INSTITUTO DE FÍSICA DA UERJ FORMATURA DA TURMA DE BACHARELANDOS DE 1995 DISCURSO DE PARANINFO Meus caros bacharelandos, prezados colegas, senhoras e senhores. Em primeiro lugar, gostaria de tornar público o quanto me sinto honrado com a escolha de meu nome para paraninfo de uma turma muito especial. Assim como não é fácil ser especial, tampouco é fácil explicar o porquê ela é especial, mas vou tentar. Muitos de vocês, principalmente os que não são físicos, poderiam imaginar logo que esta turma é especial porque possui apenas dois formandos. Mas não é este o motivo, mesmo porque este Instituto já viu a formatura de turmas com um único aluno. Em minha opinião, depois de quase dois anos como professor do Adílio e do Tiago, a simplicidade, a retidão de caráter e os valores que eles cultivam são, inegavelmente, os primeiros ingredientes deste adjetivo especial. Conscientes da honestidade intelectual expressa pelo não-saber socrático, já antes mesmo deste início formal de carreiras promissoras, eles aceitam conscientemente o desafio maior para a alma humana, com toda a sua carga emocional, tão bem expressa na citação de Bertrand Russell escolhida para o convite: "A grande arte e a grande ciência nascem do desejo de materializar a sombra de um fantasma ( uma beleza que afasta os homens da segurança e da comodidade para um glorioso tormento". E isto, sem dúvida, os torna um pouco mais especiais. São também especiais por serem os primeiros bacharéis formados pelo novo currículo de Física da UERJ. No segundo semestre de 1988, o que era apenas um punhado de idéias de um jovem professor que retornava de seu doutoramento n Itália, e que sempre acreditou e lutou pelo crescimento da UERJ, foi, pouco a pouco, tomando vulto. Houve uma boa ressonância, para usar o jargão da Física, mas houve também muita resistência. Foram quatro anos de exaustiva discussão envolvendo uma parte expressiva do corpo docente e discente. Seria uma enorme injustiça de minha parte mencionar esse período sem citar o nome do Prof. Werther Aristides Vervloet. Ele, então Diretor do Instituto de Física, em seu segundo mandato, rapidamente percebeu a importância vital de modernizarmos nossos currículos de Licenciatura e de Bacharelado e restruturarmos os velhos departamentos. Incubiu, então, o Prof. João Salim Miguel de coordenar as duas coisas, o que foi feito por ele com enorme transparência e paixão. Fui, com muito orgulho, escolhido pelo Prof. Salim para ser o relator desta profunda reestruturação no Conselho Departamental. Contamos, durante o biênio 91/92, com o apoio e com a crítica construtiva, quando necessária, do Prof. Nival Nunes (hoje Diretor da Engenharia), que foi o relator junto ao CESEP, e da nossa querida amiga Profa. Isabel Gurgel (então Sub-Reitora de Graduação). Por último, mas não menos importante, coube à Profa. Nádia Lima Caruso (Vice-Diretora do IF) a coordenação de todo o processo de implantação do novo currículo e correção de uma série de problemas acadêmicos e administrativos intrínsecos ao processo. Entendo, portanto, que a homenagem especial que os formandos (ou nossas "cobaias", poderíamos dizer carinhosamente) prestaram ao Prof. Salim e à Profa. Nádia expressa, sobretudo, o reconhecimento ao trabalho deles, extensivo a todos aqueles que contribuíram para que este currículo se tornasse uma realidade. Claro está que o Currículo Novo está longe ainda de ser ideal. Recordo-me de quantas vezes discutimos em sala de aula e ficamos até tarde da noite discutindo as vantagens e os problemas do currículo. Nestas discussões Tiago e Adílio sempre estiveram presentes e com uma postura franca, construtiva e especialmente interessada. Inevitavelmente, um momento como este é di per se, um convite à reflexão ( quer por parte dos formandos, dos seus pais e parentes, quer por parte dos professores que, direta ou indiretamente, participaram da formação de mais uma turma. Àqueles que têm um compromisso maior com a formação dos jovens peço que reflitam com particular atenção sobre os ismos que, infelizmente, ainda rondam a Universidade com seu impacto pernicioso, a saber: o populismo, o assistencialismo, o egocentrismo e o egoísmo. A Universidade precisa ser mais do que apenas um lugar de Saber e de Cultura. Ela precisa ser a Instituição onde a prática quotidiana, em sala de aula ou não, seja a prática impregnada dos valores subjacentes à real busca do Saber. Ela precisa também recuperar sua enorme responsabilidade na nobre tarefa de formar professores de segundo grau em suas licenciaturas. Quem sabe em breve a UERJ não estará formando grandes turmas de professores que aprenderam esses valores, não só através dos livros mas, sobretudo, através do convívio com seus Mestres. Quando isto ocorrer, aí sim, o nosso Instituto e nossa Universidade serão especiais. Enfim, de volta à reflexão induzida por esta cerimônia, constato, agora que me veio à memória a minha própria formatura, ocorrida aqui na UERJ há cerca de quinze anos, como fui incapaz de sintetizar o que queria dizer usando a palavra especial, ao começar a redigir este texto. A lembrança de uma frase escolhida por seis jovens que estavam aí, no lugar de vocês, tornou, improvisamente, tudo mais claro. Acho que me bastaria ter dito que vocês são especiais porque, como aquele pequeno grupo, acreditam que "somos o que fazemos e, sobretudo, o que fazemos para mudar o que somos". Creio enormemente na capacidade de vocês e tenho a certeza de que vocês se lembrarão eternamente deste momento, com carinho, a cada etapa vencida. Sucesso, Adílio e Tiago, vocês merecem! Obrigado. Rio de Janeiro, 30/01/1996 Francisco Caruso