Novo pacto europeu é avanço e dá sobrevida ao
euro, dizem analistas
G1 - RJ - ECONOMIA - 09/12/2011
Darlan Alvarenga
Do G1, em São Paulo
O novo pacto fiscal acordado pela maioria dos países da União Europeia (UE) representa um
avanço na busca de soluções para a crise da dívida dos países e garante uma sobrevida ao
euro, segundo analistas e economistas ouvidos pelo G1.
O novo tratado recebeu o apoio de todos os 17 países da zona do euro. Outros nove países
da UE disseram que apoiarão o pacto após consultas aos seus respectivos parlamentos. O
Reino Unido foi o único país dos 27 da UE a recusar participar do pacto.
O acordo estabelece um regime mais duro de déficit e dívida pública e prevê punições
automáticas para os países cujo déficit exceda o teto de 3% do PIB ou de 60% da dívida.
Para Alexandre Uehara, professor de relações internacionais das Faculdades Rio Branco, o
pacto fiscal representa um aprofundamento do processo de integração dos países da zona
do euro. “Apesar da moeda comum, não havia uma política fiscal comum. E isso foi o
grande complicador quando alguns países aumentaram os seus gastos públicos”, avalia.
Ele destaca que o acordo sinaliza também que os países estão dispostos a abrir mão de
parte da soberania nacional em prol de uma melhor organização da economia através de
órgãos supranacionais como o Banco Central Europeu. “Com esse compromisso, os países
mostram que existe um movimento comprometido em organizar a economia, o que cria um
aspecto psicológico importantíssimo de que há, de fato, perspectiva de sanar o problema
no médio e longo prazo”.
O professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA-USP),
Fabio Kanczuk, destaca que o repasse adicional de 200 bilhões de euros ao Fundo
Monetário Internacional (FMI) obrigará a todos os países a “abrir o bolso”.
Para Kanczuk, ainda que o pacto represente um “passo adiante”, existem ainda muitas
dúvidas em relação à capacidade de alguns países honrarem seus compromissos. “O foco
agora é a Itália, que precisa rolar 300 bilhões de sua dívida em 2012”, opina. “Tenho a
sensação que a Itália está indo no mesmo caminho da Grécia. Acredito que os títulos da
dívida italiana vão continuar com juros altíssimos".
Euro ainda está na UTI
Segundo o professor da FEA, as incertezas ainda colocam em risco o futuro do euro. “Acho
que o euro ainda está na UTI, porque se Itália não conseguir pagar seus compromissos
voltará a ocorrer um stress violento”, afirma.
Para o analista internacional da corretora Cruzeiro do Sul Jason Vieira, o novo tratado traz
alívio ao mercado e garante “sobrevida ao euro”, mas o cenário em relação aos próximos
anos ainda é de pessimismo.
“É mais um alívio mesmo, pois com o aperto fiscal o baixo crescimento irá perdurar por
mais alguns anos na Europa”, diz Vieira. “A curto prazo, vai evitar que a crise piore, mas o
cenário é de manutenção da volatilidade, com redução gradual, pois agora há uma
perspectiva de solução para a situação, o que não havia antes”, disse.
Para o economista da LCA Homero Guizzo, o pacto diminui as chances de crises
semelhantes de repetirem, mas "não apaga o incêndio". "O que falta é uma maior atuação
do Banco Central Europeu (BCE), que deveria comprar títulos dos países em crise sem medo
e sem limites", opina o analista. "Países como o Reino Unido e EUA possuem uma relação
dívida/PIB muito maior, mas nestes países os bancos centrais executam um papel muito
mais ativo".
Posicionamento do Reino Unidos era esperado
Os analistas minimizaram o fato do Reino Unido ter ficado de fora do pacto. Para eles, o
posicionamento da Grã-Bretanha já era esperado.
“Não vejo problema nenhum em o Reino Unido ficar de fora. Na verdade, isso já era
esperado porque se trata, sobretudo, de um pacto para a zona do euro”, diz Vieira. “Não é
do Reino Unido que vai vir dinheiro, essa é mais uma questão da zona do euro”, concorda
Kanczuk. “A Inglaterra sempre acaba tendo uma posição mais independente, mesmo
porque possui moeda própria”, completa Uehara.
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