situações vivenciadas e instauradas por outros países. O estudo, análise e construção de linhas de ação e pesquisa para o trabalho por competências e habilidades deve estar relacionado às necessidades de professores e alunos, senão esta forma de ensinar e aprender não passará de um simples modismo, ou de uma implantação baseada no que espera esta sociedade neoliberal. É importante, portanto, estabelecer novas diretrizes que definam e estruturem o programa de ensino e não seguir rigidamente o livro didático. Tal liberdade de trabalho é muito positiva para o professor, mas também exige esforço e dedicação. Cabe aos educadores atentos, através de análise, pesquisas e vivências reais compreender as várias conceituações apresentadas quanto ao trabalho por competências e habilidades tomando cuidado para que não se voltem às velhas perspectivas do tecnicismo. As concepções apresentadas na definição teórica de competências e habilidades demonstram a coexistência de diferentes fontes teórico-conceituais, já que cada segmento busca conduzir esta definição, para que se atinjam os objetivos esperados. Seja em educação ou na formação de um profissional, muitas destas fontes conceituais estão baseadas em modelos que podem ser identificados como behaviorista, funcionalista, construtivista e crítico-emancipatória. Estas definições têm como questão central a formação do cidadão para o trabalho, as várias interpretações e concepções referentes ao enfoque do ensino aprendizagem baseado nas competências e habilidades que levam à percepção de características semelhantes as da escola tecnicista, mudando a visão dos objetivos a serem cumpridos para as competências e habilidades a serem alcançadas ou desenvolvidas. Considerações Finais A competência se faz como um saber construído, elaborado e desenvolvido pelas muitas descobertas e redescobertas feitas pelos educadores. Leva, pela estruturação dos conhecimentos anteriores, a construção de novos conhecimentos e a um saber de quando, o que e como fazer destas vivências e conhecimentos passados e presentes, uma fonte de pesquisa futura para outros. Através desta síntese, é possível perceber que no trabalho por competências e habilidades assim como na pedagogia de projetos, o pesquisar, construir, agir, avaliar e ser avaliado são constantes. A escola, mais do que nunca, tem por missão contribuir para que o aluno desenvolva habilidades e competências que lhe permitam trabalhar essas informações: selecionar, criticar, comparar, elaborar novos conceitos a partir dos que se tem. O fundamental na educação não é o acúmulo de informações, mas o desenvolvimento de competências e habilidades que nos permitam encontrá-las, lidar com elas, discernir quais são importantes para nós em determinado momento, analisá-las, criticá-las, tirar conclusões, enfim , aprender a pensar e associar o conhecimento ao real. Daí a importância de se considerar as habilidades e competências como objetivos em si, tal como se faz com a leitura e a escrita. Logicamente, isso não significa desvincular as habilidades de algum conteúdo. Pelo contrário, os conteúdos das diferentes disciplinas devem ser o principal instrumento para o desenvolvimento dessas habilidades. O que se necessita é mudar o enfoque, a abordagem que se faz de muitos assuntos, além da postura do professor, que em geral considera o conteúdo como de sua responsabilidade, mas a habilidade como de responsabilidade do aluno. Mudar o foco para o desenvolvimento de competências e habilidades implica, além da mudança de postura da escola, um trabalho pedagógico integrado em que se definam as responsabilidades de cada professor nessa tarefa. Um grande obstáculo é que os professores podem ter dúvidas sobre em que consiste, realmente, uma determinada habilidade, e mais ainda sobre como auxiliar o seu desenvolvimento. Mas as dificuldades representam o desafio de contribuir para uma mudança significativa na prática didática da escola. Referências Bibliográficas BRASIL, MEC. As Novas Diretrizes Curriculares que Mudam o Ensino Médio Brasileiro, Brasília, 1998. BRASIL, MEC. Em Aberto (Currículo: referenciais e tendências). INEP, Brasília, N.º 58, abril/jun. 1993. CABALLO, V. E. Los componentes condutales de la conduta assertiva. Revista de Psicologia General y Aplicada, v.37, n.3, p.473-486 , 1982. ______________Teoria, evaluacion y entrenamiento de las habilidades sociales. Valencia: Promolibro, 1987. 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